“Meu Deus, é surpreendente como chegamos até aqui

É como se tivéssemos caçando todas aquelas estrelas”

(Secrets - One Republic)

Poseidon POV

Dizem que as tempestades acontecem para que a calmaria seja algo inigualável. Obviamente, não com essas palavras, mas digamos que aprimorei. Tive que aprimorar, afinal, a vida é feita de aprimoramentos e algumas vezes, ela termina antes que se consiga finalizar tudo o que você sempre desejou. Eu sinto por isso. Eu e toda a minha enorme família, que um dia foi maior, mas infelizmente, reduziu-se pela tragédia que se é levantar da cama, para viver…

— Ei! Hora de levantar, mocinho. Hoje é o grande dia! - balancei Percy, que babava em seu travesseiro. Ri com o pensamento de Annabeth fazendo piadas sobre a baba. Uns dias fora e já sentia falta da garota, mas principalmente da sua mãe, minha futura esposa.

— Só porque é Ano Novo?

— Não, porque hoje é o meu casamento! - sorri e liguei o som alto, com o que quer que estivesse tocando no Som do apartamento de Zeus.

Após a reunião de semanas atrás, todos decidiram se espalhar pelos apartamentos do prédio, todos em nome da família Olympus. Ou quase todos…

— Ai meu Deus! - Percy pulou da cama. - É hoje! HOJE QUE EU…! PAI! ESQUECI DE PASSAR NA LOJA! QUE HORAS SÃO?

— Perseu, se acalma. Você pode chegar lá em 10 minutos. Aliás, a Annie vai passar aqui daqui a pouco. Estou tentando te acordar faz meia hora. - me levantei, tentando parecer sério, mas nada conseguiria conter meu sorriso naquele dia, portanto quando meu filho riu de nervoso, fui obrigado a acompanhá-lo.

    A campainha tocou e corri para atender, revelando Annabeth sorridente.

    - Bom dia, Poseidon!

    - Bom dia! Bem, vou deixar você esperando pelo Percy, pois vou resolver mais umas coisinhas na rua. - peguei as chaves do carro e saí.

Percy POV

Ansioso. Eu estava extremamente ansioso. Eu, Perseu Jackson, pediria Annabeth Chase em casamento. Ok, eu não planejava casar agora, mas eu a amava. Aliás, a amava mais do que tudo e já planejava isso desde… desde o bebê. Além do mais, ela estava frágil, precisava de mim 24 horas e eu a desejava ao meu lado 24 horas para poder sair dos meus problemas. Annabeth Chase, a garota que um dia foi o meu grande problema, tornou-se a resolução de tudo, em meses.

O ano tinha passado, e um trabalho inútil me deixara apaixonado pela garota mais sensível do mundo, que encontrava-se no fundo da minha Sabidinha, onde ninguém errado podia entrar. Desde que conversamos no dia da reunião familiar, tudo parecia certo, seguro novamente. E assim continuaria, assim que Annie se tornasse minha noiva.

— Você está nervoso. - ela comentou ao meu lado, enquanto caminhávamos para a loja de joias. - Parece até a minha mãe.

— Você sabe… - disfarcei coçando a cabeça. - Sou meio desastrado e distraído, tenho medo de esquecer as alianças.

Ela sorriu e me parou. Ela sabia exatamente como me confortar.

— Cabeça de Alga, eu estou aqui para lembrá-lo de tudo.

E me beijou, devagar. Entrelacei nossas mãos e aprofundei o beijo, parando minutos depois. Seus olhos cinza estavam preocupados, bem lá no fundo, mas deixei passar. O dia de hoje estava gerando uma preocupação geral, no entanto eu sabia quando isso iria terminar. Meia noite, no dia 1º de janeiro de 2017, quando Atena e Poseidon estiverem casados, Annabeth e eu, noivos, e família toda reunida novamente.

— Já disse que te amo, Annabeth Chase? - sorri e ela continuou a andar comigo.

— Eu também te amo.

Entramos na loja e o vendedor sorriu para mim, já me reconhecendo. Rezei para ele calar a boca e não falar do anel de noivado.

— Viemos buscar as alianças. - Annie falou e num instante estávamos com uma sacola com caixinhas. Ela franziu o cenho, mas não perguntou nada. Típico dela. Segurei as sacolas e seguimos para o próximo passo: roupas. Seria um dia longo.

— Tô cansada. - Annabeth reclamou, sentada ao meu lado em uma sorveteria próxima ao Central Park. - Preciso de um bom banho pra relaxar até a hora do casamento.

Mordisquei meu picolé e sorri. Eu também estava morto, mas tinha amado passar o dia com minha namorada.

— Vamos para casa? - relutei e propus.

Ela assentiu e caminhamos para o prédio, comendo nossos sorvetes.

— Como está Atena? - puxei assunto, já que ela estava muito quieta.

— Nervosa. E Poseidon?

— Estranhamente animado.

Ela riu e me abraçou forte quando chegamos ao prédio. A abracei como nunca tivera feito e sorri.

— Eu te amo, Perseu Jackson. - ela sussurrou e se afastou para me beijar com urgência.

Parei o beijo e a encarei. Annie parecia muito emotiva.

— Acho que essa coisa toda de casamento te deixou meio alterada ein Annie. - brinquei e ela riu, me batendo de leve.

— Te vejo mais tarde, Cabeça de Alga…

Afrodite POV

Eu amo comemorações. Principalmente as românticas. E eu precisava daquilo. Não aguentava mais pensar em Hefesto, no Condomínio destruído e nas vidas que perdemos há meses. E bem, hoje era véspera de Ano Novo, dia do casamento do casal que eu juntei, e eu não podia ficar arrasada como estava.

Então, levantei antes de Ares e tomei meu café da manhã. Corri pelo Central Park, cacei um vestido perfeito, sapatos e joias. Fui para o Salão e estou aqui desde então. Pintaria meu cabelo, faria uma bela hidratação, o penteado perfeito, sobrancelhas, maquiagem, unhas… Tudo o que não havia feito em meses.

E como a noite seria longa, acabei exagerando e comprando uma lingerie vermelha. Mas é como gosto de dizer: “Se é para sair da fossa, você tem que se jogar pra fora com estilo e classe.”, e sejamos francos, os meus conselhos são sempre os melhores.

Meu celular tocou e atendi, com todo cuidado para não borrocar a base ainda molhada da unha.

— Afrodite Olympus.

— Cadê você? - Ares parecia nervoso. Olhei para a tela do celular e entendi o porquê, 24 ligações de membros da família, ops.

— To no Salão, Ares. Por que?

— Porque TODOS da família acharam que você…!

— Não estou morta. Estou saindo da fossa. Agora tchau que a tinta do cabelo vai manchar minha capinha de celular nova.

— NÃO! ESPERA, AFROD…

— Maridos… - olhei para as moças do Salão. - Tão preocupados não é?

Fechei os olhos e me permiti relaxar.

Atena POV

— Ai meu Deus! Eu não posso fazer isso agora, Annabeth! Eu achei que você fosse com o Percy! Estou no carro, vestida à caminho do casamento! Como assim?!

Desliguei o telefone, ainda chocada com a conversa que acabara de ter com a minha filha, a menos de 20 minutos de casar. Não podia ser.

— Filha, tudo bem? - meu pai, Zeus, virou para trás para me olhar no carro que estávamos.

— Tudo…

— Cadê Annabeth? Já está lá né? - ele perguntou, desconfiado e assenti rapidamente.

Peguei o celular e em minutos eu tinha o que precisava. Respirei fundo e cliquei no “ENVIAR” que piscava na tela. A mensagem de Annabeth chegou logo em seguida.

“Obrigada, já recebi o e-mail. Depois pegue um cartão que tem no seu buquê, é importante. “

Afrodite POV

Era tarde, quase noite, quando cheguei em casa e encontrei Annabeth pronta no meu sofá. Ares já tinha ido após perder a paciência com o meu tempo no Salão, então me perguntei como a espertinha tinha entrado ali.

— Como você entrou? - foi tudo que perguntei ao vê-la.

— Percy não me chama de Sabidinha à toa. - respondeu, a voz por um fio.

Algo estava errado. Algo estava muito errado. Mas deixei a menina falar, porque se tinha uma coisa que eu tinha aprendido sobre Annabeth Chase, era que ela demorava, porém no final, falava tudinho que você queria perguntar.

— Quer um suco? Vou vestir meu vestido e aí te dou uma carona, acho que estamos meio atrasadas.

— Eu não sei o que eu faço. Estou triste. Arrasada. E o Percy… acho que ele não percebeu.

— Estamos todos tristes Annie. - arqueei a sobrancelha, colocando suco no copo para ela. - Não sei porque veio a mim. Eu estava de luto até hoje, quando decidi voltar a viver, porque isso seria o que Hefesto desejaria. Serei sincera, Annie...

— Eu não esperava que não fosse. - ela pegou o suco e voltou a sentar-se na poltrona.

— Você tem que esquecer tudo Annie, se levantar e viver.

Quando Annabeth respirou fundo, eu soube que ela tinha uma decisão.

— Vamos. - disse e eu corri para me arrumar.

Porém, quando voltei a sala, não tinha ninguém. Só uma carta de Annabeth e o suco derramado no meu tapete novinho.

Percy POV

Eu estava nervoso. A caixinha no meu bolso parecia pesar. Não, não eram as alianças. Era o anel de noivado. E eu tinha certeza que Annie ia adorar, além do mais, ela andava meio triste. Meu pai estava vindo para o altar, Atena já tinha saído de Manhattan, o céu estava limpo e escurecendo, a areia branquinha…

Como meu pai, eu tinha sido criado apaixonado pelo mar. Então quando ele pediu opinião sobre o local do casamento, não pude evitar de dizer Long Island. E tudo estava tão perfeito, que me perguntava pra que tanta pomposidade em casamentos gigantescos, quando locais conectados a natureza ficam bem mais bonitos.

E quem nunca quis vir à praia a noite? Namorar e ouvir o mar? Ou quem nunca o fez? Bem, eu adorava levar Annabeth. Aquele era o meu lugar e se tornara nosso. O pensamento me fez sorrir, mas ele logo desapareceu quando meu pai caminhou até mim, com um papel na mão.

— É… Para você. Afrodite acabou de trazer.

Engoli em seco e peguei o papel. Nele estava escrito “Para o meu Cabeça de Algas”. NÃO. Abri, desesperado, sem pensar no papel ou no casamento ou no anel em meu bolso. E comecei a ler.

Amor. Alguma vez você já se perguntou o que era isso? Alguma vez você já parou para pensar quantos morrem por isso? Quantos vivem em função disso? Quantos morreriam para tê-lo? Quantos o perderam ou o negaram? Quantos amarão ou quantos nunca amaram? Eu pensei. Na verdade, Perseu, eu venho pensando nisso…

Por favor, não me odeie. Eu queria que as coisas não fossem dessa forma. Mas eu tentei. Juro que tentei. Cada segundo, cada dia e em cada respiração minha, eu lutei. Lutei pelo nosso bebê, pelos nossos amigos, pela nossa família, por NÓS. Porém chega uma hora, que de tanto lutar, você enfraquece, você se cansa. E eu não posso passar meu Ano Novo lutando. O seu pai me disse que há tempestades para que um dia chegue a calmaria, há muito tempo atrás, quando eu estava começando a me apaixonar por você. E bem, esta é a calmaria.

A esta hora devo estar num avião, partindo. Não me pergunte para onde. Não venha atrás, pelo menos não por enquanto. Eu preciso recomeçar. Preciso me levantar e viver, e bem, cada um daí fez isso. Afrodite deu a louca no Salão, você me afastou e teve pesadelos, Poseidon cuidou de Atena, Ártemis deixou Apolo, Luke cuidou de Thalia.  Eu não duvido que você queira cuidar de mim, arrancar esta tristeza que predomina meu interior, mas chega uma hora na vida, que você quer cuidar de si. E eu PRECISO me encontrar, antes de NOS encontrar.

Então, meu querido Perseu Jackson, renove-se, ame-se, cuide-se. Me perdoe, um dia pelo menos. Não peço isso agora, não seria justo. Venha atrás de mim daqui a um tempo. Você iria amar o lugar que estou indo… Talvez eu tenha ido para lembrar de você… de nós. Case nossos pais. Junte-se aos nossos amigos na festa. Me esqueça por uma noite. Feliz Ano Novo.

Com amor,

Annabeth Chase, a sua eterna Sabidinha.