This isn´t the end escrita por MaliaMultiboooks


Capítulo 8
Nunca mais ia se sentir normal.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Cap novo, espero que gostem!
Beijinhos, e Feliz ano novo!



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Acordo não só atrasada, mas muito atrasada na manhã seguinte. Atrasada o suficiente para perder o ônibus. Pego uma roupa qualquer que estava na minha cadeira, ou seja, a pilha de roupas amassadas, e nem olho o que visto.

Levo um pequeno sermão de minha mãe, falando que não ia ao colégio a quatro dias e não devia me atrasar. Desço as escadas correndo e não vejo opção além de correr. Sabe correr como se alguém estivesse te perseguindo? Foi o que aconteceu- Graças a Deus estava de tênis.

Chego a escola ofegando de cansaço, e logo vejo meu celular com infinitas mensagens. Todos os alunos já estão nas salas e não avisto nenhum rosto conhecido, então apenas entro. Na metade da aula tenho que pedir para ir ao banheiro pois até a blusa tinha colocado ao contrário e nem notado tinha. Havia esquecido como as aulas são chatas.

Finalmente chega o almoço e marco de encontrar meus amigos no café do outro lado da rua. Nenhum deles sabia o que tinha acontecido, e não paravam de perguntar por telefone; mas era algo que não se fala casualmente numa conversa ao telefone. Lembro até hoje do dia que a mãe de Nick faleceu, a uns dois anos, e quando ele nos contou. A partir desse dia, ficou tão claro o quanto nos importávamos muito uns com os outros; e tenho certeza que eles se importam comigo também.

Sento no nosso lugar de sempre e, surpreendentemente, eu sou a primeira a chegar. Espero uns 5 minutos e os três finalmente aparecem e se sentam.

–Onde você se meteu?! –Louise fala alto. –Onde você estava hoje de manhã?

–Hm, eu me atrasei, hm, tipo, muito. Mas, por outro lado, eu já fiz a caminhada do dia, melhor, da semana só de vir correndo de casa até aqui em exatamente 6 minutos.- Respondo.

–Certo, mas o que aconteceu? –Nick pergunta, impaciente.

–Ah, sim. Isso. Hm, eu fiquei doente, então fiquei de cama por uns bons dias.

–Porra, Kate, isso nós sabemos. Fale logo. –Nick fala, rindo. –Por que não veio ontem?

–Então. Meio que meu pai apareceu lá em casa do nada. Então eu tive que ficar né?

–O que? – Eles perguntam boquiabertos, ao mesmo tempo.

–O nome dele é Richard. Ele apareceu lá ontem de manhã, e nós conversamos um pouco.

–Como que ele é? –Lou pergunta.

–Hm, legal, eu acho. Ele é casado, tem dois filhos pequenos e vai ficar aqui até o final da semana.

–Você vai falar com ele? –Caleb pergunta.

–Hm, não sei. É um pouco demais para se processar. Mas só achei que era uma notícia para se dar pessoalmente, sabe? –Falo e eles concordam. –Mas é isso. Não sei se fico feliz por ele aparecer, ou irritada por que ele nos deixou e agora tem uma vida perfeita que nós nunca pudemos ter.

–Kate, posso falar com você rapidinho? –Nick diz.

–Eu e Caleb vamos pegar algo para comer, oui? –Lou fala, e eles saem.

–Está tudo bem? –Pergunto, de repente preocupada, e ele fica quieto.- Nick, você pode falar qualquer coisa, você sabe disso. –A verdade é, eu conheço Nicollas a até mais tempo que Louise. No começo era apenas eu e ele, quando cheguei na cidade, há muitos anos.

–Kate, você me conhece a anos. Em alguns aspectos, até melhor que Lou. Você lembra quando a minha mãe morreu, certo? –Ele fala baixinho, e concordo. –E você sabe o que eu daria para ter ela de volta aqui. Então, por favor, fale com o seu pai. Digo, aquilo está no passado, mas o futuro você pode mudar. E acho que ele deve ter mudado também, tanto que te procurou.

Fico muito triste ao ouvir aquilo, por que sabia o quanto ele tinha sofrido, e ainda sofria por causa da morte de sua mãe. Mas ele tinha razão, todos mereciam uma segunda chance.

–Você está certo, Nick. Acho que vou ligar para ele amanhã. Talvez conhecer a mulher dele depois? Ou meus irmãos?

–Acho ótimo.- Ele responde com um sorriso, quando os dois voltam e se sentam.

Apesar de tudo ter acontecido, acho que me juntou de volta aos meus amigos, até mesmo Caleb, pois sabia que eles estariam lá por mim, como eu por eles.

Mais alguns dias se passam, mas mal falo com o meu pai. Ele marca de nós irmos jantar na sexta-feira à noite, mas ainda estou com um pouco de receio em ir.

Quando chega o dia, peço para sair mais cedo do trabalho, chego em casa e vou direto para o banho. Me arrumo rápido, pois já são quase 20h30. Minha mãe disse que não quer encarar meu pai, então ela decide ficar na casa de Jean hoje, que, ainda bem, não viu problemas no retorno de Richard.

Escuto uma batida na porta, e imagino que seja meu pai. Grito um “já vai”, e tento dar uma arrumada na casa, pois quero passar a impressão que vivemos nossa vida bem, mesmo sendo só nós duas. Mas quando abro a porta, não é Richard, e sim Caleb.

–Oi. Está ocupada? –Ele pergunta.

–Oi, na verdade estou de saída. Aconteceu alguma coisa?

–Não, só queria saber se estava tudo bem. Com o seu pai, e tal.

–Ah, está tudo bem, dentro do possível. Na verdade, ele já deve estar chegando. –Bem quando eu falo isso, vejo Richard subindo as escadas. É muito estranho ter um pai jovem. Mãe, já estou acostumada. Mas pai? É outra coisa.

–Oi, Richard. Esse é Caleb. Caleb, Richard. – Essa é uma cena que nunca imaginei que iria acontecer. Eles se cumprimentam e eu fico encarando os pés tentando pensar em qualquer outra coisa além do fato de isso ser embaraçoso. Troco um olhar de “falo com você depois” com Caleb, viro as costas, depois de dar tchau.

Vamos caminhando até o restaurante que meu pai escolheu, um pouco chique e caro demais do que estava acostumada. Quanto será que um professor universitário ganha nos EUA? Mais do que minha mãe e eu ganhamos, com certeza.

Entramos no local e Richard se dirige até uma mesa que, claramente, já estava reservada. Me sento e fico brincando com as pontas de meu cabelo, que é o que eu faço quando estou nervosa. Ficamos em silêncio, que só é quebrado quando peço uma água. Encaro o cardápio, fingindo que estou lendo, até que começo a ficar ligeiramente entretida com o nome daqueles pratos que não fazia ideia do que eram.

Enquanto perdida em meus pensamentos, escuto Richard me chamando e me deparo com uma mulher sentada ao lado dele. Ah, não.

–Oi, eu sou Jane. Você deve ser Katherine. –Ah, não. Não, não, não. Quase engasgo com a minha própria água, até notar que estou encarando-a a mais tempo que o normal. Acho que qualquer um saberia que é muito cedo esse encontro. Ora, conheço meu pai a três dias. Apenas três dias. Ela estende o braço, me encarando com os grandes olhos azuis, e aperto sua mão, sem jeito.

–Jane ficou ansiosa em te conhecer, então ela adiantou a passagem e chegou aqui hoje de manhã. –Diz ele.

–Sério? –Digo com aquela vozinha aguda, que só aparecia nos piores momentos.

–Sim. Logo podermos trazer as crianças. O que acha? –Ele diz para Jane.

Iria ser uma noite longa.

–Então, Katherine, o que quer fazer na faculdade? - Jane pergunta, depois de terminarmos de comer. Tentei prestar atenção na conversa deles durante o jantar, sobre a casa, a cidade e os filhos deles, mas foi difícil.

–Ah.... Não sei ainda. –Falo, sem graça.

–Ah, mas você já deve ter uma noção. Que matérias você vai bem? –Ela insiste. Antes de soltar um “nenhuma”, respondo:

–Hm, histó... Matemática? –Falo, encolhendo os ombros.- Eu não sou a melhor aluna. –Ela troca um olhar com meu pai e não gosto nem um pouco.

–Quem sabe, você não vai para os EUA? Sendo filha de Richard, você consegue entrar na nossa universidade. –Deus, parecia que meu pai nem estava presente na conversa.

–Ah. Acho que preferiria ficar aqui mesmo, perto de minha mãe.

Ela começa a fazer outra pergunta, mas o garçom vem à nossa mesa. Todavia, olho para o rosto do garçom e o reconheço como um amigo meu, Théo. Ele era um ano mais velho que eu, e namorava também amiga minha a quase 2 anos. Ele costumava trabalhar comigo, mas conseguiu um emprego melhor em outro lugar. No caso, aqui.

–Desculpe, senhores, mas a máquina de café estragou, então, vai demorar mais alguns minutos. – Théo diz.

Théo, c´est toi? –Pergunto, ele me olha surpreso, e me responde em francês também. Os dois não falavam francês, e só me encaravam.

–Katherine! Quanto tempo! Como está?

–Ótima e você? –Falo, ainda em francês.

–Bem, também. Kate, eu adoraria conversar, mas meu gerente já está me olhando torto. Ainda está trabalhando no café? Passo lá na próxima semana ainda para te dar um oi.

–Ótimo.-Falo, e volto a falar inglês.- Ei, quer ajuda para consertar a máquina de café? Conserto direto lá no trabalho. – Olho sorrateiramente para Jane e Richard, que me olham levemente espantados, principalmente Jane. Tinha que mostrar para eles que não tinha vergonha do que fazia.

–Ah, claro. Se não tiver problemas.- Théo diz, olhando para o gerente, que atendia outros clientes.

Me levanto sem olhar para trás e entro na cozinha. Em menos de três minutos já conserto a máquina, até faço uns dois cafés. Posso não ir tão bem na escola, cair de escadas, mas fazer café eu sabia muito bem, mesmo sendo só uma mera garçonete.

Volto para a mesa e os dois me encaram, nada discretos.

–Era seu amigo? –Ele pergunta, pausadamente. Tenho certeza que ficaram indignados que eu fui ajudar o garçom.

–Sim, ele trabalhava comigo até umas semanas atrás. E também estuda no meu colégio.- Respondo com normalidade.

–Você tem vários amigos...hm, garçons? –Pergunta Jane.

–Sim, tanto que também sou uma garçonete...? Nós precisamos ganhar dinheiro de alguma maneira. –Achei uma pergunta um tanto ofensiva.

–Ah, seu pai me disse. Vocês trabalham pelo dinheiro da faculdade, óbvio. –Diz ela.

–Não, para pagar as contas. No meu caso, quer dizer.

–E o dinheiro para a faculdade? –Insiste ela.

–Eu nem sei se vou para a faculdade. –Mal termino mina frase quando, e já é a vez de meu pai quase engasgar com água.

–Como você não vai para faculdade?! –Percebo que ele se contém para não gritar no meio da restaurante. É uma ironia falar isso para dois professores universitários, principalmente sendo filha de um deles.

–Não é que não vou. Não tenho certeza. Mas não é como se minhas notas fossem as melhores para entrar numa universidade boa. Ainda tem mais de um ano para decidir.

–Mas estudar é a sua única obrigação! –Jane fala, afinando a voz em um gritinho. Quem ela achava que era? Minha mãe?

–Não, não é. Eu saio de casa as 7h30 e volto depois dás 20h. Não é de se estranhar que eu não estude.

–Katherine, você vai para faculdade. –Richard fala firme.

–Não é certeza disso; tem metade do segundo ano e mais o terceiro ano inteiro. –Tento me justificar. Como se eu devesse alguma coisa a ele.

–Katherine eu já disse, se o problema é dinheiro eu pago. Você para de trabalhar naquele lugar e vai estudar.

–Com todo respeito, Richard, mas eu te conheço a três dias. Você não pode sair decidindo as coisas para mim. E nós temos dinheiro suficiente, obrigada –Eles não dizem nada primeiramente, mas ele continua.

–Mas eu ainda sou seu pai. E você vai começar a estudar e ir para a universidade.

–Agora você é meu pai? Onde você estava a dezesseis anos? - Pauso.- Olha, obrigada pelo jantar, mas acho que vou para casa sozinha. –Deixo minha parte da conta sobre a mesa. O meu próprio dinheiro, adquirido com o meu trabalho. –Foi um prazer conhece-la, Sra. Palliot. –Me levanto e me retiro, sem antes escutá-la dizer ao meu pai:

–Eu te disse que essa menina seria um problema.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
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Feliz 2016!



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