Opostos que se Atraem escrita por paular_GTJ


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Ah, por essa vocês não esperavam né? Haha
Espero que gostem! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/66408/chapter/28

Eu morri?

Estava quase certa de que morri, afinal, eu havia visto a luz e depois tudo se apagou. Deve ser assim que se morre, não é? Pelo menos é assim que sempre achei que acontecesse.

Tudo bem, então eu estava morta. Contudo, por que sentia meu corpo todo doer? Se eu estava morta, não deveria sentir mais nada, correto? Não deveria respirar, – definitivamente, eu estava respirando. – não deveria sentir meu coração batendo em meu peito e não deveria escutar. Sim, eu ouvia uma leve ‘bip’ ao fundo e um som não identificado.

Tentei, então, mexer minha mão.

Ai, doeu!

- Ness? – Uma vez feminina exclamou de repente. – Meu amor, está me ouvindo?

Hum, com certeza aquela era a voz da minha mãe. Beleza, um a boa noticia no final das contas... Não devo estar morta, afinal, se minha mãe estava aqui, falando e tudo mais... A não ser que ela também...

- Querida, está me ouvindo? – Ela repetiu, e senti um toque levemente quente em minha mão.

Muito lentamente, e me repreendendo por não ter feito isso antes, abri meus olhos. Demorou milésimos de segundos para a imagem a minha frente entrar em foco. Eu estava em um quarto branco, muito bem iluminado, o qual apresentava o clássico e enjoativo cheiro de hospital.

Óbvio, como não me dei por conta antes? Uma televisão estava ligada em um canal de novela, o som do “bip” irritante era o aparelho ao meu lado o qual mostrava os batimentos do meu coração, minha mãe estava sentando em minha cama com um sorriso aliviado, havia tubos enfiados em meu braço esquerdo. Um ligava-se a uma bolsinha transparente contendo um liquido sem cor e o outro parecia ligar-se a... Sangue?

Eca! Ignorei o embrulho instantâneo que senti no estômago. Voltei minha rápida analise, parando os olhos em meu corpo. Uau, eu devo ter me arrebentado mesmo. Havia vários curativos em toda a extensão do meu braço, além de um grande faixa branca enrolada na minha perna direita, a qual estava repousada na cama ligeiramente mais a cima do que a outra. E por fim, o som o qual não pude identificar antes era Charlie dormindo no sofá...

CHARLIE DORMINDO NO SOFÁ?

Voltei minha cabeça rapidamente para a cena, o qual foi uma péssima idéia.

- Ai! – Reclamei, sentindo uma fisgada em meu pescoço.

- Ness, sente dor? Está tudo bem? Quer que eu chame um médico? – Minha mãe se alterou deixando seu sorriso morrer.

Clássico!

- Não, não, relaxa mãe, estou bem. – Assegurei voltando meus olhos, agora muito mais calmamente, para a figura de meu pai com a boca ligeiramente escancarada, a qual produzia um ronco baixo. – O que ele está fazendo aqui?

- Ele não saiu daqui desde que você foi internada. – Reneé seguiu meu olhar, fitando o homem adormecido.

- Como é? – Soltei um riso irônico, custando a crer que ela estava falando sério.

Minha mãe voltou seus olhos para mim com o cenho franzido.

- Ele esteve muito preocupado com você, Ness. Sinceramente, foram raras as vezes que o vi assim antes. – Admitiu, voltando a analisá-lo. – Não saiu desse quarto durante os dois dias que você esteve aqui.

Ergui minhas sobrancelhas para ela. Qual é? Charlie? Preocupado comigo? Por que ele iria ficar... Espera ai um momento...

- DOIS DIAS? – Praticamente gritei, tentando levantar meu tronco, contudo, a dor impossibilitou meu movimento. Voltei a deitar gemendo devido as fisgadas violentas que se estenderam em toda a minha coluna.

Meu pai mudou de posição no sofá.

- Renesmee! – Reneé ralhou, reprovando-me com um olhar severo. – Fique quieta, você está muito machucada.

- Eu fiquei aqui dois dias? – Repeti ainda alarmada com a informação. – Como assim? Fiquei inconsciente? O que aconteceu, afinal?

Eu não lembrava de muita coisa antes de acordar aqui. Tudo bem, minhas últimas lembranças, na verdade, não era algo que eu queria recordar. Senti uma dor ainda mais forte que todas as demais. Uma dor que vieram assim que cheguei à conclusão de que tudo aquilo acontecera de fato. Não fora apenas um sonho. Não. Eu sentia meu coração literalmente em mil pedacinhos dentro de mim.

- Você foi atropelada. – Minha mãe contou, deixando sua expressão transparecer preocupação. – Não entendi direito o que aconteceu, talvez Jacob possa lhe explicar melhor. – Murmurou passando as mãos de leve em meus cabelos.

A pronuncia daquele nome em voz alta fez com que eu me encolhesse. Reneé, porém, não pareceu reparar.

- Jac... Ele esteve aqui? – Perguntei como quem não quer nada.

- Oh, sim. – Ela sorriu, como se aquilo fosse algo realmente bom. – Ele e seu pai não saíram daqui um minuto sequer. Ainda há alguns minutos eu o convenci em ir para casa, descansar. Foi bem difícil, sabe? Ele é tão teimoso quanto você. – Riu. Forcei um riso, mas saiu um pouco engasgado. – Falando nisso, - Reneé não pareceu perceber meu desconforto. – eu deveria avisá-lo. Ele vai ficar louco quando souber que você acordou e...

- NÃO! – Falei rápido, fazendo minha mãe se assustar. – Quer dizer, ele precisa descansar mamãe, depois você conta. – Emendei rapidamente.

Não estava muito no clima de contar a minha mãe que não estava mais namorando.

- É, talvez esteja certa. – Ela ainda parecia desconfiada. Certamente ela deveria pensar que a primeira coisa que eu iria querer fazer era ver meu namorado. Fitou-me por uns segundos a mais, como se me avaliasse. – Mas acredito que eu deva avisar Claire, ela também estava muito preocupada.

- Claire? – lembrei pela primeira vez, desde que acordei, da minha melhor amiga. – Oh, não! Ela já viajou! Eu nem ao menos pude me despedir dela, mas que droga! – Reclamei comigo mesma.

- Viajou? Está maluca, filha? – Voltei meus olhos para minha mãe, que me encarava mesmo como se eu não estivesse batendo bem da cabeça. – Acha mesmo que ela iria viajar com você no hospital?

- Ela não...? – Sorri verdadeiramente, pela primeira vez.

- Claro que não, meu amor. – Reneé revirou os olhos.

- Ness? – A voz rouca de sono de meu pai interrompeu nossa conversa.

Voltei meus olhos para ele, encontrando um grande sorriso cheio de dentes brancos.

- Oi Charlie. – cumprimentei, ainda sem graça por sua preocupação completamente inusitada.

– Bem, acho que vou lá embaixo avisar sua irmã e Edward que você está acordada finalmente, avisar Claire, Phil, Leah e... Jacob, mais tarde. – Finalizou minha mãe ainda estranhando aquela minha distância com o garoto. Levantou-se da cama e depositou um beijo na testa. – Depois eu volto. Descanse.

Assenti uma vez, assistindo ela sair do quarto lentamente. Suspirei assim que a porta se fechou. Voltei meus olhos para a televisão ligada. A novela havia acabado e agora estava passando um desenho animado, aparentemente, muito sem graça.

- Como está se sentindo? – A voz de meu pai chegou aos meus ouvidos, fazendo com que eu o encarasse surpresa.

Ele encontrava-se agora sentando em uma cadeira ao lado da cama. Seus olhos transbordavam preocupação. Franzi o cenho. De onde venho isso, afinal?

- Eu estou... Bem.

Era mentira. Óbvio que era mentira. Não me sentia bem fisicamente, e muito menos, emocionalmente. Contudo, aquela era a resposta mais fácil.

Charlie assentiu uma vez, sorrindo aliviado.

- Hum... Por que eu fiquei tanto tempo inconsciente? – Havia esquecido de fazer aquela pergunta a minha mãe.

- Bem, o médico achou melhor deixar você sedada... Para não sentir tanta dor. Você estava muito machucada, filha. – Charlie fez uma careta ao falar aquilo. Sinceramente, não estava reconhecendo meu pai. – Você não esteve exatamente inconsciente, sabe?

- Como assim? – Franzi o cenho.

- Você ficou... Delirando. Pelo menos no primeiro dia. Segundo Phil foi porque você estava sentindo muita dor, então ele resolveu lhe manter sedada por um dia, para você se recuperar um pouco.

- Oh. – Foi tudo que consegui produzir.

Era muito estranho saber que dois dias haviam se passado e eu simplesmente não os havia visto.

- Está tudo bem mesmo? – Ele insistiu.

- Sim, tudo bem. – Respondi novamente. – Da onde veio essa preocupação toda? – Ergui uma sobrancelha, encarando-o duvidosa.

Charlie não pareceu entender.

- Ah, qual é pai? – Sorri da sua expressão. – Você não faz o tipo de pai convencional, não é?

Para minha surpresa, ele não riu. Fitou o chão com uma ruga em sua testa. Nunca o havia visto assim antes.

- Quando eu soube... Ness, você não faz ideia de como eu fiquei preocupado. – Admitiu, fitando-me ainda com a mesma expressão. – Cancelei todos os shows que eu tinha agendado e...

- Wow, espera ai. – Ergui uma mão para que ele se calasse. Ignorei a pontada de dor. – Você cancelou seus shows? Por minha causa?

Isso é alguma pegadinha?

Fitei seus olhos tentando encontrar algum traço do Charlie que eu conhecia. Não havia nada ali familiar. Seus olhos mostravam preocupação, receio e talvez até arrependimento. Foi então que, muito lentamente, um sorriso tímido e triste surgiu em sua face.

- Como eu podia estar fazendo shows por ai, se a minha fã número um estava hospitalizada?

Minha expressão deveria estar denunciando o quão perdida eu estava. Charlie riu. Levantou-se da cadeira onde estava e sentou-se na borda da minha cama, do mesmo modo como minha mãe estava anteriormente. Tirou sua carteira do bolso e começou e procurar algo lá de dentro.

Mas que diabos estava acontecendo?

Ele, então, encontrou o que estava procurando. Alcançou-me um pedaço de papel dobrado em vários pedaços.

- O que é...?

Charlie maneou a cabeça para os lados indicando que não iria responder nada e indicou o papel em minhas mãos.

Ainda com a testa franzida, o abri de modo lento. Senti, então, meus olhos se arregalarem, minhas mãos tremeram, os “bip’s” ficarem levemente mais agitados e minha mente, simplesmente, não acreditou no que estava vendo.

- Você... V-Você guardou. – gaguejei, ainda fitando o desenho que eu fizera quando era pequena.

Minha voz fininha e aguda soou em minha mente, assim como a lembrança intacta daquele momento. 

– Pai! Pai! Olha só! – indiquei o papel que segurava – Esse é você cantando, e essa sou eu ao seu lado. – expliquei minha obra de arte, contente – Eu sou sua fã número um, olha! – indiquei a facha que “eu” segurava no desenho.

O papel ainda preservava as marcas amassadas que eu mesma produzira, somada com as dobras que meu pai fizera para guardar o papel na carteira.

– Não, não. Não era ninguém. O que você estava falando mesmo? – Charlie dizendo ao telefone calmamente enquanto eu me sentava em sua poltrona cabisbaixa


– Ness? – ouvi a voz de minha mãe perto de mim.  – O que foi? Oh, que lindo esse desenho, foi você que o fez? – ela se sentou no braço da poltrona em que eu estava, passando as mãos de leve em meus cabelos.


 – Tanto faz! – funguei alto levantando-me, e correndo em direção ao meu quarto.

Voltei ao presente e encarei meu pai, que mantinha um olhar avaliativo em mim. Não falei nada. Não encontrava palavras para dizer... Simplesmente não estava esperando por isso.

- Mas é óbvio que eu guardei. – Respondeu minha pergunta anterior. - Foi o presente mais lindo que eu ganhei em todos os Dias dos Pais. – Sorriu constrangido, fazendo uma pausa antes de prosseguir. – E além do mais, foi da pessoa mais especial do mundo. Daquela que era a minha fã número um.

Não sei quando foi que meus olhos se encheram de lágrimas, nem quando tomei coragem para abraçar meu pai com toda força que consegui reunir, ignorando as fisgadas de dor. O fato é que, quando me dei por conta, já estava agarrada no pescoço de Charlie, completamente emocionada com aquilo tudo.

Ele abraçou-me de volta, fazendo um leve carinho em meus cabelos. Ficamos ali por um tempo interminável, apenas tentando estupidamente recuperar o tempo perdido com aquele abraço.

- Desculpe se eu fui ausente. Não sabe o quanto eu me arrependo. – Murmurou rouco, possivelmente também estava chorando.

- Eu também não fui a melhor filha do mundo nos últimos anos. – Admiti, sentindo-me culpada.

- Não mereci muito mais do que isso. – Suspirou.

Afastei-me, voltando a me deitar. Minhas costas estavam doendo bastante agora, não estava mais dando para ignorar.

- Então, será que pode perdoar seu velho pai por... Tudo? – Pediu depois de uns minutos em um silêncio constrangedor.

- Hum. – Fingi pensar por um momento. – Sabe... Ainda sou sua fã número um. – Sorri tentando fazer com que ele entendesse que aquela minha frase respondia a sua pergunta.

Charlie retribuiu meu sorriso, dando-me um beijo estalado na bochecha. Sentia-me feliz. Pelo menos, um pouco feliz. Como se uma parte do meu coração agora estivesse inteiro.

Uma parte apenas.

(...)

Eu estava cansada. Eu sei que estava deitada em uma cama sem fazer nada, além de falar, o dia inteiro, contudo sentia sono o tempo todo – o que suponho ser efeito dos remédios -, além da dor que sinto a cada mínimo movimento que faço.

- Está com fome? – Charlie perguntou minutos depois de Bella e meu querido cunhado finalizarem sua visita.

Surpreendi-me em como minha irmã foi amável comigo. Parecia até que ela gostava realmente de mim... Ta, eu estou brincando, eu sei que ela me ama e tudo mais, mas ela nunca foi tão simpática assim desde que... Bom, desde que eu me conheço por gente.

- Não, estou bem. – Analisei meu pai por uns instantes. – Pai? – Ele voltou seus olhos cansados em minha direção, preocupado. Havia olheiras profundas ali. – Por que não vai para casa e dorme um pouco?

- Eu estou bem, filha. Não se preocupe coOomigooOo. – O final da sua frase foi interrompido por um enorme bocejo.

Ergui uma sobrancelha pra ele, fazendo-o revirar os olhos e rir.

- Eu estou bem, é sério! Além do mais...

Parei de falar assim que ouvi dois toques na porta. Charlie levantou-se cansado e caminhou em direção a porta praticamente se arrastando. Eu franzi o cenho. Ele precisava descansar, mas que teimoso!

- Claire! – murmurei contente assim que vi minha melhor amiga entrar no quarto com uma expressão séria.

- Oi, amiga! – cumprimentou-me parecendo aliviada. – Você está muito melhor!

Eu deveria estar um trapo mesmo da ultima vez que ela me viu, uma vez que eu ainda estava assustada com meu estado deplorável. Bella havia me ajudado a ir ao banheiro antes e olhei-me no espelho pela primeira vez desde que acordei. Devo dizer que me surpreendi com o que vi. Havia um enorme curativo em minha testa - onde havia um corte profundo, segundo Bella -, um machucado já mais cicatrizado em minha bochecha, contudo, ainda um pouco grande, e ainda marcas roxas abaixo do meu olho e meu queixo. Sem falar, é claro, nos demais machucados por todo o meu corpo. Eu estava horrível! E ela vem me diz que eu estou melhor?

- Eu jurei que você havia ido viajar. – Comentei fazendo bico, enquanto ela se encaminhava para a cadeira ao meu lado.

Claire revirou os olhos.

- Você bateu a cabeça com muita força, foi? – Brincou.

Mostrei-lhe a língua.

- Pai? – Encarei Charlie, que parecia estar dormindo em pé, na mesma posição em que abriu a porta para minha amiga. Ele assustou-se e voltou seus olhos para mim. – Pela última vez, vai pra casa dormir. – Ralhei irritada. – Depois você volta, eu prometo que ainda vou estar aqui. – Brinquei.

Bom, pelo menos eu consegui tirar dele um mínimo sorrisinho.

- Está certo... Acho que você está bem acompanhada agora. – Bocejou e venho em minha direção. – Mais tarde eu volto. – Beijou minha testa. – Se cuida, gatinha!

- Sempre! – Ri da careta que ele fez com minha resposta irônica.

Assim que ele fechou a porta, voltei meus olhos para Claire, que me encarava com o cenho franzido.

- Que é? – Estranhei.

- O que foi isso? – Ela apontou para a porta em que meu pai saíra e para mim. – Desde quando vocês se dão bem?

- Ah! – Entendi sua expressão.

Todos que já nos viram juntos depois daquela nossa pequena conversa, tiveram a mesma reação. Contei toda a história para Claire e adivinha?

- Você está chorando? – Rolei os olhos, vendo-a limpar discretamente o canto dos olhos.

- São os hormônios! – Justificou-se irritada. – Que lindo, amiga! Eu sabia que ele não era tão ruim.

- É, eu sei. – Suspirei cansada. Malditos remédios, odeio sentir tanto sono.

- E você, como se sente? – Perguntou agora séria.

- Melhor impossível. – Ironizei, fazendo-a revirar os olhos. – Estou... Bem, já estive melhor, né! – Falei por fim, bufando ao mesmo tempo em que brincava distraidamente com o lençol branco da cama.

Ficamos em silêncio por um momento.

- Eu falei com ele. – Ela não precisou pronunciar nenhum nome para eu entender de quem ela estava falando. Voltei meus olhos em sua direção imediatamente. – Ele me contou que vocês... – Claire fitou minha mão direita antes de prosseguir. – Terminaram.

- É. – Foi tudo que consegui falar.

- Ele não me explicou direito o que aconteceu... Na verdade, ele não estava conversando direito com ninguém, sabe? Estava bem preocupado com você.

Bufei rolando os olhos.

- Deve ser a consciência pesada. – Sussurrei sentindo o costumeiro bolo se formar em minha garganta.

- Quer falar sobre isso? – Perguntou incerta.

Sim, eu precisava desabafar, e não havia ninguém melhor no mundo para isso do que minha fiel amiga.

(...)

- Mas que canalha! – Claire exclamou após meu longo relato. É claro que deixei de fora a maldita chantagem da loira oxigenada. – Cachorro! Eu juro que quando o vir... Amiga, pode ficar tranqüila, eu vou dar um jeito nele e... Pode apostar que ele nunca mais vai poder reproduzir!

- Claire, acalme-se. – Sinceramente, não duvidava que minha amiga fizesse alguma coisa do tipo mesmo. Por mais que Jacob merecesse, é claro, não iria permitir.

- Acalme-se? – repetiu incrédula. – Nessie, ele é um... Um... Um... – Bufou, sem conseguir encontrar uma palavra coerente para finalizar a frase.

- Eu sei. Não quero mais saber nada dele. – Passei os dedos pelos meus cabelos, sentindo uma fisgada de dor. – E você? Resolveu ficar por aqui, então? – Precisava urgentemente pensar em outra coisa.

- É, por hora. – Respondeu.

- O que quer dizer? – Franzi o cenho.

- Só adiantei a viajem por causa do acidente, amiga. Ainda vou pra lá.

Revirei os olhos, deprimida. Ótimo, mais alguma noticia ruim, por favor?

(...)

Senti, lentamente, meu corpo voltar ao consciente. Era a décima quinta vez que eu cochilava aquele dia. Sinceramente, eu iria falar com aquele médico abusado – sim, era o Phil - para baixar a dose do medicamento, assim não da!

Abri os olhos, ainda sentindo-me cansada. Claire ficara ali comigo durante duas horas, tentando manter-me animada – obviamente, sem sucesso algum. Depois recebi uma breve visita de Leah e Sue, e por fim, minha mãe voltara. A última coisa que me lembro antes de pegar no sono era de um comentário seu sobre como eu deveria prestar mais atenção quando atravessasse a rua. Clássico, não? Depois da preocupação, sempre vem um sermão.

- Ah, você acordou!

A voz que pronunciou aquilo não era, nem de longe, a da minha mãe. Era a voz que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo. Era a voz que uma vez fazia as borboletas adormecidas de meu estômago dançar alegremente, porém, agora, tudo que conseguia produzir era um aperto profundo em meu coração e com que aquele bolo se formasse minha garganta. Era a voz dele.

- V-você. – Gaguejei focando meus olhos no garoto moreno que mantinha um sorriso tímido em seu rosto.

- Ainda bem que você acordou, meu amor! Eu estava tão...

- Eu não sou seu amor. – Cortei-o de imediato.

Jacob calou-se, mudando seu semblante de alivio para tristeza.

- Ness, por favor, você não...

- Sai daqui, Jacob. – Fitei o teto, ignorando-o.

Não queria ouvir o que ele tinha a dizer. Ele era um ótimo ator e eu tinha certeza que cairia em qualquer conversa fiada que ele jogasse para cima de mim. Eu não podia permitir a mim mesma uma humilhação dessas.

Ouvi seu suspiro alto, e, pelo canto do olho visualizei ele abaixar a cabeça e passar os dedos pelo cabelo. Ele ainda usava a aliança.

- Você está sendo infantil. – Falou de repente, fazendo-me voltar à cabeça em sua direção com mais força do que pretendia. Gemi de dor. – Você está bem? – Perguntou, preocupado.

Cínico!

- Infantil? Eu? – Irritei-me ignorando sua pergunta. Os “bips” começaram a ficar mais rápidos agora. – Então me explique, Black, que diabos fazia na casa daquela vaca loira SEM camisa?

Jacob fitou o monitor cardíaco preocupado.

- Ness, se acalme, por favor. – Pediu.

Rolei meus olhos, já cansada de tanta encenação.

- Está tudo bem, Jacob, relaxe. Não o culpo por nada disso... Pode ir pra casa agora.

- Como é?

- Está aqui, e ficou aqui esse tempo todo, porque sua consciência deve ter pesado, não é? Deve estar se sentindo culpado por ter me deixado tão desolada, que nem ao menos tive o trabalho de olhar para o lado quando atravessava a rua. Mas não se preocupe, não o culpo.

Ele permaneceu calado, fitando-me como se eu fosse uma débil mental.

- Acha que estou aqui porque sinto culpa? – Repetiu baixinho.

- E não é? – Retruquei, irritada.

Não respondeu, simplesmente maneou a cabeça para os lados lentamente.

- Sabe qual é o seu problema? – Falou por fim. – Você é muito precipitada. – Não esperou reposta. - É claro que a culpa não é minha de você estar ai. Se você tivesse parado um segundo se quer para me escutar...

- Sim, claro, estou aqui por vontade própria. – Irritei-me. – Diga-me, então, senhor injustiçado, o que você faria em uma situação contrária? Que conclusões tiraria?

Ele não respondeu de imediato, refletiu um pouco antes de dizer.

- Com certeza iria ficar irritado e me indignar, mas eu iria escutar o que você tivesse a dizer antes.

Rolei os olhos. Claro, falar é muito fácil.

- Está certo então, explique-se. – Cruzei os braços, ignorando a dor.

- Tudo bem então. – Fez uma pequena pausa, talvez analisando mesmo se eu estava disposta a ouví-lo. – Eu saí da casa de Quil, depois de ajudá-lo com algumas coisas da mudança e encontrei Jéssica passando mal na rua...

Gargalhei friamente.

- Que clichê, meu bem. Esperava mais de você. – Ele fez cara de quem não entendeu. – Ora, claro. Você então a levou para casa, buscou um copo dágua enquanto ela esperava no sofá praticamente desmaiando e, sem querer, a água acabou caindo toda na sua camiseta, então você teve que tirá-la.

Suspirei cansada.

- Bem, é. Foi isso mesmo.

Arregalei os olhos, voltando-os para ele.

- Ah, você só pode estar de brincadeira. – Balancei a cabeça para os lados não acreditando na hipocrisia daquele garoto.

Jacob analisou-me por alguns segundos.

- Sabe, às vezes fico pensando se isso não é só uma desculpa para acabar o namoro.

Arregalei meus olhos, não acreditando no que ouvira.

- O quê?

Ele deu de ombros.

- Você andou estranha durante os últimos dias... Distante. E depois, simplesmente quer acabar o namoro.

- Simplesmente quer acabar o namoro? – Repeti indignada. – Ora essa, mas você é muito cara de pau, não é? Essa história da Stanley não convenceu ninguém, e mesmo que acontecesse isso mesmo, você acha que eu não percebi as conversinhas em particular com Leah e com as outras vagabundinhas do colégio? E os telefonemas secretos? Qual é, Black, tenho cara de otária por acaso?

Sentia minha cabeça doer. Aliás, o que não estava doendo? Tanto por fora como por dentro.

Jacob abriu sua boca em um “o”, contudo, não falou mais nada. Óbvio, ele não pensara que eu havia percebido esses pequenos detalhes.

- Você é tão absurda. – Disse por fim, levantando-se. – Acho que realmente nós precisamos de um tempo.

- Definitivamente. – Murmurei querendo que aquilo soasse com sentindo duplo, sem fitá-lo.

- Então está bem, eu vou embora.

- Adeus, Black. – Fechei meus olhos, fingindo querer dormir.

- Até mais, Swan. – Ouvi seu sussurro e depois de alguns segundos o som da porta se fechando.

E então, cai em um choro compulsivo.

(...)

- Você ainda não pegou o jeito, não é mesmo? – Claire ralhou comigo, ajudando-me a sair do carro.

Encarei-a irritada. Pegar o jeito? Quem é que pega o jeito de andar com muletas por todos os cantos? Quer dizer, eu já sou desastrada com duas pernas boas, imagina o estrago com uma quebrada?

Então, agora estava voltando para a vida real. Sim, eu estava indo para a escola depois de uma longa e interminável semana. Claire prometeu que ficaria na cidade até que eu estivesse cem por cento curada, portanto estava indo a aula comigo para me ajudar. Na verdade, era apenas a minha perna que ainda me impossibilitava em dizer que eu estava melhor.

As dores haviam passado, – pelo menos a maioria delas – meus machucados já estavam bastante cicatrizados e eu havia tirado os dois pontos que fizera na testa. Claire, Charlie e Reneé praticamente não sairam do hospital. Minha irmã apareceu uma vez por dia para ver como eu estava. Quil foi apenas uma vez, Leah e Sue raramente e Jacob nunca mais.

Havia exatamente uma semana que não nos falávamos e aquilo me machucava muito mais do que qualquer outro ferimento que consegui com o acidente. O assunto tornou-se extremamente proibido em minha presença. Minha mãe e Claire souberam respeitar minha vontade, já Charlie uma vez ou outra comentava a ausência de Jacob.

- Gostaria de ver você no meu lugar. – Comentei enquanto saia do carro com dificuldade. – Tchau pai, obrigada pela carona.

Charlie se prontificou para nos levar para o colégio, uma vez que eu estava impossibilitada de dirigir e minha carona costumeira... Bem, não preciso explicar. Quil não viria para aula hoje, portanto Claire também precisa da carona.

- De nada, filha. Cuide-se. – Acenou para nós duas antes de ir embora.

- Ele realmente está tentando se redimir, não é? – Claire comentou, ajudando-me a colocar a mochila nas costas.

- É, está mesmo. – Concordei. - Pelo menos alguma coisa boa aconteceu nesses últimos dias.

Ela revirou os olhos.

- Você anda muito depressiva ultimamente, sabia? – Comentou pela quinta vez no dia. – O que aquelas garotas tanto olham? – Falou de repente.

Voltei meus olhos para a direção em que ela olhava. Realmente, havia um grupinho de meninas nos olhando muito indiscretamente e cochichando entre si.

- Deve ser pra perna de pau aqui. – Comentei despreocupada.

Com certeza meu acidente já havia sido conhecimento geral. Só não sabia se o motivo dele também. Pode ser que sim, não é? Uma vez que outro grupo de garotas passou por nós agindo do mesmo modo que o primeiro.

Claire manteve-se praticamente calada durante toda a manhã. Aqueles olhares de canto e cochichos toda vez que passávamos por algum lugar já estava me dando nos nervos

- Quer uma foto? - Irritei-me com uma garota morena que não parava de olhar para nós na fila do refeitório.

- Não... Eu... Desculpe. - Falou envergonhada enquanto seu rosto ruborizava. - Meus parabéns. - Disparou em direção a Claire antes de ir embora depressa com sua amiga risonha.

- Ela me deu parabéns? - Minha amiga sussurrou ao meu lado enquanto meus olhos se arregalavam.

Virei-me para ela, observando que estava mais branca que o normal.

- Ela... Calma, não deve ser...

- Claire! Nessie! - Uma voz soou atrás de nós, animada.

Era Leah.

- Oi. - Cumprimentei-a distraída. Estava mais preocupada em segurar minha amiga de um possível desmaio. Iria fazer isso me apoiando apenas com uma perna, claro.

- Que bom que você voltou! - Falou para mim, com um sorriso simpático. - E, Claire, eu fiquei sabendo agora. - Virou-se para a garota. - Parabéns! Está de quantos meses?

Engoli em seco, fechando os olhos com força. MALDITA SEJA STANLEY!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Entao, o que acharam?
Quis postar logo porque estou em falta com vocês né? Espero que tenha ficado bom!
Não prometo postar tão rapido de novo, mas ainda essa semana, pretendo atualizar isso daqui... Tem que tira as teias né? haha
Beijos, e comentem!