Sabe por que Gray se irritara por estar atrasado? Pois seu vilarejo ficava um pouco distante de Magnólia, enquanto a guilda se encontrava no sudeste de Fiore, sua cidade natal ficava ao norte do país, sendo assim, a viagem seria longa e um pouco cansativa, portanto Gray e Juvia costumavam sair cedo para essas visitas, pois assim chegariam a um bom horário para não se preocuparem tanto com o regresso à guilda. Bem, não foi o que aconteceu dessa vez.

–Meu celular é o culpado desse atraso!!! – O moreno praguejava baixo desde que o bilheteiro passou por eles, Juvia não aparentava se irritar com isso, mas no fundo, ela queria tapar a boca do companheiro, aquilo estava deixando a viagem cansativa e estressante. Os dois não conversavam faz duas horas,apenas um reclamava e a outra aturava.

–Gray-sama uhm... – A azulada chama a atenção do Fullbuster podendo finalmente contemplar o silêncio que tanto gostaria de ouvir – será que não poderíamos conversar? Juvia está se sentindo um pouco enjoada – enjoada de suas reclamações - e ela gostaria de distrair a mente um pouco – mente.

–Ah claro, do que gostaria de falar?

–Qualquer coisa... É apenas para se distrair do enjoo – Dá um pequeno sorriso. Juvia estava sentada de frente para Gray, se pudesse estaria ao seu lado, porém Gray estava “chato” e a chutaria no mesmo instante, então decidiu ficar ali mesmo.

– Não acho que “qualquer coisa” seria um bom assunto – Sorri irônico

–A-ah certo... Deixe-me ver... – A azulada ficou uns instantes pensando, nada vinha à mente, apenas queria que o moreno parasse de falar besteiras. – Por que sua bateria acabou ontem, pensei que seu LPC tivesse uma carga mais duradoura, Juvia se lembra de Gray-sama tê-lo acabado de tirar do carregador antes de sair para a missão. – Isso era realmente a definição de “qualquer coisa”.

–Era o que eu também pensava – suspira – pelo visto a bateria viciou ou... – Ele pensa um pouco tentando de recordar da missão – Ah sim... Lucy ficou usando para falar com Cana, maldita, minha bateria foi pro pau por sua culpa Lucy!! –Volta a praguejar

Quando Gray voltou seus olhos para a acompanhante, ele teve a súbita vontade de rir, Juvia estava com a cara torta, puxando e mordendo o cachecol que usava, o nariz estava torcido, seu olhar estava observando o nada, parecia que apenas via o que tinha em sua mente, resmungava incessantemente “rival no amor”, sabia que aquilo se tornava incomodo algumas vezes, mas naquele momento, era realmente engraçado. Ele se ajeitou no assento, pôs um cotovelo no parapeito da janela e a observou com um sorriso, ele não sabia exatamente por que sorria, apenas era o que seu cérebro mandava, o moreno só sabia que aquelas cara e bocas de Juvia haviam se tornado parte de seu cotidiano e não negava gostar,ao menos não negava para si mesmo.

–U-uhm Gray-sama? Algo de errado com a Juvia? – Ela tinha um olhar de pânico, por quanto tempo ele a esteve observando com aquele sorriso idiota?

–N-não, nada de mais, é-é – gaguejava muito, não sabia o que dizer se falasse “Só estava observando suas caretas” ficaria estranho... Ele estaria a chamando de estranha? Não que Juvia não fosse meio “batida da cabeça”, mas seria um tanto sem noção falar isso enquanto ela estava “paranoica”, também não poderia dizer que só gostava de vê-la fazendo isso... NÃO, aquilo não era realmente uma opção – É que acho estranho você ainda acreditar que Lucy é uma “rival no amor” – pensa rápido.

–O que quer dizer com isso Gray-sama?

–Digo... – Engole seco, ele tocou num assunto tabu para os dois – Você sabe... – Gesticulava, dava giros com a mão tentando fazer com que Juvia entendesse o que queria dizer, quem disse que só as mentes femininas eram complexas? A de Gray Fullbuster era tão pior quanto, se assim podendo considerar.

–Juvia não está compreendendo Gray-sama?

–Você sabe muito bem que eu não tenho nada com ela além de amizade né?

Juvia se manteve em silêncio o observando atentamente a cada movimento, qualquer coisa de falasse ou fizesse poderia piorar o que estava horrível!

–Sabe que Lucy é muito mais ligada ao Foguinho do que a qualquer um na guilda, sou apenas um mero amigo... – Por que diabos Juvia estava em silencio? Aquilo estava constrangedor! – Não vai declar...

–Sei disso, se algo que Juvia entende, essa coisa é o amor – o interrompe sorrindo sapeca – Juvia acha linda a amizade deles, uma amizade que não possui barreiras... Ela queria entender por que ainda fica se esfregando em Gray-sama! – Volta a fazer careta.

–ELA NÃO FAZ ISSO! – Gray cora ferozmente, seu tom de voz aumenta pela vergonha chegando a assustar Juvia – Digo... Ela não faz isso, sua doida – “isso doeu Gray-sama!” pensou a azulada – Tenho certeza que a “princesa” é fiel ao seu “dragão” – Dá um sorriso de canto, Gray ouviu muitas vezes a amiga Levy descrever a relação daquela dupla como o “conto de fadas invertido” onde a princesa de apaixonava pelo dragão, e não pelo príncipe. Acabou que até acatou a ideia mirabolante de chama-los pelos apelidos que acabara de mencionar.

–GRAY-SAMA CONSIDERA LUCY-SAN UMA PRINCESA??? –Ele cavou sua própria cova mencionando aqueles apelidos, pelo visto a viagem seria bem, mas BEM longa. – RIVAL NO AMOR! JUVIA ESTÁ INDIGNADA!

–AI CARALHO! NÃO É ISSO JUVIA!! – estavam gritando, chamando atenção até demais dos outros passageiros quando ouvem de longe uma voz gritando “será que poderiam discutir a relação depois?” fazendo-os se olharem e corarem que nem um tomate, suas caras poderiam invejar os cabelos de Erza de tão vermelhos. Viram para o lado com raiva.

O silencio reinou por um tempo, era pior que ouvir Gray praguejar, não era assim que Juvia queria viajar, muito menos o moreno. Ele a espiou de soslaio podendo perceber o rosto rubro e choroso da companheira, aquilo o machucou. O Fullbuster suspira fundo e dá uma chance para consertar as coisas.

–O que eu estou tentando dizer é que você não precisa considerar Lucy uma ameaça, ela já tem o Natsu como núcleo de sua felicidade – Quebra o silencio e volta a olhar pela janela, mas não deixando de observa-la pelo reflexo do vidro, viu sua expressão mudar para um simples sorriso para baixo.

– Juvia concorda em considera-los muito próximos... Mas qualquer um é uma ameaça para Juvia ter Gray-sama só para ela, ela nunca vai deixar uma lambisgoia qualquer ter Gray-sama!! – Anunciou com uma expressão de convicção, o garoto ri com o comentário da azulada, realmente uma maluca, uma maluca que ele não gostaria de perder.

Realmente Gray não fez besteira dessa vez, mais ou menos, eles começaram um pouco mal, porém ele conseguiu dar a volta por cima e estabeleceu novamente à harmonia entre os dois. Conversaram banalidades para passar o tempo, se esqueceram até do suposto enjoo que Juvia havia mencionado. Era longa a viagem, então tinham de passa-la da melhor maneira possível até o destino, que provavelmente chegariam ao final daquela tarde fria e branca.

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Enquanto isso na guilda...

Todos estavam bebendo e se divertindo como de costume, nada de mais...

–Atchoo – Lucy espirra – Atchoo, Atchoo, Atchoo!!! – A loira começa a ter uma crise de espirros

–O que há Luce? Tá doente? – Natsu chega para perto da amiga curioso pela quantidade de espirros que dá.

–Eu - atchoo – não sei – atchoo – acho que é alergia a alguma coisa – Ela tentava se explicar coçando o nariz

–Alergia a-ah Atchoo!! – Natsu também espirra

–AHH A LUCY TÁ DOENTE E VAI CONTAMINAR TODO MUNDO!! – Happy cria um alvoroço, até por que, quem iria querer ficar doente num clima nada favorável?

–Calado seu gato imundo – a maga agarra, aperta e puxa as bochechas do gato azul para os lados – Foram apenas espirros, seu debiloide! – Aquilo soava como uma ameaça.

–Provavelmente alguém está falando de vocês

–Não seja tolinha Mira, não invente bobagens nessa sua cabecinha linda! – Cana dizia batendo com as costas do indicador na lateral da cabeça da albina.

–Ah Mira – Happy chama a atenção da mesma que estava limpando o balcão – Será que Juvia já conseguiu falar com Gray?

–Nesse ponto do dia, ela já deve estar na casa dele...

–Acho que não, pelo horário, bem provável que já tenham partido de Magnólia.

–Tem razão, tem razão! – Mira e Happy começam a conversar esquecendo que ainda seus colegas estavam ao seu redor – Espero que cheguem bem lá!

–O QUE?? ATÉ O HAPPY SABE E EU NÃO? – Cana berrava indignada ao perceber que não apenas Mira, mas Happy também sabia sobre onde Gray e Juvia iam – Tem mais alguém aqui que saiba desse assunto???

–Que assunto? –Lucy se aproxima curiosa por traz da morena

–De onde Gray e Juvia costumam viajar – A bêbada a respondia com uma cara emburrada – Parece que todos sabem menos eu!

–Tá enganada Cana, eu não sei disso não, acho até estranho o Happy saber e a Lucy – Natsu fita a expressão confusa da loira – aparentemente não, do jeito que ela é fofoqueira...

–NÃO SOU FOFOQUEIRA SEU PALHAÇO!- A maga da um tapa na nuca do rosado o calando – Quem é fofoqueiro é esse gato aqui – Lucy aponta para Happy que ainda estava conversando com Mira – Me surpreende ele não ter falado nada para nós, Happy não sabe guardar segredos!

–Sei sim, Lucy! – O exceed surge no meio da conversa chateado com o que a companheira havia falado, aquilo machucou seu ego felino – Tanto sei como até hoje nunca revelei que uma vez em que eu e Natsu invadimos seu apartamento, Natsu sem querer torrou uma lingerie que parecia custar o olho da cara e a escondemos jogando dentro da privada dando descarga para que você não perceb.... – O rosado tampa a boca do amigo com uma expressão de puro pânico e raiva

–XIIIIIIIIIIIU HAPPY! –Natsu já considerava sua cabeça como premio sendo exibida num prato de ouro na casa da loira – Seu boca mole, era segredo!!

–vocês Fizeram O QUE???? – Lucy berrava pausadamente causando mais terror no dragon slayer – SABIAM QUE AQUELA ERA UMA EDIÇAO LIMITADA QUE EU LUTEI PARA TER? –Uma aura negra envolvia o corpo da garota, os dois paspalhos já conseguiam ouvir a marcha fúnebre sendo tocada ao fundo – FOI POR ISSO QUE EU NUNCA ACHEI – Lucy estava de costas pensando alto, subitamente ela vira para Natsu e Happy fitando diretamente suas almas com os olhos castanhos cheios de ódio – Vocês! –Engolem secos – vocês vão conseguir para mim uma lingerie tão cara quanto aquela que eu tinha, e vai ser agora, ou vou torrar também tudo o que vocês amam – Ela falava baixo e devagar, estavam sentindo suas almas sendo sugadas para fora de seus corpos por aquela palavras proferidas pela loira, quase que magia negra.

–M-mas nos te amamos Luce – Natsu ousou retrucar – Você vai se torrar?

Lucy nada disse, apenas olhou mais profundamente para os companheiros e juntou suas cabeças – Se me amassem mesmo teriam me contado sobre o incidente! Querem que eu exploda a cabeça de vocês agora ou preferem usarem-nas para comprar uma lingerie nova para mim? – Ela as aproxima mais um pouco para que começassem a sentir um leve desconforto

–Lingerie nova! – Falam ao mesmo tempo fazendo a loira largar suas cabeças. Os dois saem correndo desesperados por um trabalho e a Heartphilia apenas os acompanhava, certamente uma maneira assustadora e eficiente de fazer com que aprendam a lição e paguem por seus pecados.

–Serio Mira-chan, como aquele gato fofoqueiro sabe e eu não? – Agora Cana expressava um cara de desanimo, ela chama a atenção da albina que sorri de volta.

–Foi um acidente nós sabermos – Ela começa a se explicar – Gray e Juvia estavam num canto sozinhos aparentemente falando sobre isso quando, sem perceber, ouço um pouco da conversa em que ele termina dizendo “Não quero que saibam aonde vamos, vai ficar bem chato caso descubram sobre isso” – Mira tenta engrossar a voz para se parecer mais com Gray alem de fazer uma pose mais “machona” o imitando – Quando eles saem detrás da pilastra esbarram em mim e perguntam se eu ouvi, claro, assenti deixando-os um pouco nervosos, eles pedem para que eu não contasse a ninguém e em troca resumiram o plano, porem, nem eu nem eles perceberam a presença de Happy... Acho que você já entendeu aonde quero chegar né? – Cana balança a cabeça positivamente – Desculpe, por isso não posse lhe contar, foi uma promessa... Para Happy foi mais uma ameaça – Ela ri envergonhada

–Tudo bem... Acho que vou ter que tirar minhas respostas ou do exibicionista ou da Juju... –A morena dá de ombros – Só espero que não estejam comprando bebidas sem meu consentimento! – Brinca

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De volta para a estação de trem onde Gray e Juvia se encontravam...

–Gray-sama, que horas são? – Gray olha para o relógio e a contata que já eram umas nova e quarenta da noite – Poxa... Ainda temos que andar por mais uma hora não é?

–Cinquenta minutos, para te tranquilizar – Como a vila em que Gray morava não havia sido reconstruída, não passa linha férrea, apenas a da cidade em que estava era a mais próxima, assim teriam de andar até os escombros de uma antiga cidadezinha destruída por um demônio e esquecida pelo tempo.

–Tudo bem, já que estamos aqui, não há um por que parar! – Juvia recarrega as energias e sai na frente a caminho de seu destino. A azulada gostava de acompanhar Gray, pois isso o deixava mais “leve”, aquelas viagens para visitar o tumulo tinham um ar mórbido, tendo alguém que irradiava tanta felicidade fazia bem para ele.

A caminhada foi silenciosa demais, quase não trocavam palavras, apenas no momento em que os postes param de existir e a luz em que o ultimo deixou foi ficando fraca e Gray teve de pedir a Juvia que pegasse uma lacrima que exalasse luz suficiente para que não darem meia volta,fora isso, não pronunciaram um sequer ruído.

Os dois pararam de andar quando se deparam com os restos da vila, ficaram de frente a um enorme portão desgastado pelo tempo, era algo deplorável de se ver, estava tudo em escombros e coberto por neve, ver aquela vila fantasma apertava o coração de Juvia, já Gray parecia estar indiferente em relação aquele lugar aos pedaços, como se não tivesse sentimento algum para o lugar onde morou junto daqueles com quem um dia cultivou momentos e memórias. A azulada observa o olhar vazio do companheiro e continuava seguindo-o, passaram por uma espécie do que um dia ter sido um parque, ela imaginou crianças brincando porem uma rajada de vento levou tudo o que imaginava trazendo-a de volta para aquele presente nebuloso. Continuou a vasculhar com os olhos os arredores quando abaixou o olhar e reparou que quase pisou na única vida ali, uma simples florzinha que aguentava aquele frio rigoroso, ela sorriu e a desviou. “Parece que nem tudo está perdido não é? Ainda há algum resquício de esperança...” Pensava.

De repente, o moreno para de andar e fica de pé parado.

–Hum... Está cansado Gray-sama? – Juvia se aproximava dele.

–Não – Gray fixa o olhar para uma cruz de madeira – Nós já chegamos... Só isso – Ele estende o braço e tira a neve da lapide improvisada

O Fullbuster põe cautelosamente o arranjo feito por Juvia na frente da madeira e senta no chão ali mesmo. Não falava, não se mexia, respirava tão silenciosamente que nem sequer aparentava estar vivo, seu olhar estava preso ao buque ora alternando para os nomes gravados “Mika x Silver”, aquela cruz não era a original,foi Gray quem a pôs ali, pelo fato da antiga em que Silver, seu pai, construiu ter sido feita para o filho e esposa falecidos, porem mal sabia que seu primogênito ainda estava vivo e bem. Quando o pai voltou para o lugar que merecia, os prados de ouro, Gray logo deu um jeito de consertar o “erro” montando um memorial novo em homenagem aos pais. Ele sentia falta deles, era obvio, mas nem ao menos admitia para si, Juvia já havia percebido essa necessidade da presença familiar, não o da guilda, mas do de seus parentes de sangue, era por isso que ele ia lá naquele lugar mórbido, não só para prestar honra, mas para alimentar aquele sentimento de vazio que residia em seu coração frio.

–C-como Silver-sama era com você? – A Lockser quebra o silencio, se arrependeu profundamente ao ver o olhar sem vida fitando seus olhos azuis escuros, as orbes de Gray estavam tão nubladas por seus possíveis pensamentos melancólicos que se surpreendeu ver uma centelha brilhando nos mesmos e um sorriso tímido se esboçar na face.

–Sama? Achei que eu fosse o único a ter esse privilegio... – O mago sorri singelamente e vira o corpo para ficar de frente com a companheira. Seu comentário à fez corar de vergonha, ele julgou aquilo fofo, não achava necessidade de tanto acanhamento da parte dela.

–A-ah perdão... É que Juvia acha Silver-sama uma pessoa de respeito... Por isso ela utiliza esse sufixo... – Seu olhar se volta para as mãos em cima dos joelhos, estava embaraçada por Gray ter comentado aquilo.

–Eu também o acho digno de respeito – Põe as mãos e braços para trás se apoiando neles voltando seu para cima buscando qualquer falha entre as nuvens para que pudesse contemplar uma estrela sequer reluzindo seu brilho. Olha de soslaio para Juvia percebendo que a mesma estava brincando com os dedos e percebendo que não a havia respondido – Ah... Respondendo sua pergunta Juvia, tenho vagas lembranças sobre meu passado com meus pais...

–O-oh não se preocupe em me responder, foi falta de educação de Juvia perguntar sobre isso, Gray-sama não precisa de respon...

–Acalme-se, hoje em dia não tenho tanto problema em falar sobre isso – Ele sorri deixando ainda mais vermelha – Foi com um “certo alguém” que eu aprendi a ser menos apegado aos sentimentos ruins... - Juvia não sabia se tinha um ataque cardíaco pela vergonha que sentia ou pela referencia que à ela.

–Tenho uma lembrança engraçada que acabei de me recordar – o moreno volta de seus pensamentos chamando a atenção da azulada – Gostaria de ouvir?

–Sim claro! – Ela estava animada, sempre quis que seu amado se abrisse mais para si, aquele era o momento perfeito, quem imaginaria que Gray deixaria a melancolia de lado e a contaria sobre sua infância – Por favor... – Termina com um sorriso acolhedor.

–Certo... Teve uma vez em que eu era bem pequeno, daquele tipo de criança que ainda se escondia por debaixo da saia da mãe quando via uma barata passar, e eu estava extremamente apertado para ir ao banheiro, mas eu e meu pai estávamos ainda no parquinho,que era umas quatro quadras de onde morávamos. Silver me pôs por cima dos ombros e saiu em disparada de volta para nossa casa... Ele implorava para que eu não fizesse xixi nas costas dele, eu tinha prometido isso, mas quando estamos quase dentro do quintal, não consegui me conter e fiz ali mesmo – Gray pausa para rir um pouco – Daí ele começou a me dar um esporro e eu a chorar, minha mãe apareceu e brigou com meu pai dizendo que ele era culpado por eu estar naquele estado... – ele morde a ponta do polegar – deplorável sabe? Ela me pegou pela mão e me levou para dentro e me deu um banho, depois disso fez uns biscoitos para me consolar, mas toda vez em que Silver tentava pegar um, ela batia na mão dele com a colher de pau... Heh – pausa – eu ainda me sentia culpado por ter inundado a blusa de meu pai, daí quando minha mãe saiu para cozinha eu dei um para ele em pedido de desculpas... – o moreno coça a nuca, suas bochechas estavam rubras por contar algo tão bobo e vergonhoso de sua infância para Juvia.

–Own Gray-sama era tão generoso desde tão pequeno – A azulada dava uma de fangirl, realmente ouvir aquilo da boca de alguém tão frio e que não compartilhava memória alguma era algo que ela podia se sentir orgulhosa.

–P-pare com isso, eu só tinha uns seis anos! Eu era completamente inocente, so queria me desculpar! –Que vontade de colocar a cabeça debaixo daquela neve agora, pensava.

Ficaram conversando sobre essas coisas de criança até perceberem que era meia noite e precisavam voltar. Pegaram as garrafas térmicas que tinha trazido afim de continuar a tomar aquele café e as guardaram.Voltaram até a estação de trem esperando o próximo expresso à Magnólia.Ao se aconchegarem nos bancos dentro do vagão, perceberam o quão frio estava ali, não para Gray, mas a azulada espirrou fazendo-o notar que ela podia pegar um resfriado futuramente. Quebrou todas as barreiras da timidez e fez algo que nunca pensou que faria:

–Ei, sente-se aqui do meu lado, parece que você vai pegar um resfriado se não se aquecer – Foi inconsciente, ao ver a companheira naquele estado não pensou duas vezes em aquecê-la, só não esperava que seu cérebro fosse mandá-lo dizer para se aproximar.

Muito menos Juvia pensou duas vezem em se juntar aquele corpo definido, queria que seus corpos trocassem de calor, queria ficar envolvida por aqueles braços musculosos para sempre e nunca mais sentir frio.

–Gray-sama – Ela o chama, seu rosto estava virado para a paisagem, não queria encara-la depois de dizer algo tão imprevisto e aleatório, agora ele a encarava tentando o possível esconder a vergonha - Se Juvia pudesse,traria ele de volta para este mundo...

Gray se surpreende com o que a amiga diz, aquilo era mais imprevisto e aleatório do que ele havia dito, fitou bem o olhar pesado e sonolento da azulada e se virou de volta para a janela.

–Você já fez o suficiente por ele Juvia, por nós...

Isso foi a ultima frase que a Lockser escutou antes de cair num sono profundo, o garoto adormeceu tempo depois da companheira, era aconchegante ter Juvia juntamente a seus braços, era também como se tudo de ruim tivesse sumido, apenas o calor que trocavam era importante,presumo que ele nunca dormira tão bem, mesmo estando com a cabeça apoiada em seu braço, aquele desconforto não era nada comparado ao aconchego que sentia naquela viagem de volta à guilda.