A Ultima Ceia escrita por Juh Schaefer


Capítulo 1
Natal em família


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da história ♥
Aproveite!
Desculpe-me qualquer erro, não tive tempo de revisar a história, hoje o dia está muito corrido.



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A Última Ceia

Capítulo Único

Dois anos antes...

22 de Dezembro de 2013

O telefone tocava frenentimente, Harry saiu da cozinha em direção a sala, limpando as mãos em um pano de prato de sua amada Isabel, que já não estava mais com ela a um bom tempo.

Harry atendeu o telefone e logo reconheceu a voz de sua filha.

— Helen, que saudade querida. — Harry abriu um extenso sorriso, um que já não estava em seu rosto a muito tempo.

— Eu também, pai.

— Como vai você e Heloísa?

— Estamos muito bem.

— Estou ansioso para o Natal, finalmente irei revê-las e seremos uma família como antigamente!

— Pai, é sobre isso que eu queria falar... — Ele sentiu uma estranheza em sua voz.

— O que aconteceu, Helen? — Harry, perguntou preocupado.

— Pai, ultimamente eu ando muito ocupada, além disso, minha relação com Peter não anda bem, é como dizem... Os primeiros anos são flores. Não sei se vou poder ir... Tudo bem?

— Não querida, não se preocupe, está bem, eu entendo.

— Obrigada pai... Diga que eu mandei lembranças para Pedro e Vinicius, tenho que desligar agora, Feliz Natal!

— Feliz Natal para você também. Até...

Harry desligou o telefone com um aperto no coração. Tudo estava diferente desde que Isabel morreu, seria o segundo ano que não teria ninguém para celebrar o Natal, nem Helen, nem Pedro, nem Vinicius, ninguém...

23 de Dezembro de 2015

Lá estava Harry. Olhava pela a janela famílias chegando nas casas de seus vizinhos, todos felizes, carregavam sacolas de presentes nas mãos, sempre com um grande sorriso no rosto. Porém, com ele não era assim...

— Algodão! — Harry, gritou o nome do cachorro que veio correndo latindo. — Ah, ai está você... — Ele se abaixou e alisou o pelo branco do cachorro, que foi o que originalizou o nome dado pela a pequena Heloísa.

Harry pegou a coleira azul que estava pendurado em um gancho perto dos casacos, que raramente usava, devido que pouco fazia frio em Fortaleza. Colocou em Algodão.

Abriu a porta da casa e por ela passou juntamente com o cachorro, fechando-a logo em seguida.

Hoje os supermercados estavam lotados, ainda era 22 de Dezembro, mas como todos sabiam, daqui a dois dias era Natal, as coisas se esgotariam logo, era melhor se adiantar.

O dia estava bonito, o sol tinha finalmente dado um trégua, poucos raios eram vistos atravessando as brechas que tinha nas nuvens, o que deixava em um clima agradável. Nem tão frio, mas sem calor.

Harry caminhava pela a calçada, o tráfego de carros era barulhento, o que estava deixando Algodão agitado.

O supermercado não era longe de sua casa, isso era um benefício para ele, já que seu corpo já não aguentava mais longas caminhadas, a idade tinha chegado, ele sabia disso.

Cinco minutos se passou, e Harry já estava no supermercado, deixou Algodão amarrado no lado de fora, como um cachorro educado que era, nem reclamava ou latia.

Harry pode fazer suas compras sossegado, era estranho que o local estivesse tão vazio, mas não podia reclamar, quanto menos tempo demorasse, melhor seria.

~•~•~•~•~

Harry estava em casa. As luzes estavam apagadas, a única coisa que deixava o ambiente iluminado, era a árvore de Natal, que piscava nas mais belas cores do pisca-pisca.

Ele estava sozinho, naquela grande casa. Era horrível, saber que ninguém ligava, não importava o que acontecia. Será que se ele morresse, alguém iria aparecer?

Se fosse um desenho animado, uma lâmpada apareceria em sob sua cabeça, naquele exato momento. Era isso!

Era evidente que ele não iria morrer de verdade, pelo menos, não naquele momento. Entretanto, seus filhos não precisavam saber disso.

Um sorriso apareceu em seus lábios, era uma ideia perversa, até porque, brincar com a morte é uma coisa séria. Harry provavelmente deixaria seus filhos preocupados, mas de que outra maneira ele juntaria todos eles juntos de novo?

Na manhã seguinte, Harry estava na papelaria. Ele mandaria uma carta para cada um deles. Para todos os efeitos, Harry Garcia estava morto.

~•~•~•~•~

Helen corria pela a cozinha. Leite, café, pães, frutas, colocava cada um sob a mesa. Atrasada, ela estava ferrada! Sua chefe não aceitaria outro atraso, sendo que esse era o segundo na mesma semana.

Heloísa observava a pressa de sua mãe, com o queixo apoiado na mesa, e os olhinhos azuis quase se fechando por causa do sono. Ela estava praticamente pronta, iria pra casa de seu pai amanhã, mas voltaria no Natal, já que ele era um homem muito ocupado.

— Mamãe... — Ela bufou impaciente. — Anda, você precisa me deixar na casa do papai.

— Heloísa, tenha paciência!

A campainha tocou. Helen olhou com olhos suplicantes para a filha. Heloísa entendeu o recado, pulou da cadeira e foi em direção a porta. Ficou na ponta dos pés, e abriu a porta.

— Titio Pedro! — Heloísa pulou nos braços do tio, que a pegou e girou no ar.

— Pedro? — Helen, saiu da cozinha e apareceu surpresa na sala.

— Eu mesmo. — Pedro disse. Ele estava diferente, sempre fora brincalhão, mas dessa vez parecia estar cansado e triste. As olheiras abaixo de seus olhos deixava isso mais que evidente.

Helen abraçou o irmão.

— O que aconteceu, Pedro? — Helen perguntou preocupada.

— Preciso falar com você. — Ele olhou para Heloísa. — À sós.

— Heloísa querida... você poderia deixar eu e o titio sozinhos? É conversa de adultos... — Ela se abaixou e alisou o rosto da pequena menina.

— Sim, vou pegar o Sr. Bolinha lá em cima. — Disse Heloísa, referindo-se ao seu urso.

Pedro deixou que a menina sumisse de vista para começar a falar, sentou-se no sofá e indicou que Helen fizesse o mesmo.

— Pensei que você tinha uma reunião importante na Austrália essa semana.

— Eu tinha... Mas surgiu um assunto mais importante. — Os olhos de Pedro começaram a ficar marejados.

— Pedro, o que aconteceu?

— Helen...

— Diz logo, por favor!

Pedro tirou uma carta do bolso de seu casaco, e entregou a Helen, que não acreditou a cada linha que lia. Seu pai estava morto.

Helen sentiu como se uma faca atravessasse seu peito, se não tivesse sentada teria caído no chão. Lagrimas escorriam de seus olhos, azuis como de seu pai.

— Não pode... Isso só pode ser uma brincadeira! — Ela estava transtornada.

Pedro segurou a irmã pelos ombros, e a abraçou apertado. Os dois estavam chorando, ele tinha ido embora, e nem ao menos tiveram a chance de se despedir.

— Não, ele não pode ter morrido! — Ela gritava.

— Mamãe? — Heloísa apareceu no topo da escada. — O que aconteceu com o vovô?

— Venha aqui, querida. — Helen deu um abraço apertado em sua filha.

— O que aconteceu?

— O vovô querida... ele não estava mais com a gente...

— Como assim?

— Ele estava lá no céu, junto com a vovó.

— Isso quer dizer que eu não vou ver mais ele? — A menina começou a chorar.

— Não fica assim querida... — Helen começou a chorar novamente.

~•~•~•~•~

— Emergência no quarto duzentos e vinte e três! Código Azul! — Vinícius gritou!

— Senhor Garcia? — A secretária do hospital chamou.

— O que foi? — Ele perguntou um pouco rude. Com o feriado se aproximando, parece que o número de pacientes aumentava. Fazia uma semana que não dormia direito, mantendo-se acordado somente a base de café.

— Desculpa incomodar, mas tem um telefonema para você, é urgente. — Disse a jovem, um pouco envergonhada.

— De quem é?

— Da sua irmã, Helen.

Vinícius deixou que outro médico assumisse a emergência.

— Pensei que ainda tinha raiva de mim. — Vinícius sorriu, sarcástico. — Qual o motivo dessa repentina ligação?

— Você não muda mesmo, né? Continua o mesmo idiota de sempre! — Helen disse, ríspida. — Nosso pai morreu, mas mesmo assim você não se importa!

— Como assim ele morreu?! — Vinícius se apoiou na bancada.

— Isso mesmo. Ele morreu!

— Como? Quando? Isso não pode ser verdade...

— É verdade! Eu preferia estar falando isso brincando, mas não...

— Vou pegar o próximo voo para o Brasil, agora!

— O velório será na casa dele, espero que esteja falando a verdade, e não me decepcione de novo.

Ela desligou na cara dele.

Seu dia acabou de ficar pior. Nunca teve a chance de se desculpar com seu pai pelo o que fez, ele o abandonou no momento que mais precisava. Perder sua mãe foi um grande baque, agora seu pai...

Se lembra muito bem, um dos piores dias de sua vida.

Hoje era dia de festa, dia de comemoração. Estava finalmente formado em medicina. Tinha ganhado duas propostas de emprego, uma em um dos melhores hospitais particulares de Fortaleza e outro em um renomado hospital em Chicago.

Ainda não teve tempo de decidir qual seria a melhor proposta. Apesar de achar, que qualquer lugar longe daqui, seria o melhor para ele.

Mas pensar nisso não estava em seus planos naquele momento naquele momento. Hoje era somente: festa, amigos, bebidas e mulheres.

Vinícius chegou bêbado em casa, cantarolava e assobiava. Sem se importar que era 3hrs da manhã, e que provavelmente todos estavam dormindo.

Mas quem disse que ele ligava? Pouco importava, daqui alguns dias, ele deixaria tudo para trás e começaria uma nova vida. Bem longe daqui.

Vinícius abriu a porta com dificuldade, mal conseguia manter seus olhos abertos. A luz estava acesa, todos estavam no sofá.

— Que cara de enterro é essa, pessoal? — Vinícius perguntou, embriagado.

— Você está bêbado de novo? — Helen, levantou furiosa. — Eu não acredito!

— Relaxa, maninha...

— Cala a boca.

— Vish, que estresse é esse? TPM é? Peter não vai gostar nada disso.

— Você é um idiota! — Helen gritou.

— Acalmem-se vocês dois. — Pedro levantou, intervindo qualquer possível briga ali.

— Vocês deviam dar uma relaxada... — Vinícius cambaleou até o sofá e se jogou nele.

— Pelo visto não vai dar pra conversar com ele hoje. — Pedro disse.

— Eu não suporto ver isso! — Helen exclamou. — Cuidem deles vocês, eu estou fora!

Ela pegou a bolsa que estava sob uma poltrona, e saiu batendo a porta com força.

— Shiii, zanguei a fera.

— Vinícius cala a boca!

— Que estresse todo é esse?

— A mamãe morreu!

Naquele momento, ele desabou completamente. A única pessoa que o apoiava tinha morrido, ele estava sozinho. Não conseguiu aguentar. Na manhã seguinte, aceitou a proposta do hospital em Chicago. Não se despediu de ninguém, não deu nenhuma explicação. Só deixou tudo o que tinha para trás.

Ainda com esse pensamento em mente, correu para o seu escritório, pegou sua pasta e o telefone, discou os números do Táxi. Iria direto para o aeroporto e pegaria o primeiro voo. Não queria decepcionar Helen mas uma vez, queria provar para todos que não era mais aquele garoto idiota, mesmo, que ainda lá no fundo, ainda tivesse um pouco dele.

A viagem toda, lembranças rodeavam seus pensamentos. Fechou os olhos, tentando evitar as lágrimas, o que praticamente era impossível, sequer se deu conta que haviam chegado.

— Senhor? Chegamos. — Acordou de seu transe quando o motorista o chamou.

— Ah, sim, desculpe. — Ele tirou a carteira do bolso, entregou 50 dólares ao motorista e disse para ficar com o troco.

O motorista sorriu, entregou as malas a Vinícius e desejou uma boa viagem.

— Segunda chamada para o voo 215. Por favor, dirijam-se para o portão de embarque.

~•~•~•~•~

Pedro segurava fortemente a mão no volante. O trânsito estava insuportável, não queria se atrasar para o velório, mas sabia que quando chegasse lá, tudo estaria acabado.

— Não tem como pegarmos um atalho? — Helen perguntou. Olhou pela a janela e observou a situação.

Estava um inferno, um barulho impossível, todos tinham que gritar para que outra pessoa os escutasse.

— Creio que não.

— Mamãe... Por que está demorando tanto?

— Não sei, querida.

O telefone de Helen tocou dentro da bolsa. Ela tentou encontrar no meio da bagunça que estava. Pegou o telefone e viu o nome “Peter”.

— Alô.

— Por que você ainda não trouxe a Heloísa? E que barulho é esse?

— Peter, eu estou no trânsito, não terá como levar a Heloísa.

— Por quê?

— Meu pai faleceu, estamos indo para o velório... — Helen tentou segurar as lágrimas.

— Oh Desculpa, eu não sabia...

— Tudo bem... Sábado eu levo ela.

— Sem problemas. Meus pêsames.

— Obrigada.

Helen desligou o telefone, e sentiu o olhar de Pedro nela.

— O que foi?

— Nada, só nunca entendi porque vocês não deram certo.

— É uma história complicada, achei que iria ficar com ele para sempre... Bom, isso não aconteceu.

— A mesma coisa comigo e com Dana, achamos que iria dar certo, mas deu no que deu.

— Titio? — Heloísa perguntou, quebrando o clima estranho que tinha se formado no carro.

— Diga querida.

— Posso ligar o rádio?

~•~•~•~•~

Vinícius já estava em frente à casa do pai. Voltar ali o trazia todas as lembranças à tona. Nenhum outro parente tinha aparecido ainda, e ele não tinha coragem de entrar lá sozinho.

O som de um carro se aproximando acordou Vinícius de seus devaneios. Observou Pedro descer do carro, acompanhado de Helen e sua filha, que estava bem grande, sendo que a última vez que à tinha visto, era apenas um bebê.

Pedro apertou sua mão e Heloísa lhe deu um abraço tímido. Encarou por algum tempo Helen, que se aproximou devagar e deu um abraço.

Outros parentes chegaram, e cumprimentaram os três, que deram um sorriso fraco.

— Vamos entrar? — Pedro perguntou.

— Vamos. — Helen disse.

Os três passaram pelo o portão, não era como antes. O jardim não estava mais florido, a grama já não era mais verde, tudo estava triste... Assim como eles.

Helen foi a primeira a passar pela a porta, estranhou. Normalmente velavam o corpo na sala. Ela andou em direção à sala de jantar, e viu a mesa iluminada por velas e pratos com talheres separados.

Ela sentiu o cheiro inconfundível do perfume de seu pai, era o mesmo há 4 anos, ele nunca havia mudado.

Da cozinha, ela viu ele sair, seu pai... Ele estava vivo!

— Papai?

— Essa era a única maneira de trazer vocês de volta.

— Vovô! — Heloísa saiu correndo e pulou nos braços de Harry.

— Eu... ainda não acredito. — Pedro disse. — Pai, você matou de susto. — Ele deu um abraço apertado em Harry.

Vinícius se aproximou timidamente de seu pai. Harry sorriu e abriu os abraços para o filho, que o abraçou forte.

— Desculpa pai... — Lágrimas escorreram de seus olhos.

— Não, não chore. Hoje é dia de sorrisos e não de lágrimas.

Vinícius assentiu.

— Bem, quem vai querer um belo pedaço de torta?

— Eu! Eu! — Heloísa gritou pulando, e todos riram.

Harry observou todos sorrindo e felizes, era daquele jeito que ele imaginou. Todos reunidos. Olhou para a foto de Isabel, que ficava em um quadro na parede e sorriu, como se dissesse “Missão cumprida”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥
Comentem o que acharam, qualquer erro, ajuda muito ♥
Boas festas e Feliz Natal ♥



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