Seguindo Caminhos escrita por Anne Ribeiro


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Quem diria que estaria tão ansiosa a ponto de roer os únicos pedaços de unha restantes. Foi difícil dormir essa noite, sabendo que logo no dia seguinte Elliot viria até a nossa casa para conversarmos. Uma coisa que deixa qualquer pessoa ansiosa é aquela famosa frase "Precisamos conversar". O que será que vem disso? 

Como estava muito curiosa, já me arrumei desde cedo. Agora, são dez da amanhã e ele dissera que passaria aqui às onze, porém ainda tenho uma hora e não sei mais o que fazer para preencher o tempo em que aguardo a campainha tocar e ele entrar por essa porta. Amanda foi dar sua famosa caminhada matinal, deixando-me sozinha e sem ter com quem conversar para relaxar meus ânimos aflitos. Se bem que, nem sei mais se ela foi realmente fazer exercícios, pois desde o dia em que ela ficou de conversa com Alan que tem sumido o dia todo. Sempre que saímos das aulas do intercâmbio, ela não tem mais retornado para casa comigo. Infelizmente, minha colega de quarto é muito fechada e respeito sua forma de ser, apesar de morrer por dentro e roer ainda mais as minhas unhas para que ela conte para mim o que anda acontecendo, ainda que seja meio óbvio.

Resolvo levantar da cama e estico os lençóis mais uma vez, deixando-os esticados e afofo o travesseiro para que tudo esteja como antes. Cruzo os braços e caminho até a cozinha, para matar o tempo enquanto espero a chegada de Elliot. No meio do caminho há um espelho com a moldura em mogno, seus detalhes são tão bem feitos que parece que foram entalhados à mão. Ele fica pendurado na parede entre a sala e a cozinha, portanto paro em frente e permaneço ali, fitando meu reflexo de corpo inteiro. Estou vestindo um casaco bege de botões pretos, cachecol quadriculado de tecido grosso enrolado em volta do pescoço e uma calça jeans preta simples. Passo as mãos no tecido jeans para secar as mãos que insistem em suar, apesar de estar fazendo frio e eu regulei o aquecedor para manter a temperatura agradável. No entanto, a ansiedade está tomando conta dos meus poros e mal consigo controlá-los.

— Foco, Lícia. Foco! - digo para mim mesma, penteando os cabelos em frente ao espelho de forma mecânica. Talvez isso possa ajudar a extravasar a ansiedade que sinto e fazer sumir um pouco das borboletas que passeiam em meu estômago já sensível.

Após enrolar as pontas diversas vezes as pontas do meu grosso cabelo entre os dedos, saio da frente do espelho e ando até o sofá desarrumado de Amanda. Retiro algumas das revistas e roupas que aqui estão espalhadas e deposito-as em cima do vidro da mesa de centro à minha frente. Coloco o polegar em minha boca e roo a pele que se acumula nas laterais do meu dedo, observando a porta e ouvindo os passos das pessoas que caminham pelo corredor e os "plim" que, de hora em hora surgem, anunciando que mais alguém está chegando ou indo embora.

Retiro do bolso lateral do casaco meu celular e decido enviar-lhe uma mensagem, porém nesse instante a campainha toca e dou um pulo de susto, deixando o objeto frio em cima do lugar onde estou sentada. Levanto do sofá e dirijo-me até a porta. Há uma sombra que passa por baixo das portas duplas de madeira clara e presumo que seja a dele, apesar de ainda faltar uns bons trinta minutos para sua chegada.

Pouso minha mão sobre a maçaneta, deslizando meu polegar sobre sua superfície redonda, antes de abrir uma das portas. Devagar, sua figura vai aparecendo e, conforme vou vendo a felicidade preenche minha ansiedade, tomando conta desse sentimento. Há também o alívio em ver que seu rosto não entrega nenhum sentimento que possa parecer ruim, portanto deixo sair dos meus lábios um longo e profundo suspiro.

— Olá! - ele retira sua mão do bolso dianteiro de sua calça jeans e acena para mim, abrindo um sorriso de orelha à orelha.

— Oi! - digo timidamente. Eu não consigo ser a mesma pessoa extrovertida ao lado de Elliot. Sinto que estou me apaixonando por ele, mas com certeza não é recíproco. - Entre, por favor - abro espaço para que entre e, no momento em que passa por mim, sou pega de surpresa quando segura a minha mão esticada no ar, indicando o caminho para entrar. Sua mão macia e fria agarra a minha com firmeza e seus olhos estão vidrados ao fitá-las por um tempo considerável. Logo, na hora que penso que não poderia ser mais surpreendida, minha mão é levada até a altura dos seus lábios e sinto o calor deles ao beijá-la ternamente.

— Precisar conversar - diz ele ao afastar seus lábios da minha mão, que ainda segura e me encara avidamente.

— Cla-claro - gaguejo e fecho a porta atrás de nós.

— Venha - diz ao me conduzir até o sofá, porém ele observa a bagunça que ali está instalada e franze o cenho, portanto senta na minha cama, retirando cortesmente o travesseiro e colocando-o do outro lado do colchão, bem distante de onde sentara. - Sentar ao meu lado - com a mão livre, ele dá um tapinha no espaço próximo a si.

Com a mão ainda na sua, tomo o lugar ao seu lado e encosto minhas costas na parede, arrastando comigo o lençol que acabara de esticar, no entanto não me incomodo em ter que estendê-lo de novo, quando ele for embora. Seus dedos resolvem se encaixar entre os meus e fico observando-os juntos. Não consigo emitir nenhum som, nem palavra alguma sai dos meus lábios, por conta desse pequeno gesto. Seu polegar inicia uma carícia em minha mão e a sensação que isso produz naquela pequena parte de mim me faz sentir leves ondas e arrepios, que reverbera em minha nuca. Disfarçadamente, com a mão livre esfrego a parte já sensível e, com isso tento afastar esta sensação para me concentrar em encontrar palavras e não ficarmos nesse silêncio incômodo.

— Tudo bem? - digo baixinho e creio que tenha falado baixo demais, pois ele aproxima seu rosto dos meus lábios.

— Repete? - sussurra e inclina seu ouvido ainda mais perto de mim.

Sorrio e afasto de leve sua cabeça que, no momento em que se distancia de mim, seus olhos encontram os meus e fico presa em seu olhar. Elliot me fita constantemente e descomedidamente, parecendo analisar cada centímetro do meu rosto, pois suas íris azuis-celeste não param de se mexer de um lado pro outro.

— Eu...- gaguejo, de novo e me concentro em seu rosto sereno, mas ao mesmo tempo transmite tanta coisa em seu olhar. Me sinto enfeitiçada e inebriada ao pousar demoradamente meu olhar em seus lábios rosados e fartos.

— Você...- diz ao passar a língua por seu lábio inferior, em seguida mordendo-o suavemente.

Não consigo mais controlar meus desejos e, então me aproximo de sua boca e encosto meus lábios nos seus. Elliot não se intimida com meu gesto e agarra meus cabelos de modo delicado, puxando-me para si e aprofundando o beijo, ao abrir seus lábios e esquadrinhar com sua língua a minha. Seus calejados dedos passam por meu rosto, tracejando caminhos entre meu queixo e bochechas, passeando vagarosamente por cada traço meu. Vez ou outra, ele morde-me suavemente, prendendo-me entre seus dentes e sorrindo com isso. Ao nos afastarmos, com relutância, sua mão continua a acariciar meus cabelos e faço o mesmo nos seus, sentindo a maciez que o contato dos seus fios produzem meus dedos.

— Uau - diz ao abrir os olhos e fitar meu rosto.

— Uau - repito o que disse.

— Como você adivinhar que era isso o que estava pensando? - sorri de lado.

— Os sinais que estava enviando praticamente gritaram isso, Elliot! - rio um pouco mais alto, jogando a cabeça pra trás e arrumando os fios que foram desarrumados durante o beijo.

— Ah é? - ele passa a língua novamente no lábio inferior e morde-o.

— Você está me provocando, é? - coloco as mãos na cintura e encaro seus olhos, em busca de algum sinal de divertimento.

— O que achar? - seu polegar passeia por meu lábio inferior, produzindo formigamento em minha pele.

Pisco algumas vezes e começo a falar, porém sou interrompida ao ser pega de surpresa quando ele me puxa contra si e deixo-me levar por seu beijo.

— Então, vamos conversar! - diz ele.

— Sim, vamos. Mas, sobre o quê? Ah, afinal de contas, até agora não me disse o que queria falar comigo, mocinho.

— É sobre isso que vamos conversar. Vim convidar vocês duas para passarem o Natal comigo e com minha família.

— Como é? - fito seus olhos e ele dá de ombros. - Como assim? É sério isso?

— Sim, ué.

— E sua mãe não vai se importar? Afinal de contas, ela nem me conhece.

— É claro que não vai. Não se preocupar com isso - sorri, passando o dedo por meu rosto; o que me faz sorrir também.

— Bem, então se não vai dar problema, eu topo!

— Talvez não se lembrar, mas minha mom é brasileira como você - aperta a ponta do meu nariz.

— É verdade! - levo o dedo à boca e fico pensando em ter alguém para conversar em português, além de Amanda que estará lá comigo. - O que preciso levar para a ceia de Natal?

— Não se preocupar com isso, porque nós geralmente compramos tudo pronto.

— Ah, claro - sorrio sem jeito. É claro que eles compram tudo, Felícia! - penso.

— Então, vou avisar à minha mom sobre a ida de vocês. Vou tentar invite Alan também, o que acha? - ele sorri e olha para mim, em busca de aprovação.

— Ótimo - digo simplesmente, sem olhar para o homem que sorri lindamente para mim e deseja saber minha opinião sobre quem convidar ou não. Como as coisas mudaram nos últimos dias; há pouco menos de quinze dias conheci esse homem num show, enquanto se apresentava com sua banda famosa e, cá estou eu, olhando para o mesmo que acabara de beijar. Quando eu penso que a Terra do Tio Sam não pode me surpreender ainda mais, é aí que tudo muda e sou obrigada a ver as coisas de uma perspectiva diferente.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! ;*



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