A Lenda de Luttern escrita por Arabella


Capítulo 4
Capítulo 4 - A Lenda


Notas iniciais do capítulo

Avy entrou pelo portal, deixando tudo o que até então considerara real para trás. Sua nova vida começa, conhecendo o enorme castelo de Verídion, pessoas novas, e a lenda que mudará sua vida



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Não é possível descrever exatamente o que acontece quando se entra em um portal, mas é uma das sensações mais incrivelmente estranhas que Avy já sentira. Primeiramente, uma sensação de leveza percorre toda a espinha, e você sente-se flutuar ou nadar nas nuvens, e há algo refrescantemente gelado no ar, depois é a parte não muito legal, alguma vez você já foi esmagado com pressão? Caso fora, a sensação deve ser a mesma. Durante toda a transição o que se vê é claridão ardente.

Quando Avy abriu os olhos, estava voando em Matt no meio da neblina escura e fria sob milhões de pinheiros úmidos. O céu por trás da nuvem era estrelado, e o ar era refrescante de um jeito que ela nunca sentira. A toda direção que a garota olhava tudo o que via era céu noturno e pinheiros, como se fosse um universo formado apenas daquilo.

"UAAAU" ela queria exclamar e ter um tempo para refletir sobre tudo o que acontecera nos últimos dois minutos, mas como esperado, não foi possível.

O Matt-dragão rugiu, quando Avy olhou para trás, num piscar de olhos, todas as sombras e gárgulas que os atacaram estavam ali novamente, e pareciam mais fortes, de alguma maneira.

Três gárgulas avançaram, fazendo Matt dar um loop inesperado que quase a derrubou 30 metros abaixo. Enquanto Matt desviava de mais ataques, ela tentou pensar rápido: A faca!

Com uma mão segurava-se a Matt o mais forte que conseguia, e com a outra ela revirava as coisas dentro da mochila de couro. Uma drácula agarrou-se ao dragão, bem ao lado de Avy, ela tentou a chutar, mas era inútil contra uma criatura de 800 kg, logo o monstro agarrou sua perna com as garras frias e melequentas, rasgando-lhe a calça. Finalmente, entre um giro e outro de Matt, Avy tateou o cabo de madeira do objeto, o sacou de forma rápida e fincou no pescoço da criatura, que gritou e caiu entre os pinheiros.

Mais gárgulas apareceram tentando os derrubar, atacando principalmente as asas do dragão.

– Deixem-no em paz! – gritou a menina.

Sua pobre faca era inútil contra tantos monstros, um deles acabou a arranhando nas costas, e pareceu como se uma estaca de fogo a tivesse perfurado.

Uma gárgula maior que o próprio dragão avançou, e as duas criaturas começaram a se arranhar e morder, literalmente girando nos ares . Enquanto o monstro maior quase matava o dragão, uma média chegou por trás e destilhaçou suas asas. Os dois iam começar a cair, pois as asas pioravam a cada ataque, mas ao invés disso Avy gritou alto enquanto jogava uma faca em uma criatura:

– Eu disse para deixar-nos em paz!

Quando a garota pôs as mãos sob o pescoço do dragão, uma luz roxa e azul-escura surgiu dele, suas asas se renovaram e ele pareceu 20x mais forte do que antes.

Rugiu alto, saindo uma fumaça iluminada azul ciano e abriu as asas, com uma batida, expeliu uma onda roxa e azul, as cores da galáxia, que derrubou metade das dezenas de gárgulas, apenas mais uma batida e todas elas estavam no chão.

Matt fez uma curva no céu e avançou em frente, estava impressionantemente mais rápido e com uma auréola violeta o rodeando. Avy podia sentir a brisa forte em seu rosto, a incrível sensação de liberdade.

Parando para analisar melhor, tudo era muito bonito, não como um campo de flores, que qualquer pessoa aprecia, mas como uma floresta de pinheiros fria no meio da madrugada. O ambiente cheirava a terra molhada e verde. As estrelas eram a única luz presente, quer dizer, além da luz que o dragão passara a expelir, elas brilhavam como Avy achara que estrelas nunca poderiam brilhar, e pela primeira vez ela pode reconhecer e distinguir constelações.

Elas não eram nada do que a garota já ouvira falar, nada de Órion, ursa menor ou ursa maior. O que via se parecia exatamente com uma chama, um furacão, um floco de neve e uma muda de planta.

Finalmente, depois de um único cenário o percurso todo, uma construção apareceu. E que construção... Um castelo bem maior do que qualquer outro que Avy podia imaginar surgiu na linha do horizonte, e quando mais se aproximavam, mais torres intermináveis surgiam, todas de pedra, uma construção de séculos, ou até milênios em perfeito estado.

O castelo de Verídion, Avy lembrou. Exatamente como Matt havia descrito.

Depois de se aproximar mais, eles repousaram em terra firme, bem em frente a uma ponte larga e longa que se estendia sobre um rio e levava até o gramado que cercava a construção histórica. Nela haviam incontáveis janelas gigantes de vitrais que a pequena Avy se divertiria tentando contá-las, porém duvidava muito de que conseguiria. Nas beiradas ao chão, via-se uma luz branca que iluminava todo o castelo de baixo para cima.

Matt se transformou em humano novamente e ajeitou os óculos enquanto Avy estava parada de boca aberta admirando o que via.

– UAAAAAU! - exclamou Matt, olhando para as próprias mãos - aquilo foi incrível!! Me senti como um chefão indestrutível de fase final de um jogo de RPG!!

Avy assentiu.

– Os alunos daqui devem ser todos muito bons... Não sabia que era capaz de fazer aquilo. Aliás, se tinha toda essa força, por que não fez antes?! Eu não teria perdido minha faca.

Matt fez careta.

– O que?! Não fui eu. Eu não tenho essa capacidade, meu poder é se transformar em animais. Só. Dragões na sua forma natural não expelem forças como essa. Na verdade, eles são transmissores, é preciso que outra força aja sobre ele para ele apenas reforça-la em grande escala. Você me transmitiu essa força.

– Mas eu não tenho poder nenhum. Teria descoberto se tivesse.

– Talvez tenha. A lenda concorda em tudo. Ela diz que o escolhido é um mortal com um dom não pertencente às dimensões. E eu tenho certeza de que nunca vira aquela força em nenhuma das dimensões em que convivemos.

– Eu ainda não entendi nada disso. Não entendi direito por que devo estar aqui, o que a minha mãe tinha, ou sei lá, esse negócio maluco de dimensão. Pouco acredito que isso seja real.

– Está aqui, não está? Sentiu a dor quando foi atacada. - Matt olhou para o corte feio que a garota tinha na perna. - Falando nisso, desculpa ter me esquecido, mas até onde sabemos você é humana, terá graves consequências se não cuidarmos desse corte.

– Relaxa, não tá doendo tanto - ela mentiu.

– Eu sei que tá, pode dizer que não dói quando bate o dedinho na quina dos móveis, mesmo que doa, mas aqui, Avy você foi atacada por uma gárgula, é diferente... Vamos - ele a ajudou a andar pela ponte até a entrada do castelo. Quando chegou perto, Avy vira que a luz branca que vira antes não vinha de lampada embutida nenhuma, era luz que o próprio castelo expelia.

– Esse lugar é incrível - disse a garota.

– Eu sei. Amanhã eu e Becky te apresentamos o lugar, mas hoje precisamos tentar entrar e curar essa perna rápido.

– Tentar entrar?

– É norma de segurança em Verídion, ninguém entra depois das portas serem trancadas. Proteção contra algum intruso monstruoso.

– Certo, então como vamos entrar?

– Becky. A mesma pessoa que curará sua perna.

–--

Cheguei. Abra sua janela

Foi a mensagem de texto que Matt mandara à tal de Becky. Depois ele se transformou em um pégaso, e junto com Avy voou até uma das incontáveis torres do fundo do castelo. Uma das torres de dormitórios.

A janela dupla e grande do sétimo andar estava aberta com as cortinas brancas voando. E encostada nelas na escuridão estava uma garota pulando e chacoalhando os braços finos.

O pégaso parou ao lado da janela.

– Quem é ela? - Becky perguntou a Matt, depois virou-se para a menina - Quem é você?

– Avery Holtz.

Sob a pouca luz deu para perceber que Becky tinha olhos claros e que ela os arregalou.

– Ah, claro!

Com a ajuda da garota, Avy desceu do pégaso. Becky usava luvas.

Matt se transformou em um corvo, entrou no quarto e se transformou em Matt novamente. Depois caminhou até as janelas para fechá-las.

Enquanto ele estava distraído, Becky retirou as luvas e apertou seus ombros por trás, o fazendo pular.

– Búuh!!!! - ela gritou com voz de sussurro, depois começou a rir descontroladamente enquanto acendia a luz.

– Coloca essas luvas, Becky! Não é engraçado! Você tem ideia de como suas mãos são geladas? Elas são muito, muito geladas! - disse Matt, se recuperando do susto, passando a mão na testa - Senti saudades também.

A uma altura dessas, Avy já começara pensar que eles namoravam.

– Vocês namoram? - ela soltou sem querer.

O dois começaram a rir muito.

– Definitivamente isso nunca aconteceria. Essa baixinha é maluca com uns 15 parafusos a menos. - disse Matt, e Becky deu um soquinho no ombro dele.

– Ei! - ela reclamou - somos amigos.

O quarto era grande e tinha as paredes de pedra, mas era bem decorado em branco com detalhes azul claro. Haviam duas camas de casal cobertas com uma grossa coberta branca felpuda, uma delas estava completamente bagunça com várias coisas emboladas por cima. O tapete branco não era diferente, nem as cômodas. Em uma parede, haviam luzinhas em forma de flocos de neve que brilhavam em branco.

Becky, apesar de estar usando pantufas e um pijama de ovelhinhas, era muita bonita e até fofinha, por conta do seu pequeno tamanho e pele quase transparente, de um tom tão claro que até então ela pensara que não era possível para uma cor de pele. A garota tinha os cabelos lisos castanhos com uma única mecha branca, seus olhos eram grandes do azul mais destacante e intenso que Avery já vira em olhos, com cílios grandes e sardas suaves no rosto, sua boca era pequena e naturalmente avermelhada, o que a fazia parecer ainda mais branca.

Avy sentou-se em um banco do quarto, enquanto Becky se apresentava, ela apenas retirou as luvas pretas e colocou as mãos sobre o ferimento da garota que ardia.

Quando fez, Avy deu um pulo. As mãos de Becky estavam literalmente congelando a perna dela. E ela instantaneamente entendeu Matt.

– Relaxa - disse Becky - é rápido.

Depois da perna congelada, pareceu que as mãos da garota estavam sugando o gelo, e de fato estavam.

Quando Becky recolocou as luvas, a perna de Avy estava curada, sem nenhum ferimento.

Avy estava com os olhos arregalados.

– Como... Como é que... Obrigada.

Becky assentiu sorrindo.

– Acho que não nos apresentamos direito. Eu sou Becky Bitters e tenho 15 anos. Nasci em uma cidade fria no Canadá, com 12 anos descobri que podia controlar o gelo, um lobo da neve e meu irmão desaparecido apareceram na porta de casa e eu acabei aqui em Verídion.

Avy assentiu.

– Impressionante...

Becky começou a fazer perguntas sobre como havia sido a busca por Avy. Era estranho e assustado em saber que eles estavam mesmo a procurando há um bom tempo. Matt contou sobre os monstros que haviam enfrentado, e Becky pareceu impressionada.

– Os destruiu mesmo com uma faca?

– Uma faca que fora perdida.

– Relaxa, aqui há vários tipos de espada.

Às vezes Avy achava que tudo estava sendo um grande mal entendido. O que ela estava fazendo ali? Ela não tinha poder nenhum. Não tinha como se misturar entre esses alunos fantásticos.

– Matt - ela chamou.

Ele lançou-lhe o olhar.

– Como vocês sabem que eu deveria estar aqui? Quer dizer, não tenho poderes, e acho que sou aparentemente normal. Você não sabia que existia uma carta, então...

– É verdade, Avy. O globo a força não é capaz de te localizar, pois você não tem poderes. E eu realmente não sabia que existia uma carta.

– Então por que começou a me seguir?

– Por causa da lenda - Disse Becky, e Matt concordou - Aqui nós temos o Livro Lendário, a história do passado e futuro deste universo está praticamente resumida em versos. E existe a lenda da escolhida que se realizará em breve, a maior profecia dos últimos 200 mil anos. A ou O escolhido é uma pessoa que salvaria o mundo de uma possível maldição que está destinada a acontecer ainda nesse ano. Nosso tempo de busca do escolhido estava curto, até que Matt a achou.

– Por que acham que sou a escolhida?

– Por que você se encaixa em tudo. O escolhido seria um humano mortal, que viria a desenvolver grandes forças únicas, forças que não pertencem a nenhuma das 4 grandes dimensões. Já sabemos que sua força não provém de nenhuma delas, ou já teríamos percebido, forças como essa aparecem cedo. E você não é como qualquer outro ser humano comum, pois você possui o dom da visão.

– Andei por toda a Terra e você foi a única mortal que pôde me ver - explicou Matt - Além disso, os monstros a perseguiram, como diz a lenda.

Olhando desse ponto de vista, ela realmente se encaixava em tudo. Embora pouco se sentia como "A Escolhida" deveria sentir-se.

– Mas vocês não fazem ideia do que é a tal maldição ou porque ela vai acontecer?

Becky balançou a cabeça negativamente.

– Um grande problema das dimensões é que não se sabe nada do que ocorreu antes da guerra contra as criaturas da discórdia,monstros que já foram mandados ao abismos. Nessa guerra, tudo fora perdido, todos os registros históricos, tudo que pudesse contar alguma coisa sobre aquele tempo.

– ... Criaturas das discórdias? - perguntou Avy - São inteligentes o bastante para iniciar uma guerra?

Matt precisou pensar.

– Com certeza esse é um dos maiores mistérios dessa terra - ele ajeitou os óculos - As criaturas da discórdia são os piores monstros que já existiram, então há possibilidade sim de que algumas tinham inteligência e raciocínio, mas na batalha todas eram apenas máquinas de destruição. Não pareciam ter inteligência o suficiente para organizar os ataques estratégicos que faziam. Por isso existe a teoria de que tinha alguém por trás disso tudo. Quem quer que fosse, até hoje nã foi descoberto e nem se tem pistas.

Matt disse que esperariam até a manhã para apresentá-la ao diretor, sr.Hart. Também apresentariam o colégio, e consultariam o Livro Lendário para saber o que aconteceria depois que a escolhida fora encontrada.

Becky foi muito legal o tempo todo, e ela e Matt pareciam mais irmãos do que amigos, era realmente engraçada a relação deles. Becky mandou Avy dormir em seu quarto, e disse que conversaria para que virassem oficialmente colegas de quarto.

Quando Avy foi dormir, percebeu que o quarto estava umas 100 vezes mais gelado do que o resto do castelo. Becky explicou que era ela. Não existia ar condicionado, a sua presença era fria. Avy dormiu com cobertas triplas.

A garota pegou no sono pensando em Laureen, em sua nova amiga Becky, em Matt... E em como tudo seria diferente a partir daquele momento.

Verídion era ainda mais impressionante por dentro.

O castelo era repleto de janelas com vitrais enormes e cortinas marsala, lustres de ouro, tapetes grossos, e as paredes eram de pedra rústica, a enorme construção era uma mistura de estilo medieval decorado com artigos de luxo com preço incalculável.

Becky acordou Avy, dizendo que devia se apresentar ao diretor, sr.Hart.

Avy se trocou com as roupas que havia levado na mochila, e fez seu típico penteado semi-preso. Amanda usava uma blusa moletom cinza-clara, legging preta, all-star branco e uma touca. Quando saíram do quarto, Matt já estava as esperando.

Eles saíram da torre de dormitórios passando por uma torre aberta que servia como ponte de ligação até a torre principal. De lá uma linda vista surgia do nascer do sol iluminando os incontáveis pinheiros sob as colinas refletindo a luz no rio que cercava o castelo.

Alguns alunos andavam pelo local, sinal de que o dia já havia começado. Aparentemente eram todos normais, só aparentemente.

Matt e Becky cumprimentaram várias pessoas. Matt principalmente, Avy começara a imaginar por quanto tempo ele havia estado fora. Todos olhavam para Avy, a novata, e ela ligeiramente sentiu-se mal.

– Não ligue para as pessoas te encarando - aconselhou Becky - não entram muitos alunos novos aqui.

Avy assentiu.

Eles chegaram até o salão de entrada, a sala principal. Nela havia uma larga escadaria e o maior lustre de todos, janelas enormes e quadros retratando elementos da força: Fogo, Ar, Terra e Água.

No canto esquerdo, havia uma grande porta dupla de madeira, e para lá eles caminharam. Matt a abriu, mas recuou quando viu quem estava lá.

– Violet Silverstrow - disse ele - Deve ter aprontado mais uma.

Por trás dela ouvia-se uma discussão.

"Você me desapontou Violet. É uma das melhores alunas que Verídion já possuiu e parece que não se importa com a capacidade da sua força...Desde quando sabe sobre o retorno de seu pai?" sr.Hart perguntou, de forma irritada

"Joseph Silverstrow não é meu pai" Violet respondeu.

"Que seja, Violet! não devia estar se encontrando com ele. Sabe que não é seguro. Sabe que ele pode te influenciar, não quero que acabe como ele!"

– Ah, claro. Porque eu sou a filha dele, é claro que eu vou acabar como ele, não é sr.Hart? É claro que eu vou tentar destruir tudo que esse universo já conquistou, porque sou uma Silverstrow... Você realmente não confia em mim.

Sr.Hart suspirou.

– Não foi isso que eu...

– Não adianta... Tem mais gente na porta querendo falar com você.

– Como que ela sabe que.. - Avy foi interrompida por Violet abrindo a porta e saindo irritada, trombando nela.

Violet era uma das garotas mais bonitas que Avery já vira, e mais intimidadoras também. Era alta, magra, tinha os cabelos louros escuros meio acinzentados e as pontas eram pintadas de preto. Usava uma jaqueta de couro escura, lápis preto, e seus olhos eram os mais misteriosos: De um cinza opaco intimidador que fez Avy sentir-se mal sem saber porque.

–Depois eu explico - sussurrou Becky.

Matt foi na frente ao entrar na sala.

– Ahm... Olá.

Sr.Hart virou em sua cadeira giratória. Era um homem de meia idade com cabelo ralo e rugas de expressão. Usava um terno impecável. A sala tinha plantas estranhas espalhadas por ela e as paredes eram repletas de prateleiras socadas de livros, Ao norte havia uma porta dupla com sacada e a frente uma mesa de madeira com dois bancos marsala para os chamados.

– Uau! - disse ele - Matt, que boa surpresa! Quando foi que voltou?

Ouviu-se alguém batendo a porta, logo, detrás dela surgiu um garoto asiático com o cabelo naturalmente ruivo.

– Com licença, Sr.Hart, se no for muito importante poderia liberar Becky para um recado?

O diretor assentiu e Becky saiu.

– Ontem de madrugada, senhor. - respondeu Matt, retornando ao assunto, depois de um tempo.

– Madrugada? Não é um bom horário para ativar o portal. Como entrou?

– É, eu sei. Estava planejando voltar hoje de manhã, mas tivemos um imprevisto. Um preocupante imprevisto. Não trago notícias muito boas dessa busca.

Sr.Hart estreitou os olhos.

– Mas vejo que alcançou o objetivo principal. A possível escolhida está aqui na minha frente, certo?

Ele lançou o olhar a Avy.

– Ah, sim, claro. Desculpe-me, essa é Avery Holtz. a história dela é mais interessante do que imaginávamos.

Depois de Avy mesmo se apresentar e contar sua história, sr.Hart perguntou.

– Isso é interessante... No entanto, sua mãe dissera que havia ido ajudar um amigo para mandar um monstro ao abismo sem fim. Faz no mínimo mais de um século que nenhuma criatura é mandada ao abismo. Isto é, o local para onde os piores monstros vão para nunca mais voltarem.

– Talvez foi uma missão fracassada, por isso ela nunca mais voltou. - Avy sentiu uma faca querendo rasgar o estômago ao dizer.

– É bem possível... Eu sinto muito mesmo - ele torceu o nariz - qual era mesmo o nome da sua mãe?

– Helena Holtz.

Sr.Hart olhou em volta repetindo o nome para tentar lembrar-se de algo.

– Holtz....Tenho quase certeza de que nunca tive nenhuma aluna ou colega com esse nome... No entanto, sua mãe estava na Terra por algum motivo, pode ser que ela tenha mudado seu nome para que monstros não a achassem. Eles podem parecer criaturas idiotas, mas a verdade é que são mais inteligentes do que parecem. Temos sorte de que eles não nos perturbam mais.

Matt apertou os lábios.

– Era exatamente a má notícia que eu tinha para dar. Apareceram monstros. Gárgulas, sombras, e um deles eu mesmo não reconheci.

Sr.Hart tomou uma expressão confusa.

– Não é possível. Não nos deparamos com monstros há 20 anos. Achei que todos estivessem mortos. Bem, acho que estava errado.

– Eu também me surpreendi, e acho que só existe uma explicação para isso.

– A lenda se profetizando...A praga desaparecida voltará. As coisas só vão piorar daqui para frente.

Depois de uma pausa, ele continuou.

– Temos uma esperança aqui, pelo menos. A possível escolhida! - o diretor levantou-se do banco e começou a caminhar até a saída - Vamos, precisa saber da lenda.

Matt e Avy o seguiram. Eles subiram as largas escadarias principais que depois se desfez em duas estreitas em caracol. Avy perdera a conta de quantos andares haviam subido quando finalmente chegou ao destino.

Eles estavam literalmente no topo do castelo, como um sótão medieval de luxo.

A sala era escura, tinha três janelas, porém nenhuma parecia ser aberta há séculos. Depois que todos entraram, sr.Hart fechou a porta, como se tudo fosse secreto. A única luz vinha de uma fresta no vitral que havia no teto, até mesmo milhares de cores mescladas em vidro não eram suficiente para iluminar a sala.

Bem no centro, em um pedestal, estava o único objeto do local: O Livro Lendário.

Uma mulher adulta estava ao lado dele, o limpando.

– Avery Holtz, essa é Meredith. Minha filha e orientadora de Verídion.

Meredith a lançou um sorriso simpático, cumprimentando-a.

– Você seria a ...

– A candidata principal a escolhida. - disse Sr.Hart.

– Ótimo... - ela disse assentindo - creio que devam ler a lenda agora.

Sr.Hart concordou e os chamaram a aproximar-se do Livro.

Ele tinha a capa de couro e era gigante, no centro havia uma pedra roxa e uma espécie de raiz o rodeava inteiro.

Avy imaginava como alguém poderia o abrir.

Sr.Hart colocou as mãos sobre a pedra central e disse:

Alakris!

A pedra e as raízes se iluminaram , e então as raízes começaram a arrastar-se até a pedra até o livro abrir-se e folhear-se sozinho. Suas páginas exalavam luz, eram douradas e cheias de escritas misteriosas, que da mesma maneira que na carta, Avy entendia completamente.

O Livro parou em uma certa página e os símbolos passaram a sair do papel e flutuar sobre ele, a primeira palavra formada era:

– Ano 254.896. - Avy sussurrou espantada para si mesma.

– Consegue ler? - Meredith perguntou.

A garota assentiu.

– Impressionante. Alguém te ensinou?

Ela balançou a cabeça.

– Nunca... Eu não sei explicar como acontece, eu só... Consigo.

– Acho que a primeira coisa que devo explicar é que aqui em Verídion o tempo é diferente. Enquanto na Terra o calendário marca 2 mil e poucos anos, aqui nós marcamos 200 mil, isso porque a história desse universo existe há ainda muito mais tempo. - disse sr.Hart.

Novas palavras foram surgindo no ar, mas dessa vez imagens embaçadas também.

O ano da desgraça inicia-se - Avy vira alunos soltando lanternas na noite de ano novo, que depois se transformaram em chamas

O filho maldito estará de volta – As chamas se encontraram nos olhos de um bebê chorando

A corrida ao trono começa - Ela ouviu passos correndo sob uma ponte de pedra

A praga desaparecida voltará - A imagem mostrou um dragão de três cabeças

O escolhido inverterá a Maldição? - Ela viu um grande portal que deduzira ser o abismo

Quando despertarem a velha dimensão? Rapidamente um castelo negro apareceu

Ou nos caminhos da floresta se perderão? O castelo se transformou em silhuetas de pessoas em uma floresta negra, depois as árvores se transformaram em sombras e os engoliram. Uma das sombras cresceu e pareceu avançar sobre Avy.

Avy gritou e caiu no chão. Ela conhecia duas das silhuetas. Eram Matt e Becky.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo Avy conhece melhor o castelo e um dos objetos que mais a ajudará durante a história. Além disso personagens novos aparecem (inclusive um crush!) e o melhor: TRETAS!!

Espero que tenham gostado S2



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