Vanturi é um lugar repleto de preconceitos, violência e guerra. Eu, sinceramente... Não sei o que é o ato de dormir tranqüila. Apenas nas profundezas das cavernas e oceanos é possível ter tranqüilidade , exatamente onde eu não consigo viver. Bem, ser a vadia da Rainha daqui é fácil e nem requer esforço. Só você falar que quer comer, eles dão na sua boca; quer caminhar, eles caminham pra você e ainda compram uma bicicleta; quer transar... O que mais me enoja, é isso... Faz uma fila de tarados. Plebeus, guardas, soldados, tudo o que você puder imaginar que tenha um pênis.

Enfim, um dia um dia, vou ter paz e poder fazer o que quiser sem ser caçada como uma pedra rara. Bem, não que me queiram por eu ser valiosa, seria mais pra me matar e ter a merda da “segurança” de volta. Sendo que matam crianças por se envolverem com alguns dos poucos LynxesFecit’s . Sem dó nem piedade.

Eu realmente não queria ser um LynxeFecit.

Eu ficava dizendo isso em minha mente, aproveitando os meus poucos momentos de tranqüilidade, observando o céu estrelado. Essa era a melhor noite que eu já tive. Meus olhos estavam ficando pesados, estava muito, muito cansada. Aliás, fugir de soldados não é fácil. Eu também não poderia armar uma barraca no topo da Montanha dos Tornados.

-Ah... lembro-me da primeira reunião que tive aqui. –Disse para mim mesma, me levantando e limpando um pouco da grama que havia grudado em meu corpo. – O Zephyr me jogando montanha `a baixo, o Nanyck tremendo de medo do Zeph fazer isso com ele... – Fiquei calada por um tempo e me ajoelhei, como se minhas pernas não agüentassem meu peso. Coloquei as mãos um pouco à frente dos meus joelhos. – Eram bons tempos... Os melhores que já tivemos, era ótimo quando aqueles filhos da puta ainda não habitavam Vanturi!

Meu sono desapareceu com a brisa que bateu. Senti minha garganta dar um nó, e meus olhos se encherem de lágrimas. Lembrar de Nanyck era algo muito doloroso para mim. Trás lembranças de como éramos próximos, do nosso primeiro beijo. O jeito medroso dele... Ah, era ótimo ter sua companhia. Até a porra do dia em que aqueles malditos guardas de merda o mataram .Ele só queria me proteger, e aqueles inúteis o mataram da maneira mais tenebrosa possível. Eu gritava por ajuda do Zephyr, e aquele pedaço de merda estava perto, mas nada fez para me soltar ou salvar Nany.

-Zephyr, você vai me pagar! – Gritei o mais alto que pude, minha raiva era tanta que não me importei em chamar atenção da patrulha do reino. Limpei minhas lágrimas e empinei as orelhas para ouvir algo. A patrulha me ouviu, seus passos eram pesados e rápidos, logo estariam no topo, enfiando suas lanças no meu pescoço e me jogando na praça do reino.

Sai correndo até a parte mais íngreme da montanha e me posicionei de forma que eu pudesse escorregar com facilidade, olhei a minha volta e enxerguei o metal brilhando de um dos guardas. Me assustei e sem querer acabei me desequilibrando e caindo de forma dolorosa e até o chão. Mas os idiotas reais não me viram, aproveitem a forte brisa que vinha e a usei como fonte de energia. Não iria usar meus poderes de vento agora. Tentei me levantar o mais rápido que pude, mas vi que o vale estava muito claro, e eles provavelmente iriam me ver. Rastejei até a pedra mias próxima e me encolhi, colocando meus longos cabelos castanhos na minha frente, o usando como camuflagem.

“Finalmente uma utilidade, não é?” Pensei, atenta aos passos dos idiotas barulhentos.

-Hey! Você aí em baixo, do que está se escondendo?! – Um deles gritou, chamando os outros guardas.

Levantei-me devagar e tirei o cabelo do rosto, dando uns passos para o vale. Logo reconheci o guarda que berrou, era o cuzão do Ren, aquele que ordenou que matassem o Nanyck.

-Quer ver meu corpo no chão sangrando? -Rosnei para ele, com um sorriso desafiador no rosto.- Boa sorte! – Gritei, mostrando o dedo do meio e invocando dois pequenos redemoinhos de vento, e o joguei sobre os guardas. Não fazia parte do plano usar os poderes, mas foi necessário. Antes de sair correndo, vi os guardas voarem.

Corri o mais rápido que pude, para bem longe do reino. Durou um bom tempo para chegar na Praia Fecit, outro lugar de reuniões da minha raça. Ninguém, além dos LynxesFecit’s cionhecia esse lugar. Ele trazia lembranças triste do Nanyck, mas era reconfortante, pois eu poderia dormir e sonhar com o que eu quisesse. A areia dessa praia tinha fama entre nós por ter os Grãos do Sonho. Algo bom para expulsar a tristeza e os problemas da cabeça. Mas o alimento de lá era escasso, não poderia ficar lá por muito tempo. Mas era um bom lugar para dormir.

Olhei para as estrelas e me deitei na areia. Senti a presença do Nany, e logo fiquei com sono. Em um breve sussurro, eu disse:

-Boa noite, Nanyck...

Logo peguei no sono, o melhor sono que poderia ter. Pois estava com o meu amor de novo, por pouco tempo, mas estava.