Os pecados são desejos mortos escrita por Aeikin


Capítulo 1
Capítulo Um: O Desejo e o Pecado


Notas iniciais do capítulo

Isso era pra ser uma one-shot, mas ficou GIGANTE!

Inicialmente, era apenas pra que a Shi começasse a gostar de Syndra x Zed, mas eu não sei em qual ponto eu me perdi e quis foder a história toda.

E eu realmente não sei se eu vou conseguir cumprir isso, pois as minhas ideias são doidas e tudo vai mudando.

Eu vou dizer que eu tenho essa fic quase completa, algumas cenas ainda não possuem ligações diretas e eu vou tentar encaixá-las. Mas também não vou dizer que irei postá-la direto, pois de novo: minhas ideias são doidas.

Os flashbacks e histórias contadas vão se entrelaçando e sim, eles vão te confundindo. Eu juro que vou tentar não fazer tanto disso.

Agora, aproveita essa poha aí.



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Os pecados são desejos mortos

Não adiantaria falar do começo. Pleonasmos à parte, mas era impossível que Zed soubesse do início de seus ideais. Não se lembrava bem da formação, da mudança... do modo como as palavras passavam por ele e o modo como os ambientes se modificavam aos seus olhos. Como planos distorcidos, a lembrança daquela época conturbada apenas se queimava com o ódio...

Em inveja.

Fervorosa, acompanhava a temperatura de sua pele. Havia lapsos em sua memória, brancos dos quais ele nunca se esquecera de ter tido. Mas que eventualmente acabariam por lhe fortificar. Esses brancos, esses incríveis e inconfiáveis esquecimentos, eram a sua aposta perante a mudança.

Ou talvez não houvesse existido a mudança, e sim um despertar. O despertar diante ao gosto amargo da cobiça em sua boca. Talvez ele odiasse ter sua própria saliva raspando na garganta, arranhando a sua laringe como se engolisse fogo.

Não importava a direção e a força do vento. Em todas as noites, via-se o velho carvalho recebendo suas promessas vazias. Tão facilmente esquecidas, tão erroneamente largadas com a companhia de socos intermináveis, seguindo punhos ralados e lágrimas reprimidas. Se Zed queria tanto o alcançar, ele deveria reprimir-se.

E a única cumplice de seu pecado, de sua sujeira era aquela velha árvore.

Ele deveria equilibrar o seu desejo e sua inveja em uma forte balança, deixá-los em uma frágil harmonia para que pudesse assim ser digno. E como aquela velha árvore que sabia seus segredos, deveria tornar-se impassível diante de violências desnecessárias.

Mas entanto, como ao ver uma pedra em desordem no chão, Zed percebia seu equilíbrio na ira.

Era uma hora onde seus olhos ficavam turvos. Mas ele não precisava mais deles, pois continuava vendo. Era quando sua respiração ganhava o ritmo descompasso, fazendo-o inspirar e sentir com mais intensidade o mundo ao seu redor. Era quando sua pele se tornava imune a dor e apenas o branco preenchia sua mente, guiando-o cada vez mais para a força. O momento mais disperso e mais concentrado, porque tinha de vencer, porque tinha de ganhar.

Uma ironia algo tão desarmônico trazer o equilíbrio. Era uma pena.

Era? Com o tempo a pergunta ganhou ecos em sua cabeça, e Zed não soube diferenciar.

Cada vez que sua espada caía contra o tatami do dojo, cada vez que Shen puxava seus ombros e instantaneamente colidia contra o chão, cada vez que seus olhos observavam o desfocado teto de madeira enquanto permanecia jogado ao chão, cada vez que o via ser o líder, cada vez que sentia o gosto do sangue em sua boca depois de um soco.

Essas vezes se perdiam ao se misturarem, elas o confundiam.

E na mesma posição, estirado ao tatame, ele sempre conseguia ver uma parte dos galhos grossos do carvalho, lembrando-o onde guardava seus pecados. Via sempre de relance o perfil de Shen, seu corpo fazendo uma sombra perante Zed.

Aquilo era visto com bons olhos pelos anciões e pelo seu mestre. Ele andava em um caminho à procura do equilíbrio e da perfeição. Reprimia-se, treinava, lutava, sangrava, cobiçava, guardava-se, condenava-se, continha-se, freava-se, impedia-se, omitia-se, proibia-se, negava-se.... Fadava-se.

E com o andar dos anos, os olhos vermelhos não refletiriam nada além da admiração deturpada – inveja.

Tão silencioso, tão aprazível... quieto sob a superfície como os vulcões inativos de Ionia. Ele mantinha um disfarce até o momento invisível aos seus próprios olhos. Cego perante ao que se tornaria, agora ele ri desse estopim em forma de cegueira.

.:.

Havia sido da mesma forma. O vento soprava calmamente, mantendo o farfalhar tênue das árvores, levando para dentro do gigantesco tempo as folhas secas. Algumas tentavam entrar pela porta fechada de madeira, e seu fraco barulho chamou a atenção de Zed.

Seus olhos focaram a tonalidade marrom claro da porta, mas ele não a via. Os punhos fechados tremiam, reprimindo o que deveria morrer dentro de si. Segurava a respiração, como se quisesse se acalmar.

E queria. Controlar-se era tudo o que Zed queria naquele momento.

Anteriormente ele se encontrava no dojo, lutando contra aquele que deveria ganhar. Todos observavam, desde as crianças pequenas do vilarejo até o seu mestre. Viam atentamente cada movimento dos dois garotos, apesar de rápidos demais para entender o que ocorria. O som dos passos apressados calava a boca de todos, e fazia ecoar a dança infinita.

As exclamações e urros de dor física às vezes pairavam pelo ar. O suor delineava seus corpos, colando a roupa bege rente à pele. Algumas gotas escorriam pelas testas e terminavam no pano que cobria o nariz e os lábios. O calor que ambos sentiam era visível, mas aquilo não poderiam os importar.

Houve uma hora onde Zed notou que seria encurralado. Pensando rápido e com grande maestria, ele segurou sua espada de bambu na mão esquerda e a passou instantaneamente para a direita enquanto girava e mirava as pernas de Shen, aplicando toda a força naquela mão. O acertaria de soslaio na dobra da perna, o que o faria perder o equilíbrio.

Ele só não contava com Shen pulando quase um metro, levando seus pés até onde estava sua cabeça. E como aquele que é surpreendido, as pupilas vermelhas se contraíram ao ver o pé de Shen indo ao seu encontro de sua cara.

Naquele momento, ele havia sim contornado as expectativas. Mas o contragolpe que recebera havia sido humilhante.

Ultrajado, as crianças no ambiente riram de si e seu nome caiu na boca das pessoas, desprezando todo o seu esforço e salientando a sua drástica derrota. Aquele dia, ele se levantou rapidamente do tatami. Curvou-se em disciplina, sentindo suas pernas começarem a bambear depois de tanta adrenalina.

Ouviu os aplausos e as risadas, não precisando nem dizer para quem elas eram direcionadas. E apesar do tempo decorrido, as pessoas ainda permaneciam no dojo. Os olhos vermelhos não focalizavam nada, ele apenas via a luz que vinha de fora do ambiente. As vozes foram se tornando abafadas, ecoando distante. E igualzinho um cão com o rabo entre as patas, Zed se retirou de campo.

E o farfalhar das folhas mortas naquela porta velha voltaram a chamar a sua atenção. Ele nunca havia a visto, na verdade sequer já havia pisado onde estava. O templo de Kinkou era gigante, e até mesmo naquela época, algumas partes não eram bem iluminadas. Não que o sol não estivesse no seu pico, mas as diversas árvores na maioria das vezes bloqueavam a passagem.

Mas aquele dia, porém, Zed não estava sabendo onde pisava. E quando o percebeu, a única coisa que fez foi observar.

O som ambiente era a tênue movimentação da mata ao redor do monastério. Algumas folhas secas caíam e dançavam em uma suave brisa. Naquela época, Zed não ligava para as estações, então não sabia dizer qual era. E apenas tinha suas pupilas avermelhadas sendo tragadas por aquela peculiar porta marrom.

Com dificuldade, desviou o olhar e analisou o resto do templo. Estava ao sudoeste da entrada principal e apesar de saber como voltar, ele não queria. Sua curiosidade estava atiçada, a vontade de explorar algo novo se sobrepôs ao ódio de anteriormente.

Uma cigarra começou com seu canto fúnebre entre a mata. E como aquele mesmo grito, ele sentia que algo havia nascido dentro de si.

.:.

Foram quase duas semanas de busca. E apesar de Zed não saber de certo pelo o quê procurava, os diversos ambientes do monastério não o ajudavam. Se ele crescia bastante horizontalmente, verticalmente era mais ainda, e Zed pôde perceber que não conhecia tão bem o templo quanto achava.

Depois que ele entrou naquele cômodo, ele sabia que tinha passado várias vezes por ele. Tão distraído, mas tão focado em ver algo desconhecido que o fez passar em branco. Mas da última vez, quando andava com atenção pois estava com medo de ser pego, algo chamou sua atenção.

Ele não conseguia acreditar em destino, e sim no poder. Então seria aquele o resultado de tanta repressão? A dignidade perante a certo poder?

Sua intuição gritou em certo momento e ele cessou seus passos, encarando a porta igual tantas outras. De certo, ela não tinha nada de especial – e nem parecia ser velha, igual a porta que chamou sua atenção – e talvez fosse exatamente isso que a camuflasse.

Quando adentrou no cômodo, a atmosfera pesada se fez presente. Ele se lembra até mesmo o modo como seu coração disparou, como aquele que está à frente da coisa mais bela já vista. E sem ao menos poder observar o lugar ao seu redor, uma caixa branca ornamentada em dourado entrou em seu campo de visão.

Ali estava o seu pecado. Estava a maneira como seu destino havia sido traçado.

E apesar de todos os nãos em sua cabeça e toda a sua clareza inicial em saber que não deveria abri-la, ele não pôde evitar. Não pôde evitar porque era simplesmente o que ele queria: uma vantagem. Mesmo omitindo, ele não conseguia ignorar seu desejo. Mesmo sem ele estar procurando explicitamente por uma, ele ansiava por isso. Ansiando por mudanças.

E então, com apenas uma mão ele pôde mudar seu futuro, desviando-se do que obviedade que o esperaria.

Como uma fumaça de cigarro preta, várias e várias sombras dançaram em frente aos seus olhos até o cegá-lo totalmente. Podia senti-las tocando suas roupas, seus ombros, sua face. Subindo e ricocheteando a si próprias. Várias. Afundava-se na escuridão, mas conseguia sentir a energia fluindo por toda a sua pele, dando-lhe poder.

Toda aquela escuridão era erroneamente quente, quente como um dia de verão. Mas então depois, veio a claridade e com ela todo o presságio. A visão poderia ter sido uma brisa suave, e Zed naquele momento acreditou e se aliviou com ela.

Mas não era.

.:.

Nos poucos dias que se passaram antes de sua expulsão, ele continuava a treinar. Sentia sua força aumentar do contrário do gradativo, e começava a efetuar técnicas das quais ele acreditava – na época – ter criado.

Testava-as em silêncio ou em um duelo contra as poucas pessoas em que confiava. Não dava tudo de si nas batalhas, escondendo o seu potencial que crescia desenfreadamente. Apesar de maioria daquelas pessoas já estarem preparadas com a derrota, pois a única pessoa que Zed não conseguia vencer era Shen, ele continuava a treinar. E assim seu disfarce não era visto por ninguém.

Mas o dia havia chegado. E mesmo sem Zed saber o que aconteceria, ele imaginava que algo mudaria: conseguia sentir, borbulhava em esperança. Uma vez a cada duas semanas, seu mestre fazia com que todos os alunos lutassem entre si conforme suas habilidades. E certamente, ele sempre iria contra Shen.

Como sempre, a luta dos dois era sempre deixada para o final. E igualmente aquele último dia, as pessoas estavam lá, vendo de camarote aquilo que deveria ser apenas julgado pelo mestre. Mas dessa vez, ele veria um resultado diferente. E como veria.

O tempo para Zed andava vagarosamente, e ele não conseguia nada para matar seu tédio ou controlar a sua ansiedade. Apenas observava as lutas com olhos ociosos, vendo os erros cometidos pelos alunos e os menosprezando por não perceber algo óbvio.

Até mesmo agora, ele consegue se lembrar nitidamente de como os atos transcorreram, a ira não o cegara daquela vez. A luta acabou com o lutador menos ruim ganhando, e finalmente pôde ouvir seu nome sendo dito. Lembra-se do modo como foi a última vez que prestou reverência a alguém – apenas para seu mestre – e lembra-se também de como sentiu um sorriso nascer no canto de seus lábios quando o duelo começou.

Como se revivesse o momento, a imagem de Shen se defendendo com seus movimentos – agora lentos – e desviando da pressão que Zed exercia, era clara. Ele mesmo viu a surpresa nos olhos do filho de seu mestre, mas Zed não se importava, sua mente voltava-se a nublar. Aquela sensação era tão boa, e ele queria que aquela pessoa caísse diante de seus pés.

Com tanta pressão, não foi difícil imaginar que aquela luta já estava decidida. Zed começou o duelo ofensivamente e não havia deixado nenhuma brecha, nenhuma lacuna, nada para que Shen pudesse usar como contragolpe ou vantagem. Seu poder parecia apenas crescer a cada movimento, sentia a força navegando em sua própria pele.

Ele também sentia o olhar do mestre integralmente sobre si, o que fazia seu sorriso aumentar mais.

Quando se percebeu o encurralando, Zed quis acabar depressa com o duelo e garantir sua vitória, sabendo que não deveria menosprezar seu adversário. Passou uma rasteira sem dificuldade em Shen e em poucos segundos ele se encontrava no chão, olhando para Zed com olhos arregalados.

A longa luta onde geralmente era dedicada a tarde inteira havia sido acabada em poucos minutos. E todos no ambiente permaneceram mudos, surpresos com o que acabavam de ver. Zed ainda tinha seu sorriso no rosto, em frenesi e orgulhoso demais para conseguir estar equilibrado no momento. As contraídas pupilas vermelhas olhavam para onde Shen estava caído, gravando aquela imagem em sua cabeça enquanto seus olhos tinha um brilho sádico.

Aquele silêncio podia ser pesado para todos, exceto para ele... já que finalmente derrotara aquele homem. Mas como o surpreso cantar cigarra aquele dia, o que quebrou o silêncio foram as palavras transvestidas de lâminas de seu mestre, fazendo-o quase sentir o corte fisicamente.

Você está expulso, Zed.”

Naquela tarde, ele voltou a ser humilhado, ultrajado e difamado na frente de todos que um dia já o conhecera ou ouvira seu nome. Ganhou um sermão do qual sequer se dedicou a ouvir, mostrando para agora seu antigo mestre que as palavras vindas dele não poderiam o alcançar mais.


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Notas finais do capítulo

Preciso lembrar que o nome dos capítulos e até mesmo o título podem ser modificados.



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