No dia seguinte, exatamente as 6:00h da manhã Lala, que já tinha acordado há um bom tempo e já tinha trocado de roupa – um vestido lilás rodado até o joelho e um sapato de boneca branco e lilás brincos de pequenos dragões brancos e com cabelo solto -, vai acordar Pamy de forma delicada, chamando a amiga num tom normal enquanto cutucava de leve os ombros da Brown. No entanto a morena apenas se vira para o lado oposto ao da Clark resmungando algo sem sentido. Lala inflou suas bochechas mostrando sua irritação com a ausência de reação de sua amiga de infância, em seguida puxou ar respirando fundo e gritou no ouvido de Pamy.

Lala: PAMY, ACORDA!!!

Pamy acordou com o susto, pulando na cama, em seguida viu o horário em seu relógio e protestou.

Pamy: São 6 da manhã! Me deixa dormir mais um pouco!

Ela se preparada para deitar novamente, após lançar um olhar mortal para Lala, que sorria de forma inocente para a amiga e a pequena bola de energia que estava sonolenta ao lado da morena. Yuki, também em sua forma de bola de fogo, dava um bocejo ao lado da Clark quando Pierre abriu a barraca das amigas de infância, com um grande sorriso no rosto acompanhado de Fenrir em sua forma animal. O Gardien trajava uma bermuda verde-clara e uma regata branca com alguns detalhes tribais em um tom de verde escuro, semelhante ao seu tênis. 

Pierre: Bom dia!!

Assim que Pierre as cumprimentou, uma aura assassina surgiu de Pamy, que olhou para os dois amigos como se quisesse arrancar seus órgãos com aquele olhar. Ela acordava cedo naturalmente, mas um cedo considerado normal para uma pessoa de 15-16 anos com rotina vespertina intensa, algo em torno de 7-8h da manhã ela sairia de sua cama em uma situação normal. Mas aquela era uma situação extremamente longe do normal, não pela adrenalina da luta shaman acontecendo, mas sim pelas duas pessoas que ela havia reencontrado no dia anterior. Um garoto escandaloso e uma baixinha hiperativa, era isso o que ela via nos dois naquele momento.

Pamy: QUAL É O PROBLEMA DE VOCÊS??

Lala: Ta bom... Pode volta a dormir... Te chamo de novo quando o café da manhã estiver pronto.

Pamy: Tsc, esquece, já estou acordada mesmo...

A Brown se espreguiçou depois de sair da cama, para então buscar por uma roupa dentro de sua mochila. Ela estava concentrada em sua escolha até escutar seus amigos falando em união.

Lala+Pierre: Finalmente acordou!

Lala estava com um sorriso travesso no rosto, encostada nas costas de Pierre, que estava de costas para a morena, o tom de ambos era brincalhão, mostrando que tentavam ao máximo voltar para a forma com que agiam quando mais novos. Pamy deu uma estralada na língua, mostrando sua irritação, depois deu um suspiro derrotado, no final ela sentia falta daquilo. Mas enquanto ela arrumava o cabelo, já trocada acabou avisando.

Pamy: Só não bato em vocês porque são meus melhores amigos...

Pamy agora usava um vestido preto que ia até o joelho, uma rasteira da mesma cor, o colar com o relicário e um par de brincos de diamantes, que eram um presente de um amigo que conheceu em Madagascar. Os cabelos castanhos estavam perfeitamente presos num rabo alto, apenas sua franja estava solta, mas não atrapalhava sua visão, então ela não se preocupava com isso. Lala pegou uma pequena mochila que estava dentro de sua mala de acampamento grande, a única mala que havia levado para a aventura, que Yuki carregava quando caíram do avião, mas que continha tudo o que ela precisava. O trio saiu da barraca das duas e se dirigiu até próximo a fogueira no centro do acampamento, onde haviam se reencontrado. A surpresa tomou conta do olhar de Pamy quando notou todos os integrantes da equipe estrela de pé, conversando ainda com um ar de cansaço, próximos à fogueira.

Pamy: Por que tá todo mundo de pé às 6 da manhã??

Ashiru: Pergunta pra ele...

O jovem de cabelo castanho indicou o francês com uma cara de poucos amigos, Pamy e Lala olharam para Pierre enquanto ganhavam gotas de incredibilidade no cenho.

Lala: Que cruel...

O comentário da pequena faz a amiga fuzilar ela com o olhar, como se dissesse “você também não é nada inocente”. Lala deu uma pequena risada e respondeu o olhar que recebeu. Pierre apenas sorria como se não estivesse acontecendo nada de estranho, como se fosse óbvio acordar todo o acampamento junto com o nascer do sol.

Lala: Melhor eu ficar quieta...

Pamy: É melhor mesmo...

Lala: Certo então... Onde fica a cozinha?

Pierre: Não tem cozinha...

Lala: Como é que vocês fazem comida? Pedem comida via Air Express?

Hao: ... Usamos só a fogueira... Nada muito além de comida de acampamento...

Lala: ... Comida de acampamento... Tsc... Vocês vão morrer antes de chegarmos à aldeia Patch se não se alimentarem direito...

Hao estava começando a se irritar, mas resolveu só acompanhar com o olhar a Clark enquanto ela ia até a fogueira e abria sua mochila e tira alguns apetrechos de cozinha e alguns ingredientes de dentro dela, incluindo uma pequena caixa que parecia ser térmica. Pamy, Opacho, Pierre, Ashiru e Luschist e alguns outros vão até ela curiosos...

Pamy: Vai fazer o que?

Lala: O café da manhã!

Pamy: Quero panquecas...

Lala: Ok! “Acho que pra toda essa gente só consigo panqueca adaptada, mas vamos lá...”

Kanna: Eu quero Waffles...

Lala ignorou a azulada enquanto preparava em um pote a massa das panquecas, alguns minutos depois todos estavam comendo deliciosas panquecas com diversas coberturas e tomavam suco de uva. Enquanto se alimentavam eles conversavam, alguns implicavam uns com os outros, alguns brigavam e outros conversavam sem estresse. A Clark era elogiada por suas panquecas pela maioria deles, e sorria envergonhada, agradecendo os elogios. Yuki sorriu, feliz pela amiga ter conseguido fazer um café da manhã mais elaborado para tantas pessoas, mesmo com uma quantidade limitada de ingredientes.

Após o café da manhã, cada um arrumou uma parte da bagunça feita durante a refeição, mesmo com algumas reclamações de Kanna, que parecia tentar ao máximo irritar a Clark e a Brown. A maioria da equipe já estava dispersa, cada um cuidando de suas coisas, Kanna e suas amigas do Hanagumi terminavam de limpar o que haviam usado e puderam escutar a exclamação em alegria de Pierre.

Pierre: Finalmente uma cozinheira decente!

Kanna: O QUÊ?? Você disse que gostava da minha comida!

Pierre: Só tinha você pra cozinha, e eu não queria passa fome...

Kanna: ... Desculpe por isso então...

Kanna estava envergonhada, seu rosto estava corado e havia ficado chateada ao descobrir que mesmo se esforçando sua comida não era boa. Ela se retirou dali sendo seguida por Marion e Matilda, Lala e Pamy se olham desconfiadas. Hao estava atento a tudo, mas não se mostrou interessado, apenas colocou Opacho em seus ombros e olhou para o trio francês pensando em como começar o assunto que estava em sua mente. Pamy percebeu o olhar e, um pouco impaciente, resolveu o fazer falar...

Pamy: O que foi?!

Hao: Acho que já é hora de vocês fazerem a viagem astral... Especialmente Pierre e Lala...

Pamy: Especialmente os dois?

Hao: Sim, estou com um pressentimento.

Pamy estava prestes a responder irritada a falta de informação que Hao a deu, mas Lala fez uma pergunta com uma feição confusa, que acabou fazendo com que ela suspirasse desistindo da discussão com Hao.

Lala: O que é uma viagem astral? É divertido?

Pierre: Por que eu?

Antes que Hao pudesse responder Lala, Pierre perguntou de forma cansada, fazendo com que todos o olhassem sérios com uma gota no cenho, não acreditando na pergunta do loiro. Hao acabou se irritando e não escondeu isso ao responder.

Hao: Por que eu to mandando!

Lala: Ninguém me escuta... *chorosa*

Hao: Vou mandar vocês para uma outra dimensão, lá você entende melhor.

Dito isso, Hao encerrou aquela pequena reunião com seus amigos de infância. Lala pareceu satisfeita com a resposta, já que não perguntou mais nada sobre. Pierre e Pamy estavam conformados que teriam que fazer aquilo, a Brown já ouvira relatos melhores sobre o que se tratava então estava animada, mas o Gardien apenas queria evitar se cansar muito, afinal o calor daquele lugar o deixava mais cansado que o normal.

O restante do dia ocorreu “tranquilamente”. Depois do almoço que Lala fez, ela, Pamy, Pierre, Hao e Opacho ficaram conversando enquanto os outros foram fazer outra coisa... O assunto deles? Seus espíritos guardiões. Pamy parecia interessada nos espíritos de seus amigos, então começou com o assunto. Opacho estava sentada ao lado de Hao, encarando os três mais velhos com um brilho de admiração no olhar, atenta a tudo que falavam.

Pamy: Então o seu espírito é um dragão Lala... Combina muito com você. Sempre gostou deles não é?

Lala: Sim! E bem, é ‘uma’ dragão... É fêmea...

Yuki surgiu como bola de fogo acima da cabeça de Lala, encostando-se aos cabelos da amiga enquanto sorria para os outros mostrando suas presas brilhantes e afiadas. Pamy e Opacho retribuíram o sorriso da dragão, Hao a direcionou um pequeno aceno de cabeça e Pierre não pode evitar pensar o estrago que uma mordida dela poderia fazer e uma gota surgiu em sua cabeça.

Pierre:... Ela parece ser bem forte, a fênix de Pamy também, fizeram um belo estrago ontem.

Pamy: Hehe... O nome dela é May...

May apareceu na mesma forma que Yuki, ao lado de Pamy, olhando para a pequena e o loiro. Pierre imaginava como seria se May não tivesse controle de suas chamas e o estrago que isso causaria no acampamento. Os olhos de Lala brilharam ao ver a aparência de bola de fogo espiritual da ave mística, era uma versão extremamente fofa de um pássaro tão imponente.

Lala: Que fofaa!! Ah, A Yuki-chan também é muito fofa!

Fenrir se mostrou em sua forma original ao lado de seu amigo e protegido, sentado abanando seu longo rabo. Lala, Opacho e Pamy imaginavam como seria a maciez do pelo brilhante do lobo e como seria divertido andar no lobo gigante. Pierre percebeu os olhares admirados das garotas e se gabou um pouco.

Pierre: O meu espírito se chama Fenrir... Ele é tão lindo quanto eu...

Hao e as meninas ganharam uma gota na cabeça, Lala e Pamy seguravam um riso sem graça pelo comentário do amigo de infância. Hao estalou a língua meio irritado e olhou para o francês de modo intimidador, enquanto seu espírito Elemental  aparecia em sua forma original sentado atrás dele.

Hao: O Espírito do Fogo é tão forte quanto eu...

Opacho tentava segurar o riso ao ver seu líder agindo daquela forma meio infantil, Pamy e Lala se olharam com uma enorme gota na cabeça. Tentando mudar o clima estranho que havia se instalado entre os garotos, a Clark perguntou curiosa.

Lala: Como vocês os conheceram?

Pamy: Eu conheço a May desde pequena... Somos amigas desde que eu me lembro como gente...

Pierre: Fenrir apareceu pra mim logo depois de conhecer o Hao, antes de nos separarmos...

Pierre olhou para Lala esperando ver uma cara triste, mas surpreendeu-se ao vê-la sorrindo... Ela sorria docemente para Pierre e Yuki a olhava apreensiva, a guardiã sabia que não era um sorriso sincero... Pamy olhava intrigada para os espíritos e não pode deixar de perceber o olhar aflito da dragão para sua protegida; ela olha para Lala e vê aquele sorriso, sabia que era falso pois usara durante um tempo um sorriso como aquele... Pamy tenta continuar a conversa.

Pamy: E você Hao?... Você nunca falou como conseguiu o Espírito do Fogo... Falando nisso, ele tá grande!

Hao: ... Ele está comigo desde que nasci... “E muito antes também...”

Pamy: *gota*... Ok... E você Lala?

Lala: Luke-nii-chan me apresentou à Yuki no meu adversário de 5 anos...

Nesse momento Yuki toca a mente de todos e fala por telepatia...

Yuki: Luke-sama me apresentou para Lala, eu ainda era um filhote na época... Como Lala... Estou com ela desde então...

Lala: Yuki... É minha amiga desde que a conheci...

Yuki: Assim como May-san e Fenrir-san protegem seus parceiros eu protejo a Lala... Temos um conceito próprio da relação ‘espírito-shamã’...

Pamy: Acho que entendo vocês... Eu e May somos assim... Ela me protege... Eu a protejo... Lutamos juntas... Ela é livre para escolher lutar ou não... ”ela é minha única família”

Pierre: Ué... Todos os espíritos fazem isso não?

Hao: Na verdade nem to-

Hao é interrompido por Ashiru, que aparece caminhando em direção à Pamy, acenando para a Brown com um grande sorriso no rosto.

Ashiru: Oi Pamy!!

Pamy se levanta e vai até o amigo. Fazia pouco tempo que eles se conheciam, mas a amizade dos dois cresceu rapidamente. Ashiru havia conhecido a morena poucos meses depois de ele conhecer Hao, em um encontro rápido que a garota e o líder da equipe estrela tiveram, mas desde aquela época sentiram que poderiam ser grandes amigos.

Hao e os outros se levantaram também, Opacho se ajeitou nos ombros dele e apoiou suas mãos no topo da cabeça dele, sorrindo para Ashiru.

Pamy: Oi Ashiru!

Hao: Porque você sempre me atrapalha Ashiru?

Hao soou irritado, ele normalmente não se incomodava muito em ser interrompido em situações como aquela, sem a intenção, nem se irritava facilmente com o garoto, mas ultimamente esse tipo de coisa estava se tornando frequente. Especialmente com Pamy por perto. Ashiru o olhou um pouco surpreso, parecia estar notando a presença do líder apenas naquele momento. Lala e Pierre olhavam a tudo atentos.

Ashiru: Ah! Oi chefe... Você tava aí? ... Não te vi...

Ashiru conseguiu deixar Hao ainda mais irritado com seu comentário seguinte, enquanto coçava a nuca sem graça. Hao respirou fundo e fechou seus olhos, apertando suas mãos em punho, tentando não perder o controle. Como em um mantra para se acalmar, ficou imaginando formas dolorosas de morte para o seguidor.

Eles conversam por mais um tempo, agora com Ashiru junto a eles. Os franceses pareciam se entender bem com o novo amigo, tanto Lala quanto Pierre possuíam gostos semelhantes aos dele. Ficaram se conhecendo e se reconhecendo durante um bom tempo e, quando param de conversar, o sol já havia se posto. Eles vão para a fogueira jantar, ocorrendo tudo semelhante ao almoço. Depois de tudo arrumado, cada integrante da equipe estrela vai para sua respectiva barraca, preparando-se para dormir.

Na barraca de Pamy e Lala, a baixinha já havia se trocado e agora usava uma bermuda lilás e um babylook na mesma cor com uma estampa de um dragão dormindo em preto. Pamy usava uma camisola vermelha com um coração pegando fogo no centro dela. A Brown penteava seus cabelos enquanto Lala terminava de escovar seus dentes. Assim que as garotas se ajeitaram em suas camas, a Clark resolveu tirar uma pequena duvida, esperando conseguir uma longa conversa com sua velha amiga.

Lala: O que você ficou fazendo todo esse tempo? Só perguntei o que tinha acontecido com você...

Pamy: Bem, depois de treinar com James eu fui viajar pelo mundo. Conheci vários lugares e adversários que se tornaram amigos. Nada muito extraordinário, só o que já havia te contado mesmo. E você?

Lala: Só treinando como controlar meu poder shaman com a mãe do Pierre...

Um pequeno silêncio se fez presente. Lala queria descobrir mais sobre Pamy, mas, ao que parecia, ela estava longe de querer falar. Pamy acabou se lembrando de algo e resolveu comentar, quebrando o silêncio.

Pamy: Hei, você percebeu que a Kanna parece apaixonada pelo Pierre?

Lala: Sim! Mas ela é muito chata pra ele... Ele merece alguém melhor!

Pamy: Concordo... Hei, Lala, to com sono. Vou tentar dormir já. Boa noite...

Lala: Boa noite!

Pamy se virou para o lado oposto de Lala e ela, assim como na noite anterior, registrou os acontecimentos em seu diário e se acomodou para dormir também.

Enquanto isso, na barraca dos garotos: Eles estavam usando o mesmo tipo de pijama da noite passada, Pierre estava deitado em sua cama olhando um ponto fixo no teto da barraca e Hao lia um livro.

Pierre: Parece que não gostou muito do Ashiru ter ido falar com a Pamy...

Hao tentou ignorar o loiro, que notou o esforço inútil dele e continuou falando de forma provocativa e brincalhona.

Pierre: Ah, Fenrir... Se um dia eu ficar ciumento assim me chame a atenção, garotas não gostam de pessoas assim.

Hao: Fica quieto!!

A provocação havia funcionado. Hao ralhou com Pierre enquanto arremessava o livro na cara do Gardien, que desviou com um comentário tão divertido quanto o sorriso em seu rosto.

Pierre: Não precisa ficar irritado garoto apaixonado...

Hao: ... Boa noite Pierre...

Ele disse aquilo em um tom seco e sarcástico, tentando ignorar os comentários do companheiro de barraca, mas tudo o que teve como resposta foi o som leve de uma respiração profunda. Pierre já havia dormido.