- Gina, eu senti tantas saudades de comer estes muffins com cappuccino submarino*!

- Suze, estou vendo na sua cara que você sente saudades, mas não é de nada relacionado a NY... Muito menos à quantidade de açúcar que nós estávamos acostumadas a ingerir em jejum! Aliás, você sempre fugia de muffins, dizia que deixavam sua bunda enoooorme...

- Ok, Gina, estou tentando esquecer ele. Vamos fingir que eu senti saudades disso tudo, e que eu vou me acostumar a ser uma adolescente normal, não noiva, sem um namorado perfeito, de pele morena, que nasceu no século retrasado e esperou por mim durante cento e cinqüenta anos, para me chamar de Hermosa e cuidar de mim enquanto era fantasma, assombrando o meu quarto e colocando bandagens nos meus pés quando eles tinham bolhas...

- Suze, desculpa. Vamos mudar de assunto então, ok? Estou aqui tentando te animar! Está envolvida em algum caso de mediação agora? Algum exorcismo à vista?

- Ah, sim, uma fantasma me abordou no banheiro do avião. Mas estou me lixando para ela. Tenho meus próprios problemas para me preocupar, os fantasmas que se virem.

- Como assim? Mas é seu dever ajudá-la, Suze!

- Gina, minha mãe acaba de se divorciar, eu acho, e não consegue nem dormir, chorando sob o travesseiro de penas de ganso da minha avó, e eu tenho que apoiá-la. Meu namorado me pediu em casamento, e eu tive que abandoná-lo. Minha amiga Cee Cee está brigada com o namorado e eu fiquei de conversar com ela HOJE, mas não vou poder porque estou do outro lado do país. Daí aparece uma fantasma chorona QUALQUER, dentro do banheiro de um avião que eu não queria estar, me dizendo que o namorado dela pagou à aeromoça para envenenar o espumante dela e a matar durante um vôo turístico à NY, onde ela ia realizar o maldito sonho de conhecer a bosta do Central Park, - que a gente conhece desde que nasceu, e está enjoada de andar de bicicleta nele -, e jogar pães para os patos do lago, e você vem me dizer que eu tenho que ajudá-la? Ela já está morta! Nada do que eu faça vai trazê-la de volta!

- Você trouxe o Jesse, não trouxe?

- Sim, mas...

 - Suze, calma, respira, coloque as idéias no lugar, peça um tempo à fantasma, pelo que você disse, ela parece ser uma alma penada camarada e paciente. Explique sua situação, afinal, defuntos também tem sentimentos! E além do mais, eu estou aqui, pra te ajudar e te apoiar, como eu sempre fiz!

- Gina, você é a irmã que eu sempre quis ter!

E passamos a manhã toda conversando, até que uma pessoa que eu conhecia perfeitamente bem entrou pela porta da cafeteria.

- Gina me esconde! – Sussurrei me abaixando sob a mesa.

- SUZE! Você por aqui? – disse ele se aproximando. Era tarde. Ele me viu. – O que faz debaixo da mesa?

- Ah, oi, Paul, estou só amarrando o cadarço da minha bota, é que desamarrou, sabe, a neve e tudo o mais...

- Onde está o seu cachorrinho, quer dizer, o Jesse?

Olhei para ele com uma cara muito feia, e ele entendeu o recado.

- Hey, desculpe, é brincadeira! – disse ele sorrindo. Por mais idiota, maldoso e irritante que Paul seja, não posso negar o quanto ele é lindo. Ainda mais sorrindo. – Este é meu amigo James, não vai nos apresentar sua coleguinha?

Que. Raiva.

Sério, o Paul me tira do sério.

- Gina, este é Paul. Paul, esta é Gina. Estão apresentados. – falei. – E o quê diabos um cara rico como você está fazendo no Brooklin?

- Minha querida Suze, não estou no Brooklin, você está no Upper East Side, esqueceu? E sim, somos ricos a ponto de nos hospedar naquele luxuoso hotel do outro lado do Central Park.

E meu queixo caiu. Realmente, Gina e eu não estávamos mais no Brooklin, estávamos na zona rica de NY.

*Um tipo de cappuccino que vem com uma barra de chocolate dentro.