Uma Missão De Vida escrita por Joice Santos, Joice Reed Kardashian


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta, gente! Ainda não é com uma long fic, mas já é alguma coisa.
Estou postando essa short fic onde Alisper, mais uma vez, é o foco. Eles são um casal tão mágico pra mim que não consigo pensar em algo diferente que não seja histórias românticas com um toque de fantasia ou sobrenatural.
Espero que curtam bastante!



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Os barulhos das máquinas ligadas ao corpo da garota magricela e a respiração de sua família eram os únicos sons ouvidos no ambiente.

Esme acariciava a mão imóvel da filha. Uma lágrima rolou de seu rosto de porcelana, fazendo um caminho já conhecido. Aquela mulher havia protagonizado inúmeras vezes aquela cena ao longo dos últimos cinco anos. É que se faz quando sua filha caçula está em coma.

O marido a abraçou pelos ombros. Ele já havia chorado demais, agora se limitava a dar apoio à esposa. Carlisle Cullen era um ótimo dentista, mas se sentia um Zé Ninguém por ter escolhido uma profissão inútil em relação ao caso da filha. Como é que poderia se esforçar para trazer Alice de volta se a única coisa que sabia era consertar dentes?

O médico entrou no quarto, fazendo Edward e Carlisle o encararem. Esme continuava lá, absorta e deprimida, encarando a filha no leito de hospital.

- Senhor e Senhora Cullen, podemos conversar? – pediu o doutor Eleazar, neurologista responsável pelo caso de Alice.

- Meu amor – Carlisle chamou por Esme, lhe apertando delicadamente os ombros.

Ela piscou, olhando para o marido, tentando voltar à realidade. Ficava tão devastada quando visitava sua garotinha que quase não sentia os pés no chão. Perdeu-se por alguns instantes nos olhos azuis do marido, grandes e expressivos como os de Alice, mas os da filha eram cor de ameixa.

Em seguida focou no o homem de jaleco branco e esperou que falasse as mesmas palavras de sempre.

- Alice não apresentou mudança alguma no quadro de atividade cerebral. Ela ainda... – o médico não pôde terminar já que Esme o interrompeu.

- Ainda está no estágio 4 de coma profundo. Já sabemos disso. Sabemos disso há 5 anos. – falou como se não aguentasse mais aquela ladainha. Em todas as visitas era o mesmo discurso. Será que ele não entendia que ela queria aproveitar as horas que tinha com a filha?

- Sim, senhora Cullen. Também já está claro que o prognóstico definitivo da Alice foi dado duas semanas após ela ter avançado do estágio três para o quatro nos primeiros meses. Desde então ela estacou. O que eu gostaria de conversar com os senhores agora é sobre a situação futura da Alice. – a expressão do médico era série e um tanto cuidadosa ao preferir as palavras.

- Como assim? – perguntar Carlisle ao passo que Esme revirava os olhos.

- Eu preciso apenas que escutem. Alice pode jamais acordar. Não há mais nada que possamos fazer por ela e a cada dia seu corpo está mais desgastado. Quando ela acordar poderá ter sofrido danos cerebrais irreversíveis. Se ela acordar – frisou o médico. – Não acreditamos que ela vá mesmo. O melhor a fazer, talvez... – outra vez ele foi interrompido.

- Espere, me deixe ver se entendi bem. Está sugerindo que... Meu Deus, nem consigo pronunciar uma besteira dessas. – Esme falou, entendendo onde o neurologista queria chegar.

- Senhora Cullen, desligar os aparelhos poderia trazer o descanso que sua filha tanto quer. – afirmou o médico.

- Saia. – ela falou controlada.

- Como é?

- Saia agora do quarto da minha filha.

- Esme, querida. – Carlisle tentou intervir, mas a mulher já estava beirando um ataque de nervos. Estava magoada e indignada. Quem aquele homem pensava que era para sugerir uma loucura dessas?

- Carlisle, você não está vendo? Ele está sugerindo que matemos nossa garotinha. É loucura. Ninguém vai desligar nada, eu não permito.

O doutor Eleazar respirou fundo. Já havia passado por outros casos assim, lidado com mães histéricas que não suportavam a ideia de não ter mais os filhos ao lado mesmo que em estado vegetativo.

Encarou o homem loiro e racional a sua frente que segurava a mão da esposa. Esme tremia e chorava, mas sua expressão era dura e negativa. Não, enquanto ela estivesse viva sua filha também estaria. Eleazar entendeu que era melhor lhe dar tempo.

- Vou deixá-los a sós. Tenho outros pacientes para ver. Senhor Cullen, na próxima visita, podemos conversar melhor?

- Ele não irá conversar com você. Diga a ele, Carlisle. Diga que você não irá matar nossa Alice. – exigiu Esme, lançando seu olhar duro para o doutor que já se retirava ao notar Carlisle assentir com a cabeça.

Foi quando Esme fraquejou. As pernas bambearam e o choro agoniado escapou de sua garganta. O marido a envolveu entre os braços, sustentando todo peso da esposa. Ela havia emagrecido bastante desde o acidente da filha.

Aquele acidente.

Maldita hora que Alice resolveu dirigir na chuva. Maldito dia para estar chovendo. Mais maldito ainda era o canalha que a tinha feito sair de cabeça quente após uma discussão.

Carlisle amaldiçoava tudo que achasse responsável pelo acidente da filha. O maldito acidente que havia deixado sua caçula em coma.

- Mãe, mãe. Por favor, está tudo bem. Não vamos deixar que nada aconteça à Lice. Agora não chore mais. – Edward, seu filho mais velho, falou.

Sentado a todo instante na beirada da cama onde a irmã estava adormecida, Edward lhe acariciava a canela. Um ano antes do acidente, Alice havia quebrado o pé direito e, mesmo depois de curado, sempre reclamava de dor ali. Edward, apesar de implicar com a irmã caçula, sempre arrumava um tempo para lhe fazer uma massagem.

O costume ainda estava ali, mesmo que Alice não pudesse puxar o pé quando o irmão lhe fazia cócegas.

Ele escutou toda conversa sem nada dizer. Não tinha o que dizer. Sentiu o mesmo aperto no peito que sua mãe, mas não achou a sugestão do médico de toda descabida. Talvez fosse a hora de sua irmã descansar.

Alice havia lutado demais sem sair do lugar.

Entretanto, Edward não queria deixá-la ir. Sentia-se completamente egoísta. Não conseguiria viver num mundo onde sua irmã não existisse, apesar dela não estar existindo de fato nos últimos anos.

Agora, o rapaz alto de cabelos acobreados abraçava a mãe. Tão pequena quanto Alice, Esme se perdia nos braços do filho.

- Eles não vão matá-la, não vou deixar. – resmungou Esme baixinho em meio ao choro. – Não deixe que falem disso perto dela, Carlisle.

- Não vão falar, Esme. Eu prometo, querida. – afirmou o marido, sentando ao lado da esposa na poltrona branca destinada às visitas.

Esme acreditava veemente que Alice podia ouvir tudo que diziam a sua volta. Era por isso que em todas as visitas lhe contava como foi seu dia, sobre os estudos de música do irmão e sobre Petchs, a gatinha de Alice.

Bom, até ali Alice não tinha ouvido nada. Sua mente, seu cérebro, seu corpo estavam paralisados.

Até agora.

No instante em que o médico sugeriu aos pais de Alice que desligassem o aparelho, ela se sentiu viva. Bem, não exatamente. Era como se tivesse acabado de acordar de um sono profundo, que durara um milhão de anos. Agora assistia tudo do lado de fora, sendo expectadora de seu próprio corpo.

Ouvira as palavras do médico e o ataque de sua mãe. Não sentia o próprio coração, mas poderia jurar que estava tão despedaçado quanto o de Esme.

Acenou, gritou e tentou abraçar seus familiares. Foi aí que Alice percebeu que ninguém poderia ouvir ou notá-la. Estava invisível, perdida, sozinha e prestes a morrer. Quando é que sua vida havia se tornado essa grande merda de outro mundo?

[...]

Naquele mesmo fim de tarde, a porta do apartamento vago fora aberta. Jasper puxou as poucas malas para dentro, agradecendo por ali estar menos frio. Nevava lá fora, ventava muito e havia resquício de folhas e flocos de neve em seus cachos dourados.

Tirou o cachecol vermelho e o casaco, pendurando as peças no aparador atrás da porta. Ficou grato pelas luzes ainda funcionarem. O abastecimento de gás havia voltado a funcionar na semana anterior, quando fechou negócio com a imobiliária.

Há cinco anos este pequeno apartamento estava vago. Jasper o achou simples e bastante aconchegante. Queria comprá-lo, na verdade. Mas sabe-se lá por que motivo os donos se recusavam a vender. Foi apenas o que informou a imobiliária, e o Hale resolveu que alugar também seria uma boa opção.

Agora estava ali, no meio da sala vazia com resquícios de poeira no carpete. As cortinas fechadas e o aquecedor desligado. Amanhã cuidaria da arrumação. Por hora, queria apenas retirar os sapatos, tomar uma bela xícara de café e relaxar.

Relaxar.

Há quanto tempo não fazia isso? Desde... Desde sempre! – pensou irônico.

Jasper arrastou a mala de rodinha com a mochila por cima para o quarto. Claramente uma garota morava ali, já que uma das paredes estava pintada de lilás. Nada que bela mão de tinta não resolvesse.

Calçando um par de meias xadrez, o loiro foi até a cozinha. A chaleira prateada deixada pelo antigo morador parecia funcionar e ele precisou apenas caçar uma xícara e o pó de café em uma das caixas que tirara de sua caminhonete velha.

Quando aroma de café fresco preencheu o ambiente, Jasper se sentou no sofá puído da sala. Segurando a caneca fumegante - de louça com os dizeres “engenheiro em formação” – o rapaz admirou a vista esbranquiçada do outro lado da janela.

A fina camada de neve começava a cobrir a copa das árvores. Era um bairro tranquilo, somente se ouvia os ruídos de poucos carros e vez ou outra o latido de algum cachorro. Ele ouvia paz. O doce e silencioso som do nada. Ansiava por isso mais que cego pela luz do dia.

- Nunca mais vou voltar para aquele inferno. – murmurou sozinho, tomando outro gole de seu café forte em seguida.

Ele não soube dizer a que se referia. Se era a sua cidade natal, Manhattan, ou se ao lugar onde passou os piores meses de sua adolescência. Ainda conseguia sentir a agonia das paredes brancas em torno de si, por isso agradeceu aos céus quando viu as paredes beges e cinzentas do novo apartamento.

Os dois lugares eram terríveis. Barulhentos. Cheio de vozes. Até mesmo quando estava sozinho, elas estavam lá.

Forks se mostrava diferente e Jasper Hale agradeceu mais uma vez, afundando-se no sofá com a xícara quase vazia aquecendo suas mãos, quando o novo som que escutou foi de um gato mimando em cima de uma árvore, do outro lado da rua.

[...]

Alice não tinha ideia das horas, mas fazia bastante tempo que estava sentada no chão ao lado da cama hospitalar onde seu corpo repousava.

Uma enfermeira simpática já tinha vindo duas vezes checá-la. Alice achava aquilo desnecessário visto que nada, nem mesmo um fio de cabelo, lhe saia do lugar.

Mais cedo, quando os pais foram embora e a enfermeira morena entrou, percebeu uma troca de sorrisos da jovem com seu irmão. Edward ainda era o mesmo cara tímido de sempre e a funcionária do hospital parecia sofrer da mesma crise de nervos, mão suadas e bochechas vermelhas.

Agora, Alice estava sozinha com a garota magricela e sem vida naquele quarto branco com cheiro de álcool e produtos de limpeza. Odiava a hospitais. Odiava tudo que fosse extremamente limpo e no lugar. Sentia falta de seu apartamento meio desorganizado e do cantinho que cheirava a sua gata. Será que ela estava bem? Deveria estar velha e mais gorda do que nunca. Esme nunca acertou na quantidade de comida quando teve que vigiar Petchs para Alice fazer um curso de fotografia por duas semanas em Nova York.

Foi pensando em seu antigo lar que ela resolveu dar um volta. Ia abrir a maçaneta, mas resolveu testar algo que até então não havia lhe passado pela cabeça de cabelos curtos e repicados. Bingo! Ela vibrou quando conseguiu atravessar a porta num suspiro só. Nunca pensou que assistir Ghost: Do Outro Lado Da Vida seria de tanta ajuda.

E foi atravessando as paredes do hospital e cortando caminho pela cidade que Alice se viu parada em frente ao prédio desbotado da Rua Fleet.

Seu prédio desbotado.

Atravessou a entrada, parando para acenar para Dimitri, o porteiro. Quando notou que o homem continuava entretido em sua revista de palavras-cruzadas lembrou-se que ninguém poderia enxergá-la. Seria um verdadeiro porre viver invisível por sei lá quanto tempo.

Deixou de lado o pensamento e subiu as escadas. Mesmo que pudesse atravessar paredes agora, Alice ainda tinha um medo pavoroso daquela caixa prateada. Sentia que se entrasse em um elevador outra vez morreria sem ar. Quando chegou ao seu andar, sentiu-se ansiosa. Parecia que havia se passado um século desde que estivera em seu apartamento.

O corredor estava vazio e silencioso. A morena deteve-se na porta do pequeno apartamento, ansiando por sentir a textura fria da maçaneta de ferro. Nada. Não sentir nunca foi tão irritante quanto agora – pensou consigo mesma.

Então fez do novo jeito convencional, atravessou a porta branca de madeira.

Alice esperava encontrar o lugar vazio, mas se surpreendeu ao aterrissar os pés calçados em botinhas de saltos curtos – as mesas que usava no dia do acidente – em uma caixa de papelão. Percebeu haver mais duas delas ao longo do corredor. O lugar agora cheirava levemente á café. Ficou feliz por ainda conseguir distinguir cheiros.

Com passos lentos alcançou a cozinha. Lá estavam sua chaleira que apitava alto e uma xícara suja. Alguém havia se mudado para ali há pouco tempo, constatou. Seus pais haviam permitido que alguém ficasse em seu apartamento enquanto ela estava em coma. Será que, indiretamente eles acreditavam que ela não iria mais acordar?

A Cullen se perdeu nesses pensamentos enquanto tentava, em vão, segurar a xícara vazia e lisa.

[...]

Passava das 4h da manhã quando Jasper cansou de rolar na cama e resolveu se levantar. Pensou que não deveria ter tomado café, mas sabia que o líquido quente e forte não era a causa de sua insônia.

Há anos não sabia o que era dormir sem ter pesadelos. Odiava os gritos deles. Deles, os vivos.

De pés descalços, sem as meias, desceu da cama, sentindo o chão frio. Foi bom, o despertou ainda mais. O loiro passou a mão pelos cachos desordenados, não surtindo efeito algum na bagunça. Lembrou-se quando a irmã dizia que seus cabelos pareciam um ninho de passarinho quando acordava.

Balançando a cabeça para afastar as lembranças, Jasper ajeitou as mangas da blusa de malha cinza que vestia, descendo-as para que lhe cobrisse até os pulsos. Então desceu os poucos lances de escada, rumo à cozinha, na intenção de fazer outra caneca forte de café. Era mesmo um viciado!- riu consigo mesmo.

Ao entrar na cozinha, Jasper deu de cara, literalmente, com o que menos queria ver. Um fantasma.

- Merda. – murmurou ao passo que a garota em sua frente gritou. Tapou os ouvidos, fazendo careta. – Caramba, não grita.

- Ai meu Deus, você pode me ouvir? – ela tornou a berrar, histérica. Depois tapou a boca, como que se desculpando. Tirou outra vez as mãos dos lábios e sussurrou. – Você pode me ouvir?

- É, eu posso.

- E pode me ver também? – balançou os braços no ar, bem a frente do rosto do loiro.

- Sim, eu posso te ver. Agora dá o fora. – falou de forma de rude, cortando o papo com a baixinha e indo em frente.

Alice desviou, mesmo sabendo que ele poderia atravessá-la.

- Espera aí, como assim?! – virou-se indo atrás dele. Jasper colocava a chaleira sobre o fogo outra vez.

- Olha garota, eu realmente não estou a fim de prolongar essa conversa. Eu não sei onde fica a ponte, nem nada sobre aquela luz no fim do túnel. Não vou mandar mensagens pra nenhum parente seu, então cai fora. – falou impaciente, lavando a caneca de louça e preparando um novo filtro de café sobre ela.

Alice estava atordoada. Aquele cara alto com cabelos completamente bagunçados e cara amassada a estava tratando como se não fosse ninguém. Ela era a dona da casa, caramba! E, além do mais, ele conseguia ver e ouvi-la. Sentiu uma pontada de esperança de não delirar ali sozinha. Tinha alguém com quem se comunicar, mas ele parecia irredutível.

- Do que você tá falando? E que ponte é essa? Espera, você acha que eu to... Ah, não. Está acontecendo um engano enorme aqui, moço. – Alice o seguiu enquanto o Hale zanzava pela cozinha esperando a água ferver. – Ei, será que você pode esperar? - E correu atrás dele quando este saiu em direção à sala.

- Ah, ela vai ficar me seguindo. Por favor, eu só quero sossego. Isso não está acontecendo de novo, não está. Eu não sou louco e isso não está acontecendo. – ele murmurou repetidas vezes, mantendo a testa encostada no batente que separava a sala do corredor próximo às escadas.

Jasper tinha os olhos fechados e expressão parecia desapontada.

- Ei, meu nome é Alice. – de repente Alice surgiu ao seu lado. Ele não abriu os olhos e continuou sussurrando. – Qual seu nome, han?

Ele virou o rosto e a encarou. Pelo menos era uma garota bonita. Uma garota fantasma bonita. Seus olhos ainda brilhavam e boca era rosada. Era baixinha e tinha a expressão animada apesar da situação em que se encontrava. Estava mesmo morta? Ele chegou a duvidar.

- Jasper. – respondeu sem vontade.

- Jasper – Alice repetiu, gostando como soava em seus lábios. - Legal.

- Já nos conhecemos, agora pode seguir seu caminho para o além. – resmungou ele e ouviu a chaleira apitar. Quando passou por Alice, atravessou-lhe o ombro, confirmando que ela não era mesmo de carne e osso.

- Eu não estou morta, caramba. – resmungou, mas ele já havia passado por ela e alcançado o fogão.

Alice viu Jasper preparar o café de forma demorada, como que dando tempo para ela ir embora. Não funcionou. Quando ele se virou, lá estava a baixinha de braços cruzados ao lado do batente.

- Você não vai embora nunca? – bufou Jasper, revirando os olhos e indo em frente. Sentou-se no sofá, olhando para janela a sua frente. Através da cortina, dava para notar o clarear do dia. Deveria ser quase cinco da manhã.

- O que está fazendo aqui? – perguntou e espantou-se com o fato de se sentar no sofá e não atravessá-lo, caindo de bunda do chão. Talvez fosse uma questão de concentração.

- Eu moro aqui. – respondeu Jasper, mantendo o olhar fixo na cortina cor de creme.

- Há quanto tempo? – quis saber e ele a olhou irritado. – O que?

- Você faz muitas perguntas.

- Ainda não me respondeu há quanto tempo mora aqui. – insistiu e ele bufou, dando um sorriso de canto. Alice acabou sorrindo também, notando o quão atraente era aquele sorriso torto do loiro de cabelos desgrenhados ao seu lado.

- Desde hoje. – respondeu, tomando uma golada longa de café.

Alice assentiu mesmo que ele não olhasse para ela. A baixinha olhou em volta, reconhecendo as paredes desbotadas e a mancha escurecida no canto do teto, culpa de um vazamento no telhado. Por mais que seus pais fossem pessoas com uma condição econômica estável, Alice queria se sustentar por conta própria. Por isso havia guardado os últimos 5 salários do trabalho de designer na pequena empresa de cosméticos da cidade para consertar o telhado e pintar as paredes. Espantava-se que alguém quisesse comprar seu apartamento decadente. Ela o adorava, mas sabia que não era dos melhores.

- Você comprou esse apartamento? – perguntou, depois de um tempo em silêncio.

- Aluguei.

A resposta de Jasper a fez suspirar aliviada. Quando acordasse – porque tinha certeza que isso aconteceria – poderia pedir seu imóvel de volta. Jasper a encarou curioso, querendo entender o porquê de ela estar tão interessada no lugar. Não é como se ela pudesse mesmo escolher um lugar para morar. Pessoas como ela, mortas, às vezes se perdiam por aí, até conseguirem encontrar o caminho do além.

Mas Alice não parecia estar nem um pouco interessada em sair por aí caçando uma escada direto para o céu. Ela parecia absolutamente confortável sentada com as pernas cruzadas uma sobre a outra, enquanto apreciava o ambiente a sua volta. Sorria suavemente, como se reconhecesse cada canto do lugar.

Jasper a achou uma alma penada bastante folgada.

- Vou voltar pra cama e esquecer essa noite terrível. Espero que esteja bem longe daqui quando eu acordar.

- Mas você não... – Alice tentou chamá-lo de volta, mas o loiro já estava andando em direção as escadas. A xícara pela metade havia ficado no braço do sofá.

- Vá achar a ponte sozinha, Aline. – falou, de costas para ela, já subindo as escadas.

- É Alice. E que merda de ponte é essa? – a pergunta ela fez a si mesma, com uma expressão confusa. Ouviu um bater de porta e imaginou o rapaz magro e alto esparramado em sua cama.

Mas ele não estava mais ouvindo. Jasper havia coberto a cabeça com o travesseiro e fechado os olhos com força. Desejava apenas que, quando acordasse, pudesse ter uma vida normal.


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Notas finais do capítulo

Se puderem comentar, eu ficaria bastante feliz. Prometo que volto com o próximo rapidinho, a história já está finalizada.

Beijo, beijo.