Desejus Insanus, Amoris Eternus escrita por Stalyndo


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu não desejava me ver nessa situação. Acontece que, devido à circunstâncias da vida, nós precisamos nos sacrificar algumas vezes, abrir mão de algo que gostamos, para que a paz possa ser mantida.

Há, aproximadamente um ano, fui eleita presidenta desse país. As dificuldades foram as mais engenhosas que alguém possa imaginar. Trocar meia dúzia de companheiros competentes por indicados de outros em prol de apoio em votações importantes; aguentar calada desaforos de deputados e senadores machistas que não me engolem no cargo máximo do Planalto; ver os verdadeiros corruptos ousarem corromper minha imagem na mídia, e por aí vai.

Mas, hoje, era um dia especialmente curioso e eu não poderia imaginar. Meu vice também ousaria cometer crime de traição contra mim. Eu que, além de ter criado toda uma trajetória política ao seu lado, fui sua fiel amante por anos sem que ninguém soubesse.

O escândalo que essa informação poderia romper era o suficiente para que eu guardasse para mim todo o mártir que era amar Miguel em segredo. Relações tão próximas assim entre presidenta e VP não poderiam ser bem vistas pelos achacadores que se entranharam em todos os setores da máquina pública, e nem pela mídia. Sem esquecer, claro, da esposa de Miguel, Nagella, com quem ele tinha um filho de aproximadamente 14 anos de idade.

Foi no final do dia que chegou à minha mesa aquela carta, que mais que romper relações diplomáticas, rompia também incríveis momentos guardados no meu peito esquerdo.

"verba volant, amadus amant

Lhe escrevo esta carta muito a respeito do que vem sendo noticiado recentemente. A senhora, presidenta, busca reafirmar, em todas entrevistas, como tenho sido um leal escudeiro deste governo que estamos construindo há aproximadamente um ano.

Gostaria de ressaltar que atitudes contam mais que palavras, e esse incessante discurso midiático uma hora pode ser interpretado de outra forma, de uma forma da qual odiaríamos que ele fosse lido. Por isso, minha amada Gilma Herselff, acho necessário, nesse momento, um rompimento da nossa relação.

Estaria mentindo se disse que as razões que me levam a esta decisão são puramente visando a estabilidade do governo. Sim, existem mágoas pessoais ao longo desses meses em que fielmente estive ao seu lado.

No último baile de gala organizado pelo Presidente do Senado a senhora me mandou em missão diplomática, e ouvi comentários maldosos na rádio corredor. Entendo que, para manter as aparências, a excelentíssima precisa interpretar determinados papéis sociais, e um dos que lhe cabe seria o da mulher solteira.

Porém, isso não necessariamente implica em aceitar cortejos e emendar o evento em uma reunião particular na suíte vip do melhor hotel da região.

Esse, talvez, tenha sido o disparador de toda uma reflexão acerca da nossa relação, mas sem sombra de dúvidas não é o único acontecimento que motiva minha decisão

Fica, claro, pelos fatos, que a senhora não confia em mim. Não confia hoje, e não confiará amanhã. Lamento, mas esta é minha convicção."

Eu só veria Miguel na tarde do dia seguinte. E enquanto não o fizesse, não poderia dedicar minha atenção a outra coisa que não fosse aquela pequena carta, tão pequena de tamanho, mas tão preenchida de sentimentos e rancor.

Eu então pego o telefone e ligo para minha secretária.

- Alô, Nagella?

- Olá presidenta. Eu gostaria de confirmar sua reunião amanhã cedo com os diplomatas da ONU, e seu almoço com o novo presidente da Argentina. - diz Nagella.

- Cancele tudo. Eu preciso me preparar para um assunto que decidirá o futuro desse governo amanhã.


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