Pov – Brook 

   Sinto saudade dos meus tios e de todo mundo. Shiva também. Eu vejo que eles ficam só demorando. Faz tanto tempo que saíram que acho que pode ter acontecido alguma coisa.  

   Maggie não diz nada. Só fica olhando toda hora pela janela do Trailer, está preocupada, mas não me conta nada. Ela me serve uma xicara com café e um pedaço de pão.  

   — Come um pouco Brook. Desculpe não pensar em nada melhor. 

    —Tudo bem Maggie. Eu estou com muita saudade dos meus tios. Eles já deviam ter voltado? 

   — Não sei querida. Eu realmente não tenho ideia. Acho que está tudo bem. Temos que confiar que tudo está indo bem.  

   Ela não tem cara de que acha mesmo isso. Parece até mais triste que eu. Me sento perto da janela. Ficamos as duas toda hora olhando o pátio. Não vejo a hora de todo mundo chegar. 

   — Maggie. Você vai para casa com a gente? Quando todo mundo voltar? 

   — Essa é minha casa agora Brooklyn. 

   — Não me chama assim não Maggie. Me dá uma saudade do meu tio Daryl. Ele que me chama assim. 

   — Desculpe querida. Não se preocupe. Logo ele chega. - Eu concordo. Fico caladinha. Olhando pela janela, de vez em quando Maggie faz carinho na barriga, Ela vai ter um bebê e o coitadinho nem vai ter o pai dele pertinho, mas ela pode arrumar um tio que é a mesma coisa. Como eu. Tenho tios que são a mesma coisa que pais.  

   Shiva surge o pátio. Me espanto de ver ele todo sujo de sangue, andando de um lado para outro, o nariz para cima. Acho que está me caçando. 

   — Chegaram Maggie! Olha o Shiva! — Tento correr, ela me segura pelo braço. Está pálida.  

   — Não Brook. Só o tigre chegou. Não acho boa ideia ir até lá. Ele parece muito estressado. 

   — Ele me ama Maggie. Está me procurando. Deixa eu ir lá. 

   — Não. Você fica aqui até... - Ela está chorando, e não sei por que.  

   — Meus tios não vem Maggie?  

   — Olha meu anjo. Eu prometi cuidar de você. Então precisa ser paciente. O tigre está lá fora, não acho que vá a lugar nenhum. Espere está bem? 

   — Vou deitar um pouco então. Posso? Lá no meu quarto? - Ela me olha um longo momento. — É aqui do lado.  

   — Pode. Já vou lá com você.  

   Corro para meu quarto. Shiva está com saudade de mim e todo sujo. Deve estar com sede também. Preciso cuidar do meu amigo. Abro a janela depois de fechar a porta. Olho para baixo. Não é tão alto, eu consigo. Pulo para o outro lado, minha blusa fica um pouco presa e me atrapalho na hora de descer, caio sentada no chão.  

   — Merda! - Aproveito que não tem ninguém para xingar um palavrão. 

   Quando fico de pé. Shiva está ao meu lado. O rabo balança e toco seus pelos, estão grudentos e sujos. 

   — O que aprontou em Shivinha? - Ele passa a língua pela boca. — Vem, vou te dar água. Acho que vai ter que tomar banho também. Não sei onde que se enfiou. Safadinho.  

   Ele anda ao meu lado até o lugar onde todo mundo lava roupas. Pego um balde e encho de água limpa. Shiva enfia a cabeça no balde e fica lá bebendo toda a água. Maggie vai me dar a maior bronca do mundo.  

   Quando ele tira a cabeça do balde a água que sobrou está vermelha. Olho para ele e depois para a mangueira.  

   — Quer tomar um bainho? Quer? — Acho melhor dar banho nele. Eu quero abraçar meu amigo e ele está muito sujo. Ligo a mangueira e pego o pedaço de sabão que eles usam nas roupas. — Eu não tenho sabonete de tigre Shiva, então eu vou usar esse aqui mesmo. Fica bem bonzinho. 

   Ele fica, é muito meu amigo. Vou esfregando ele e molhando e vai saindo toda a meleca, eu fico um pouco molhada, mas que se pode fazer. 

   — Você cuidou dos meus tios? Eles estão vindo? Cadê todo mundo? - O tigre me olha, lambe meu braço sujo de sabão. Me faz rir com a cocega que me provoca. 

   — Brook! - Dou um pulo de susto quando escuto a voz de Maggie, ela se encosta na parede um pouco assustada.  

   — Ele está gostando do banho. Olha como fica coma carinha feliz? - Ela balança a cabeça. Não chega perto. As pessoas não gostam muito de chegar perto dele. Sinto pena.  

   — Acho que ele já está limpo Brook. Desliga e vem. Deixa ele dormir um pouco. Não corre está bem? Fica calminha e tudo fica bem. 

   — Maggie. Você é engraçada. Não vou correr não. Melhor eu secar ele.  

   — Não! - Ela diz bem séria, eu balanço a cabeça.  

   — Certo. Então vou sentar com ele lá na frente do casarão, está um pouquinho sol. Vem Shiva. 

   O tigre é sempre bonzinho comigo e anda do meu lado, Maggie vai atrás com a pistola na mão. Ela é muito cuidadosa comigo, ainda bem que o Shiva nem liga para ela, se não era capaz dela até atirar.  

   Quando me sento nos degraus ele se deita ao meu lado. Suspira e se ajeita, fecha os olhos. Faço um carinho em seus pelos agora limpinhos. Maggie fica na varanda sentada com a pistola, eu apoio meus braços nos cotovelos e as mãos nas bochechas. 

   — Vamos esperar todo mundo. - Ficamos ali os dois. O tempo ainda vai passando e passando. Tenho medo, medo de nunca mais ninguém chegar, olho para o tigre dormindo do meu lado. Ele é tigre, não pode cuidar de mim, eu que tenho que cuidar dele. Então meus tios tem que voltar por que a Maggie é muito medrosa e não me deixa um minuto sozinha com o Shiva e eu amo meus tios. Me dá vontade de chorar, uma lagrima cai no meu rosto e seco com medo da Maggie me mandar entrar se eu começar a chorar. Já vai ficar de noite.  

   — São eles! - Brianne grita lá do muro onde ela estão com sua lança, fico de pé enquanto o portão vai abrindo. Meu coração bate rápido de medo de não ver meus tios. Logo as duas motos entram primeiro e vejo meu tio e minha tia e a Beth com o Jesus. Todo mundo que eu mais amo chegou.  

   Corro para meus tios. Shiva corre ao meu lado. Minha tia me abraça primeiro. Ela tem um abraço tão gostoso, desde que eu era criança que acho isso.  

   — Que saudade que eu fiquei tia! - Ela me enche de beijos e me aperta e beija toda hora e depois vem meu tio Daryl ele me põe no colo e me beija também. Antes ele não ficava me beijando, mas agora fica e é muito bom. 

   — Tudo bem? Está bem? Se comportou? 

   — Sim tio.  

   — Banho no tigre! - Maggie diz bem brava abraçada a Beth. — Assim que se comportou, Pulou a janela e foi dar banho no tigre pelas minhas costas, eu pensei que iria morrer quando a vi esfregando ele com a mangueira ligada. Eu achei que ele... Nossa! Isso não se faz com uma grávida. 

   — Tia ele está bem sujinho. - Aviso par ela não brigar comigo. Minha tia balança a cabeça em silencio. Olho em volta. Tem muitas pessoas tristes. — Cadê o Ezequiel? 

   — Brooklyn, o Ezequiel não vem. Ele foi mordido. Infelizmente ele não vem mais. 

   — Ele morreu? - Fico com tanta pena. Quero até chorar. Olho para Shiva, tadinho dele. Perdeu seu amigo. - Shiva! - Abraço o meu amigo que fica quietinho. 

   — Talvez o Shiva queira ficar com a gente. O que acha? - Minha tia pergunta. 

   — Ele pode? - Olho para ele. — Você quer morar comigo Shiva? Minha casa é bem grande. Lembra que você foi lá? Quer? - Ele me faz um carinho com o focinho. - Viu isso tia. Ele quer sim. A gente já vai? 

   — Logo Brook. Antes temos algumas coisas para acertar. - Quero saber quem mais que morreu, mas não consigo nem perguntar. — Maggie. Vamos reunir todos e contar como foi tudo.  

   — Vamos partir logo depois. - Sasha avisa com os olhos vermelhos, ela olha para a picape e tomo um susto. Tem corpos ali embrulhados em panos.  

   — Tio! - Quero chorar. Ele me abraça.  

   — Acabou Brooklyn, Vamos voltar para casa e tudo vai ficar bem. Não tem mais guerra. 

   — É melhor tio. Eu não quero que fica todo mundo morrendo. - Ele seca minhas lágrimas. 

   — O que acha de ir arrumar suas coisas?  

   Eu obedeço. Shiva me acompanha, ele adora andar do meu lado. Faço minha mala, pego Lyn nos braços. 

   — Shiva essa aqui é a Lyn. Eu gosto dos dois igual. Não se preocupa. - Coloco a mochila nas costas. - Vamos? 

   Quando chego no patio estão todos se despedindo. Eu bem que quero ir para casa. Entro no carro com Rick. Shiva sobe atrás. Ele me adora mesmo. Rick me sorri. Michonne está no carro e Carl. 

   — Quer dizer que esse tigre gigante vai morar em Alexandria? 

   — Vai Rick, mas ele é bem bonzinho. Quer que ele fica amigo da Judy? - A bebezinha dorme no colo do irmão. 

   — Melhor não Brook. Obrigado pela oferta.  

   Meu Tio acena quando a moto passa ao meu lado. Dou tchau para ele e para minha tia. 

   Fecho os olhos cansada. Não dormi desde que eles foram embora. Agora posso dormir um pouco. Acho que vou ficar com saudade da Maggie e da Beth. Minha tia diz que vamos nos ver sempre, mas acho que não é assim todo dia como antes. Pelo menos agora eu tenho o Shiva.  

   Pov – Jesus 

   — Como ela está? 

   — Adormeceu. — Beth avisa se sentando ao meu lado. Envolvo seu corpo em meus braços, ela suspira. — Foi difícil para ela ficar. Maggie sempre esteve entre os que lutam. Além disso acho que ela queria estar lá. Talvez deve estar.  

   — Não Baby, foi bom ela não assistir. - Beijo seu pescoço. — Quando Carl ofereceu Lucille. - A lembrança me assombra um pouco. — Eu quis ir até lá. Baby eu senti vontade de ser o próximo. Por tudo que aquele homem fez todo mundo passar. Por você, por Hilltop. Foi difícil não ceder. 

   — Acha que comigo foi diferente? Que eu não desejei acerta-lo em nome do Glenn? 

   — Que bom que não fizemos. Não sei se depois eu poderia retornar. Ser de novo um homem.  

   — Sasha está tão acabada. Ela simplesmente perdeu tudo e depois apenas perdeu tudo mais uma vez. Não sei como se pode ficar em pé depois disso.  

   Envolvo ainda mais o corpo de Beth. Eu que não tinha nada e era feliz com isso agora tenho esse anjo comigo e a ideia de perde-la me assombra. 

   —Temos que lutar juntos Beth. Um cuidando do outro. Acho que não sei mais como é esse negocio de viver sem você. - Ela sorri. - Alexandria. Hilltop, não importa. Temos que ficar juntos.  

   — Aqui. Eu e Maggie ficamos aqui. É estranho sabe. Minha família sempre foi tão unida e agora... Carol e Morgan decidiram voltar para o Reino. Ajudar Richard. Eu e Maggie ficamos aqui. Alguns de nós... Glenn, Abraham, isso é estranho demais. Sempre foi a certeza de que estaríamos juntos que nos fez superar todas as coisas e agora.... 

   — Agora todas as coisas foram superadas. Por isso podem seguir rumos diferentes. Amo você Baby, sua força para lutar, sua beleza, não essa que todos podem ver, mas a que está aí dentro e que te torna especial e boa, a beleza interior que não deixa espaço para ódio e rancor. 

   Beth sai dos meus braços, senta de frente e me sorri. Toca meus cabelos e depois minha barba. Tem um sorriso suave no rosto, olhos brilhantes apesar do cansaço.  

   — Paul, eu te amo. Achava que sabia um pouco o que era esse sentimento, mas eu não tinha a mais leve ideia até você chegar na minha vida e foi de uma vez. Como um soco.  

   — tenho esse poder. - Brinco com ela.  

   — Isso me dá a dimensão do que minha irmã perdeu. Eu vi você lutar, admirei seus talentos e quis arrancar um de seus braços também.  

   — Por que? - Pergunto rindo. Ela me puxa para si e me beija os lábios. 

   — Seja honesto. Você estava se exibindo. 

   — Para o caso de você ter dúvidas. Como um pavão. Mostrando meus dotes. - Ela me belisca e me contorço. - O que? Vai dizer que não gostou do show. Sou arrestável não sou Baby? 

   — Tente não repetir isso. Só tente. Por favor. Me mata de preocupação.  

   — Me saio bem. Normalmente eu me dou bem em minhas aventuras. E você lutou bem. O tempo todo deu um show. Odeio admitir, mas aquele caçador mau humorado fez um bom trabalho.  

   — Vamos lutar juntos de hoje em diante. Sabe que cedo ou tarde um novo inimigo chega? 

   — Bonita e pessimista. - Ela sorri, volta para meus braços e de novo eu a envolvo. - Juntos Baby, e de armadura. Você fica sexy. 

   — Fico? - Ela ri.  

   — Daqui uns dias vamos ao Reino. Quero os cavalos que Ezequiel me prometeu. E você vai comigo, dois cavalos e as armaduras. Vai ficar uma amazona perfeita.  

   — Isso é algo que faço bem. Montar. Cresci numa fazenda. Posso cuidar dos cavalos também. Como meu pai. Aprendi muito com ele.  

   — Será bom. - Meus dedos se prendem aos dela. Ela se move para me olhar. — É aqui que vai ficar? - Beth franze a testa em dúvida sobre o que perguntei. 

   — Em Hilltop? Já disse que sim. 

   — Nesse quarto. Na minha vida. É aqui que vai ficar? 

   — É onde quer que eu fique Paul? Tem certeza sobre isso? Não sou muito criança? 

   — Nunca vai esquecer aquela brincadeira? - Ela balança a cabeça negando. — Baby se tem uma coisa que provou é que não é mais criança e sim. É aqui que quero você. Nessa cama, na minha vida. Todos os dias. Quero escrever nossa história. Não sei quanto tempo. Está sempre tudo por um fio. Todo tempo, cada segundo. Sempre pode ser o último e por isso temos que estar juntos.  

   — Então estamos juntos. Hoje começa a nossa vida. - Ela me diz isso com um sorriso no rosto, para ela tudo parece simples. - Juntos Paul. 

   — Você é a única pessoa que me chama assim. - Beth fica subitamente triste. 

   —Tenho sempre a impressão que meu pai odiaria esse seu apelido. Acharia um desrespeito. O velho Hershel era muito religioso. 

   — E você? É religiosa? 

   — Estou fazendo as pazes com Deus, nesse momento eu não sei. Abe, Glenn, Ezequiel, que eu mal conhecia. Pessoas mortas por todos os lados, é difícil não culpar Deus. 

   — O cara não tem culpa de nada Baby. Isso sempre foi assim. Só que estávamos muito ocupados para enxergar.  

   — Só você mesmo. Adoro isso. - Puxo Beth e estamos deitados. 

   — Adora? Fale mais sobre isso. Mostre, pode começar me beijando.  

   —Começar? 

   —É. Começa com beijos e depois pode ir detalhando seus sentimentos. Temos o resto da noite para discutir isso.  

   — O resto da vida Paul. O resto da vida! - Ela me lembra antes de juntar seus lábios aos meus. Tudo fica claro, todo o esforço em sobreviver, mesmo sozinho. Mesmo nos dias mais difíceis. Eu sobrevivi para isso, para finalmente ter Beth em minha vida. Ser dela e ela ser minha.