Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas! Quero muito dedicar esse capitulo a uma pessoa especial. LENA THIELLE você está aqui? Já te amo sua linda. Simplesmente recomendou todas as minhas histórias. TODAS!!! Eu nem sei como agradecer. Apareça para eu agradecer mais diretamente. OBRIGADA!!!!! Estou super mega encantada, tipo sem palavras. BEIJOSSSSSSS



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Pov – Daryl

Demoro um momento para me acostumar com a escuridão do vagão, então dou de cara com parte da família. A parte que tive certeza estavam mortos, mesmo Beth me dizendo o tempo todo que eles estavam vivos.

Depois que o Governador voltou com seu tanque e derrubou as cercas da prisão eu perdi completamente a fé.

Assistir ele alvejar as pessoas que alimentei e protegi por meses sem qualquer piedade me destruiu. Me perder de todos e acabar sozinho com Beth na estrada me matou um pouco. Quando comecei a ter mais uma vez esperanças então ela se foi. Acabou perdida e eu sozinho. Por sorte reencontrei Rick, Carl e Michonne, não sei ficar sozinho e reencontrar a família me trouxe esperança. Agora estamos aqui. Reunidos mais uma vez, num vagão de trem prestes a morrer.

Rick procura enxergar pelas frestas do vagão. Depois nos olha, ele é quem nos faz ficar de pé quando tudo parece ter perdido o sentido. Hoje é como um irmão.

─Eles vão se sentir bem tolos quando descobrirem. – Diz num tom determinado que deixa claro que ainda não desistiu.

─Descobrirem o que? – Alguém pergunta.

─Que foderam com as pessoas erradas. – É bom que ele não tenha desistido. Meus olhos caminham pelo vagão quando todos começam a tentar produzir armas sob suas ordens. Cintos, cadarços, tudo pode ser útil.

Caminho pelo espaço escuro, furos na lataria deixam entrar alguma luz, vejo movimento no canto do vagão, forço a visão me aproximando um pouco para entender o que é.

O chão firme foge dos meus pés por um momento, a terra treme. O mundo desaba para depois se reerguer mais claro e esperançoso. Completamente novo para mim. Hannah está ali, com Brooklyn encolhida em seus braços.

Parecem nada além de dois bichinhos assustados, magras e sujas, tremulas de medo. Brooklyn não parece ter mudado nada nos quase dois anos que fiquei sem vê-la. Tem quase seis, mas parece ainda ter quatro anos.

Os olhos assustados de Hannah me encaram. Ela tem medo de mim, ela parece ter medo de tudo e quando me aproximo aperta mais Brooklyn em seus braços.

─Não chega perto. – Está chorando. Nem sei se me reconhece.

─Hannah, sou eu, Daryl Dixon. Irmão do Merle. – Ela afirma deixando claro que não se esqueceu. Dessa vez não me sinto menor que ela. Não me sinto um nada como antes, mesmo estando preso aqui a espera da morte eu percorri um longo caminho que me tornou um homem e ela agora parece tomar meu lugar, posso ver como está fraca e sinto pena. - Vai ficar tudo bem. – Olho para Brooklyn, ela não desgruda os olhos de mim. Acho que é demais querer que se lembre. – Não tenha medo Brooklyn.

Hannah abraça mais a garotinha. Não tira os olhos de mim, Brooklyn se move e deixa uma bonequinha cair, fico surpreso quando vejo a boneca que dei a ela rolar suja pelo chão. Lyn foi o nome que deu a ela e nunca me esqueci.

Com movimentos lentos eu pego a boneca, os olhos da garotinha se assustam, ela tem medo de perder seu brinquedo. Como se fossem animais que precisam de espaço para confiar eu me movo lento. Estendo a boneca sem chegar muito perto. Queria abraçar essa coisinha pequena e delicada. Queria que estivesse claro o bastante para ver seus olhos azuis e sentir Merle por perto mais uma vez.

─Deixou a Lyn cair. – Brooklyn pega a boneca de volta. Abraça aliviada. Os olhos de Hannah estão tão estranhamente espantados que fico procurando algo errado no que disse ou fiz.

─Como sabe o nome da boneca? – Ela me pergunta.

─Por que fui eu que dei de presente a ela quando ia fazer quatro anos. Foi a última vez que eu a vi. Se lembra Brooklyn? Faz dois anos.

Ela não responde, não para de me olhar, não sei se não lembra, se não quer conversa, o que sei é que as coisas para as duas não foram nada fáceis, mas agora estão aqui e vou cuidar de tudo. Nunca mais enquanto viver vou ficar longe e não importa se serão horas, dias ou anos.

─Vai dar tudo certo Hannah. Não tenha medo dessas pessoas, nada nem ninguém vai machucar vocês de novo.

Talvez seja arrogância dizer isso quando estou prestes a morrer, mas não me importo, seja como for eu vou lutar. Me afasto delas, me junto ao grupo, é hora de cuidar delas de verdade e isso significa sair daqui de algum modo.

Ganho uma força e uma fé que não me lembro de ter tido algum dia.

─Conhece? – Rick me pergunta e mais uma vez quero sorrir.

─A filha do Merle e a tia. – Rick abre a boca para dizer qualquer coisa, depois fecha surpreso, há muito tempo atrás num dia tranquilo na prisão enquanto fumava um cigarro e observava os zumbis nas grades eu contei a ele. Depois nunca mais falamos nisso.

─Mais um motivo para sairmos daqui. – Ele toca meu ombro e continuamos a tentar nos colocar prontos para o que vem pela frente.

Nos preparamos para lutar com o que temos. Não contamos com o mais óbvio, eles não esperam que aceitemos sem luta e estão prontos. Primeiro o teto do vagão se abre e uma bomba de fumaça nos confunde e cega. Quando a porta se abre não sobra espaço para luta. Somos arrastados de dentro.

Olho em volta enquanto sou amarrado e amordaçado, Rick e Glenn estão comigo. Sempre achei que se um dia eu caísse seria ao lado desses dois. Fizemos muitas coisas juntos. Acabamos diante de uma grande pia e eu sei o que significa, vamos ser abatidos como animais, como vacas num abatedouro, acabamos de passar por carcaças humanas.

Fica agora completamente claro quem esses caras são. Canibais. É isso, somos a comida. Aquilo é apavorante. Acabo de encontra-las, eu as procuro desde antes do fim e agora que estão aqui estou na fila para ser morto. Junto com meus melhores amigos.

Deixando as duas para serem as próximas. Tem que ter um jeito, não pode terminar assim. É estúpido demais. Junto conosco outros homens de joelhos, amarrados e amordaçados, um homem se posiciona atrás do primeiro da fila da morte, leva um taco.

Bob está conosco. Eu o levei a prisão. Achei Bob perdido e sozinho há meses, levei ele comigo e ele se tornou membro do grupo. Tivemos nossos problemas por conta da bebida que mais de uma vez ameaçou o grupo, mas foi ele quem ministrou os remédios quando aquela doença quase matou boa parte dos moradores da prisão. Garett surge e aceita conversar com Bob, sua arrogância não permite que escute, depois ele fala com Rick que mesmo ali, prestes a morrer ameaça Garett, jura que um dia vai mata-lo e então Garett nos deixa para morrer e a matança começa. Um taco de beisebol na cabeça e um corte na garganta. Um a um até que chegue a vez de Glenn, vou vê-lo morrer e então será minha vez.

Se fosse uns momentos antes de encontrar Brooklyn talvez eu estivesse pronto, mas agora? Quando eu a vi tão frágil e precisando de cuidados. Quero mais uma última maldita chance. Só uma oportunidade para consertar os erros do passado.

Uma grande explosão faz tudo tremer, os homens que estão ali para nos matar se confundem, discutem e isso nos dá tempo. Rick consegue cortar as cordas. Atacar os homens num momento de confusão e nos libertar.

Quando estou livre só penso em salvar a garotinha. Corremos juntos, pegando facas daquele açougue macabro para nos proteger. Zumbis invadiram o lugar.

Não sei como, nem quem, só sei que eu não vou morrer hoje e Brooklyn e Hannah também não vão. Chegar ao vagão e libertar o restante do grupo não é fácil, mas estamos no modo máquina agora. Derrubamos tudo e todos e quando a porta se abre nossa família começa a saltar. Hannah e Brooklyn são as últimas.

Hannah vê os zumbis se aproximando vindo de todos os lados, dá um passo para trás com olhos arregalados.

─Anda Daryl! – Michonne me grita derrubando zumbis a sua volta.

Não dá tempo de convence-las então puxo Brooklyn e Hannah me segue apavorada. Entrego a pequena a ela do lado de fora do vagão, Acerto dois zumbis quase ao mesmo tempo.

─Perto de mim Hannah! – Grito abrindo caminho e então conseguimos saltar as grades de Terminus e continuar correndo são tantos zumbis soltos por Terminus que não sei se vai sobrar alguém vivo ali. Espero que não.

Os zumbis estão todos em terminus e a floresta em torno parece quase segura. Vamos em direção ao local onde todas as nossas armas estão enterradas. Boa ideia a de Rick. Penso em minha besta que ficou com aqueles canalhas no momento que fomos rendidos. Eu não tive escolha, ele ameaçou matar o Carl e eu nunca permitiria isso.

Entre as armas que guardamos tem uma outra besta. Não é a minha, não leva minha história, mas é melhor que uma pistola. Penso em Beth, ela adoraria se reunir mais uma vez com a irmã. Em Carol que também está por aí perdida. Não me dou espaço para lembrar de Judy. A garotinha de Rick era apenas um bebê e nunca vamos nos perdoar por termos perdido nossa Bravinha. Eu nem sei como Rick ainda respira.

Olho para Hannah. Ela agarra tanto Brooklyn, está com tanto medo de todos que eu nem sei o que deve ter visto. A verdade é que eu mesmo vi coisas demais. Quando as surpresas pareciam ter acabado um movimento na floresta me chama atenção. Me viro achando ser um zumbi e lá está Carol. De pé, inteira e carregando minha Besta. Foi ela quem causou a explosão e levou os zumbis nos dando chance. Só pode ser.

Abraço minha velha amiga. Senti falta dela, não sou muito de contato físico, mas num momento como esse ela merece. Depois Carol vai abraçar Rick e os outros, explicar o que aconteceu e me posiciono ao lado de Hannah. Encaro minha besta e vasculho se algo está errado com ela. Ajeito as duas flechas presas a ela.

─Tia Hannah ele tem flechas! – Brooklyn sussurra e olho para ela. Seu ar espantado é engraçadinho. – Ele salvou a gente dos monstros e tem flechas tia.

─Eu sei. – Hannah diz um tanto abalada. Desvia sempre os olhos e procura alguma distância. Ainda é a moça mais bonita que já vi.

─O que é isso? – Pela primeira vez Brooklyn fala comigo. Aponta a besta.

─Uma besta. Sou um caçador.

─Você demorou um tempão. – Ela diz aos sussurros.

─Desculpe ter demorado Brooklyn, eu nunca parei de procurar. – Seus olhinhos se grudam em mim, parece que ela nunca mais vai parar de me olhar.

─Agora que você casa com o caçador de monstros tia? – Ela pergunta a uma Hannah completamente sem reação. Entre assustada com tudo a sua volta e envergonhada. Não sei bem o que a pequena quer dizer com isso. De todo modo ela é direta como toda criança costuma ser.

─Fica quietinha Brook. Estamos no meio da floresta.

─Pode colocar ela no chão Hannah. Estão seguras. – Aviso, mas ela só arruma a menina no colo me ignorando. Decido ter calma com ela. Não sei bem o que aconteceu e por isso não quero assusta-la nem roubar seu lugar com Brooklyn. Afinal ela trouxe a garotinha até aqui.

─Viva? – A voz de Rick chega até mim. Me volto e ele e Carl se abraçavam. – Judith está viva e com o Tyreese. Carol e ele cuidaram dela.

Aquilo é tão grande que parece que o mundo decidiu nos dar uma chance. Carol começa a nos guiar de encontro a eles. Hannah depois de alguns minutos coloca a pequena no chão. Brooklyn caminha entre mim e Hannah, mas o tempo todo fica com os olhos presos a mim. Vez por outra eu olho para ela. Não sei bem que encantamento é esse.

Rick e Carl abraçam o bebê, Judy está bem, inteira e muito saldável. Ao menos é o que parece. Brooklyn aperta a mão de Hannah o tempo todo. Decidimos em conjunto que o melhor era ir o mais longe possível de terminus. Começamos a caminhar pela floresta.

Hannah sempre ao meu lado. Não vou mais deixar que fique longe. Tantas coisas que temos que dizer um ao outro. Tanto que quero explicar e perguntar. Nunca fui bom com palavras e apenas fico mudo. Ela tem tanto medo no olhar.

Vejo Rick diminuir o passo até nos alcançar e se posicionar ao lado de Hannah. Acho que no fundo ele sabe da minha dificuldade em me comunicar.

─Sou Rick Grimes, não que sobrenomes importem mais. – Ele dá um meio sorriso, nós dois vencemos o mundo hoje. Recebemos de volta uma parte de nós. – Já matou zumbis Hannah? – Olho para ele com a testa enrugada, as respostas de Hannah para suas costumeiras três perguntas não tem a menor importância. Ela fica comigo seja o que responder.

─Um. – Hannah responde trazendo Brooklyn mais para junto de si. Os olhos assustados demais para uma simples conversa.

─Já matou pessoas? – Ela para de andar. Os olhos se enchem de lágrimas, ergue Brook e envolve a pequena que se assusta um pouco. – É só uma pergunta Hannah. Está tudo bem. – Rick avisa.

─Está tudo bem Hannah. Todos nós fizemos coisas para sobreviver. – Eu aviso. Acho que ela teve que matar. Estranho seria se não tivesse.

─Vamos parar um pouco para descansar. Vai anoitecer. – Rick nos deixa para trás. Hannah permanece parada. Os olhos terrivelmente apavorados.

─Eu tenho que ir embora? O que querem? – Brooklyn aperta o pescoço da tia completamente assustada. O grupo começa a se sentar na pequena estrada, se reunir e fechar um pequeno perímetro de proteção. Hannah me olha sem saber o que fazer. Dou um passo em sua direção para acalma-la, ela dá dois para trás e paro com medo dela sair correndo pela mata com a menina.

─Calma Hannah. Está assustando a Brooklyn. Por que não deixa ela sentar ali com os outros e descansar um pouco enquanto falamos?

Hannah olha para o grupo, não está nada confiante, nem imagina o quão honrados eles são, que qualquer uma daquelas pessoas entraria na frente de um zumbi pela garotinha mesmo sem conhece-la. Apenas por que é uma criança.

─Não tente me afastar dela. – Afirmo. Estou indo rápido demais.

─Certo. Ela fica com você. Está segura Hannah, as duas estão, ninguém vai fazer mal a nenhuma das duas, não precisa explicar nada, contar nada, não faz diferença o passado. Vamos achar um lugar e vamos todos ficar bem.

─Diz isso agora. Depois vão querer... vão querer... – Ela se cala, vejo algumas manchas roxas pelos braços, alguém a machucou e ela agora acha que todo mundo pode fazer isso e só o tempo pode mostrar que não. – Cadê o Merle?

─Está morto Hannah. Faz meses. Sei que não vai acreditar, mas ele morreu como um herói. Do jeito dele salvou muitas pessoas. Ferrou com muitas também. Muita coisa aconteceu. Só fica calma. A Brooklyn não precisa sentir tanto medo.

─Eu não vou me separar dela. Ela é tudo que importa. Ninguém pode machucar ela. Não importa o que eu tenho que fazer. É por ela. Quando isso acabar vai ter valido a pena.

Agora eu fico surpreso e espantado. Depois de quase dois anos disso ela ainda acha que pode acabar? Que o mundo tem conserto? Acho que nunca foi muito longe. Nunca esteve numa grande cidade.

─Eu preciso caçar. Brooklyn deve estar com fome, pode ficar perto deles enquanto me afasto um pouco?

─Vai embora? – Ela me pergunta e podia até achar que não quer isso. Pelo menos seu tom assustado demonstra.

─Não. – Tento ser bem firme para ela acreditar. – Não vou embora. Só achar comida para todos. Isso é o que faço. Fica com eles. – Faço um movimento, e ela me segue, então deixo as duas dentro do perímetro, troco um olhar com Rick e ele só afirma. Sabe que tem que cuidar delas enquanto estiver longe. – Vou caçar. Se tiverem que continuar vão em frente e encontro vocês.

Pego a besta, dou as costas a eles e começo a caminhar em direção a mata. O dia está quente e estão todos cansados e famintos.

─Brook! – Escuto Hannah gritar no minuto que mãozinhas pequenas agarram minha calça. Olho para a garotinha que agora me segura pelo colete chorando.

─Não vai embora caçador, a gente tem que voltar para o castelo. – Todo mundo está me olhando e isso é bem constrangedor. Hannah está de pé sem reação. Baixo meus olhos e encontro os da pequena. Azuis como os de Merle, agora não mais suaves como antes. Agora eles estão cheios de angustia e medo.

Eu não tenho a menor ideia do que fazer. Estava nos meus planos proteger as duas desde antes do fim. Foi uma promessa feita, mas isso não inclui contato físico.

─Brooklyn eu não vou embora. Só vou achar comida. Está com fome? – Ela balança a cabeça confirmando. Ainda não está decidida por que mantem as mãos firmes me prendendo. – Não demoro.

─Eu vou junto caçador. – Algo se move balançando as arvores logo a nossa frente. Aponto a besta já armada e faço mira a espera. Não demora para ouvir os gruídos e então um corpo se precipita. Tem metade do rosto desfigurado, o couro cabeludo está pendurado e a imagem é mesmo horrorosa.

Nunca tinha pensado sobre isso, mas agora com Brooklyn fico pensando o quanto isso deve assusta-la. Ela se abraça a mim e disparo a flecha. Acerta o meio da testa. O corpo não resiste e tomba no mesmo instante.

─Viu por que não pode ir comigo? – Hannah corre para pega-la no colo. Aperta a garotinha e acho que na maior parte das vezes ela mais assusta que acalma a menina, mas ainda não posso mudar isso. Acho que Hannah no fim precisa mais de ajuda que Brooklyn. – Eu volto! – Digo a Hannah caminhando em direção ao corpo. Pego minha flecha de volta e me aprofundo na mata.

Eu reencontrei Brooklyn, ela é linda, tem ainda hoje os olhos do pai e penso em Charlotte repetindo isso todas as vezes que nos vimos. Agora acho que Merle teria sido bom para a pequena. Depois de tudo que vivemos, os dias em que estivemos juntos na prisão. O jeito como ele enfrentou toda aquela situação, aprendi mais sobre ele que nunca. Merle tinha medo. Ele tinha medo do que sentia por Charlotte, ele tinha medo de ser pai e eu podia ter forçado um pouco mais as coisas.

Agora é minha obrigação cuidar da pequena. Dar tudo que Merle não pode dar. Com ou sem o mundo acabando eu vou fazer disso minha missão. Brooklyn é minha missão enquanto viver.

Com a besta erguida e atento aos movimentos da mata eu continuo em frente. Tenho pressa de voltar então mais uma vez me contento com esquilos. Meu grupo bem que já se acostumou e Hannah e Brooklyn vão se acostumar também.

Fico pensando no que Hannah teve que fazer. Que tipo de coisas a deixaram assim com tanto medo de gente. Deve ter tido um Governador em sua vida. Talvez mais que um. A mundo morto que recebemos criou muitos monstros.

Quatro esquilos não podem matar a fome de todos, mas alivia a dos pequenos, o que importa é Brooklyn, Judy e Carl. Mesmo o garoto se colocando sempre no time dos adultos para mim é ainda o menininho que conheci quando acabamos juntos na pedreira. Parece que foi em outra vida. Era outra vida para mim. Eu era outro cara.

Tomo o caminho de volta, dou sorte e encontro mais um. Agora são cinco esquilos. Espero que tenham ido buscar água. O rio não está muito distante. Paro de caminhar quando acho que ouvi barulho. Me concentro um momento. Olho em volta. Presto atenção no chão e pode ser só impressão minha.

Meia dúzia de armas são apontadas para mim quando chego de volta.

─É bom ver vocês também! – As armas são abaixadas. Brooklyn se solta da tia e corre para mim. Me abraça pelas pernas e mais uma vez eu não sei direito o que fazer.

─Nunca pensei que fosse sentir tanta falta dos esquilos. – Carol sorri os tomando de minha mão. Ela mudou muito desde que deixamos a pedreira, não é mais aquela mulher submissa que apanhava do marido. Agora sabe o que quer. Tem até uma certa frieza no olhar que as vezes me assusta um pouco.

Quando ela se afasta encaro Brooklyn envolvendo minhas pernas com os olhos fixos em mim. Hannah de pé sem saber o que fazer.

─Disse que voltava. Carol vai assar os esquilos e vai comer um pouco antes de dormir. – Ela faz um movimento com a cabeça concordando.

Agora seria uma boa hora para me soltar e ir com a tia, mas ela continua ali, envolvendo minhas pernas e me olhando o tempo todo. Tenho a impressão que ela me confunde com alguém, porque esse olhar é quase uma devoção. Ninguém nunca me olhou assim e isso só reforça minha decisão de viver por ela.

Dou um tapinha no seu ombro. Sorrio meio de lado sem saber direito o que fazer.

─Tá bom caçador. – Ela sussurra. Ou grita ou sussurra, isso é bem estranho.

─Brook. – A tia a chama, ela caminha para ela sem dizer nada, senta em seu colo, mas continua a me olhar.

─Ela está encantada. – Carol diz quando me aproximo para ajudá-la com os esquilos.

─Alguém foi buscar água?

─Ali. Aquele Abraham e a Rosita. – Esses dois chegaram com Glenn e Maggie e não sei direito quem são. Com eles tem um outro que o tempo todo parece apavorado, Eugene, quase tanto quanto Hannah. – Então é sua sobrinha? Rick me disse. Nunca me falou dela. Muita coisa faz sentido sobre você agora.

─O que importa é que ela está aqui. – Não quero detalhes, não quero falar de Sophia, não quero falar de Merle, só quero seguir daqui.

─Elas são fracas. A menina e a tia. Se não tomar cuidado...

─Você também era Carol. Todos já fomos assim. Quase indefesos. Mudamos. Eu ensino o que for preciso e tudo vai ficar bem.

─É isso que espero. Eu e o Rick estamos bem. Passamos por cima das desavenças do passado.

─Bom. Quero que tudo de certo agora. Já estivemos assim antes. Passamos um inverno nas ruas, com fome e frio e sobrevivemos sem perder ninguém.

Ela sorri. Não sei se concorda, mas não debate. Coloca os esquilos para assar e me afasto. Dou uma volta pelo pequeno espaço onde nos reunimos um ao lado do outro. Olho para a mata a nossa volta. Tudo parece bem tranquilo.

O barulho em Terminus afastou zumbis e isso nos ajuda a ter um tempo para descansar. Hannah está sentada com a garotinha no colo. A pequena me olha. Novidade. Ela me olha o tempo todo e me sinto papai Noel.

A comida é distribuída. Pela fraqueza física de Brooklyn imagino que quase não tem comido. Eu me acostumei com pouco e posso aguentar mais um dia. Levo minha carne para ela. A pequena aceita feliz.

─Não está comendo Hannah.

─Ela precisava mais do que eu. Aguento não se preocupe. Ela pode beber água? – Acho a pergunta estranha, mas ela ainda tem que se acostumar com todo mundo. Estico o braço e trago comigo uma garrafinha.

─Fica com essa para dividirem. – Hannah aceita. Oferece a Brooklyn, ela bebe. Parece esgotada. – Pode dormir.

Seus olhos seguem para a tia. Hannah a ajuda a deitar. Ela encosta a cabeça no colo da tia e fecha os olhos. As mãos das duas ficam entrelaçadas. Encaro a noite escura e silenciosa não sei muito o que dizer.

─Deixou o dinheiro também? – Olho para Hannah. Ela encara a noite, não a mim. Brooklyn dormia.

─Sim.

─Ela morreu naquele dia. Queria me dizer algo, não conseguiu.

Queria dizer que eu não era o que Hannah pensava. Do que adianta dizer isso a ela agora? Nem sei se ela acreditaria.

─Eu prometi levar Merle para vê-las. Atravessei o estado tentando. Não deu tempo. Quando chegamos... Era tarde.

─O dinheiro ajudou. Pagou o enterro, a mudança, a nova vida. Então o mundo acabou.

─Merle foi. Eu prometi e o levei. Fazia tempo que não visitava Charlotte e a Brooklyn. Não sabia que ela estava doente. Se soubesse teria ido antes.

Ficamos em silencio. Brooklyn dormindo, boa parte do grupo fazendo o mesmo. Não sei como lidar com esse encontro.

─Ela me chama de caçador. Parece que me confunde com alguém.

─Ficamos trancadas na minha casa quando começou, achei que acabaria logo. Disse que tinha um caçador de monstros lá fora matando os zumbis e protegendo nosso castelo. Disse que ele tinha uma besta e flechas. Não estava pensando em você. Era no... no... Robin Hood.

─Não disse nada! – Me defendo.

─Ela vem procurando o caçador de monstros desde então. Bom, ela encontrou. – Hannah me aponta nada animada.

─E você é a noiva do Robin Hood? – Ela cora fortemente. Desvio meus olhos também sem graça.

─Coisa dela. – Hannah diz num fio de voz.

─Posso cuidar dela. Posso cuidar das duas.

─Até me apresentar a conta. – Algo nela morre um pouco, uma lembrança a magoa e lágrimas escorrem.

─É minha sobrinha também. – Me defendo de acusações que eu nem entendo, sei o que ela sempre pensou de mim e talvez até tivesse razão, mas mudei e ela vai ter que respeitar isso. – Você foi embora antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

─Eu fiz. Eu fiz todas as coisas que precisei fazer. Ela está viva. Merle tinha razão sobre mim. O mundo me engoliu. – São lágrimas e mais lágrimas que escorrem por seu rosto sem autorização. Algo que talvez ela nem se dê conta.

─Não precisa chorar Hannah. Nem acreditar nas minhas palavras. Eu vou mostrar. E sobre essas pessoas, elas são minha família. Não está em perigo com elas. Tente dormir. Faço a segurança.

Eu a deixo, meu coração se enche de compaixão, começo a desconfiar do que ela teve que fazer e isso me abala. Tanto que nem consigo ficar perto dela. Tenho vontade de cuidar dela, trazer a garota para perto de mim e acalmar seu coração, mas eu não sei nada sobre isso. Não tenho ideia de como se lida com uma mulher e decido cuidar de longe.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Os dois estão meio sem acreditar. Aos poucos vão se descobrindo e entendendo o passado. Comentem. Prometo que vou colocar os comentários em dia.
BEIJOSSSSSSSSs