O Natal é uma época de união, isso ninguém pode negar. As pessoas se tornam mais amorosas e procuram passar essa data com quem amam, trocam presentes, voltam a ver parentes distantes, crianças correm pela casa, todos se reúnem em volta da mesa para a ceia e incorporam o espírito natalino. E é claro, Natal lembra vermelho. Vermelho lembra Natal. Para Hana, vermelho lhe fazia lembrar algo mais. Vermelho lembrava ele. Para ser mais exata, lembrava os cabelos ruivos que a jovem tanto adorava.

Ah, e como ela amava o Natal! Amava toda a delicadeza e doçura da data, amava o jeito como as pessoas se importavam umas com as outras e principalmente, ela amava dar presentes. Adorava a reação de alguém ao abrir um embrulho, uma caixa. Era algo único.

Por conta da sua baixa estatura, a loura teve de ficar na ponta dos pés até alcançar o topo da gigantesca árvore que estava no canto da sala. Ao fazê-lo, a saia de seu vestido subiu um pouco, atraindo a atenção do escarlate, que logo soltou uma risadinha baixa, e que não passou despercebida por ela, é claro. Sentiu algo cair sobre sua cabeça com força, e concluiu que era uma das bolas que deveria estar na árvore.

— Aú! Por que fez isso? — Ele passava a mão pelo local dolorido, bagunçando os fios vermelhos.

— Para com isso e vê se faz alguma coisa útil, Hiroto! — A jovem rebateu, arrancando do ruivo um sorriso enorme e em um murmuro algo como “Mandona como sempre.”

— Eu estou fazendo alguma coisa — Retrucou, mostrando a ela que estava organizando os presentes embaixo da árvore.

— Eu disse alguma coisa útil! — A resposta veio em meio a risos da Haruki.

— Certo — O rapaz levantou rapidamente. — Então que tal eu te dar o seu presente? — Ergueu a garota pela cintura, trazendo-a para mais perto de si até que os corpos dos dois estivessem quase que totalmente colados. O ato fez a respiração da loura acelerar instantaneamente, assim como seus batimentos. Encontrava-se agora de cabeça baixa, querendo esconder as bochechas vermelhas. Sua voz saiu quase que inaudível quando ela disse:

— Comprou uma coisa pra mim? — Sorriu.

— Claro. Eu tenho dois presentes para você, na verdade.

— Dois?

— Aham — Confirmou rindo um pouco, notando a vergonha que a garota sentia perto dele.

— Não precisava me comprar dois. Mas, já que é assim, deixa eu te dar o meu primeiro — Soltou-se dos braços do amigo, indo até a árvore e tirando de lá um pacote em embrulho verde.

Kiyama abriu o embrulho sem se preocupar em não rasgá-lo, enquanto Hana aguardava ansiosa para ver a reação do ruivo. No fim, Hiroto estava boquiaberto, mas logo um sorriso apareceu em seu rosto, os olhos brilhavam.

— Você gostou? — Ela perguntou insegura, mordendo o lábio inferior de leve.

— Se eu gostei? — Em suas mãos estava um retrato, a moldura bem simples, mas bonita. E nele uma foto do ruivo e a amiga, no aniversário de nove anos da mesma. — É claro que eu gostei. Hana, como você conseguiu essa foto? Ela é...

— Uma relíquia, eu sei. Bom, foi difícil, mas depois de muito procurar eu achei ela dentro de uma caixa super velha no meu porão e pensei que você fosse gostar.

— E eu gostei — Sorriu mais uma vez e a garota retribuiu como sempre. — Agora é a minha vez — Depois de colocar seu presente em cima de uma mesa próxima, Hiroto repetiu a ação da loura, indo até a árvore e voltando com uma caixinha preta bem menor.

— Não vai me pedir em casamento, ou vai? — Riu da própria brincadeira, arrancando do ruivo uma gargalhada semelhante.

— Não, ainda não. O que eu comprei pra você foi isso. Espero que goste — dizendo isso, Hiroto abriu a caixa, revelando à garota uma corrente dourada com um H da mesma cor, coberto por algumas pedrinhas. Era um presente simples. Porém, era algo que Hana não trocaria por nada no mundo pelo simples fato de ser um presente dele.

— É lindo... — Passou os dedos finos pelo metal, sentindo-se extremamente feliz. Não só pelo presente, mas por ter Kiyama Hiroto como seu amigo. Era, definitivamente, o melhor amigo que ela poderia ter. — Eu gostei muito, Hiro. Obrigada.

— Sabia que você ia gostar — Ele sorriu convencido, tirando a corrente das mãos da loura e passando-a pelo seu pescoço, enquanto Hana prendia seu cabelo.

— Claro. Você acertou em cheio com o H que combina tanto com Hana quanto com Haruki.

— E com Hiroto também...

Olhou para o escarlate discretamente, estranhando a frase dita por ele e que mais uma vez fez seu rosto ficar levemente vermelho.

— É...

Depois de fechá-la, Hiroto passou um tempo fitando os fios dourados. Podia sentir o doce aroma que vinha dela... Até que a mesma virasse em sua direção. Dessa vez, Hana envolveu a nuca do ruivo, puxando-o para um abraço, no qual os dois permaneceram por vários minutos sem nada dizer, até a loura lembrar-se de um detalhe.

— Espera. Você não disse que eram dois?

— É mesmo. Muito bem lembrado.

— Sério, não precisa. Podemos devolver e comprar outra coisa — disse, mesmo que no fundo estivesse curiosa para saber qual era o segundo presente que Hiroto tinha para ela.

— Não se preocupa que nesse presente eu não vou gastar nada.

Hana olhou-o confusa mais uma vez, com a cabeça levemente inclinada para a esquerda. Não demorou muito para que ela entendesse quando sentiu Hiroto puxá-la pela cintura e os lábios quentes tocarem os seus num beijo calmo e doce que foi evoluindo lentamente de ambas as partes, podendo sentir as famosas “borboletas no estômago” toda vez que o ruivo lhe tocava. Ao fundo uma música que parecia combinar perfeitamente com os dois.

Separaram-se após alguns minutos, ainda de olhos fechados desfrutando do que acabara de acontecer, ou apenas temendo que fosse somente mais um sonho. Enfim, Hana abriu seus olhinhos azuis, encontrando o verde dos de Hiroto, que já estavam abertos.

— Eu gostei ainda mais desse — disse e os dois riram.

— Eu também — Concordou, inclinando-se mais uma vez para tomar os lábios dela para si novamente.

— Err... Eu sei que não é a melhor hora... Mas sabe onde estão o Buki e a Yasmin?

★

1:56 AM

Do lado de fora, sentada no balanço da varanda, Yasmin mostrava ser a pessoa que menos se importava com a data. Usava um moletom que cobria boa parte de seu rosto e mantinha os pés sobre o balanço. Parecia bem mais interessada na música que ouvia em seu celular, no volume mais alto, com os olhos fechados e balançando a cabeça de vez em quando seguindo o ritmo.

Sem que ela percebesse, a porta da frente se abre, revelando Shirou que chegara a varanda com uma xícara. Sorriu ao ver a distração da menina e sentou ao seu lado, deixando a xícara sobre a madeira e cutucando seu ombro. Imediatamente os olhos castanhos se arregalaram, estava pronta para sentar a mão na cara de quem estivesse ao seu lado — e por pouco ela não o fez.

— Calma. Sou eu — Fubuki levantou as mãos como se estivesse diante de um policial e Yasmin apenas ergueu uma sobrancelha, respirando mais aliviada, mas ainda com um pouco de raiva.

— Que susto! Não chega assim!

— Foi mau — Passou a mão pela nuca, deixando-o com uma expressão fofa aos olhos da garota. Ele usava um cachecol verde e um suéter azul que acabava combinando perfeitamente com seus olhos cinza. — Trouxe chocolate quente para você.

— Ah... Obrigada — Apesar de estar surpresa, ela pegou a xícara a sua frente e se limitou a sorrir. Depois tomou um gole, que a deixou com um bigode marrom, fazendo Shirou ri alto e tentar limpar, mas a garota apenas desviou e passou as costas da mão pela boca.

— O que estava fazendo aqui fora sozinha? — Ele deu uma olhada em volta, não vendo nada além de neve.

— Eu...

Antes que pudesse continuar, a porta se abre novamente, e dessa vez de lá saem Nagumo e Suzuno, ambos de mãos dadas e sorrindo. E felizmente, nenhum dos dois notou a morena e o albino no balanço, apenas desceram a escada rumo a algum lugar mais... reservado.

Yasmin cobriu a boca com as mãos, os olhos brilhando. Colocou uma delas sobre o ombro do amigo e começou a sacudi-lo. Fubuki já temia que ela passasse mal ou algo do tipo.

— Você. Viu. Isso?

— Eu vi, mas o que tem...

— O que tem?! Fubuki, você não percebe o que tá rolando aqui?

O albino arqueou as sobrancelhas e inseguro balançou a cabeça em um não.

— Deixa pra lá, depois eu te explico — Olhou mais uma vez na direção seguida pelos dois com um sorriso malicioso nos lábios. Em seguida deu de ombros, tomando outro gole. — E respondendo a sua pergunta, nada. Não tinha nada para fazer lá dentro, aí eu saí. E sinceramente, ver a Natsumi se exibindo pra todos os garotos enquanto “dança” não me interessa... Por que não está lá dentro?

Dirigiu o olhar discretamente para o garoto, notando suas bochechas que por algum motivo estavam levemente vermelhas.

— Também estava com tédio... E ficar vendo o casal se-ama-mas-não-admite — Riu ao lembrar de como Midorikawa chamava os amigos. — também não foi como eu imaginei passar meu Natal.

— Pera... Casal o quê?

— Hiroto e Hana... — Respondeu, mas a morena ainda estava a expressão mais confusa que possuía. — Os dois estão no maior beijo até agora.

— Não creio! — Agora ela realmente parecia que ia ter um treco. — E você só me diz isso agora?! — Levantou em um pulo, correndo em direção a porta, mas parando antes de alcançar a maçaneta e levando a mão até a testa. — Droga! Já vi que vou passar a noite inteira acordada ouvindo a Hana falar sobre o Hiroto.

— Agora que você falou... Não é só você que vai passar a noite em claro — Ele fez uma careta e depois olhou o relógio em seu pulso. — Se bem que já estamos passando a noite acordados.

— Tem razão — Voltou a se sentar ao lado Shirou, ainda sentindo-se levemente desconfortável por ficar sozinha com ele. Olhou para o céu logo a frente, sorrindo e chacoalhando o amigo pelo ombro novamente. — Fubuki, olha aquilo!

Sem nada entender, o albino fez o que a morena lhe disse.

— É uma...

— Estrela cadente! Anda, faz um pedido — Atsuki fechou os olhos, movendo os lábios em um desejo inaudível.

Shirou a observou atentamente, enquanto que, da mesma maneira silenciosa, ele fazia seu próprio desejo, torcendo para que fosse atendido o mais rápido possível. Segundos depois Yasmin voltou a abrir os olhos, voltando-os para o amigo, um sorriso infantil nos lábios. — O que você pediu? — Sussurrou a ele, como se realmente fosse um grande segredo.

— Hum, não vou dizer.

— O quê?! Por quê?

— Porque assim não se realiza... E o que eu pedi é muito importante.

— Certo — Cruzou os braços, fingindo não estar tão interessada. Depois seus orbes castanhos voltaram a brilhar e outro sorriso surgiu em seu rosto. Aquele sorriso que fazia o rapaz se derreter inteiro por dentro. — Eu sei que é besteira, mas eu acredito mesmo nesse negócio de estrelas e tal. Acho que é por causa da minha mãe, ou sei lá, ela gosta de estrelas — Riu.

— Eu... Acho que estou começando a acreditar — disse ele, quase que hipnotizado pelo jeito que Yasmin olhava para o céu, com um certo vislumbre.

Virou-se para ele agora com uma expressão confusa.

— Como assim?

Shirou fechou os olhos e aproximou-se lentamente da garota, quebrando aos poucos a curta distância que os separavam. Levando uma das mãos a nuca da morena e sentindo os cabelos macios entre seus dedos. Uma parte dela queria afastá-lo, já tendo em mente o que ele estava prestes a fazer. A outra parte, que falava bem mais alto, apenas esperou que ele se aproximasse mais e mais, até sentir o toque frio dos lábios de Fubuki sobre os seus, que estavam quentes por conta do chocolate, causando um choque de temperaturas.

Minutos depois o beijo foi interrompido quando o ar infelizmente fez falta. Ainda com seus narizes quase se tocando, Yasmin sussurrou:

— Fubuki...?

— Hm?

— O que você pediu para a estrela? — O albino riu com a pergunta, passando a mão pelo rosto da sua morena e dando-lhe um selinho antes de responder.

— Eu pedi você. E olha só, agora sim eu acredito nisso.

No fim, os dois sorriram com a resposta. Envolveu-a em um abraço, aconchegando o rosto na curva do pescoço da jovem, que parecia ter as medidas certas somente para ele e mais ninguém. Yasmin fez o mesmo, pressionando-o ainda mais contra o seu corpo. Próximo ao ouvido de Shirou, saíram as palavras que fizeram seu coração quase saltar do peito:

— Eu também pedi você. E eu não poderia ter feito pedido melhor — Sorriu, puxando-o para outro beijo.