Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 15
Capítulo 05: Things We Lost In The Fire


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Superieronic.



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Debora estava deitada na cama, nua, com as costas viradas para cima, olhando Ed fumar um charuto. Ela sorria enquanto ele falava, e comentava sobre algumas histórias que ele tinha vivido.
— Certa vez um amigo americano me disse que tinha uma conexão incrível com seu irmão gêmeo. Fiquei tão fascinado por aquilo que quando saí do bar onde estávamos, eu implorei para que ele me mostrasse seu irmão, para que eu visse de perto a conexão entre eles. Eu não tinha percebido como ele tinha ficado tão... tão afetado com o meu pedido. Notei depois, quando entendi o motivo de sua demora ao me levar até o local onde o irmão dele estava. Era um hospital bem localizado. Custava uma dinherama manter o convênio, eu imagino. Mas ele não me contou nada disso. - Ed pigarrerou e continuou. - Quando chegamos, ele me levou até o lugar onde o irmão dele ficava. Ele estava vegetando em uma cama, e assim que o irmão dele, que estava comigo, pisou ali, seus olhos se encheram de lágrimas e ele passou a chorar por todo o tempo que ficamos ali. Era engraçado, mas não no sentido de ser cômico. Observei as atutudes daquele homem, e percebi que tudo que ele estava vivendo naquele exato momento, era provocado pelo sofrimento do irmão, porque tudo o que sentem, tudo o que fazem e até o que dizem, tudo isso gira em torno deles mesmo, em sua própria sintonia. É muito interessante perceber que eles conseguem fazer tudo juntos, e sem muita briga e sem muita discussão. Eles parecem que lêem a mente um do outro. É bizarro e ao mesmo tempo intrigante.
Debora olhou para Ed, os olhos castanhos brilhando fortemente.
— O que aconteceu com o irmão dele?
Ed suspirou.
— Sofreu um acidente de carro porque sentiu que o irmão morreria no mesmo. E por isso foi impedir.
Debora arregalou os olhos.
— E então ele foi atingido no lugar do irmão?
— É, não exatamente. O irmão poupou para que ele não se machucasse muito, sabe? Mas a morte não gosta de ser enganada, Debora querida... É a coisa que mais irrita essa força que nos rege e nos cerca. Um dia, talvez mais cedo ou mais tarde, eu receba a notícia triste de que esse homem e seu irmão morreram. Isso se eu não morrer antes deles. E isso tudo, porque a morte vai pregar uma peça, nos dois, e eles não vão conseguir escapar dessa vez.
— Não fale besteiras, Ed. Você está com a saúde impecável!
— É, mas estamos vivendo em uma quarentena, não se lembra? - Ed apagou o charuto e abraçou a loira. - Mas enquanto estivermos aqui, e vivos, eu pretendo passar o meu tempo todo contando histórias, bebendo vinho e fazendo amor com essa mulher maravilhosa que eu tenho ao meu lado.
Debora riu.
— É. Eu digo o mesmo. E agradeço muito por você não ter um irmão gêmeo.
— Ah, agradece?
— Sim... Assim ele não vai enganar a morte pra tentar te salvar. E vai deixar isso pra eu fazer.
A loira se inclinou e o beijou com vontade.
Em outro lugar, distante no Cabo da Praga, Adele chorava sob o que restou das vestes de seu irmão.

***

18 de janeiro de 2016.

Na área urbana do Cabo da Praga, Mia e seu irmão Gabriel aproveitavam o resto do dia juntos, enquanto comentavam sobre a previsão dos signos que passava na TV.
— Você acredita nessas coisas, Mia?
— Não muito... E você?
— Ah, eu penso que não deve ter nada dessas coisas de planetas que influenciem tanto assim em nossas vidas. Acredito mais em mitologia.
Mia encarou o irmão e riu.
— Você é uma vergonha para os céticos.
Gabriel gargalhou.
— Mas é o que faz mais sentido! Além do mais, essa cidade é toda envolta dessas coisas.
— Gabriel, a cada dia que passa, mesmo convivendo com você por 23 anos, você me surpreende ainda mais.
O irmão virou e abraçou a garota.
— Lembra quando a gente era pequeno, e ficávamos surpresos com a nossa conexão? É engraçado... Hoje em dia a gente se acostumou tanto com isso que, quando não sentimos mais a ligação, já sabemos que um tá em perigo.
Mia franziu o cenho.
— Porque você tá falando isso, Gabriel? Que papo estranho é esse?
— Ué... eu só tô lembrando. Sempre disseram que a conexão entre os irmãos era só superstição e tudo mais, mas somos a prova viva que não, né? Eu lembro como fiquei preocupado quando aconteceu aquilo contigo...
Mia o abraçou forte.
— Mas isso é passado, maninho. Eu tô aqui contigo agora, e não vou sair de perto de você.
— Eu vou te proteger desses infectados, maninha. Eu prometo.
— Eu sei que vai... Ah, mas 'cê sabe, parece que é mais perigoso quando não se anda em grupo.
— Então! Vamos sempre ficar perto da Dona!
Gabriel deu um sorriso malicioso, e a irmã deu-lhe um tapa no braço.
— Nem pense, deixe a mulher no canto dela e em paz.
Ele deu de ombros.
— Ela tem um amigo virtual, é sozinha pelo que ouvi nos corredores do hospital, e, ainda mais, é super inteligente e incrível. Merece toda a atenção que o Gabrielzinho aqui pode dar. E além do mais, eu sei que ela já tá bem caidinha.
Mia só revirou os olhos.
— Cala a boca e se troca, eu tenho que ir pro bar hoje. E pelo que ouvi por aí, ela foi para o distrito das fazendas... As fofocas correm bem rápido aqui no Cabo da Praga, manino.
Gabriel sentiu um frio na espinha, e até ignorou o que a irmã disse sobre Dona.
— Mesmo com toda essa epidemia?
— Sim, ué... Não posso? Eu preciso trabalhar e a cidade tá tentando se reerguer.
— Mas a Magnata das Ruas fechou a boate...
— Mas minha chefe não fechou o bar, Gabriel...
Ele se deu por vencido e seguiu a irmã, para trocarem de roupa e seguirem - ela para o bar, ele para o hospital, em seu plantão noturno.

***

Na mansão de Edmundo Moura, o jazz e o blues continuava tocando, enquanto ele preparava panquecas para Debora, que analisava como aquele homem ficava tão bonito em ternos importados e sapatos italianos.
— Você não faz ideia do quão gostoso você fica com essas roupas.
Ed gargalhou.
— Eu fico lisonjeado, minha querida. E concordo.
Debora riu.
— Você já foi mais humilde.
Ele acompanhou-a na gargalhada, mas antes que pudesse continuar a conversa, a campainha de sua casa tocou, estridente, quebrando o som da música que embalava o casal.
Debora franziu a testa.
— Está esperando alguém?
— Não... Mas eu já imagino quem seja...
Ao abrir a porta, Ed dá de cara com Pedro, seu afilhado que estava resolvendo problemas desde o dia do acidente.
— Olá, dindo!
Ed desliza para o lado e dá espaço para o afilhado passar.
— Achei que tinha morrido.
— Não está feliz em me ver? - O rapaz tinha uma aparência similar ao padrinho, usava chapéu, tinha olhos e cabelos claros, porém mais compridos. Não tinha barba e aparentava ser bem mais novo do que era.
— Feliz, feliz eu não estou, não. Mas fico contente em saber que esteja bem. Mas fala logo, o que você quer aqui, Pedro.
— Eu já tinha te falado, antes daquele maldito acidente; eu preciso da sua ajuda. Eu preciso de armas, eu preciso de drogas e preciso de comida. E só posso ter isso tudo com a sua ajuda.
Ouvindo a gritaria no hall da entrada, Debora atravessa o corredor espaçoso de mármore até chegar ao encontro dos dois. A loira só trajava uma camisa larga, que pertencia a Ed, e estava sem sapatos. Quando ela parou, cruzou os braços e pigarreou, os dois homens olharam para ela. Ed, que estava vermelho nas têmporas, teve que segurar um sorriso ao olhar para o corpo esbelto de sua amante. E seu afilhado só faltou segurar o queixo com um guardanapo, pois estava quase babando.
— Posso saber o que diabos está havendo aqui?
Ed pigarreou.
— Só uma... er... conversa amigável?
O afilhado sorriu malicioso, se recompondo.
— É, dindo... o senhor tá bem, hein? Me chamo Pedro Souza, sou afilhado do velhote aí.
Debora olhou para ele com um olhar superior de cortar a alma, mas Pedro não se abalou.
— Sou a Magnata das Ruas. Nunca ouviu falar de mim, não?
Ed riu alto.
— Acho que eu não poderia fazer apresentação melhor, não é, Pedro?
O afilhado corou e Debora sorriu para Ed.
— Entre logo, seu projeto de gente. - Ed revirou os olhos. - E é bom não me desapontar, eu vou precisar de você também.
Pedro subiu as escadas animado, ainda analisando Debora, que só tinha olhos para o amado, agora de costas para ela, andando.
Debora chegou perto do ouvido de Ed e sussurrou:
— Sua bunda é m a r a v i l h o s a.
Ed gargalhou, e virou a loira rapidamente, dando-lhe um beijo.
— Eu não preciso falar nada da sua, ou preciso?
Ela sorriu maliciosa e andou para trás do balção novamente.
— Pode continuar a fazer a comida.
— Eu vou é fazer outra coisa agora. - Ele disse enquanto tirava a camisa dele do corpo dela, e a levantava no balcão, pronto para outra.

***

Após tudo o que houve no hospital, Renan ficou um tempo fora de casa para pensar sobre todas as coisas que estavam acontecendo com ele, e todas as visões e todos os borrões que passaram por sua cabeça. Ele só queria colocar um fim nisso tudo, e não via outra maneira a não ser tentar o suicídio novamente, mas em contrapartida, ele queria saber o motivo de ter sido "premiado" com um dom que muitas pessoas querem, mas que ele próprio nunca quis.
Ao voltar para a casa de Ísis, e entrar no quarto que estava ocupando, Renan sentiu uma enxaqueca terrível. Ele logo se deitou na cama, e fechou os olhos. Não sentia nada, não via nada. A dor de cabeça talvez fosse só um sinal das drogas que tinha usado, e de tudo que tinha visto naqueles últimos dias.
— Eu devia sair para beber. - Resmungou, enquanto inclinava o braço para pegar uma caixinha de metal cheia de cocaína.
Ao abrí-la, um insight tomou conta de seu cérebro, e ele largou a caixa ao chão, deixando com que o pó branco caísse sob o carpete.
"ME DEIXEM SAIR!!!! SOCORRO!!!!"
Uma voz feminina gritava desesperada.
"PAREM, ACENDAM AS LUZES, NÃO TEM GRAÇA ALGUMA!"
Era um lugar apertado, causava nauseas, o cheiro era forte.
"...pelo amor de Deus... socorro..."
E então um estampido, e muitos pesos, caindo sob as costas de alguém.
"CHAMEM AJUDA, NÃO É POSSÍVEL QUE NINGUÉM ESTEJA NESSE BAR!"
Vidros, álcool, madeira, pregos, insetos e cheiro forte.
Renan saiu do transe quando respirou fundo e fortemente.
— Eu... meu Deus, alguém... alguém corre perigo. Em um bar.
Rapidamente e com as mãos ainda trêmulas, Renan desceu correndo as escadas e foi seco no telefone. Discou os números que tinha escrito em uma nota fiscal batida, com o nome do rapaz loiro que conheceu a caminho do hospital.
— Alô.
— Alfa?! Onde você está?
— Quem tá falando?
— Er... é o Renan. Do hospital, o cara das visões... er...
— Ah, sei! O que houve? Você viu mais alguma coisa?
— Uma mulher gritando num lugar fechado... um bar. Ela estava pedindo socorro, acho que estava sozinha, eu... eu não sei...
— Fica calmo, Renan. Relaxa, vai dar tudo certo, ok? Vou te mandar uma mensagem com o endereço do único bar que eu sei que vai estar aberto. O nome da dona do local é Rosa. Tente avisar alguém, não sei. Alguém vai acreditar em você.
— T-tá...
— Boa sorte.
Renan ouviu o barulho da linha desligada, mas nem teve tempo de pensar em colocar o telefone de volta no gancho; vira o lugar explodindo em mil pedaços, o mesmo bar da visão anterior.
O jovem se postou a correr, desesperado pelas ruas, procurando pelo tal bar da Rosa que Alfa tinha dito ao telefone.

***

Deslizando pelas frestas da madeira colocada na janela, Diana observava o movimento lá embaixo. Algumas pessoas andavam em passos céleres, pareciam fugir de algo. Ela poderia ouvir as batidas de seu próprio coração, sob a camiseta azul. O suor seguia dançando pelo rosto, enquanto a brisa quente entrava pelas frestas como um bafo de verão. Atrás dela, Thito adormeceu no colo de Sabrina, que estava sentada no sofá, atenta a todos os sons e movimentos do ambiente. Ela havia aprendido a se testar e aquela era uma situação na qual ela precisava fazer isso. De certa forma, Thiago estava sob sua custódia e Diana lhe dera um abrigo, confiara nela. Então, Sabrina queria protegê-los de alguma forma. Nem que para isso, ela fosse ao seu extremo.

Diana afastou-se da janela e balançou o tecido da camiseta, sentindo o suor começar a grudá-lo em sua pele. Sorriu de lado para Sabrina e retirou a camiseta.

A mulher de cabelos negros encarou o busto da dubladora de maneira estoica. Corou imediatamente.

— Não tem nenhum problema pra você, não é? — A garota de cabelos curtos perguntou.

Sabrina meneou a cabeça negativamente e sorriu.

Apenas de sutiã, Diana transitou pela sala algumas vezes e foi até a cozinha, pegando algo para comer. Trouxe um pouco para a gótica, que agradeceu. Foi aí que a porta do apartamento fora jogada pelos ares, num barulho de madeira se partindo. As duas jovens se assustaram e Thiago deu um pulo do colo de Sabrina. A ocultista agarrou-se pelo braço e o afastou da abertura feita pelos militares parados diante da entrada do apartamento.

— Há alguém infectado aqui? — Perguntou um deles. Não dava para ver seu rosto através da viseira preta dele.

— Não. Estamos todos bem. — Diana respondeu, completamente constrangida e tratando de vestir-se o mais rápido possível.

— Ótimo! Acompanhem-nos! — Outro militar disse.

Sabrina quis contestar, mas eles não pareciam querer lhe fazer mal ou fazer algum mal à Diana ou Thiago. Logo, decidiu ir com eles e convenceu os outros dois de fazerem o mesmo. Quando deram por si, os três estavam sendo colocados dentro de um caminhão militar, ao lado de diversas pessoas, que já jaziam ali.

What you got if you ain't got love?

The kind that you just wanna give away

Go ahead and let the light shine through

Dentre os cidadãos, estavam Alfa e Alisson. O cineasta arrumava o cabelo bagunçado. Seus olhos estavam irritados e fundos, provavelmente de noites sem dormir. Ou por ter chorado muito na noite passada, após a morte da doutora Raja.

Já a tatuada estava usando uns óculos de poucos graus e tinha Ester em seu colo. A garotinha loira brincava com uma chinchila, que se escondia em seus cabelos. Ela fazia um som engraçado e a garota se divertia, alheia ao que acontecia. Michelle estava com a cabeça inclinada no ombro de Ulysses, que por sua vez, dormia um sono aparentemente tranquilo. Eles estavam sendo transportados até um lugar pelo qual só ouviram chamar de Santuário. Demétrio, seus familiares e amigos só queriam mesmo um ponto de refúgio, onde pudessem ter finalmente um resquício de paz.

You wanna shut the world out and just be left alone

I know it's hard on a rainy day

But don't run out on your faith

No segundo caminhão que seguia o comboio, Donatella via o sol do fim de tarde se estabelecer pelo piso da traseira do transporte militar onde ela estava, acompanhada dos filhos e de mais um garoto, Kaique. Este último havia acabado de por um boné. Alfinn repousava, aninhado embaixo do braço da mãe e Fred, de braços cruzados, olhava para o lado de fora do caminhão, vendo os borrões verdes permutados ao cinza da rodovia. Donatella sabia que estava saindo do centro urbano de Cabo da Praga e indo para um local afastado, onde diziam que ela poderia ajudar, lá atuando na saúde dos civis que seriam instalados. Inclusive sua família. Ela suspirou e fechou os olhos, sentindo um imenso vazio no peito. Nas imagens em seus pensamentos, Maria dava um sorriso iluminado.

Cause sometimes that mountain you've been climbing

And what you've been out there searching for forever

When you figure out love is all that matters after all

It sure makes everything else seem so small

No mesmo grupo de Donatella, Diana já conseguia sentir o cheiro de mato que a zona das fazendas de Cabo lhe proporcionava. Era um cheiro característico de interior que lhe fazia imaginar novamente no meio de sua infância. Então, ela deixou que o calor do aperto de mão de Sabrina ao seu lado, lhe amparasse. A ocultista não era uma pessoa propícia a tais gestos, mas naquele momento só se importou em ser um amparo para a dubladora. Do seu outro lado, Thiago também apertou sua mão e os dois sorriram juntos, imaginando como seria irem para um lugar onde não houvessem infectados. Onde não houvesse perigo iminente. Diana queria Gustavo ali consigo, para abraçá-la forte. Mas o loiro já partira e ela levaria aquele sentimento para onde fosse.

It's so easy to get lost inside

A problem that seems so big the other time

Is like a river that's so wide it swallows you whole

Why you sitting around thinking about what you can't change

And worrying about all the wrong things

And time's flying by, moving so fast

Natasha deu um selinho quente em Max, que acomodou-a em um abraço protetor. Era difícil ser mergulhada em uma sensação tão segura, quando se tratava de Max. E o desenhista estava tendo êxito em transmitir tal sensação à namorada. Um momento quase único, que rendia suspiros de alívios envolto em embrulhos de borboletas no estômago. Complexo e indecifrável. O caminhão, que acabara de entrar em uma estrada de terra, sacudia. A negra ouvia o som da natureza aumentar, o embalo do crepúsculo finalmente saudá-la e a brisa fresca percorrer cada espaço da traseira do transporte. Max encarou Alfa do outro lado dos assentos e acenou positivamente. O cineasta fez o mesmo e viu quando Natasha descansou novamente.

Sometimes that mountain you've been climbing

And what you've been out there searching for forever

Oh when you figure out love is all that matters after all

It sure makes everything else seem so small

Os três caminhões estacionaram diante de uma das duas enormes fazendas de propriedade do governo e agora, uma área com cerco militar montado. Uma dúzia de guardas — usando trajes semelhantes aos dos militares que trouxeram os grupos até ali — receberam os civis, que iam sendo orientados para seguir até os casarões e tendas montadas no espaço. Este, cheio do verde das vegetações, marrom da terra e cores mais sutis aglomerando-se nas construções.

Sometimes that mountain you've been climbing

And what you've been out there searching for forever

Oh when you figure out love is all that matters after all

It sure makes everything else seem so small

Alfa havia acabado de adentrar na fazenda e se aproximou do grupo formado por seu irmão, sua filha, Michelle e seus amigos: Natasha, Max e Alisson. Eles olhavam-no como se esperasse qualquer movimento para falarem. Foi aí que Ômega andou até o irmão, despertando o barulho dos pedregulhos e galhos secos embaixo das solas dos sapatos, estendendo os braços para um abraço.

— Feliz aniversário, mano!

***

Duas batidas suaves acordaram Ed, que dormia suave no travesseiro com o cheiro de sua amante. E era ela mesma quem batia na porta, com um sorriso triunfante nos lábios.
— Vou encontrar com a Kátia.
Ed se endireitou na cama.
— Mas não vai abrir a boate, ou vai?
— Não... Vamos só conversar sobre as mudanças futuras. Talvez... eu queira deixar os negócios só pra ela.
Ed franziu o cenho.
— Como assim?
— Ed... - ela suspirou, olhou para baixo e sorriu pra ele, fazendo pausas entre os gestos. - Eu acho que minha vida profissional tá ficando maior que a minha vida pessoal, e depois que te conheci... não quero perder nada mais disso. Entende? Eu vou continuar ativa nos negócios e quero continuar a fazer o que sempre fiz, cuidando das meninas e da Kátia, mas... quero me dedicar a você também. Porque eu nunca me senti tão segura de mim com alguém antes e... Você merece.
Os olhos do homem estavam, pela primeira vez desde a morte de Samantha, marejados.
— Assim você me deixa longe da pose de durão... Mas eu entendo. Só não quero que se sinta obrigada a fazer isso só pra passar mais tempo comigo e...
— Shhhh - Ela colocou o dedo indicador sobre os lábios dele. - Não estou sendo obrigada a nada... Estou apaixonada por você, Edmundo. Só aceite o fato e deixe as coisas acontecerem naturalmente. - Ela o beijou, afagou sua mão e se levantou da cama. - Agora, tenho que ir. Mande lembranças ao seu afilhado.
Ed revirou os olhos, e antes que ela saísse, ele sussurrou, só pra que ela ouvisse:
— Eu também estou apaixonado por você.

***

Mia servia mais um drink para mais um cara bêbado da mesa.
— Meu amorzinho... Vem aqui e senta no meu colo.
Cansada e farta de ouvir desaforos por uma noite que mal tinha começado, Mia bateu no balcão e falou com vontade.
— Mais uma falta de respeito aqui, e eu serei obrigada a fechar.
Todos ficaram quietos, menos o que continuava mexendo com ela. Sua cara se fechou, mas ele tinha um brilho malicioso no olhar.
Ele mudou de mesa, ficou mais perto do armário do estoque, onde também se encontrava o painel de luz do bar.
A noite passou, e quando a madrugada estava adentrando, o bar estava vazio, poucas pessoas estavam ali ainda. Mia estava limpando as mesas, achando que estava sozinha, quando foi surpreendida pelo homem que repreendeu.
— Você se acha tão durona, não é? - Ele disse com um brilho no olhar maldoso. - De durona você não tem nada. Vamos ver quanto tempo você fica aqui... Sem luz, e presa.
O homem, que era bem maior que Mia, a empurrou para dentro do armário, e trancou por fora. E antes de sair, tirou os fios do painel de luz.
A construção do bar era bem velha, e não era surpresa que Mia pudesse ouvir a estática de dentro do armário. O desespero cresceu dentro dela, principalmente quando ela tateou os bolsos a procura do celular e percebeu que o mesmo estava sem sinal. Ela acendeu a lanterna do aparelho e sentiu a espinha gelar quando percebeu que suas únicas companhias eram pedaços de madeira velhos, bebidas e mais bebidas em prateleiras frágeis e... insetos.
Mia sentiu as lágrimas querendo cair, mas tentou ser forte, e pensou em seu irmão, e se ele sentiria que ela estava em perigo, pelo menos por mais uma vez.

***

Pedro já tinha tomado banho, já tinha comido e avisado ao padrinho que sairia. Por mais que soubesse da infecção, Pedro não conseguia ficar longe das ruas. Ele gostava de fazer negócios, e sabia que o dindo gostaria de clientes novos em breve, então, qual seria o melhor lugar para ir no Cabo da Praga? Claro... o bar da Rosa.
O jovem pensou em pegar um táxi, mas como a cidade ainda estava movimentada - apesar do perigo eminente - ele decidiu ir andando.
Enquanto descia a rua do bar, ouviu passos de uma pessoa correndo. O mesmo acabou o empurrando, e eles quase rolaram ladeira abaixo.
— Você tá louco, meu?! Quase me matou! - Pedro sibilou para o rapaz a frente dele.
— Me desculpe. - Renan disse afobado - Eu vi que você estava indo em direção ao bar... Eu... er... precisava conversar com alguém.
— Ok, então vamos pro bar da Rosa, oras.
Renan fez que sim com a cabeça, e Pedro sorriu.
— Meu nome é Pedro.
— Prazer, sou Renan.
Os dois desceram a rua em silêncio, e ao entrarem no bar, escolheram a mesa mais reservada de todas. Renan contou tudo a Pedro, desde o acidente, até as outras mortes que aconteceram até o dia de hoje. Pedro acreditou em todas as palavras de Renan porque, quando telefonou para o tio, um dia depois do acidente, ele tinha lhe contado do ocorrido. Logo, ele notou que Renan estava no dia do acidente, que fora ele quem teve a tal visão que salvou algumas pessoas sortudas da morte.
— E então hoje eu vi uma menina presa dentro de um armário e... Era aqui, nesse bar, e eu...
— Fica calmo, cara. Cê tem lugar pra ficar?
— Tenho.
Pedro assentiu.
— Vai pra casa, então e descansa. Eu vou ficar de olho aqui, tá? E descansa, não pensa em usar drogas, não, tá?
Renan riu fraco.
— Não vou.
— Ah, antes de ir... Este é o cartão do meu padrinho, e atrás tem meu número. Se precisar de armas ou qualquer outra coisa...
Renan riu.
— Eu conheço seu padrinho.
— Sério? - Pedro sorriu amarelo.
— Sério, mas agradeço seu número... Até mais.
Pedro olhou aquele homem subir a rua, e constatou que nunca tinha visto alguém tão estranho assim na vida, mas como combinado, ficou até o bar fechar, e se surpreendeu quando viu que a menina que ficava atrás do balcão não tinha saído, mas um homem sim. Ele achou a atitude suspeita, e decidiu agir. Logo quando o homem virou a esquina, Pedro o seguiu com cautela, e assim que ele parou para acender um cigarro, ouviu a arma de Pedro engatilhando em sua cabeça
— Cadê a menina do bar? - Sibilou.
Ouviu o homem engolir em seco, e gargalhou bem alto, fazendo a risada ecoar pela rua vazia.
— Que menina?
Pedro passou para a frente do homem, ainda mirando sua arma na cabeça dele.
— A menina. Do bar. Eu sei que você sabe quem é... Não precisa fingir que não sabe. Só me diga o que você fez, que você não vai virar comida de zumbi.
Ele engoliu em seco novamente, e Pedro só riu mais. Uma das coisas mais importantes que ele aprendeu com seu padrinho foi, seja sempre frio e irônico. Isso mete muito mais medo das pessoas.
— Eu a tranquei no armário de dispensas.
O sangue de Pedro estava começando a subir.
— Ah é? Por quê?
— Ela não quis ficar comigo.
— Ah, não quis, é? E por isso você a deixa sem luz, trancada em um lugar fedorento e mal cheiroso? Mas que homem horrível você é... Tsc, tsc...
— Você não vai fazer nada comigo, ou vai? - Os olhos castanhos do homem suavam junto com sua testa.
Pedro riu, olhou para ele e atirou, mirando bem em sua testa.
— Eu já sei o que precisava, otário, para quê te manter vivo?
O jovem guardou a arma e saiu andando em direção ao bar, o mais rápido que pode, enquanto ouvia grunhidos de infectados correndo atrás de carne fresca.

***

Gabriel estava entediado. O hospital estava meio que vazio, apesar de receberem várias pessoas infectadas, todos os dias.
— A Dona faz falta aqui... - Ele pensou, e ao mesmo tempo em que disse isso, seu celular vibrou em seu bolso; era uma mensagem da própria.
"Gabriel, Renan teve uma visão que envolve sua irmã, fique esperto. Cuide dela."
"
Como assim?" o jovem ficou olhando o celular sem saber o que fazer. Olhou a hora, e percebeu que sua irmã já estaria voltando para casa, pois o bar não ficava mais tão movimentado de madrugada, então, decidiu sair de seu posto e verificar se a irmã já tinha chego. Ao chegar na residência, viu que estava silenciosa e vazia.
— Mia? - Ele chamou, mas ninguém respondeu.
Rapidamente, Gabriel saiu de casa e foi em direção ao bar. Quando chegou na esquina do mesmo, deu de cara com um rapaz, que estava arromando a porta.
— Ei! Minha irmã tá aí dentro, sabia? - Gabriel disse com autoridade.
— Eu sei, e eu estou tentando salvar ela. - Pedro disse com arrogância.
— Podemos tentar juntos, com um chute, que tal?
Pedro fez que sim e os dois chutaram a porta juntos.
Gabriel começou a se sentir mal, e começou a suar frio. Ele sentia que algo não ia bem, até que um estampido de coisas pesadas caindo no armário, e um grito de mulher quebrou o silêncio do bar inteiro.

***

Mia estava desesperada. Os minutos eram como horas, e a cada tempo que ela continuava presa ali, mais perigo ela corria. Ela pensou em gritar por ajuda, mas atrairia mais infectados que pessoas de verdade, então... gritar não era uma opção. Ela não conseguia conter as lágrimas de desespero, de qualquer forma.
Ela ouviu um tiro bem ao longe, e ficou com mais medo ainda. E se a pessoa entrasse no bar, a encontrasse a matasse, só por diversão? Mia, apesar de durona, estava ficando com medo.
Só começou a se acalmar quando ouviu seu irmão, mas a vontade de gritar a hora que ouviu a voz de Gabriel do lado de fora do bar foi maior, mas ela só deu um leve pulinho. Porém, seu pulo inocente fez com que um dos pregos se soltassem da prateleira que estava acima de sua cabeça. Assim que ouviu seu irmão entrando, a prateleira caiu sob sua cabeça, junto com algumas garrafas. Ela conseguiu desviar delas, mas gritar foi inevitável.
— MIA!!! - Ela ouviu seu irmão berrar do lado de fora, e quando deu por si, ele estava por baixo dela, na maior rapidez. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, ouviu-se uma pequena explosão na caixa de luz ao lado. Mia olhou para baixo e viu que seu irmão estava desacordado. Ao tentar puxá-lo para fora do armário, que agora tinha uma porta arrombada e meio caída, várias caixas de madeira caíram sobre a perna de Gabriel.
— NÃO!!!! - Mia gritou.
Ela continuou puxando-o pela camisa, e em sua mão retalhos da camisa branca de algodão dele foram se rasgando. Ela guardou todos no bolso e continuou puxando. Pedro estava tentando, enquanto isso, arrumar a fiação, mas viu que era inútil, pois os fios já estavam praticamente derretidos.
— Mia, temos que ir embora. - Pedro disse.
— Eu nem sei quem é você, eu preciso salvar o meu irmão!
— Mia, isso aqui vai explodir, não temos tempo! Seu irmão talvez consiga se salvar sozinho, mas você precisa ir!
Ela encarou os olhos claros do jovem a sua frente, e sentiu as lágrimas caírem sem cerimônia alguma. Ela deixou que ele a levasse, meio que arrastada, para fora do bar. Quando estavam em um local um pouco mais seguro - sem infectados ou qualquer outro tipo de ameaça -, Mia ficou olhando para o bar durante uns vinte minutos. Seus olhos marejaram quando suas mãos tocaram seu bolso. Ela sentiu os retalhos da camisa do irmão, e ficou olhando para eles, até que começou a chorar, ajoelhada ao chão.
Ouviu-se um barulho ensurdecedor, e ao longe, pode ser vista uma explosão, onde o bar era situado.
— Não... Gabriel...
Pedro a abraçou de lado, e a levou embora, para a casa de seu padrinho. A moça mal podia falar.
— O que houve, Pedro? - Perguntou Edmundo.
— Amanhã eu explico melhor, dindo. Vem, Mia.
Ed olhou para a moça, e a devastação em seus olhos era clara: ela tinha perdido alguém.
Os empregados fecharam as portas, as janelas e apagaram as luzes. O clima no casarão era de luto completo, por um casal de irmãos gêmeos, até então, desconhecidos.

***

Gabriel acordou cinco minutos após de Pedro salvar sua irmã. Ele estava atordoado, mas encontrou forças para sair dos escombros. Sua perna doía e sangrava um pouco, mas a sorte era que morava próximo do bar. Ele podia sentir o cheiro de queimado, e seu instinto não negava; ele teria que sair rapidamente dali, se quisesse sobreviver. E foi o que fez.
Cambaleando e mancando, Gabriel saiu pela porta dos fundos do bar, que estava aberta, por sua sorte. Assim que subiu a rua de casa, ouviu uma explosão e um clarão cegou seus olhos verdes. O bar da Rosa estava completamente em frangalhos. Mas milagrosamente, ele e sua irmã estavam vivos, mesmo que ele não soubesse onde ela estava, e se estava bem em cem por cento.
Em uma cama, ruas mais longe do que antes era um bar, Renan conseguiu dormir tranquilo, e mal sabia ele que era porque uma alma havia sido poupada.


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