–Você acredita em estrelas cadentes?-Diego me perguntou.
Estávamos deitados no gramado do quintal de casa observando o maravilhoso céu estrelado quando vimos uma estrela "rasgando" o céu com sua cauda que soltava faíscas brilhantes.
–Primeiramente nem são estrelas.-eu ri revirando os olhos.
–Só me responda.-Diego mandou sem me olhar.-Acredita em estrelas cadentes?
–Não...-eu disse.-Acho que elas não tem o poder de realizar nossos desejos...
–Que sem graça...-Diego riu.-Eu acredito. Acredito que meus desejos podem se realizar e que as estrelas cadentes servem para nos incentivar. Não é a estrela em si que realiza os desejos e sim você mesmo.-suspirou.-A estrela é como um símbolo.
–São tão brilhantes...-eu disse admirando as estrelas.
–As pessoas também.-Diego disse.-Quantos mais brilhantes,mais notadas são...
–Mas,assim como as estrelas,o brilho das pessoas é ofuscado e uma hora ou outra vão desaparecer...-olhei para Diego que estava deitado ao meu lado.-Isso não é triste?
–Depende da maneira que você vê...-ele sorriu.-Eu gosto de sonhar e ver as coisas dessa maneira.
–Claro...-revirei os olhos.-Você acreditou em cegonha até os doze anos e Papai Noel até os catorze...
–A culpa é minha dos meus avós terem me iludido?-Diego se fez de vítima. Desde pequeno ele foi criado por seus avós,já que sua mãe morreu durante o parto e seu pai ele nunca sequer conheceu. Mesmo com essa "desgraça" ele era feliz e otimista.
Meus pais,quero dizer,minha mãe,sempre deixou claro para mim (desde que passei a ter consciência das coisas) que coelhinho da Páscoa não existia,nem Fada do Dente,nem nada...
–De qualquer forma,eu vou fazer um desejo.-Diego deu de ombros fitando outra estrela cadente. Fechou os olhos e somente moveu os lábios sem deixar nenhuma palavra escapar.
–O que desejou?-perguntei quando ele abriu os olhos.
–Segredo.-Diego deu uma piscadela.
–Conta por favor...-fiz manha.
–Posso dar uma dica.-Diego pensou.-Quero que uma pessoa perceba o que eu sinto por ela.
–Hã?-me sentei e o encarei sério.-Você está gostando de alguém?-engoli em seco.
–Por que essa reação?-Diego se sentou e me encarou desconfiado.
–Nada não...-eu disse olhando para os lados.-E quem é?
–Eu não vou falar.-ele disse se levantando.
–Somos amigos,não somos?-me espreguicei.-Pode me contar.
–Talvez outro dia.-Diego sorriu me estendendo a mão.
–Vai me matar de curiosidade mesmo?-me levantei com sua ajuda.
Ele assentiu rindo.
☆☆☆
No dia seguinte,durante a aula,a professora estava se lamentando por não ter escolhido outra profissão enquanto os alunos brincavam de...
–Como funciona esse jogo mesmo?-perguntei para Diego que estava sentado na carteira ao meu lado.
–Você pega uma bola de papel...-ele explicou tirando uma folha do caderno e amassando.-E depois joga em alguém!-jogou em uma direção aleatória e não acertou ninguém.
–E?-perguntei com tédio. -Que sem graça...
–Se a bola acertar alguém,essa pessoa vira seu "servo" e faz tudo o que você mandar.
Arregalei os olhos e imediatamente comecei a fazer bolinhas de papel.
–Ué,não era sem graça?-Diego provocou.
–Eu não vou perder a chance de ter um servo!-sorri desafiador.
Olhei ao redor e percebi que as pessoas estavam desesperadas e com medo de serem "pegas".
–Ainda bem que ninguém me quer...-Diego riu debochando. Somente eu conhecia Diego direito,sabia o quão legal ele era e os problemas que tinha. O resto dos alunos não gostavam dele (por não conhece-lo direito),então não o queriam como servo.
Ele se levantou e foi até o canto da sala onde ficava o lixo,provavelmente para jogar a sujeira do apontador.
Joguei as bolinhas de papel aleatoriamente por toda sala de aula,mas infelizmente todos os alunos desviaram. Só uns ou outros tentaram me acertar,mas não conseguiram.
Subi em cima de uma carteira,ali seria minha base,por puro azar alguns garotos passaram correndo e esbarram nas carteiras,as derrubando com o "efeito dominó".
Quando registrei tudo estava caído no chão rodeado de várias cadeiras e pessoas rindo da minha cara de susto.
☆☆☆
Aquele era o último dia de aula (para os que passaram,quem tirou nota baixa teria de ir no colégio durante as férias) ,então algumas meninas estavam tirando selfie para registrar o momento.
Mas,os garotos também quiseram aparecer na foto,então fizeram de tudo para ficar na direção da câmera do celular. Depois outras garotas também se apertaram para poder aparecer. No final das contas tinha até gente subindo nas carteiras para conseguir tirar selfie,todos da sala (exceto eu,Diego e mais uns três alunos) estavam tirando foto.
–A DIRETORA! A DIRETORA!-uma garota que vigiava a porta gritou.-CORRE,CAMBADA!
Eu gargalhei ao ver os alunos quase se matando para sair de onde estavam e sentarem inocentemente em seus lugares.
–ESSE LUGAR É MEU,SUA VACA!-Ashley gritou.
–AGORA É MEU,PIRANHA!-Kelly gritou. As duas costumavam ser melhores amigas desde o começo do ano,até agora. Mas quando se tratava de lugar...
–SAI!-as duas gritaram sentando ao mesmo tempo na mesma cadeira,uma empurrando a outra ou puxando o cabelo.
Eu permaneci rindo,tinha meu lugar garantido. Fitei uma bolinha de papel no chão,dei de ombros e a joguei em direção ao lixo e engasguei ao ver que ela acertou a cabeça de Diego.
–Criatura, quanto tempo você leva para limpar o apontador?-perguntei.
Diego revirou os olhos,pegou a bolinha e olhou dela para mim.
Sem notar eu sorri malvado. Finalmente tinha conseguido um servo.
Alguém pigarreou,olhei para a porta e lá estava a diretora encarando tudo com desprezo.
–CHEGUEI BOTANDO ORDEM NESSE BAGAÇO!-uma aluna chegou (ela estava fora da sala porque estava bebendo água)gritando e ignorando a diretora.
–Senta no seu lugar,garota!-a diretora a empurrou.-Que bagunça é essa?-nos lançou um olhar de autoridade.
–É o último dia de aula,estamos nos divertindo!-um aluno disse inocentemente.
–É o último dia,mas ainda assim tem aula!
–Não vai fazer diferença,a média já está fechada mesmo!-Kelly disse estourando a bola de chiclete em sua boca.
–Ah,eu mereço...-a diretora bateu com a mão na testa.
–É guerra!-um garoto gritou acertando seus colegas com tudo que tinha em sua mesa,como caderno ou bolinhas de papel.
Acabaram até acertando a diretora que foi obrigada a entrar na brincadeira e pareceu se divertir.
–Diego?-sussurrei olhando ao redor. Ele havia sumido.
Levantei discretamente e sai da sala,no corredor cumprimentei minha professora de ciências,que tinha o apelido de "Velha do Rider",alguns a achavam chata,já eu preferia ter um dia inteiro de aula com ela do que duas com a professora de matemática.
Já no refeitório extremamente vazio (nem as "tiazinhas" da merenda estavam lá fofocando) fiquei pensando onde Diego tinha se metido.
–Você veio atrás de mim?-ouvi sua voz um pouco distante. Me virei e o encarei a metros de distância.
–Você é meu servo,tenho que mandar em você.-ri maleficamente.
–Me poupe...-Diego deu uma risada fraca e se sentou em um banco.
–Por que não está dentro da sala?-perguntei me sentando ao seu lado.
–Eu não volto naquele campo de guerra nunca mais...-ele disse virando o rosto.
–Seu desejo já se realizou?-perguntei. Estava curioso,queria a todo custo saber o que Diego pediu.
–Digamos que sim.-ele riu sem graça.
–Sim ou não?-arqueei uma sobrancelha e me aproximei.
–Esquece.-Diego me olhou,suas bochechas estavam vermelhas e isso era raro. Ele estaria corado por estar com vergonha?
–Me fala o que é vai...-pedi manhoso.-Deve ser algo interessante para te deixar vermelhinho...-provoquei.
Diego corou ainda mais e se levantou tentando não me olhar nos olhos.
–Diego,agora estou começando a ficar assustado...-me levantei lentamente.
Diego não era de ficar calado ou evitar algum assunto,nem mesmo corar.
–Collin...-ele disse meio sem jeito encarando o chão. Fiquei em silêncio,esperando ele falar.-E-Esse algo interessante...Nada mais é q-que...-por um instante ele me encarou,mas logo desviou o olhar.-Você.
Meu coração falhou uma batida e senti meu rosto esquentar. Por algum motivo eu não parecia surpreso,na verdade queria rir...De felicidade. Sabe quando algo te deixa tão feliz a ponto de rir?
–Hã...-olhei para o lado coçando a nuca em sinal de nervosismo.
–Enfim...-Diego suspirou.-Somos nós quem realizamos os desejos,sabe...Eu queria que você me acertasse com aquela bolinha de propósito.
–S-Significa que você queria que eu percebesse os sentimentos que você tem por mim?-dei um passo a frente me aproximando dele.
–Sim...-Diego forçou um sorriso e sem aviso me abraçou,me apertou com tanta força que parecia não querer me largar.
–E-e...-sussurrei paralisado.
–Você me corresponde?-ele me encarou com um olhar cheio de esperança.
Lembro-me de quando eu tinha treze anos e conheci Diego em um acampamento de férias,o achava um idiota por ver o lado bom de tudo,então não ia muito com sua cara,mas...Quando o conheci melhor e descobri que debaixo daquele sorriso contagiante estava escondida uma expressão de tristeza e dor. Somos amigos desde então e sempre tentávamos nos entender antes de achar algum motivo para uma briga,eu achava que tudo dava tão certo,que perto dele eu podia voltar a sonhar, que podia confiar nele...Foi assim que passei a criar sentimentos por Diego.
–S-Sim!-respondi corando.
–Isso é bom...-Diego sussurrou,sua voz estava fraca.-Só que...
–Só que?-fiquei preocupado.
Diego se afastou e pensou por um tempo,por fim disse sério:
–Collin. Ano que vem não estaremos juntos.
–C-Como assim?-me surpreendi.
–Eu não quis te contar antes para não te deixar triste antes da hora...-Diego cerrou os punhos,seu olhar perdeu o brilho e suas palavras carregavam dor.-Minha avó está muito doente e só pode fazer o tratamento fora do país,eu e meu avô teremos que ir com ela...
–Ou seja...-sussurrei arregalando os olhos.
–Vou mudar de país e de colégio.-Diego disse tentando não demonstrar como aquilo lhe afetava.-Não vamos mais nos ver.
Meu estômago embrulhou e de minha boca aberta não saía sequer uma palavra.
–Esse provavelmente é nosso último dia juntos.-Diego tentou sorrir,mas sua tristeza era visível.
–Por que não me contou antes?-eu disse mais alto que o normal.-Como você acha que eu posso reagir a essa notícia?-coloquei a mão em seus ombros.-Você é meu melhor amigo,eu não posso sobreviver sem você ao meu lado!
–E-Eu...-Diego me encarou com os olhos arregalados.-Você sabe que eu não quero fazer isso,mas preciso!-fechou os olhos e olhou para baixo.
–Não tem nada que eu possa fazer?!-perguntei desesperado sentindo meu coração acelerar.
–Infelizmente não...-Diego sentia tanta angústia quanto eu.
☆☆☆
Na noite seguinte,fui até o aeroporto acompanhar Diego e seus avós.
Os avós dele já estavam entrando no avião,o vôo iria partir em breve,meu tempo para me despedir era curto.
Eu não podia acreditar que meu melhor amigo estava indo embora e eu não podia fazer nada. Passamos por tantas coisas juntos,enfrentamos pessoas que não deveríamos,nos metemos em aventuras e confusões,brigamos e fizemos as pazes...É assim que tudo vai acabar? Vamos nos despedir e depois cada um seguirá seu rumo?
–I-Isso é um adeus?-minha voz falhou.
–Considere como um até logo.-Diego forçou um sorriso,e pensar que talvez aquela fosse a última vez que eu o visse sorrir.
Senti meus olhos arderem,os fechei rapidamente impedindo que qualquer lágrima caísse.
–Collin...-Diego pousou a mão sobre minha bochecha.-Vamos deixar as lágrimas para quando voltarmos a nos reencontrar!-sorriu.
–Como pode ter tanta certeza?-sussurrei.-Acha mesmo que vamos voltar a nos ver?
–Eu acredito nisso.-o sorriso dele foi diminuindo.-Os desejos somos nós quem realizamos...E vou fazer de tudo para nos vermos novamente!
–Se você vai...-esfreguei meus olhos.-Eu também vou!-disse determinado.
Diego riu sem jeito,nos olhamos fixamente por um tempo e lentamente nos aproximamos. Eu tinha que fazer aquilo.
Então...Nossos lábios se tocaram,era uma sensação maravilhosa saber que não existia distância entre nós e que era impossível ficar mais perto,era tão diferente e o diferente é bom...
Acho que o fato de ficar corado e com a respiração pesada fazia parte do beijo. Diego era um tanto desajeitado quanto a isso,pois nunca havia beijado alguém,mas eu já,então sabia o que fazer.
Nos separamos ao sentir o ar faltar,o encarei envergonhado,sinceramente nunca imaginei eu e ele fazendo isso.
–Não foi um beijo de despedida.-Diego deu um pequeno sorriso.
–Não?
–Não!-ele tirou a mão da minha bochecha.-Pois muitos ainda virão...-sorriu sem graça.
–Atenção senhores passageiros...-a voz de uma mulher ecoou pelo alto falante.
–Acho que já está na hora...-Diego suspirou.-Tchau?-disse meio incomodado,parecia não querer falar aquilo.
–Me diga você...-sorri.
–Voltaremos a nos ver!
–Eu espero...
–Pense como se...-Diego disse.-Essa distância vai servir para que nossos sentimentos um pelo outro fiquem ainda mais fortes! Você vai sentir saudades,não vai?
–S-sim...-corei.
Era estranho falar sobre essas coisas com ele,principalmente porque tudo estava acontecendo tão rápido...Queria ter tido mais tempo.
Diego me deu um rápido abraço e sussurrou em meu ouvido um "Te amo" e depois pegou sua mala,antes que eu o perdesse de vista em meio a multidão,gritei:
–É bom você voltar!
Ele se virou e gritou de volta:
–E é bom você me esperar!
Acenamos um para o outro. Senti um frio na barriga,mas...Eu confiava na palavra dele. Tenho certeza que ele estava sendo sincero e não só otimista.
Essa foi nossa despedida. Não algo que vemos em filme,mas para mim foi o bastante,afinal,aquilo não era um adeus,apenas um até logo...Bem,isso eu esperava.
☆☆☆
Voltando para casa,encarei o céu e milagrosamente uma estrela cadente caía magnificamente.
–Você acredita em estrelas cadentes?-sussurrei.
Será mesmo que as estrelas são como pessoas? Aquelas que se vão não podem mais voltar...Umas brilham mais que as outras...Algumas tem o poder se realizar desejos ou são só simbólicas...
Diego...Que tipo de estrela você é?
Você é uma que faça parte da mesma constelação que eu,claro.
Diego... Eu te amo...
☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆
Continua...