Meu querido maníaco escrita por Pamisa Chan


Capítulo 1
Dear Maniac


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Eu sei que MUITA gente me chamou de doente e criticou antes mesmo de ler a história, então leiam e parem com esse preconceito e intolerância.



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Nunca pude negar que tinha uma "quedinha" por ele. Mark Jefferson. O maior fotógrafo dos últimos dez anos. Professor em uma das melhores academias de Oregon. Ou dos Estados Unidos. Um exemplo de pessoa, um modelo a ser seguido. Mais de quarenta anos, sendo que facilmente passaria por vinte e cinco. Um charme e elegância que não se vê nem em quem nasceu em berço de ouro. Como não se apaixonar, afinal?

Por fim, voltei para Arcadia Bay apenas para estudar naquela escola. Blackwell Academy. Não podia perder a chance de ter aula com meu ídolo e paixonite. Arrumei minhas malas, deixei Seattle para trás e lá fui eu, de volta para minha cidade natal, apenas para realizar um sonho. Dois, na verdade. Ser uma grande fotógrafa e ter como professor o homem mais influente do mundo da fotografia atualmente. Não poderia ser melhor que isso. Mas foi, até certo ponto.

Lembro perfeitamente do meu primeiro dia de aula. Sentei-me, completamente tímida, como de costume, no fundo da sala. Olhei para todos os cantos, tudo aquilo era muito diferente pra mim. Os outros alunos pareciam encantados ou assustados também, mas muitos conseguiram ter uma certa medida de descontração por estar com amigos antigos. E eu estava sozinha. Na minha própria cidade da infância. Que irônico.

Apesar disso, quando ele entrou na sala, era como se eu pudesse ficar mais confiante. Meu coração acelerou, eu comecei a corar e suar frio. Eu estava na mesma sala que Mark Jefferson, o maior fotógrafo dos últimos dez anos! Acho que já falei isso... Enfim, ele deu uma olhada pelo local, fotografando um por um com os olhos. Uma foto de cada um. Mas quando chegou em mim... era como se fizesse um ensaio. Ficamos fotografando um ao outro, na mais perfeita sincronia de quatro câmeras, conhecidas como pares de olhos. Pude até mesmo sentir as batidas de cada clique no ritmo do meu coração, e os flashes como as minhas súbitas piscadelas. E as dele, como se estivesse tentando me seduzir.

Ele se aproximou cada vez mais, eu sentia como se fôssemos apenas nós dois dentro de um quarto cheio de câmeras que não paravam por um segundo de fotografar cada milímetro daquele momento. De repente, parou na minha frente. Poucos centímetros de distância entre nossos olhos. Encolhi-me na cadeira, pude sentir todos aqueles olhares curiosos e ouvir alguns cochichos indecifráveis. Era a primeira vez que ele fazia aquilo? Quando pisquei os olhos, vi sua boca se abrindo e falando sílaba por sílaba, com a maior calma e o perfeito timbre aveludado de sua voz: "Você tem um dom." Aquelas quatro palavras entraram dentro de mim e me arrepiaram por toda a extensão do meu corpo. Mais flashes.

Eu não fazia ideia do que ele queria dizer com aquilo, nem se eu era a primeira pessoa pra quem ele dizia essas palavras, mas mesmo assim, aquilo me tocou de uma forma que até hoje não consigo apagar de minha memória. Várias vezes ele repetiu aquela frase, sempre pra mim, nas mais diversas ocasiões, nos mais variados temas da nossa matéria. Eu podia ver as outras garotas suspirando por ele com seus cotovelos apoiados na mesa, e eu conseguia sentir o olhar fuzilador delas em minha direção toda vez que ele se dirigia a mim. Uma delas em especial: Victoria Chase.

Eu sempre via ela o observando, como que o devorando com o olhar. No fim das aulas, ela corria até ele e tentava tirar alguns míseros minutos de sua atenção, mas sempre que ele me via saindo pela porta, erguia a cabeça e chamava meu nome, deixando-a furiosa e abandonada. Ele chegava até mim e dizia qualquer coisa, apenas por dizer, apenas para ter um pretexto pra falar comigo. E sempre me fazia enrubescer as bochechas. Eu sorria como uma idiota quando ele estava por perto. E ele também, mas da forma mais elegante e encantadora que um homem em seus quarenta anos podia fazer. Amor de aluna por professor? Clichê demais. Professor correspondendo? Um sonho para poucas.

Muitos meses se passaram. A festa do Vortex Club estava chegando. Ele marcou um encontro comigo em segredo. Disse que ninguém podia saber sobre nós. Tive medo, mas não pude recusar, afinal... Era meu sonho. O nosso encontro especial seria depois dele anunciar o vencedor do concurso Heróis Cotidianos. Aliás, ele ficou muito decepcionado com o fato de eu não ter participado. Podíamos ter viajado para San Francisco juntos. O prêmio pelo concurso. Mas me preocupei tanto com outras coisas que acabei não tirando uma foto para participar. Toda vez que lembrava, me dava um frio na barriga e uma dor de cabeça "Preciso tirar uma foto", eu sempre pensava, e por fim, o grande dia chegou e acabei não fazendo nada. Boa, Max. Me senti uma perdedora.

O dia finalmente chegou. Vesti-me da melhor forma possível, o que era um pouco difícil, porque eu só tinha roupas comuns. Fui para a piscina, onde ocorreria a festa. Uma barulheira, pessoas bebendo, conversando, se agarrando, luzes vermelhas fortes. O lugar estava muito quente e abafado e logo eu comecei a suar. Não pude entrar na área vip, como sempre, pois os nojentinhos de lá, incluindo Victoria Chase, não me colocaram no clube idiota. Não fiz questão, também. Fiquei sentada, próxima à piscina, levando alguns respingos d'água por conta dos malucos que pareciam ter uma convulsão lá dentro.

Depois de um certo tempo, a música cessou. Pude ouvir uns berros de pessoas revoltadas, mas assim que Mark Jefferson surgiu no palco, com seu lindo paletó, todos se silenciaram. Ele fez algum discurso que não pude prestar muita atenção devido ao meu nervosismo excessivo e anunciou a vencedora: Ninguém menos que... Victoria. A loira de cabelos curtos subiu no palco, fingindo estar surpresa. A primeira pessoa que fuzilou com seu olhar arrogante de má vencedora foi, é claro, eu. Um olhar de "Eu vou viajar com ele, sua vadia". Respirei fundo e saí daquele lugar insuportável.

Logo que cheguei lá, me sentei na sarjeta, sozinha. A rua estava silenciosa e completamente vazia. Observei o luar intenso e as poucas estrelas visíveis como respingos cintilantes no céu. Apoiei os cotovelos sobre os joelhos e pousei a cabeça sobre as mãos, completamente entediada, apenas aguardando ansiosamente o resto da minha noite ao lado daquele homem que tanto me inspirava.

Repentinamente, meu celular vibrou, fazendo-me dar um pulo ligeiro de susto. Era uma mensagem dele. "Vou avisar os demais professores que vou te levar na casa de uma amiga e já passo aí te buscar, linda. Atenciosamente, Mark". O simples fato de ele se denominar "Mark" em suas mensagem para mim já demonstrava o quanto ele era íntimo. Uma vez peguei-o censurando a Victoria quando chamou ele de Mark. "É Sr. Jefferson para você, mocinha.", não pude evitar uma risada discreta. Fiquei fitando a tela do celular, respirando profundamente na tentativa de me acalmar. Enviei um "Ok." como resposta e aguardei. Em poucos minutos ouvi o ranger da porta. Era ele. Fechei o punho com força, suando frio, e me levantei, batendo levemente na parte de trás do vestido para limpar a poeira da calçada. Olhei para ele e forcei meu melhor sorriso. Ele nem precisou forçar, foi espontâneo e encantador, como sempre fora.

Ele se limitou a um olhar para fazer-me segui-lo até o carro. Não me cumprimentou fisicamente, talvez por medo de que pudessem nos ver. Ao chegarmos no estacionamento, apertou o botão da chave para destravar o carro e abriu a porta para mim. Neste momento, visto que estávamos mais longe de possíveis observadores, deu-me um beijo na testa que me arrepiou o corpo inteiro. Ao ir para o outro lado do carro, se afastou lentamente de mim, soltando gradativamente minha mão, como se não quisesse me deixar nem por um segundo. Meu coração batia mais forte que uma câmera em disparo automático. Entramos no carro.

Eu comecei a observar a paisagem enquanto ele corria. Estávamos indo a um lugar que eu nunca fora antes. Os cenários por onde passávamos eram cada vez mais isolados. Comecei a me assustar e de vez em quando olhava para ele desesperada. Ele apenas sorria como sempre. O sorriso que eu sempre achara elegante agora parecia perturbador e mecânico, mas era exatamente o mesmo. Era como se ele soubesse do meu sofrimento, meu medo, e fosse exatamente aquilo que ele desejava. Mas não podia ser aquilo, certo? Afinal, ele me amava! Ou não? Ele parou o carro. Era um celeiro abandonado, um lugar destruído. "O que estamos fazendo aqui?" perguntei com a voz trêmula. "É uma surpresa, linda. Venha." Ele saiu do carro e foi até o meu lado, estendendo a mão para mim. Eu segurei forte e falei hesitante "Eu... eu não quero estar aqui. Vamos pra escola. Por favor." Ele disse que não tinha problema e pediu pra eu me acalmar.

Ele me levou para dentro do lugar. Era imenso e vazio. Havia apenas alguns feixes de feno amarrados e muita palha cobrindo o chão. Ele soltou minha mão e foi diretamente para um determinado local, no canto do imenso celeiro. Começou a afastar com o pé a palha que havia ali. Fiquei imaginando o que diabos ele estava planejando. Minhas mãos suavam frio e meu coração batia forte. Eu sentia que ele estava muito calmo. Calmo até demais. Aquilo era assustador. Eu queria fugir enquanto havia tempo, mas eu estava paralisada, em estado de choque. Ainda tinha um pouco de confiança de que ele podia me proteger do que acontecesse.

Quando voltei a prestar atenção no professor, vi que ele estava usando uma chave em um cadeado no chão. Um enorme alçapão de algum material bem forte e pesado. Ele ergueu a portinhola com muito esforço, e dentro dela havia uma grande escadaria branca. Ele me convidou para descer, estendendo a mão em direção ao lugar. Fui até ele lentamente, com um turbilhão de pensamentos perturbadores, mas não voltei atrás. Seria tarde demais. Descemos as escadas e lá embaixo havia uma enorme porta de aço, parecida com aquelas portas de cofre de banco. Ele inseriu uma senha rapidamente e abriu a passagem. O que vi lá dentro foi ao mesmo tempo fantástico e assustador.

Eram dois cômodos. Logo ao entrar, havia uma cozinha branca com imensas prateleiras cheias de alimentos e água. Como se ele estivesse esperando a qualquer momento que viesse um tornado ou algo que destruiria a cidade inteira. E mais à frente, algo muito mais assustador: uma enorme sala branca, cheia de equipamentos fotográficos caríssimos e quadros espalhados pelas paredes, fotos doentias, surrealistas. No centro, um sofá branco, onde ele pediu para eu me sentar e aguardar enquanto ele preparava algo para nós.

Aguardei, segurando forte meus punhos, meu coração acelerado. O local era tão silencioso que eu podia perceber meus batimentos cardíacos. "O que ele vai fazer comigo?" eu pensava. E meus pensamentos iam longe, desde apenas um beijo, até tortura e sadismo. Ao mesmo tempo, eu também imaginava que poderia estar apenas sendo paranoica. Talvez ele realmente só quisesse passar um tempo comigo à sós. De qualquer forma, eu teria de esperar pra ver. Logo ele voltou da cozinha com uma bela garrafa de vinho. Eu não entendia muito de bebida alcoólica, mas aquele vinho parecia ser caro e de qualidade. Ele me deu uma taça e derramou um pouco do líquido avermelhado nela, fez o mesmo com seu próprio copo. Pediu um brinde e depois bebemos. Era amargo e doce ao mesmo tempo. Um pouco como nossa relação naquele exato momento. Fiz uma careta e ele riu, colocando mais um pouco dentro da minha taça.

Depois de uns três copos, eu me sentia bem mais calma. Pude soltar minhas mãos e me sentir mais leve. Ele então abriu um armário e ligou um aparelho de som. Parecia muito sofisticado e caro, como tudo no ambiente. Uma música, calma e romântica, começou a tocar. Ele veio até mim novamente e ficou me fitando nos olhos. Naquele momento, eu já não sentia mais medo. Ele se aproximou do meu rosto e me beijou. Eu correspondi, colocando minhas mãos em sua face. Logo ele me soltou e saiu de perto novamente, dizendo que ia buscar "uma coisa".

Sentei-me novamente no sofá, cada vez mais relaxada, com a certeza de que esta noite tudo seria perfeito e que ele era mesmo o homem dos meus sonhos. A música estava em um volume agradável, não ensurdecedora como daquela festa idiota e nem inaudível. Pude ouvir os passos dele e depois disso não ouvi mais nada. Apenas senti uma agulha perfurando meu pescoço. Apaguei.

Acordei deitada no chão, felizmente minhas roupas estavam intactas. Não fizeram nada com meu corpo. Eu estava amarrada. Minhas duas mãos amarradas à frente do corpo e meus dois pés atados. Estava apertado, doía muito. Ouvi flashes de fotos. Abri os olhos e vi algo que desejaria nunca ter visto. Mark Jefferson estava me fotografando.

"O que tá acontecendo?" tentei gritar, mas não consegui, minha voz saiu fraca e falha. "Oh, Max. Vejo que acordou. Não se mexa" ele se agachou e tirou uma foto "Perfeito!". Parecia sentir prazer em fazer aquilo. Tentei me debater. "Não estrague minhas fotos!" ele berrou, me fazendo tremer de susto. "Seu monstro! O que você está fazendo?!" consegui erguer o tom de voz. "Eu... eu pensei que você... que você me amava." Falei, com a voz sumindo, trêmula, e os olhos marejando. "Sim, sim, Max! Eu te amo! E é por isso que estou fazendo isso!" Não parava de clicar o botão da câmera, tentando me pegar dos mais diversos ângulos. "Eu sempre te disse que você tinha um dom! E eu estou sendo o primeiro a desfrutar dele." Me debati mais uma vez "Me solta! Agora! Seu doente!".

Ele apenas sorriu e se ajoelhou diante de mim. "Max, Max... Eu sou obcecado pela ideia de capturar a transição de jovens como você. A transição da inocência..." Parou por uns segundos e em seguida mudou o tom de voz para algo mais sombrio "...Para o medo. O desespero. O momento em que todos os seus sonhos se desfazem. Por que você acha que resolvi dar aula no colégio Blackwell? As garotas de lá... cheias de esperança e expectativas para o futuro. Com seus planos, como se fossem invencíveis" Começou a soar cada vez mais nervoso, irritado "Imbatíveis! Mas... não. A vaidade corrói todas elas. Uma por uma. E por isso você é especial, Max. Você nunca se importou muito com isso. Nesse colégio cheio de garotas metidas, que se acham as rainhas do mundo... Você é diferente, Max. E é essa diferença que te torna única. Pense em quantas garotas dariam a vida pra estar no seu lugar agora mesmo. Victoria Chase principalmente."

"Então você droga as pessoas e tira foto delas... por mero prazer?! Seu doente! Psicopata! Isso não vai ficar assim! Você ainda vai receber o que é seu!" Bradei, como uma justiceira com sede de vingança. "Você acha? O problema, para a sua tristeza é que... Nenhuma garota que entra aqui sai." Meus olhos se arregalaram, comecei a tremer. "Ótimo! Essa é a expressão que eu queria. Está com medo, Maxine? Não se preocupe. Todos vão se lembrar de você como uma estrela. Mais uma das incríveis modelos de Mark Jefferson. Você será a minha principal obra prima. Engraçado como as pessoas só dão valor a alguém... depois que ela morre." Tentei sair dali, mas nenhum movimento funcionava, eu apenas me sentia mais e mais aprisionada àquele maníaco. Ele se afastou, indo em direção a uma grande máquina que parecia uma impressora. "Entendo porque sua câmera instantânea é tão atraente. Você não precisa de um computador pra revelar as fotos."

Após alguns minutos de muito sufoco e nervosismo, ele voltou com uma seringa. "Não se preocupe, Max. A dose final não vai doer." O senti se aproximando de mim em câmera lenta, relembrando cada momento de minha vida, todos os meus arrependimentos, a morte de minha melhor amiga sem que eu tivesse sequer a chance de falar com ela depois dos longos cinco anos que estive longe, o momento em que Jefferson colocou seus olhos em mim pela primeira vez. As minhas últimas palavras depois de tudo que passei durante esses meus 18 anos foram:

"Ninguém mandou eu me apaixonar por você... meu querido maníaco."


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!Comentem o que acharam. Sem xingamentos, por favor. Se não gostaram, expliquem o motivo. NÃO HÁ NECESSIDADE de me xingar, okay? Sejam civilizados!