Natal feliz para eles, triste para mim. escrita por Plínio Saan


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Oi, espero que você goste.
Se gostar, comente. Pois seu comentário é meu incentivo para continuar a escrever.
Obrigado e boa leitura



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As vezes é difícil não se sentir um fracassado, pois esse sentimento se parece com um represa de 25 metros arrebentada e, nesse momento, eu só tenho uma colher e um balde de cimento para conserta-lá.
No fim, acho que ele me aturam por ser parente, não por quem sou ou por meu conteúdo.

O Natal é uma das piores épocas do ano para mim, se não for a pior. Pois é estupidamente difícil ficar bem quando se tem todas as disparidades, entre você e as outras pessoas, jogadas na sua cara de uma forma a qual você não pode desviar. É intenso de mais para se ignorar. Veja, eu não rio de suas piadas, eles não riem das minhas. Nós simplesmente não nos entendemos. Sei que não falamos a mesma língua, e não me refiro ao português.
É difícil rir de
– Pai, vai ser difícil você não usar a carteira que você ganhou. Na verdade eu que vou usar por você, usar bastante o que vai ter dentro dela - risos
– aí menino engraçado – diziam a plateia dementada, que tédio.

Veja bem, eu não me sinto parte dessa família quando me deparo com essas coisas. Apesar daqui haver pessoas bem diferentes entre si. Há patricinhas, ricos, pobres, crianças bem educadas, crianças não tão bem educadas e também temos as endiabradas. O mesmo se aplica, proporcionalmente, ao adultos. Por que não? Eles também são umas pestes mau educadas que vivem implicando entre sí ao invés de se consertarem e viverem felizes. A semelhança com os pirralhos é tão grande que não sei como ninguém percebe. Mas, no meio de tudo isso, quem, ou o que, eu sou? Pelo visto, aparentemente, sou um deslocado no meio de um bando de pessoas heterogêneas, mas que conseguem conviver bem. Elas conseguem, eu não. A razão de eu não conseguir? Bem, essa dúvida persegue-me desde que tomei consciência dessa realidade, antes não era assim. Dizem que a ignorância é uma bênção, mas eu não sei se quero ser abençoado.

A tristeza e a rebeldia me consomem, mas fiz delas as minhas melhores amigas nessa maravilhosa data a qual ensinamos as nossas crianças a consumir, comprar e aceitar presentes de velhos estranhos que invadem nossas casas a noite para dar presentes. Mas, acima de tudo, ensinamos as crianças a medir e demonstrar nosso afeto por meio de troços comprados por dinheiro e mostramos que é em meio a esses ritos e acontecimentos que a família se reúne e se mostra feliz e livre de problemas, a única vez no ano. Os mais de 300 dias restantes são dedicados a conviver com as falhas que ninguém se esforça em corrigir ou minimizar.


Mas voltando as minhas indagações:
Será que sou errado?
Será que sou anormal?
Qual o meu problema?
Deveria eu, me retardar também?

Parece que há alguma coisa que faz com que eles se deem bem. Coisa essa que eu não tenho e não faço ideia do que seria, vamos aos chutes?
1 - Sangue e parentesco? Talvez, mas eu também os tenho.
2 – Hipocrisia? Talvez, mas todos somos hipócritas em alguns momentos.
3 – Ideologias, tradições .....
Não, não. Acho, agora, que o que os uni é uma hierarquia pré-estabelecida em suas mentes. Algo como:

Os mais velhos mandam nos mais novos que vivem com eles, mas baixam a cabeça aos mais novos que não moram/convivem com eles.
Depois os mais velhos tratam esses mais novos de uma maneira diferente dos demais. Usam uma tolerância e mimos inigualáveis.

Os mais novos também tem uma hierarquia, o mais rico tem a preferência de atenção e babação dos outros pequenos. É ele quem tem os melhores brinquedos e jogos, os melhores equipamentos eletrônicos e também é o mais viajado. Os outros.... Bem, são os outros.

Entre as duas hierarquias, também há regras e preferências predefinidas. A criança mais rica, sempre tem mais atenção. Sempre tem seus erros perdoados, pois é "o bichinho". A mais pobre, sempre é o mais criticado. Vive em bairro simples e periférico, tudo o que fizer é porque aprendeu com os vizinhos.

Pois bem, no meio desse mundo de comportamentos, hierarquias e acordos inconscientemente mútuos, eu não sou ninguém. Não sou ninguém porque não me insiro nesse sistema. Não me insiro porque tenho uma falha, a triste falha de não saber esconder o meu eu por trás de uma máscara socialmente aceita que sei que irá agradar a todos. Sou falho, mas será isso uma falha ?

Seguindo a filosofia pragmática, onde é verdade aquilo que funciona, então é mesmo uma falha.

Seguindo a filosofia moral, eu estou certo.

Seguindo a filosofia popular, eu sou um chato, estraga prazeres, esquisito e, provavelmente, me serei tachado de mal comido. Pois é assim que a sociedade popular é, o que não está feliz é porque não fez sexo. Namore e pare de encher o saco.

Pausando minhas indagações, me chamaram a atenção por usar o celular. Oras, minha tia vive dizendo que é viciada e todos riem e acham lega. Porém ,quando sou eu, é algo totalmente condenável.

Dai você deduz como é. Mas por que não jogar tudo na cara deles? Por que não ser sincero? Bem, porque meu discurso não ressoaria em ninguém,já tentei com palavras mais brandas. Só que as pessoas não dão ouvidos a pessoas sensíveis, as acham tediosas e depressivas. Acho que deveríamos achar esse sistema familiar depressivo. Para que se esforçar tanto na tradição, quando deveriam se esforçar o ano todo para edificar um relacionamento familiar sólido e estável para que a tradição seja apenas uma consequência gostosa de um ano de muita união e paz. Por que não fazer isso, ao invés de mascarar tudo com essa merda capitalista chamada de Natal?

As pessoas são falsas, sorrisos são fabricados, desejos são culturalmente pré-estabelecidos e eu fico cada vez mais mau humorado. Por que ? Porque sou sensível o suficiente para notar essas coisas e sonhador de mais para desejar uma família melhor. Mas eu errei. Sim, eu também errei. Errei por ter tentado de mais ser um familiar bom o ano todo e por não ter feito o mais importante: A atuação Natalina.

Sim, eu reclamo da minha família enquanto muitos choram por uma. Mas cada um se alegra e se entristece com aquilo que tem ou que gostaria de ter. E o meu desejo é ter Um Natal feliz e minha reclamação é de não ter uma família que me entenda.

Obrigado por ter me acompanhado, e se você, como eu, for sensível o suficiente para sentir-se assim, saiba que os futuros natais serão seus. Estude, conquiste sua vida (pois ela não é nossa quando moramos sob o teto dos outros) e faça um “Natal” à sua maneira. Pois, apesar de ser apenas uma tradição fabricada, nós somos muito suscetíveis a ficarmos carentes e com o instinto familiar a flor da pele nessas horas. Enfim, saiba que ei estarei contigo em pensamento e torço para que todas a pessoas tenham o melhor Natal de todos... Um que, independente da fartura, os façam felizes.

Mais um obrigado e, se você for como eu, saiba que você não está sozinho. Nem é anormal por ser diferente.


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Notas finais do capítulo

Lembre-se, seu comentário é o meu incentivo e salário :)Espero que tenha gostado, fique a vontade para comentar/criticar sobre a fic ou o tema.AbraçosPs: Enviei a fic pelo celular, espero que não tenha erros de formatação.



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