TODAS AS LUZES - Coletânea de Natal escrita por Serena Bin, Gessikk, Cardamomo, Miss Houston, Maya, Amauri Filho, Lady Gumi, Maxx, Sr Devaneio, Lucas Freitas, Analu, Nanathmk


Capítulo 9
Quando as Luzes Apagarem - Lucas F


Notas iniciais do capítulo

Se você está lendo isso gostaria de desejá-lo um feliz natal e um próspero ano novo!
Esta história é um drama... Sim, você leu corretamente, um drama de Natal (Isto é possível? Coisas alegre no Natal, Lucas)
Eu sei que nesta data do ano pensamos em coisas felizes que nos permeiam, mas quem disse que a vida não é feita de momentos tristes? O Natal não ganha uma ficha de exclusividade "Anti-coisas ruins".
Esta estória narra o ponto de vista de um homem que acabou de perder uma pessoa amada logo neste dia :(
Espero que entenda a mensagem que eu quis passar com "Quando as luzes apagarem"
Eu me inspirei em duas músicas para escrever esta one, então se você gosta de ouvir lendo ou quiser escutar mais tarde e ler a tradução para entender o que estou querendo transmitir com as canções elas são: Flashlight - Jessie J(Nesse caso eu me inspirei no cover) Link: http://bit.ly/1Jl6gIw
E Memories do Shawn Mendes: http://bit.ly/1PmzID9
Estas duas músicas foram importantíssimas para me trazer um pouco de inspiração para prosseguir a estória.
Sem mais enrolação...
Vamos a leitura!!!



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“-Notas póstumas -
Que este Natal
seja o mais iluminado de
todos os tempos!”

Eu não precisava ler incessantemente aquele pedaço de papel escrito por Bruna, não havia a necessidade de prolongar o sentimento de vazio que sentia no peito, mas ainda assim eu precisava me punir por ter falhado em cumprir minha última promessa.
Eu havia me esquecido do principal naquela noite, véspera de Natal, realizar o último desejo da mulher que mais amei neste mundo.
Uma chuva fina caía, os anjos deveriam estar com uma vontade gigantesca de desabar em lágrimas, mas como a própria Bruna me disse meses antes, não queria que ninguém lamentasse sua morte. Ela sempre acrescentou misteriosamente que não haviam motivos para desespero após sua “missão” na Terra ser concluída. Nunca entendi, não tentei entender, talvez o tumor no cérebro estivesse fazendo coisas terríveis com sua sanidade mental.
Tais episódios aconteceram alguns dias antes do Natal, quando ela mudou completamente seu modo de ser. Não queria agora admitir, mas Bruna Santos sabia que iria morrer.
Levantei da cadeira velha que tínhamos no apartamento e caminhei até o canto da sala, onde um objeto estava tombado. De acordo com uma carta também escrita por ela eu deveria saber o que fazer com aquilo antes dela sair do hospital, mas eu ignorei completamente as ordens que me foram dadas, fiquei por tanto tempo sofrendo que esqueci de completar o último desejo da minha noiva.
“Apenas siga esta instrução primordial: Não ligue os pisca-piscas desta árvore de natal que você montará. Somente na noite de natal, aproximadamente às 20:00 horas. Bru”
Não compreendi o estranho pedido feito. Dada as circunstâncias aquilo seria até melhor para mim, estava precisando focar em algo para passar um natal ao menos digno de um ser humano.
Ajoelhado, retirando a árvore da caixa notei que nunca mais iria encontrá-la, seria o resto da vida assim, eu relembrando um passado e tentando seguir em frente como fazem as pessoas corajosas, mas eu não queria esquecer. Um homem esquecer a mulher de sua vida é o mesmo que pedir para a Terra colocar uma cortina gigante para impedir que a luz do sol chegue. Inimaginável seria a palavra adequada neste momento.
Não estava fumando há três anos, porém naquela noite eu não precisava me lembrar disso, deitei no sofá ignorando a árvore por alguns minutos e tentei me concentrar nas últimas atividades de Bruna, a probabilidade de que eu encontraria o motivo para tanta estranheza me deixou até um pouco animado.
— Vamos começar pelo início, Bruna. Alguns dias atrás.

~****~

Bruna estava estonteante naquele vestido branco de noiva. Ela quebrou até o tabu de não dar ao noivo uma amostra de como seria o vestido só para me deixar ainda mais aflito até o casamento que ocorreria em janeiro. Não estava perto o suficiente para atrapalhar Victória, sua melhor amiga ou para fazer comentários masculinos completamente desnecessários, mas aquilo tudo estava perfeito demais. Um detalhe com uma flor verde parecia harmonizar perfeitamente com os olhos cor de mel, o rosto delicado e o cabelo castanho dela que estava tão ralo que quase não era notado. Se Deus também era um estilista eu não sabia, mas aquele vestido havia sido criado justamente para minha futura esposa.
— Quando é o casamento? — uma mulher tão baixa que poderia ser considerada uma “quase anã” surgiu atrás de mim dando um grande susto.
— Em janeiro de 2016. Vai ser uma bela cerimônia — sorri tentando disfarçar meu coração que quase saltava para fora do corpo.
— Que tipo de câncer ela tem? — a mulher forçou um pouco os olhos, tentando por dedução adivinhar o que acontecia com a moça que experimentava o vestido — Ela dura até 2016?! Uma cadeira de rodas logo ali, oh céus!
— Sua vac... — antes de conseguir soltar meu elogio em forma de xingamento Victória que deveria ter notado a aproximação da mulher e minha face ruborizada começou a pedir calma.
— Ele está passando por um momento difícil, você poderia ao menos respeitar e parar de dizer baboseiras — Victória falou tão docemente que acabei esquecendo que aquilo já era normal entre as pessoas, desacreditar a capacidade de Bruna de viver. Minha noiva era uma guerreira tão corajosa quanto Mel Gibson em Coração Valente, tinha certeza disso.
A velha rabugenta e sem papas na língua saiu sem criar muito alarde nos deixando sozinhos.
— Eu não consigo lidar muito bem com certos comentários — já fui logo tratando de dar explicações, não queria que aquele momento de instabilidade chegasse aos ouvidos da Bru — Eu falei que não era uma boa ideia virmos aqui.
— Você sabe o quão animada ela está, não deixe que os outros retirem a sua fé de que ela conseguirá. A Bruna é forte, nós dois sabemos disso — Victória foi dizendo enquanto sorria e aplaudia a amiga que vinha em nossa direção na cadeira de rodas.
— Não vejo a hora de subir no altar. André, que tal comermos fora hoje, só nós dois. — Bruna disse surgindo atrás de nós. Victória entendeu o recado imediatamente e fingiu estar recebendo uma ligação importante. Pelo menos eu sabia que ela estava mentindo, minutos atrás havia reclamado que a bateria do celular tinha acabado.
— Tenho que ir mesmo, nos vemos depois — apressada como sempre fora, a melhor amiga da minha noiva saiu correndo quase tropeçando na idosa mal educada, o que seria ótimo caso acontecesse.
Não tínhamos muitos planos, nossa vida havia estagnado após o diagnóstico do tumor cerebral, cada segundo ao lado de Bruna era uma oportunidade única de dar uma mensagem de ânimo. Em casa não comentávamos nada sobre o assunto, ambos sabíamos que ela estava morrendo lentamente e só restava assistir o fim da história.
Meu pai tentou me ajudar diversas vezes dando apoio e mensagens de ânimo para eu ser mais que uma pessoa acompanhando outra para a morte e sim um aconselhador, mas era difícil demais ajudar alguém mais forte que eu, um rato indefeso tentando ajudar um gigante.
Atravessamos a rua enquanto uma lágrima escorria no meu rosto, uma lágrima que necessitava ser derramada pelo meu bem. Sempre assistia filmes que mostravam homens guerreiros que olhavam a morte de seus companheiros como algo honroso, um mártir para os que estavam a volta. Na minha mente essa ideia não conseguia ser encaixada, porque o mártir seria a pessoa que deveria me acompanhar pelo resto da vida.
— Aqui está ótimo André — eu não havia percebido que a cadeira de rodas havia arrastado uma mesa. Bruna caiu na gargalhada e eu fiquei um pouco nervoso ao perceber que outras pessoas nos olhavam com certo desprezo.
— Nunca viram alguém doente, seus idiotas?! — soltei sem me importar com a repreensão da minha noiva em seguida.
— Ei, não precisa ser grosso com as pessoas!
A raiva nunca foi uma emoção de fácil controle para mim. A conta de quantas pessoas já havia xingado ou dito palavras ríspidas quando olhavam daquele modo para Bruna já eram incontáveis. Meu coração andava pronto para uma boa discussão, de alguma forma toda a pena que eu sentia era transformada em ódio incontrolável, eu fui transformado numa torrente infinda de raiva.
Ficamos em silêncio, eu saboreava meu sanduíche de atum e ela tomava um sorvete apesar de não poder. Não estava apto a negar algo para alguém que estava mais perto do paraíso do que da Terra. O silêncio naquele momento foi fundamental, só conseguia pensar no quão estranho eu estava e em toda a minha agressividade constante. Será que Bruna conseguia enxergar no que eu estava me tornando?
— Você não precisa ser assim. — Bruna colocou o copo de sorvete na mesa e segurou minhas mãos. Um pouco forte para alguém que era submetida a tantos tratamentos — Você não precisa ficar preocupado com o que não exige sua preocupação.
— Não consigo ver você... — minha garganta travou, não consegui pronunciar morrendo por mais adequada que fosse para completar aquela frase.
Ela emudeceu, seus olhos ficaram tão arregalados que tive medo de vê-los saltando e quicando pela rua. Lançou o copo vazio de sorvete até a lixeira mais próxima e mexeu um pouco a cadeira como estivesse se acomodando para ir embora, olhei nos seus olhos por alguns segundos e pensei que uma lágrima iria escorrer. Aquele olhar me deixou extasiado, não ousei desviar demonstrando algum tipo de hesitação ou medo, permaneci firme e estático.
— Acho que já é hora de irmos — ela falou abaixando a cabeça e procurando algo na bolsa — Tome o dinheiro para pagar.
Tínhamos uma mania peculiar de demonstrar afeto. Tenho uma crença de que todos os casais do mundo tem uma maneira única de fazer a comunicação, para alguns é uma piscadela quando fazem um comentário sarcástico, outros dão uma pisada de leve no pé do companheiro para repreensão. Eu e Bruna, todas as vezes que entregávamos um objeto, qualquer fosse ele, acariciávamos um a mão do outro. Um gesto simples aparentemente, mas que dizia muito sobre nosso amor. O amor é feito de gestos simples, por isso enquanto adultos procuram explicações elaboradas sobre o assunto, crianças demonstram o poder do amor com apenas um abraço. Naquele momento não senti o calor de seus dedos me acariciando, ela estava irritada, pude notar sem que uma palavra fosse dita.
Depois de haver pagado o que comemos a empurrei até o carro e de lá fomos até nossa casa. Morávamos em um bairro considerado nobre de Petrópolis, no Rio de Janeiro, Itaipava. Compramos o último apartamento de um condomínio que prometia muitos benefícios, um verdadeiro recanto de paz, nem sempre haviam pessoas nas ruas e um silêncio que acredito que haveria no céu poderia ser experimentado ali. Eu não era um fã de carteirinha do local em questão, Bruna buscava um local calmo e considerável para seu descanso no decorrer do tratamento e posteriormente a nossa moradia oficial de recém-casados, não me arrependi ao entender o motivo daquele lugar ser chamado de lar.
Paramos no estacionamento e contei mentalmente até dez antes de abrir a porta. Pelo menos pensei como se esta ação fosse mudar algo. Bruna não mudou seu semblante, permaneceu calada, parecendo estar refletindo nas minhas palavras. No quanto hesitei para falar que ela estava morrendo.
Não queria ser o vilão de toda a história. O noivo que sofreria pelo resto da vida e seria visto como mais um coitado pelos amigos, ficariam tão chocados em me ver que evitariam ao máximo tocar no assunto, mas ficariam olhando com pena e fazendo todas as minha vontades. Balancei a cabeça ignorando meus pensamentos obscuros, fiz uma promessa assim que recebemos o diagnóstico de nunca pensar na morte dela. Ali, sentindo cada fibra de vida que a mantinha alegre e ativa se esvaindo, tinha medo de estar quebrando a promessa.
Quando enfim chegamos ao apartamento levei-a até o quarto, onde costumava ficar quando ainda era saudável fazendo artesanatos em geral. Um carro feito de madeira estava num canto, lembrei que era para meu sobrinho, João.
— Não pensa em terminar este? — tentei descontrair sorrindo e colocando o carrinho na mesa utilizada para confeccionar os itens.
— Só veremos o João no ano novo — Bruna olhou para mim segurando as lágrimas, não podia me enganar, conseguia vê-las nos cantos dos seus olhos lutando exaustivamente para serem derramadas — Posso trabalhar nisso depois, além do mais estou um pouco cansada. Vou dormir um pouco.
A forma que ela pronunciou as palavras me deixou pesaroso. Não pude conter quando disse aquilo que não deveria. Nunca tive a intenção de deixa-la machucado, as palavras horas atrás só foram ditas sem medir as consequências que seriam formadas. Mesmo sabendo que deveria dizer algo, talvez um simples pedido de desculpa, permaneci calado.
Pelo resto do dia fiquei assistindo filmes aleatórios. Navegando entre categorias até então desconhecidas na Netflix. Bruna estava em silêncio no quarto, provavelmente escutando uma música e tricotando, uma das poucas atividades que sentia prazer em fazer.
Quase não notei o tempo passando. O relógio já marcava três horas da madrugada e eu ainda conseguia ouvir algum barulho vindo do quarto, foi até um pouco estranho perceber que ela ainda estava ali fazendo algo.
Silenciosamente, como um policial prestes a pegar um ladrão em flagrante me esgueirei até o local, a porta estava entreaberta e a luz da luminária de mesa acesa. Não ousei entrar feito um louco ali dando um susto tremendo nela seria muito errado, abri lentamente a porta de madeira e vi o que ela fazia algo relacionado ao natal, com árvores e enfeites por todos os lados na folha de papel.
— Então finalmente resolveu começar os preparativos para o natal?! — tentei soar o mais natural possível, mas a assustei e antes que pudesse ver na íntegra o que acontecia ali ela dobrou a folha e guardou em uma pasta rosa juntamente com outros projetos que segundo ela eram secretos. Nunca pude ter uma visão dos projetos escondidos com tanta exatidão.
— Não era para você ter visto — ela piscou os olhos freneticamente enquanto buscava no meio da bagunça algo — Tome esta lista de coisas que precisamos para este natal, compre tudo nesta lista — Bruna me entregou um papel amarelo um pouco amassado com itens considerados pelas demais pessoas como indispensáveis para esta época do ano.
Aquela atitude dela me deixou intrigado, primeiro houve uma recusa tremenda para comemorar aquela data do ano e como por osmose um interesse crescente brotou em seu coração. Por isso não consegui entender por hora o que se passava dentro daquela mente.
Senti vontade de rebater e dizer que não precisávamos comemorar o natal com coisas difíceis demais acontecendo, afinal, só restavam mais alguns dias até a data comemorativa e já tínhamos problemas demais para resolvermos. Fiquei em silêncio, o momento perfeito de não abrir a boca e deixa-la mais uma vez irritada era esse, deveria ao menos respeita-lo. Fechei os olhos, contei até três e os abri dessa vez completando com um sorriso.
— O que quer fazer amanhã? — perguntei procurando o pijama que havia deixado em algum lugar naquela manhã.
— Seu pijama está no banheiro — ela deu uma gargalhada. Não tinha notado o quão abatida ela estava, mas em seus olhos eu enxergava toda a beleza, sua bondade e todas as outras qualidades que a tornaram tão linda por inteiro. — Amanhã podemos ir até o parque municipal para eu correr um pouco.
Dessa vez nós dois rimos. Olhei para a cadeira de rodas e a imaginei com forças suficientes para uma dança, como na vez em que saímos até o zoológico. O pedido de casamento foi ao lado da jaula de alguns macacos, infelizmente a aliança foi parar no estômago de um deles que roubou o objeto da minha mão assim que cheguei perto demais da jaula descuidosamente. Um dos melhores dias da minha vida foi aquele. Eu, a Bruna ainda no início de sua luta que acabaria prematuramente no dia 24 de dezembro, um amigo meu que disse que filmaria tudo, mas que fez um vídeo que "viralizou" de um homem que perdeu a aliança para um macaco louco. Apesar do meu prejuízo de ter que esperar até que o ladrão estivesse apto a devolver o objeto que comprei após uma escolha minuciosa este seria um dos dias que daria tudo no mundo para retornar e vivê-lo outra vez.
— Ok. Então damos uma volta no parque e a levo até um lugar especial — sorri e me aproximei dando algumas cócegas. Após isto a peguei no colo para levá-la até a cama para recuperar as poucas energias que ainda lhe restavam.
— Gosto de lugares especiais — ela me olhou e acariciou meu rosto — Nem pense em mexer nos meus projetos secretos enquanto eu estiver dormindo, mocinho.
— Tem minha palavra — um beijo no rosto e um boa noite foram o suficiente até que ela pegasse no sono e eu estivesse ali praticamente sem nenhum ruído, a não ser pela televisão que estava ligada.
Um pouco sonolento caminhei até a sala. Sentei no sofá, desliguei a televisão e respirei profundamente. Minha mente devaneou por algo que estava pendente no trabalho, alguns contratos antigos que deveriam ser resolvidos e por culpa dos últimos episódios da minha vida acabaram sendo ignorados. Minha vida havia sido completamente revirada ao avesso depois da notícia do tumor cerebral que estava degenerando Bruna. A mãe dela não entendeu muito bem minha reação ao me confrontar dizendo que não deveríamos marcar um casamento, ali agora eu conseguia entender o porquê dela ter desaprovado: ela diferente de mim não tinha feito promessa alguma de ignorar a morte, a Sra. Santos sabia o que aconteceria inevitavelmente. Como qualquer um ela não estava interessada em ver meu coração despedaçado.
Acordei assustado. Dormi ali mesmo no sofá e uma música animada vinha do quarto, eletrônica e repleta de batidas alucinantes, o gênero musical favorito dela. Fiquei completamente extasiado quando notei que ela havia trocado de roupas sozinha.
— Como conseguiu? — engasguei um pouco para tomar um tom cômico — Você sabe. Trocar de roupas.
— Demorei algumas horas e posso dizer que fiquei até um pouco suada. Ainda consigo andar seu idiota! Foi difícil, não impossível. — ela narrou com tanto afinco a história que comecei a rir — Ei, não tem graça, sério!
— Vamos logo antes que eu faça mais perguntas sobre como você vestiu esta roupa aí — fui logo tratando de empurrar a cadeira de rodas até o elevador — Mas me diz, você conseguiu mesmo vestir isto sozinha ou fez algum pacto bizarro com seres sobrenaturais?
— Você deveria parar de assistir Supernatural.
— É, eu sei...

~****~

O parque municipal estava lotado, olhares de vários cantos nos observavam com certa curiosidade. Algo normal quando eu saia junto com uma mulher aparentemente doente, sem cabelo e sentada numa cadeira de rodas. Eu sempre imaginei o que será que se passava na cabeça da Bruna quando as pessoas cruzavam os olhares com o dela, quando tinha que enfrentar uma criança inocente que queria saber o motivo da tia ter raspado os cabelos.

— A pior parte de estar morrendo é que só aí que as pessoas lhe dão atenção — Bruna soltou como se tivesse lido minha mente naquele exato momento.
Uma pista de corrida cruzava todo o parque e começamos a caminhar. Talvez só eu, pois era o único apto para a tarefa. Em dado momento um impulso incontrolável tomou conta do meu corpo, ignorei todas as pessoas que caminhavam e passavam de bicicleta no local, por alguns minutos me senti corajoso o suficiente para esquecer o que pensariam. Corri feito um louco, um louco de pedra apaixonado por alguém que só precisava de um pouco de diversão para esquecer os problemas.
Enquanto corria e gritava para que os outros saíssem da frente eu podia notar o quão feliz ela estava. Seus cabelos não esvoaçavam, — já não havia nada para voar por ali — mas seu sorriso alcançava o infinito bailando entre as nuvens daquela manhã.
— Esse é o melhor natal do mundo! — ela gritou quando começamos a descer uma ladeira um pouco perigosa demais para uma mulher doente. Não ficou preocupada, nem um pouco. Eu tremi após perceber que quase tombamos em uma curva.
A manhã inteira foi prazerosa, demos incontáveis voltas na "nossa pista de corrida" e a cada obstáculo encontrado, fosse ele um ciclista ou um corredor como nós, Bruna gritava um Avante! bem firme e cortávamos como verdadeiros velocistas profissionais o desafio. O câncer poderia ser como um simples ciclista no meio de uma pista, um simples ultrapassamento e ele estaria derrotado. Ele não era assim, Bruna continuava morrendo.
Parei de correr, de acreditar ao perceber que aqueles momentos talvez fossem únicos.
— Ei, podemos correr mais um pouco? — ela pediu como uma criança quando experimenta algumas horas de diversão com os pais.
— Estou cansado demais. Que tal irmos para a minha surpresa? — pensei que não receberia muito calorosamente a resposta do meu convite, mas seus olhos brilharam como o sol pela manhã quando surge com todo seu esplendor.
Entramos no carro e ofereci uma venda. Ela colocou com um pouco de receio, já havia imaginado que ela ficaria com um pouco de medo por estar usando algo que impediria sua visão. O escuro era um dos maiores medos que ela tinha.
— É melhor dormir um pouco, onde vamos é um pouco longe daqui. — disse virando a chave do carro.
Não tentei puxar assunto em nenhuma parte do trajeto. Periodicamente ela fazia uma pergunta ou outra, mas eu as recebia em silêncio, queria aguçar ao máximo sua curiosidade. Após um tempo ela ficou quieta entendendo todo o meu jogo.
— Você deve estar vivendo a vida de mágico que sempre quis. Cheio de truques. — Bruna falou assim que parei onde queria.
— Chegamos! — falei tão animado que estava parecido com ela, talvez a convivência tenha me deixado com um jeito todo animado toda vez que conseguia concluir uma missão.
Ela retirou as vendas vagarosamente, finalmente tinha percebido que algumas coisas não precisavam de uma pressa absurda. Quando as vendas foram retiradas por completo ela viu o que eu queria que visse. Estávamos na parte que por mim era considerada a mais bela da cidade, o Mirante Belvedere. Daquele local, ainda mais no pôr do sol, era possível sentir uma paz surreal, uma vista estonteante da Serra que ainda tinha traços intocados pelo homem. Passarinhos cantavam em algum lugar ao longe e uma família abaixo de nós fazia um piquenique apreciando também a bela visão.
— Eu queria voar em algum lugar. Eu, você e o céu. O infinito bem ao nosso alcance — ela fechou os olhos apreciando cada som, inspirou lentamente buscando relaxar um pouco. Ficamos por um bom tempo sem dizer nada, eu não havia percebido, mas em algum momento ela desmaiou. Liguei o carro o mais rápido que pude e rezei para que tudo desse certo.

~****~

No hospital a mãe de Bruna já estava nos esperando e uma enfermeira retirou das minhas mãos que empurravam a cadeira assim que me viu. Nenhum de nós estava preparado para aquela recaída, o avanço de Bruna no tratamento era nítido. O médico havia prometido que ela teria forças logo mais para poder sair andando como antes, contudo, aquelas promessas naquele momento vendo que tudo estava dando errado soaram como mera casualidade. Uma tentativa de dar esperança onde já não havia mais.

— Você sabe o que está acontecendo, não é André? — Sra. Santos me abraçou quando enfim estávamos sozinhos na recepção.
— Não estou entendendo o que a senhora quer dizer com isso — cruzei as pernas e os braços demonstrando o quão intrigado estava.
— Nem todas as luzes de natal ficam acesas por tanto tempo — ela engoliu em seco antes de prosseguir — Você tem que ficar preparado caso elas se apaguem.
Aquelas palavras faladas em forma de metáfora me pegaram de surpresa. Eu havia feito a promessa e ouvir o que estava tentando arduamente ignorar me deixou extasiado e com medo. Ela percebeu o quão diferente eu fiquei após ela ter completado a frase. Meu mundo não perdeu somente o chão, perdera também o teto bem como as paredes, foram arremessados para um buraco negro que estava também me consumindo naquele momento.
— Cale a boca, pelo amor de Deus! — comecei a me alterar de tal forma que tive que ficar em pé para não tomar uma decisão precipitada e acabar esganando minha sogra — Enquanto ela estiver lutando luz alguma irá apagar.
Sem pensar sai correndo pela porta da frente, estava sem coragem de encarar qualquer pessoa, só conseguia pensar naquelas palavras ditas instantes atrás. Se Bruna estava de fato deixando este mundo eu deveria estar preparado caso a tragédia acontecesse, e ao que parecia eu era o único que não estava pronto.
Fui para casa relembrando cada momento daquele dia. Bruna estava certa quando disse que aquele havia sido o melhor dia de sua vida pois também havia sido o meu melhor. Se todas aquelas pessoas soubessem o quão incrível era conhecer minha noiva e passassem um dia seque com ela saberiam o quão abalado eu estava com seu possível adeus deste mundo.
Liguei a televisão e quase quebrei a tela com o controle quando enquanto passeava entre os canais começou a tocar See you again. Parecia um daqueles malditos filmes de drama que enquanto você lembra da amada músicas melancólicas surgem do além.
Odiei ter nascido, amaldiçoei cada canal de televisão, inclusive a amada Netflix. O momento que tanto temia estava prestes a chegar.
Enquanto tentava retirar o celular do bolso acabei deixando cair no chão o papel com a lista de compras para o natal. Sorri ao lembrar que após negar o natal com tanta veemência ela quis finalmente comemora-lo. Se ela melhorasse e estivesse disposta dali 3 dias poderíamos relaxar em casa olhando nossa primeira árvore de natal.
Durante meus momentos de preparação para sair até o supermercado mais próximo minha curiosidade atinou para a pasta rosa, onde estaria o desenho que foi escondido. Mesmo sozinho andei como se alguém fosse capaz de me parar naquele instante e de fato fui evitado de conseguir descobrir o que estava acontecendo, o telefone celular tocou no momento em que comecei a revirar as coisas em cima da mesa de trabalho.
— Alô, André falando.
— Você precisa vir aqui, agora.
Quase atropelei dois cachorros, cinco crianças e dois idosos que estavam pela rua. Aquela notícia era boa por um lado. Bruna estava acordada, infelizmente, seu quadro era instável e os médicos não tinham certeza se deveriam dar uma decisão para a família quanto ao quadro clínico. A esperança ainda vivia no meu coração, por algum tempo pelo menos.
Minha sogra não disse muita coisa quando cheguei ao hospital, tratou de chamar o médico imediatamente para dizer um monte de bobeira que não entendi praticamente nada, apenas a parte que ela passaria o natal ali caso sobrevivesse. Caso sobrevivesse, nunca pensei que essas palavras pesariam tanto em algum momento da minha vida, ali agora percebi o drama que estava experimentando.
— Posso vê-la? — perguntei ansioso.
— Agora ela está descansando, passamos alguns medicamentos para a dor — o médico retirou os óculos, talvez para dar um ar de Grey's Anatomy — Pode ficar esta noite com ela caso queira.
Não pensei duas vezes, aceitei sem pestanejar.
A noite parecia estar mais escura que o normal. Vê-la no leito me deixou com uma ponta de desespero, não poderia perdê-la. Tínhamos um casamento pela frente, uma lua de mel perfeita em Angra dos reis e quem poderia imaginar lindos filhinhos pela frente em um futuro próximo. Nossos planos naquele momento receberam uma pausa que parecia longa demais. Não suportei nem mais um minuto sofrendo, esmiuçando minha mente em busca de alguma resposta para tudo aquilo, como lidaria com o amanhã, dormi com uma lágrima descendo a bochecha e encontrando o frio gelado do hospital.
— Ei, acorde ai dorminhoco — a voz de Bruna invadiu minha mente em algum momento, abri os olhos e pela fresta que a luz conseguia penetrar o quarto na penumbra pude notar que ela já estava desperta — Podemos dar uma volta?
Precisava negar aquele pedido, não poderíamos arriscar um desmaio novamente. Só Deus saberia o que aconteceria caso ela desmaiasse novamente.
— Não podemos sair por aí, você está fraca Bru.
— Por favor, eu preciso me distrair um pouco.
Ignorando toda a prescrição médica a tomei pelos braços e coloquei na cadeira de rodas que estava ao lado da cama. Aquela seria nossa última aventura, o último momento de um nobre casal que tinha a vida inteira pela frente e que a viu ir embora como algo passageiro.
Mesmo evitando falar muito alto todos os quartos daquela ala podiam escutar nós dois correndo pelos corredores. Logicamente não estava na mesma velocidade do dia anterior, seria loucura fazer isso, principalmente em um local que não suportava nossas peripécias.
— Nesse hospital tem um terraço muito irado. Vamos lá! — ela soltou animada olhando para mim um pouco grogue. Era nítido que estava cansada, mas eu não conseguia soltar um não.
Um vento gelado soprava e fui obrigado a dar o meu casaco senão ela congelaria de frio. O chão era de cimento e alguns funcionários fumavam, assim que nos viram jogaram os cigarros no chão e deram sorrisos amarelos.
— Eles tem tanta vida e a jogam fora — Bruna estava com uma voz rouca e falha o que me obrigou a ficar mais perto para escutar algo.
— Algumas pessoas não sabem o presente que é estar vivo e bem — falei observando alguns carros que passavam na rua a alguns andares abaixo de nós.
— Presentes. — ela sorriu olhando para o chão como se estivesse procurando algo, mas na verdade estava sem forças para levantar a cabeça — Este será o melhor natal de todos, André! — a frase saiu com um certo mistério incrustado.
— Não com você aqui no hospital, Bru.
— Não importa onde você esteja, você sempre pode presentear alguém com algo. Seja um sorriso, um abraço — a melancolia da sua voz me dava náuseas, como se aquilo fosse uma despedida precoce — Você me deu muitos presentes, já ajudou muitas pessoas André. Você sabe como fazer um natal iluminado para alguém. Eu queria pelo menos uma vez na vida fazer o mesmo para alguém.
— Você me deu presentes todos os dias, desde quando nos conhecemos. E me dará ainda muito mais presentes do que imagina. — tentei demonstrar que aquilo não deveria ser um adeus. A maldita música See you again vinha na minha cabeça naquele momento.
Ela não disse mais nada. O médico surgiu gritando feito um louco e ignorei sua voz por alguns minutos e apenas abracei a Bruna. Aquele era o nossa adeus.
Antes de ser levada pelos enfermeiros que vinham com cobertores com uma feição preocupada ela balbuciou:
— A pasta rosa.
Naquele momento nenhuma pasta no mundo importava mais, eu estava vendo pela última vez minha noiva, a futura Sra. Beltrão. Sai em disparada atropelando os enfermeiros, precisava chegar até a mão dela, quando consegui todos pararam para olhar o que eu faria. Puxei do bolso um objeto cintilante, o anel que havia guardado durante todo aquele tempo para o nosso casamento em janeiro, e coloquei em seu dedo anelar.
A Bruna foi embora, no dia 24 de dezembro. A hora exata de sua morte foi às 01:35 da manhã. Não houve nenhum desfile cívico relembrando toda sua trajetória. As pessoas na rua corriam normalmente, talvez estivessem preocupadas demais com os preparativos do natal. Eu sentia vontade de dizer algo, contar-lhes sobre alguém que mudou minha vida, mas só de eu saber sua existência aquele natal já valia a pena. Eu havia conhecido a pessoa mais incrível do mundo.

~****~

Li mais uma vez o papel em minha mão. Precisava de toda a certeza do mundo, saber se valeria a pena prosseguir lendo o conteúdo daquela pasta rosa. Já havia comprado todos os preparativos, agora só era necessário a leitura. Meus olhos vermelhos de tanto chorar leram mais uma vez:
“-Notas póstumas -
Que este Natal
seja o mais iluminado de
todos os tempos!”
A raiva já não era mais necessária, meu corpo estava pedindo um momento de descanso para resolver toda a confusão que estava ocorrendo na minha mente. Um pedido de rendição era enviado em forma de uma dor de cabeça dilacerante, contudo eu ainda tinha forças reservadas guardadas para continuar. Foi então que um papel com o desenho que Bruna havia feito me chamou a atenção. Uma árvore de natal bem bonita estava desenhada, o dom para desenhar que só ela tinha era indiscutível, porém o que chamou minha atenção em meio a tamanha beleza e precisão artística era o texto que após minha leitura entendi motivo para tamanho segredo, era uma carta de despedida.
"Querido André,
Não gosto de dizer tchau (Acabo lembrando de See you again, você não?)
Quando soube que estava morrendo — sim, eu sempre encarei isso dessa forma, acredite se quiser — lutei para continuar sendo forte, demonstrar ainda ser a mulher de aço, bem sucedida e com um futuro brilhante pela frente, mas eu não era mais a mesma.
No início tudo não passava de alguns enjoos causados pelo tratamento, se tudo ficasse naquele nível a coisa ficaria numa boa. Mas dali pra frente as coisas mudaram, meus cabelos foram caindo e minhas pernas começaram a ficar um pouco mais nervosinhas (rs).
Foi então que você me veio com o pedido de casamento (Tenha em mente que eu sempre quis dizer sim para você), promessas de um futuro juntos, sem mais doenças e comigo 100% recuperada, mas nós dois sabíamos que isto não aconteceria. Pelo menos eu sabia.
Quando você me trouxe a ideia do Natal eu senti ódio, você não estava percebendo que eu morreria antes disso? Oh, céus! O natal é meu dia favorito em toda a história do universo...
Foi então que as luzes foram apagadas para todos nós. Em um dia desses, enquanto você ainda dormia (Ficamos a noite inteira acordados lutando contra os efeitos colaterais JUNTOS) me levantei e fui até o banheiro, com uma dificuldade tremenda — para deixar claro caí duas vezes — e percebi que estava morrendo. Precisava então criar um natal memorável para sua vida, afinal, você continuaria vivendo e encontraria novos motivos para sorrir.
Eu me sentia uma pobre Hazel deixando seu Augustus, acho que aqui nossa história é um pouco diferente que a do livro. (Sem spoilers porque você ainda não leu, recomendo)
O que eu quero que você entenda de fato é que por mais escuro o natal possa parecer agora, quando as luzes, uma das coisas mais importantes nesta época, forem apenas pequenos borrões coloridos, ainda existe algo. Uma luz maior que quanto mais você chegar perto mais ela brilhará.
Em algum momento eu devo ter dito para você que queria presenteá-lo. Deixarei então "pequenos pedaços de Bruna" por aí.
A carta terminou ali, sem um adeus ou qualquer outra consideração final. Foi então que me dei conta do motivo dela não ter acabado, eu havia entrado no quarto interrompendo tudo. Soltei um palavrão em bom som desejando ser menos curioso, possivelmente eu nunca mais descobriria o que aconteceu. O que ela queria dizer em deixar "pequenos pedaços de Bruna".
O relógio já mostrava sete horas e cinquenta e nove minutos, apenas um minuto para cumprir o último desejo e enfim seguir em frente lembrando momentos tão bons. Minha mão já tamborilava o encaixe da tomada, eu estava levando a sério demais aquele último desejo. Oito horas, naquele momento enquanto encaixava a tomada e as luzes acendiam na árvore o telefone celular tocou causando calafrios. Quem poderia ser?
— Sr. Beltrão, aqui é do hospital. — uma voz feminina de secretária falou enquanto digitava algo no computador.
— Acredito que já não haja mais nada pendente para resolvermos
— É sobre um presente que acho que o senhor vai gostar de ver.
Sem pensar duas vezes saltei no carro e fui até o hospital. A curiosidade em entender o que estava acontecendo fustigou meu peito.
Uma enfermeira baixa me conduziu até uma ala do hospital que eu nunca havia notado. Fiquei intrigado, estava imaginando que iríamos passar pela mesma ala onde Bruna costumava ficar.
— Pode dizer o que fazemos aqui? — perguntei buscando explicações plausíveis, aquilo só poderia ser um engano.
— Sua esposa pediu para que o trouxemos para vê-los.
— Do que você está falando? — parei imediatamente no corredor — Ver quem?
A enfermeira bufou, Bruna deve ter falado para manter o máximo possível de discrição para revelar o tal presente misterioso, não estava muito afim de revelar algo, mas mesmo assim foi logo contando para ver se eu começaria a andar.
— As pessoas que receberão as doações de órgãos da Bruna — ela sorriu demonstrando afeto — Ela me contou que queria deixar um presente para algumas pessoas além de você.
Meu olhos por alguns segundos ficaram cegados pelas lágrimas que não paravam de chegar. As palavras queriam vir, queria dizer algo, mas só consegui parar quando a enfermeira me abraçou e me ajudou a prosseguir. Em alguns quartos que passamos pudemos entrar e ela foi dizendo o que cada um receberia.
— Esta aqui — dizia ela apontando para uma mulher negra da minha idade — vai ficar com o coração.
Fiquei alguns minutos com um sorriso idiota no rosto, nunca havia passado na minha cabeça que o presente de Bruna seria aquele. Milhares de coisas haviam passado na minha mente, mas ela havia dado o melhor presente de todos que era uma chance de pessoas que enfrentavam problemas continuarem vivas e felizes ao lado de suas famílias.
Quando acabamos de visitar os quartos com algumas das pessoas que receberiam as doações um homem alto me abordou na entrada. Fiquei com um pouco de medo, ele tinha os cabelos castanhos escuros e uma pele morena como de um surfista e me encarava estranhamente, só fiquei um pouco aliviado ao ver uma criança ao seu lado.
— Ei, muito obrigado! — ele me abraçou tão forte que pensei que explodiria naquele instante, foi então que juntei os pontos e percebi a semelhança do rapazinho e da mulher que receberia o coração — Eu gostaria muito de agradecer a sua mulher, ela parecia ser uma boa moça, sinto muito.
Balancei a cabeça positivamente e olhei para o garotinho em seguida que mal sabia andar.
— Ele vai continuar com a mãe. Um feliz natal! — disse por fim dando mais um abraço.
Dirigindo até em casa percebi que o natal era muito mais do que os filmes mostravam. Não era somente aquela neve hollywoodiana ou pessoas desfilando com roupas caras e bonitas. Era também lidar com a tristeza que muitas vezes escolhia momentos felizes para vir a tona. As luzes para mim foram apagadas naquele momento, mas Bruna não somente me ensinou que era necessário prosseguir e sim me mostrou como eu deveria lembrar sua vida e fazer o mesmo com a minha: somos verdadeiros presentes vivos, só devemos nos dar o valor necessário e reconhecermos o quão abençoados podemos ser quando quisermos. Um natal é muito mais que festa, é entender que o maior presente é aquele que perpetua no coração de quem o recebe.
Quando as luzes apagarem, lembre-se, ainda não é o fim.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!
Que nós possamos ter forças para prosseguirmos quando as luzes apagarem



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