Acordei com um barulho de obra insuportável no apartamento de cima. Olhei pro relógio ao lado da minha cama e me mostrava que eram seis horas da manhã. Só pode estar de brincadeira com a minha cara. O Sr. Zuko, meu vizinho, sempre foi um velhinho chato. Mas obra a essa hora? Seis horas! Isso é quase madrugada! Bom, pelo menos pra mim.

Levantei da cama me arrastando e coloquei os chinelos. Ainda esfregando o rosto de sono, prendi o cabelo e fui em direção à porta. Um bocejo, uma coçada na nuca e uma olhada no celular. Tinha uma mensagem ali, mas decidi ignorar. Joguei o celular em cima da cama, que resolveu quicar e cair no chão. Droga, tomara que não tenha quebrado.

E essa barulheira? Melhor mandar ele parar ou não é hoje que eu durmo.

Depois de passar um tempinho batendo na porta do vizinho, ele finalmente abriu.

– Olha só Sr.Zuko, eu to tentando dormir e seria MUITO bom se o senhor parasse de fazer barulho.

–Como é?

Mas o que...? Sr. Zuko ficou mais novo? E mais bonito também...?

– O velho se mudou ontem durante a tarde, sou seu novo vizinho – ele abriu um sorriso largo e gentil – Meu nome é Nathan. E você é...?

Reparei que ele estava olhando pra baixo, em direção aos meus... AI CARALHO. Eu esqueci de colocar o sutiã. Saí com tanto sono que nem percebi. Cruzei os braços no mesmo instante. Que vergonha!

– Miranda. Moro no apartamento de baixo.

–Ah, a menina do cabelo roxo que todo mundo me disse pra ficar longe?

–Como é? Ah, tanto faz.- Eu estava muito desconfortável com os braços cruzados parada na frente dele - Eu só vim pedir pra fazer menos barulho, eu tenho que trabalhar amanhã.

– Amanhã é sábado, Miranda. – Ele soltou uma gargalhada gostosa cheia de humor- Ahn, me desculpa, ok? É que a minha geladeira começou a fazer um barulho estranho e eu tive que tentar parar.

– Tudo bem, você é tipo um faz-tudo então?

– Na verdade, só um cara que acha que pode consertar as coisas – outro sorriso – Mas se precisar de ajuda com algo, pode me chamar. Juro que não cobro nada.

– Pode deixar, Nathan – Bati uma continência pra ele, esquecendo-me completamente do sutiã. Droga. – Melhor eu voltar a dormir. Boa noite, vizinho barulhento.

– Boa noite, vizinha rabugenta – ele me retribuiu a continência rindo.

*****

Acordei horas depois. O relógio mostrava que eram dez horas, bem melhor. Procurei meu celular no meio das cobertas e não o achei. Onde que... AH!

Levantei e peguei o celular que estava no chão. Por sorte a tela não tinha quebrado. Era uma mensagem do Thomas, meu irmão.

“Miry, como tu já sabes, meu aniversário é daqui a dois dias. E eu realmente não to afim de ficar aqui em ‘casa’. Posso passar uns dias aí contigo ?”.

Tom é mais novo que eu, está fazendo quinze anos. Ele mora com os nossos tios, já que nossos pais estão ausentes.

Meu pai, Henry, foi preso a alguns anos atrás. Parte da minha infância foi péssima por esse motivo. Lembro-me quando meu irmão me contou a notícia com lágrimas nos olhos. Foi um dia horrível e eu detesto falar sobre isso.

Minha mãe, Nancy, viajou para longe dois anos depois que meu pai foi preso. Ela não conseguiu cuidar de mim e de meu irmão. Na verdade, eu não culpo ela, foi uma época difícil pra todos nós.

Como não tínhamos com quem ficar, fomos ‘adotados’ pelos nossos tios. Mas eles são pessoas detestáveis. Faziam da nossa vida um inferno e até hoje não sei bem porquê.

Com 16 anos eu fugi de lá e arrumei um apartamento por causa do meu ex. Mas não consegui trazer Tom junto comigo. Tenho pena dele, rezo pra que ele saia de lá logo.

Peguei o celular e o respondi.

“Com certeza, pirralho. Pode vir, mas vai lavar a louça hein. Te amo”