O nerd descansou suas costas na parede ao lado da porta da sala de ciências, apoiando seu pé esquerdo também. Colocou a sua bagagem de materiais no chão e deixou seus olhos passearam para todos os lados e acompanhar o movimento de estudantes variados. Colocou as duas mãos nos bolsos de sua calça jeans e levantou seu rosto de modo quase que imperceptível, mas que para ele fez uma grande diferença. Estava se sentindo um adolescente descolado e fora do padrão, e ele não poderia estar se sentindo mais cool.

— Warren Daniel Graham! — Exclamou uma voz conhecida pelo mesmo, com autoridade. O garoto, em um pulo, largou a posição que estava enquanto seu rosto demonstrava seu espanto recente — nada de ficar sujando a parede do corredor com o seu tênis!

— M- me desculpa, senhora Grant — requisitou Warren, um pouco temeroso. A professora assentiu, apenas, e continuou a traçar o seu caminho. O adolescente suspirou em alívio.

Warren se deixou a ficar alguns segundos de pé até a professora de ciência dar a curva e sair de sua vista, para então, o nerd voltar a posição que estava antes na parede, e quando o fez, sorriu gloriosamente.

— Por que parado aí? ‘Tá esperando o trem? — Uma voz feminina lhe perguntou em um tom debochado. Warren virou sua cabeça para origem da indagação, que se encontrava em seu lado esquerdo e o sorriso se tornou tímido.

— Não, Brooke… — respondeu, dando um risinho — eu só estou esperando a Max — completou, agora com os olhos virados a sala da frente, por onde a futura fotógrafa deveria estar saindo. Franziu o cenho, afinal, as aulas sempre acabam no mesmo período, porque aquela estava atrasando?

Max. Esse nome foi o suficiente para que Brooke virasse a cara para o lado e fizesse uma leve expressão de desprezo e, logo depois, voltasse a posição de antes e agisse como se nada tivesse acontecido. Odiava o fato de Warren dar o pedestal para aquela garota, e jogasse a geek como segunda opção para tudo, enquanto o nerd sempre esteve em primeiro lugar para ela.

— B- bom, — gaguejou a garota, afastando os devaneios para que eles não tomassem a sua voz — talvez o senhor Jefferson esteja chamando a atenção dela, ou algo assim… — explicou Brooke, tentando manchar a imagem da fotógrafa apenas com suposições criadas por ela. Warren negou levemente com a cabeça.

— Ninguém saiu daquela sala ainda — confirmou o nerd.

“Então ela deve estar passando vergonha publicamente” foi a alternativa que Brooke gostaria de soltar, porém, se conteve. Suspirou de forma forte e audível.

A porta da sala de Max se abriu, porém, não foi ela quem acabou de sair da sala. Victoria foi a primeira a passar pela porta, ela parecia irritada de uma forma estranha, caminhando a passos fortes e com o rosto fechado. Logo depois foi Nathan, que também estava bastante bravo e parecia se segurar para não praguejar aos quatro ventos sua vontade de falir essa escola.

Warren só percebeu que estava olhando demais para a cena quando o Prescott, sentindo-se observado, decidiu olhar para o nerd também. Seus olhos azuis fumegavam com uma irritação crescente, fazendo Graham sentir um breve soco no estômago e corar de vergonha. A troca de olhares não havia durado menos de cinco segundos, Nathan partia dali apressado e Warren desviou o olhar rapidamente para o chão.

— Você quer continuar esperando? — Perguntou Brooke após a cena.

— N- não… vamos sozinhos — decidiu o nerd, desencostando da parede ainda com a cabeça baixa, pegando a mochila no chão e ajeitando a alça no ombro direito. A geek comemorou por dentro por mais uma vitória, perdida em pensamentos, porém acabou por ficar um pouco atrasada de Warren que já se encontrava caminhando. Correu atrás dele e, assim que o alcançou, começou a diminuir o ritmo do passo.

Não trocaram muita conversa durante a caminhada. Citações breves ocorriam de vez em quando, porém não eram assuntos que se mantinham por mais de vinte passos. Brooke suspirou, imaginando que se fosse Maxine em seu lugar, provavelmente Warren estaria tagarelando com ela por todo o trajeto. “Maldita Caulfield” pensou a geek, com a cara amarrada.

Enquanto caminhava, Warren se sentia mais incomodado com um estranho barulho de papel sendo arrastado que parecia lhe seguir cada vez que andava. E isso se alastrou até chegar na frente das portas de saída, pois havia decidido ver o que estava ocorrendo. Olhou para seus pés, encontrando um grande pedaço de cartaz grudado na sua sola.

Warren pensou na vergonha que passou por ter um pedaço de papel no seu sapato.

— Espere um pouco — requisitou à Brooke, que concordou. O adolescente agachou-se para tomar o papel com suas mãos.

Aquele era o cartaz de anúncio da tão aclamada “Festa do Fim do Mundo”, do Clube do Vortex, o que fez Warren estranhar. Escrito com algo de cor branca, as palavras “não mais” se estendiam em diagonal por todo o comprimento do papel, claramente se destacando no fundo escuro do cartaz. Warren inclinou levemente sua mão para mostrar a sua amiga o que havia encontrado, esta que pegou o cartaz de sua mão e começou a analisar com mais afinco.

— O que você acha? — Perguntou Warren, abrindo uma das portas de saída da academia Blackwell. Brooke vinha logo atrás, ainda olhando para o papel, mesmo que este não apresentasse mais nada de interessante.

— Devem ter cancelado a festa, ou sei lá, — opinou, lançando o cartaz para os ares, sem se importar com sua falta de conduta — depois do vídeo daquela garota, Kate Marsh, talvez a escola tenha percebido o quanto esse clube é babaca

— Isso explica o porquê do Nathan e da Victoria terem saído tão bravos, — complementou Warren, pensativo — e também porque a sala da Max atrasou… — e quando terminou de descer a escadaria, o nerd parou de andar e esboçou um olhar preocupado — Aí meu… e se a Max achar que eu deixei ela lá?

Brooke rolou os olhos. Começou a pensar se Warren era até mesmo mais babaca que o Clube do Vortex inteiro.

— A gente tinha prometido sair da escola juntos e-… eu tenho que ir atrás dela

— Warren! — Exclamou Brooke, incomodada por Graham estar se importando doentiamente com aquela garota — fica calmo, ok? — Requisitou, pondo as suas duas mãos nos ombros do nerd — ela vai te entender, ela entende todo mundo — disse, um pouco cabisbaixa. Warren não deixou de perceber o quão chateada a amiga parecia, acho que tinha pisado na bola…

— Quer saber? Você tem razão — admitiu o nerd, sorrindo largamente, coisa que não era acostumado a fazer.

— Sério? — Sem acreditar, Brooke levantou o rosto e sorriu minimamente. Porém, por dentro, fogos de artifício explodiam em seu estômago.

— É, — confirmou — qualquer coisa é só mandar uma mensagem de texto, ou algo assim — levantou e desceu os ombros rapidamente, mostrando que não estava se importando mais com Max.

Brooke sorriu largo e foi puxando Warren em direção a grande estátua de Blackwell, o ponto onde os dois iriam se separar e ir para seus devidos dormitórios. Os dois acenaram um para o outro silenciosamente e foram andando em direções opostas.

Porém Warren parou no meio do caminho.

Deu meia volta.

E saiu correndo em disparada, decidido a ir a caminho da escola.

Mentir não era seu forte, mas Brooke parecia ter caído muito bem em seu teatro. Se sentiu levemente mal pela garota, e também familiarizado, pois os dois compartilhavam a dor de ter seus sentimentos não correspondidos; porém Warren era o único dos dois que poderia descrever a sensação de não corresponder a algo.

A mochila estava o puxando para baixo a cada vez que pisava o chão, deixando seu ombro vermelho por causa da força imposta. Warren não se importou e continuou correndo, mas estava se cansando tão rápido que parecia que aquilo nunca iria acabar. Abaixou a cabeça por um momento, para se permitir respirar e fazer caretas de dor sem as pessoas que passassem percebessem.

Péssima ideia.

Warren se chocou contra algo por estar com a atenção voltada ao chão e foi lançado ao mesmo com violência. Trincou os dentes com a dor que sentia em sua cabeça, apalpando a região atingida com uma de suas mãos. Papéis voavam ao redor de Warren e daquele que foi atingido pelo nerd.

— Caralho! Você não tem olhos?! — Exclamou rude uma voz masculina, que fez Graham arrepiar todos os pequenos pelos que haviam no braço. Nathan conseguia intimidar qualquer um com seu tom raivoso, e com Warren não foi diferente.

— M- me desculpa, e- eu não queria! — Pediu Warren, quase tremendo e cobrindo sua cabeça com as duas mãos, apavorado. Lançou um olhar a Nathan de soslaio, verificando se tudo estava bem.

O Prescott recolhia todos aqueles papeis que haviam caído no impacto, dedicando um pouco de tempo para passar uma das mãos pelo nariz, que se encontrava com um pequeno corte que sangrava. Warren rezava que não fosse ele o causador daquele machucado, se não, o nerd não poderia estar mais fodido.

Graham reuniu forças para se levantar e ajudar Nathan a recolher todas aquelas folhas. Agachou-se para pegar uma dos vários papeis espalhados pelo chão – que lhe rendeu um preguiçoso comentário mental de como recolher aquilo –, e viu que aquilo não era um papel qualquer.

Era um panfleto de festas.

— “Festa de Formatura Clássica de Blackwell Academy”?