Cursed escrita por Creature


Capítulo 11
VIII - We play tag with a giant, evil lion


Notas iniciais do capítulo

SIM EU VOLTEI!
Como expliquei anteriormente, sim tenho um milhão de pedidos de desculpas pra fazer, mas nunca foi minha intenção abandonar a fic dessa forma. Estava passando por um momento ruim e não conseguia mais escrever.
Felizmente, a inspiração voltou, e a fic também. Juro que dessa vez pretendo levar até o fim rs (até porque a história já está todinha planejada).
A ideia é postar um capítulo por mês, já que tenho faculdade e estágio, então é difícil escrever com uma frequência maior que essa.
É isso.
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666599/chapter/11

We play tag with a giant, evil lion.*

*"Brincamos de pega-pega com um leão gigante e malvado". Tradução livre.

Lily Evans

Lupa e seu exército aterrorizante de lobos gigantes nos guiaram para umas ruínas que ficavam no meio da reserva. Parecia o tipo de lugar em que a mocinha burra do filme de terror fugiria para beijar o namorado e seria violentamente perseguida por um serial killer e/ou um lobisomem. O nosso caso não parecia muito distante da última hipótese.

Era apavorante, ser guiada pelos lobos. Eles não falavam muito, pelo menos não para nós, mas eram com certeza diferentes de qualquer lobo normal que eu já tivesse visto no zoológico. Além do tamanho – eu ainda não entendia como nenhum biólogo local nunca parou pra pensar “opa! Aquele lobo ali é do tamanho de um fusca. Será que isso é normal?” — mas eles também tinham olhares profundamente mais inteligentes e cruéis que os de qualquer lobo comum. Lupa era a mais assustadora de todos. Não porque ela fosse assustadora em si. Na verdade, ela era linda. Talvez o animal mais lindo que eu já vi. Mas ela também era imponente como uma rainha, milênios de experiência em suas costas, e parecia feroz na maior parte do tempo. Entretanto, olhando com cuidado, eu conseguia ver em suas expressões a loba das lendas, aquela que havia amamentado Rômulo e Remo. Ela tinha um quê de mãe em seu olhar.

Infelizmente, naquele momento eu sentia que nós éramos filhos muito ruins que tinham jogado papel higiênico na casa do vizinho e que nosso castigo não seria muito legal.

Bem-vindos à Casa dos Lobos.” — A voz da deusa loba ressoou. – “Aqui é onde todos os nossos jovens lobos são testados.”.

Dorcas, por alguma razão, pareceu gostar da ideia de um vestibular de lobos.

— E o que acontece quando eles não passam no teste? Eles precisam esperar um ano para tentar de novo?

Quando eles não passam, nós os matamos.”

— Ah. – Dorcas murmurou, engolindo em seco. – Os almoços familiares de vocês devem ser bem divertidos.

Lupa subiu em uma ruína mais alta, posicionando-se acima de todos. A luz do Sol batia em seus pelos prateados e refletia, de modo que ela parecia brilhar.

Na alcateia não há espaço para os fracos. Eles ameaçariam a segurança dos demais. Precisamos prezar pelo bem da maioria. É impossível garantir o bem de todos. Alguém sempre terá que ser sacrificado para que outro tenha sucesso.” Os olhos dela faiscaram quando se voltaram perigosamente para James. “Essa é a sina de ser um líder. Cabe a você decidir quem fica para trás e quem vale a pena salvar.

James ergueu o queixo. Por um instante, ele pareceu ainda mais nobre e imponente do que a deusa loba. Seu olhar era desafiador.

— Um líder que não está disposto a fazer o que for preciso para proteger a todos não merece a liderança. O dia em que eu tiver que deixar alguém para trás, pode ter certeza de que essa pessoa serei eu. – Os punhos de James estavam cerrados agora, e ele encarava Lupa diretamente, parecendo não ter nem um pouco de medo do olhar feroz da loba. – Não vou renunciar às vidas daqueles que escolheram me seguir. Nunca os trairia desta forma.

O peso das palavras de James ficou no ar. Por um minuto, achei que Lupa ia simplesmente pular daquela pedra e comer ele na frente de todo mundo (isso seria tão ruim assim?), mas seus olhos apenas brilharam com divertimento.

Você fala como um garoto que treinei uma vez. Ele se tornou um grande homem, de fato. Mas ele era um semideus. Você não parece ter a mesma sorte.”.

Uma parte de mim quis interromper todo o clima sério do momento para perguntar se ela estava falando do Percy Jackson (ENTÃO QUER DIZER QUE ELE EXISTIU ESSE TEMPO TODO??????????????????!!!!!!11111?? O QUE EU ESTAVA FAZENDO QUEBRANDO MALDIÇÕES ELE FARIA ISSO MUITO MELHOR QUE EU), mas lembrando da própria experiência do Percy, achei melhor não irritar a loba.

Veremos se é capaz de liderar como um lobo, James Potter.”

De repente, os lobos que nos envolviam em um círculo abriram um caminho que apontava para o Norte da Casa dos Lobos.

O seu teste, jovens lobos, começa agora.” – A voz da Lupa tornou-se mais séria, desafiadora. “Provem que conseguem funcionar como um, como uma alcateia, e eu darei o que procuram. Recentemente, o Leão de Neméia foi avistado em nossas terras-

— Ah, não. – Merda. Pensei alto demais. Acho que eu estava meio cheia de todas as missões impossíveis. Porque a missão não podia ser tipo, enterrei um osso em algum lugar daqui. Quem achar primeiro ganha!!11!?

Os lobos me encararam como se estivessem prestes a pular em minha jugular. Talvez eles realmente fossem telepatas.

Como eu dizia” – Lupa continuou, me olhando feio, mas não como um predador olharia para sua presa. Ela me olhou feio como se fosse minha mãe me repreendendo por algo errado. De alguma forma, isso era ainda mais assustador. “O Leão de Neméia foi avistado em nossas terras. Ele está velho e cego, mas todos os seus outros sentidos ainda funcionam perfeitamente. Vocês devem caçá-lo. Não matar. Somente caçar. Pensem nisso como uma brincadeira de pega-pega. Se o pegarem, vocês terão passado no teste e ele não lhes fará mal. Mas ele também caçará vocês. E se ele os pegar primeiro...” — O olhar dela se tornou predatório. – “Vocês perdem.”

— Por que eu sinto que se a gente perder não vamos ter uma chance de tentar de novo? – Lene sussurrou para mim.

— Acho que ela quis dizer que o leão vai comer a gente. – Sussurrei de volta.

Não se preocupem, ele não vai comê-los.”— Suspirei aliviada. Talvez Lupa não fosse tão brutal assim. – “Só vai matá-los de forma lenta e dolorosa e destroçar o que restou”.

Nope. Ela era de fato bem brutal.

— Ah. – Lene resmungou. – Me sinto muito menos preocupada agora, obrigada.

***

Os lobos nos abandonaram no território do Leão de Neméia sem muita indicação do que fazer ou de como encontrá-lo. Na verdade, eu sentia como se tivesse sido jogada na floresta usando uma fantasia de cachorro-quente e segurando uma placa bem grande de “Coma grátis aqui!”.

— Beleza. – Dorcas falou. – Vamos encontrar esse Leão de Nárnia.

— Leão de Neméia. – Remus corrigiu.

— Isso. – Dorcas concordou. – Leão de Niemeyer.

Remus desistiu.

— Tudo bem. – Sirius falou, tentando erguer nossos ânimos já inexistentes. – Precisamos de um plano. Idealmente um que não seja ficar parados aqui até essa coisa ficar com fome e vir atrás da gente.

Olhei para Remus esperançosa.

— Remus, você é nosso homem-lobo. Como caçamos um leão mitológico?

Remus ergueu uma sobrancelha, me encarando como se de repente eu tivesse ganhado um terceiro olho, bem no meio da testa.

— Sou um homem-lobo, Lily. Não o Hércules. – Minhas esperanças morreram. – Poderíamos tentar encontrar o leão pelo cheiro, mas não tenho nem ideia de qual seria o cheiro dessa coisa. Além disso, não podemos descartar a hipótese dele ser inteligente o suficiente para disfarçar seu cheiro quando vai caçar.

James, que até então olhava para o horizonte de forma pensativa, finalmente decidiu colaborar.

— Lobos nunca caçam se souberem que estão em desvantagem. Aqui, nesse campo aberto e sem a menor noção de onde o leão possa estar, a vantagem é toda dele. Lobos são traiçoeiros e muito filhos da puta. – Ele olhou para Remus e pigarreou. – Com todo o respeito, Moony. Por vezes, eles seguem sua presa por dias, esperando que ela se coloque em uma posição de desvantagem para que eles possam atacar. Eles minimizam as chances de derrota. É isso que devemos fazer.

— Não sei se você ouviu a mesma coisa que o resto de nós, James. – Comecei. – Que tipo de vantagem a gente pode conseguir contra um leão mitológico monstruoso de pelo menos cinco metros de altura com um couro impenetrável? A menos que você saiba onde achar o Hércules, não sei se temos muita chance.

Potter teve a audácia de revirar os olhos num momento como aquele (!!!11!!!), me encarando com um sorrisinho prepotente no campo da boca.

— Monstruoso ou não, eventualmente ele vai precisar beber água. E nesse momento, ele estará distraído. Vulnerável. Vai ser bem mais fácil pegá-lo. Não precisamos ir até o leão. Só precisamos achar a fonte de água mais próxima e esperar por ele lá. – Seus olhos castanho-esverdeados então voltaram-se pra mim, com um brilho desafiador. – A menos que alguém tem uma ideia melhor.

Surpreendentemente, Lene levantou a mão.

— Sim, Lene? – James concedeu, levemente confuso.

— Hienas? As hienas botaram o Simba para correr e literalmente mataram o Scar. Elas resolveriam o nosso problema.

Dorcas revirou os olhos.

— Não existem hienas na Inglaterra, Lene. O que precisamos é encontrar o tio do Leão de Geleia e fazer eles se enfrentarem.

Remus a encarou perplexo.

— A esse ponto você só pode estar fazendo isso de propósito.

— Isso o quê? – Dorcas indagou, confusa.

Suspirei profundamente, olhando feio na direção do príncipe egocêntrico.

— Tudo bem, então. Vamos seguir o seu plano. Mas se a gente morrer, eu te mato.

James deu um risinho prepotente, cruzando os braços.

— Espero que seja de amo... – Antes que ele pudesse terminar a frase, enfiei um mapa de Clifton em sua boca.

— Anda logo, Romeu.

***

Graças aos ouvidos superpotentes de James, Sirius e Remus, não demoramos muito para encontrar a fonte de água mais próxima. Se tratava de um lago de extensão média, localizado em uma espécie de planície (sempre precisava me esforçar para lembrar que planície ficava embaixo, e que planalto ficava no ALTO. Geografia nunca fora exatamente o meu forte). O lugar onde montamos nossa emboscada era, inclusive, um planalto, com vista direta para o lago abaixo.

Contra a minha vontade, tive que admitir que James tinha razão. O planalto nos fornecia a visão perfeita do lago em toda a sua extensão. Se tivéssemos sorte e o leão de fato se arriscasse a ir até lá beber água, ele ficaria vulnerável.

O problema é que não costumávamos ter sorte.

Nos dividimos em dois grupos de três, um de cada lado, para que pudéssemos cercar o leão. Eu estava com James e Lene, enquanto Dorcas ficou com Sirius e Remus. A ideia era que, quando o leão estivesse cercado, Remus, o mais ágil entre nós, se transformaria em lobo e pularia nas costas do leão, ganhando nossa brincadeira de pega-pega suicida. O problema era que o plano era cheio de buracos. Não tínhamos como garantir que o leão se distrairia por tempo suficiente para que Remus tocasse em suas costas. Quero dizer, se fosse fácil assim, ninguém teria exaltado Hércules por tanto tempo. Ou talvez tivessem, porque ele era um homem branco e jovem, e tudo era sempre muito fácil para eles (#militei).

Tínhamos um plano B para a hipótese do plano A não funcionar, mas eu preferiria muito que o plano A funcionasse. Não tinha muita confiança nele, mas confiava menos ainda no plano B.

Resignada, peguei um papel e uma caneta em minha mochila e comecei a escrever. James ergueu uma sobrancelha como se eu tivesse ficado completamente maluca. Ele estava certo, eu tinha.

— O que é isso?

— Como não me restam dúvidas de que vamos morrer dentro da próxima meia hora, estou escrevendo meu testamento. Deixei todas as minhas dívidas pra Túnia. Lene, você pode ficar com minhas lingeries. James, pra você eu vou deixar minha família no The Sims 4. Precisa cuidar deles com amor. A mãe é meio descontrolada, então não deixe ela sozinha com as crianças em hipótese alguma. Ela já tentou cozinhar três filhos antes.

James me encarou horrorizado. Só então percebi que ele não fazia a menor ideia do que era The Sims 4, e provavelmente achava que eu realmente estava pedindo a ele para que cuidasse de uma mãe que tinha o irritante hábito de cozinhar seus filhos.

No entanto, ele rapidamente se recuperou do choque inicial quando me lançou um sorriso maroto.

— Acho que eu prefiro ficar com as suas lingeries.

Mostrei a língua para ele.

— Não seja ridículo, James. Elas não ficariam bonitas em você.

— Isso é o que você pensa. Eu ficaria estonteante em um sutiã de renda.

Eu tinha uma resposta na ponta da língua, mas fui interrompida por um rugido estrondoso que literalmente chacoalhou a terra e me deixou inteiramente arrepiada.

James, Lene e eu nos entreolhamos.

O Leão de Neméia.

Quando ele entrou em nosso campo de visão, eu quase me engasguei em pânico. Ele era enorme, muito maior do que eu imaginava. Pelo menos cinco vezes o tamanho de um leão normal. Os pelos em sua juba eram quase loiros, profundamente majestosos. Seus pelos reluziam, uma consequência de seu couro literalmente indestrutível, eu imaginava. Ele se parecia um pouco com uma versão aterrorizante do Aslan das Crônicas de Nárnia.

— Quer saber? – Lene sussurrou. – Mudei de ideia. Boa sorte com o leão gigante e malvado!

James a segurou antes que ela pudesse fugir, repreendendo-a com o olhar.

Ficamos em completo silêncio. O leão não podia nos ver, mas certamente conseguiria nos ouvir. Antes de irmos até o lago, James nos fez rolar na lama (sim. Eca.) para camuflar nossos cheiros. Se o leão realmente fosse cego como Lupa havia dito, estaríamos invisíveis para ele, desde que continuássemos em silêncio.

O leão gigante e malvado se alongou preguiçosamente antes de abaixar a cabeça para beber água. Essa era a nossa chance. Talvez a única.

Nos movemos silenciosamente em direção ao lago. Eu estava suando frio. Sabia que se o leão nos ouvisse ele decidiria que estava na hora do almoço. Estávamos muito perto quando de repente ouvimos um “CRÉK!”. Meu sangue gelou.

— Uh oh. – Falou Sirius, olhando de forma culpada para o graveto em que ele tinha acabado de pisar ao mesmo tempo em que o Leão de Neméia virava sua cabeça enorme em nossa direção. Prendi a respiração. Lene agarrava meu braço com tanta força que eu tinha certeza que ele ia necrosar por falta de circulação e eu teria que amputar.

Rezei para que o leão acreditasse que havia sido simplesmente um animalzinho insignificante e voltasse a beber água em paz.

Aparentemente, os deuses riram na minha cara ao ouvir as minhas preces.

O leão virou a cabeça uma, duas vezes. Ele sacudiu as orelhas, como se tentasse identificar a presa.

Então, o leão pulou em nossa direção. Fiquei feliz por ter escrito meu testamento.  Agora tinha certeza de que iríamos morrer. Pelo menos não seria uma morte banal. Aposto que Túnia ia adorar contar a história de como sua irmã morreu devorada por um leão de cinco metros de altura.

No momento em que o leão avançou, James transformou-se em cervo e empurrou Lene e eu com força para o lado. Sirius, já na forma de cachorro, avançou para cima do leão, aparentemente tentando agarrá-lo pela orelha, mas aparentemente os sentidos dele eram muito aguçados, porque ele se virou na hora certa e acertou Sirius com uma daquelas patas enormes.

O Leão de Neméia soltou um daqueles rugidos ensurdecedores, e eu repentinamente tive muita vontade de chorar.

Por mais que tentássemos encostar no leão, ele não nos deixava chegar muito perto. Parecia nos ouvir bem o suficiente para prever exatamente onde atacaríamos no segundo seguinte. Ele era tipo o Demolidor da Marvel, o que na verdade seria bem legal se não significasse nossa morte.

De repente, tive uma ideia desesperadora. Peguei um espelho que eu tinha dentro da mochila e o virei para o Sol, tentando encontrar o ângulo correto.

— LILY! – Lene gritou do outro lado, desviando por muito pouco do rabo enorme do leão, que cortava o ar como um chicote enquanto uma de suas garras atingia James – Prongs – em cheio. O ferimento começou a sangrar na mesma hora. – EU TAMBÉM PREFERIRIA SABER QUE TÔ BONITA ANTES DE MORRER, MAS ESSA NÃO É A MELHOR HORA PRA ISSO!

De repente, a luz do Sol bateu no espelho de forma que criasse um ponto de luz no chão. Reuni toda a minha coragem (admito que não era muita) e gritei:

— AQUI, GATINHO!

Toda a atenção do leão se voltou para mim. Pensei que talvez o chamar não tivesse sido uma boa ideia. Desesperadamente, comecei a mover o espelho, fazendo com que o pontinho de luz no chão também se mexesse.

Por um minuto, o leão me encarou como se eu fosse uma completa idiota, mas pela primeira vez na minha vida a sorte me sorriu e os instintos pareceram dominar, porque ele pulou em cima do pontinho de luz como um gatinho doméstico teria feito.

Amaldiçoei Lupa com todas as minhas forças. Esperava que ela tivesse escutado meus xingamentos. Aquele leão com certeza não era cego. Talvez levemente míope.

Essa era a técnica que eu sempre usava em casa para distrair o gato assassino de Túnia. Fiquei feliz em descobrir que era uma técnica aparentemente universal. Comecei a correr com o espelho na mão, rezando para que o leão continuasse distraído. Ele pareceu gostar da brincadeira, mas eu não sabia exatamente quanto tempo eu tinha até que ele percebesse que me pegar era mais divertido que pegar a luz.

— PEGUEM LOGO ESSA PORCARIA DESSE LEÃOOOOOOO! – Gritei, já em pânico, me arrependendo profundamente de todas as aulas de educação física na escola das quais eu não participei porque inventei que eu estava menstruada e com cólica (e não era muito difícil fazer o Treinador acreditar que era perfeitamente possível que eu passasse o mês inteiro menstruada. Só a menção a esse tópico feminino já deixava ele arrepiado o suficiente para me liberar da aula.).

Para um leão daquele tamanho, ele era extremamente rápido e ágil. Sabia que não demoraria muito para ele me alcançar. De repente, eu tropecei em uma pedra idiota, e caí rolando como aquelas bolotinhas de cocô que os besouros ficam empurrando nos documentários do Animal Planet.

Quando percebeu que o pontinho de luz havia desaparecido, o Leão de Neméia fez uma expressão muito menos dócil. Ele pareceu ter decidido que era minha culpa a brincadeira ter acabado. Ele começou a andar lentamente em minha direção, com certeza se preparando para pular em cima de mim e acabar com a minha curta existência de bons (não tão bons assim) dezessete anos.

Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. O leão pulou em minha direção, aquelas garras enormes estendidas e afiadas e a boca aberta. No mesmo momento, atrás de mim, Remus, em forma de lobo, saltou na direção do leão, agarrando-o pela orelha. O peso de Remus foi o suficiente para desequilibrá-lo, e eu rastejei para longe instantes antes do leão cair no chão de forma desajeitada com um enorme PAF!.

Remus, ainda agarrado à orelha do leão, estendeu uma pata peluda e tocou nas costas dele.

— Tá com você.

Imaginei que talvez não fosse uma boa ideia avisar o leão de que era a vez dele de ser o pega. Ele poderia acabar gostando demais da ideia.

O Leão de Neméia, entretanto, fez apenas um muxoxo de derrota antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça.

Aparentemente, tínhamos ganhado.

Quando me virei para ver se meus amigos estavam bem, avistei James, ainda na forma de cervo, deitado no chão. O ferimento feito pela garra do leão em seus flancos era profundo, e onde antes saía sangue agora vazava um líquido preto esquisito e com um cheiro muito forte.

Meu sangue gelou.

— James! – Gritei, correndo na direção dele. James mal conseguia manter os olhos abertos. Não consegui me conter e, naquele momento, abracei com força o pescoço peludo do meu cervo. – O que fizeram com você?

Dorcas analisou o ferimento com cuidado antes de suspirar.

— Se eu tivesse que chutar, eu diria que nosso amigo leão tinha veneno nas garras. Por isso o sangue não está estancando e a pele parece estar apodrecendo.

Remus farejou James antes de voltar à forma humana.

— Pelo cheiro, o veneno parece estar se espalhando.

Sirius tinha uma expressão aflita no rosto. Não é como se tivéssemos um manual de como agir se você fosse envenenado por um leão mitológico.

Apenas mais um detalhe sobre o leão que Lupa deveria ter nos contado.

Em meus braços, sentia a respiração do cervo ficando mais fraca. Com muito esforço ele abriu os olhos castanho-esverdeados, olhando diretamente para mim. Parecia querer dizer alguma coisa. O fato de que eu não conseguiria entendê-lo naquela forma fez lágrimas caírem dos meus olhos descontroladamente. Naquele momento, desejei, mais do que nunca, que o cervo em meus braços fosse James, em forma humana. Desejei que ele pudesse falar comigo, me dizer que ficaria tudo bem. Desejei que eu pudesse ao menos entendê-lo.

Minha visão estava embaçada com as lágrimas que caíam, e abracei ele com força. Naquele momento, era como se apenas nós dois existíssemos.

— Você não pode ir... – Sussurrei contra os pelos macios do pescoço dele, pedindo a qualquer divindade disposta a me escutar que não o levasse embora. Não para sempre.

Então, com um flash, Lupa e seus lobos apareceram.

Um deles, com aparência mais velha, pelos prateados e a expressão mais dura, aproximou-se de James e eu. Ele usava um crânio animal no topo da cabeça. Um crânio de cervo.

Me lembrou aquele Pokémon, o Cubone.

O lobo Cubone tinha na boca uma espécie de planta, que ele colocou em cima do ferimento de James. Ele colocou uma pata sobre o corpo do cervo e seus olhos dourados se iluminaram. Percebi que ele fazia algum tipo de prece.

Por um instante desesperador, nada aconteceu.

No segundo seguinte, o líquido preto que manchava os pelos de Prongs começou a sumir, enquanto o ferimento se fechava. Senti a respiração dele ficar mais forte e mais estável. Ele abriu aqueles lindos olhos castanho-esverdeados, agora cheios de vida mais uma vez, e quase comecei a chorar de novo. Dessa vez, de felicidade.

Mas como se tratava de James Potter, é óbvio que minha felicidade não duraria muito.

Tão rápido quanto ele se curou, James se transformou em humano e ficou me encarando com um brilho malicioso nos olhos. Foi aí que percebi que, com a transformação, agora era James, o humano, que estava deitado em meu colo. E ele parecia bem satisfeito consigo mesmo. Torci o nariz e o empurrei.

— Você é um idiota, Potter.

Ele sorriu.

— Não sei não, Evans. Você parecia bem triste um minuto atrás quando achou que eu ia morrer. Alguém poderia acabar tendo a impressão de que você gosta de mim.

— Nem sonhe com isso. – Resmunguei, me levantando e batendo em minhas calças para tirar a terra.

James piscou, galanteador.

— Tarde demais.

Mostrei o dedo de meio para ele. Por dentro, entretanto, eu estava feliz de ver James de pé, bem e sorridente de novo. Os minutos em que achei que iria perdê-lo foram aterrorizantes. Mais ainda do que o próprio Leão de Neméia.

Sirius e Remus pareciam prestes a chorar enquanto abraçavam James. Isso só ia aumentar o ego dele.

Lupa inclinou sua enorme cabeça, nos analisando com cautela.

Talvez eu devesse ter avisado do veneno.”

— Sim. – Lene retrucou, amarga. – Era um detalhe importante.

Lupa parecia se divertir com a situação.

Muito bem. Vocês mostraram que conseguem pensar como um grupo. Como lobos. Passaram no teste.” – Seus olhos dourados voltaram-se para James, Sirius e Remus. – “Levanto agora a minha parte da maldição. Acredito que tenham direito a seis horas diárias como humanos, agora.”.

Se as palavras de Lupa tiveram algum efeito, os meninos não demonstraram.

A deusa que procuram agora é Morrigan. Nessa época do ano, ela deve estar em Limerick, na Irlanda. Há algo que a atrai lá.”

— É só essa a dica? – Sirius resmungou. – O que quer que a gente faça, saia andando pela cidade perguntando onde Morrigan está?

O que farão não me importa. Meus negócios com vocês estão acabados. Saiam do nosso território. E boa sorte em sua jornada.”.

De repente, os olhos dourados da deusa loba se voltaram para Remus.

Você poderia ficar, se quisesse. Seria uma adição... Interessante para a nossa alcateia”. – Eu estava ficando maluca ou a voz dela tinha ficado mais sedosa, quase que galanteadora?

Remus piscou, pego de surpresa.

Sei que eu desfrutaria bastante da sua companhia”.

Ele se embolou com as palavras, mas por fim conseguiu dar um fora em Lupa. Quando ela nos mandou embora em seguida, parecia particularmente irritada.

Depois de alguns segundos, James se manifestou.

— Eu não acredito que a Lupa deu em cima de você. Boa, Moony. Esse é o nosso gigolô!

Remus suspirou.

— Cala essa boca, Prongs.

Bom, pelo menos havíamos superado todas as expectativas e sobrevivido mais uma vez. Esperava que nossa onda repentina de sorte não acabasse tão cedo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cursed" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.