A casa era amarela, as luzes rosas piscavam e a espessa neve batia gentilmente em sua janela. Havia uma chaleira chiando na cozinha, bolinhos na mesa e um peru de Natal no forno. O chá estava quase pronto, o peru recém-posto no forno e as pernas cansadas demais para qualquer movimento brusco.

Pensou em deixar o barulho continuar na cozinha, mas necessitava de uma xícara de chá e alguns bolinhos que a vizinha, Sra. Harriston, preparou.

Aquela nunca fora uma data apreciada por Liz, principalmente depois de um ano difícil onde teve que conviver, todos os dias, sem a presença das pessoas que amava.

Uma tragédia no Natal levava toda a alegria embora. E as bebedeiras dos adultos para esquecer o valor imenso que gastaram em presentes, bem, não aconteciam tão frequentemente como antes. A mesa com comidas natalinas e o peru no centro já não eram importantes para Liz.

Na verdade, aquela nunca foi uma data de muita comemoração, afinal, não tinha uma família grande. Era ela e seu pai, no fim das contas.

A mãe morreu com câncer, quando tinha oito anos, e a família de seu pai o abandonou quando ele ainda era jovem.

E o Natal do ano passado foi arruinado com a morte daquela única pessoa que ainda existia e se dedicava para lhe amar; seu pai. Porém, atualmente, não havia família alguma, nem mãe, nem pai. Nada.

Lembrava-se das luzes rosas de Natal. Seu pai as adorava, pois lembravam da mãe, que adorava rosa e adorava Natal. Agora havia só as luzes rosas, sem nenhuma apreciação por elas.

Sentia falta das pessoas que a amavam. Sentia falta das xícaras constantes de chá, dos sorrisos da mãe e da animação do pai. Os conselhos amarosos, os abraços aconchegantes, as risadas animadoras e a felicidade.

Mas nenhum deles estava lá.

Era apenas ela, as luzes e o chá. Coisas que vão, não ficam para sempre e nem tem a capacidade de amar.