Redenção escrita por AngelCharlie


Capítulo 1
Castanho.


Notas iniciais do capítulo

Baseado no episódio "Relevance", da segunda temporada.



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Olhos castanhos sempre foi sua redenção. Enquanto a maioria das mulheres se encanta por olhos azuis e verdes, derretem-se pelo não comum, você se apaixona pela variação do normal. Alguns acham isso complexo, mas na sua cabeça tudo faz sentido.

Sua primeira paixão foi aos 14 anos. Você estava no Central Park, quando um cachorro pulou em cima das suas pernas e começou a latir. O dono logo apareceu, pedindo desculpas, e se ajoelhou aos seus pés para repor a coleira do cão. Ele levantou a cabeça e você se apaixonou ali, pelo tom de castanho mais escuro que você já tinha visto na vida. Era como o castanho lhe tomasse, soubesse sua vida inteira. Era uma cor quente. Seu corpo aqueceu. Você simplesmente não conseguiu desviar os olhos, e o garoto -convencido de que na verdade, você gostava dele- sorriu e perguntou algo que você não escutou.

“Você quer dá uma volta com ele?” O garoto perguntou novamente, começando a estranhar seu comportamento.

“Não.” Foi sua resposta, curta e indiferente. Você imediatamente levantou e virou as costas, deixando o rapaz confuso encarando o seu andar.

Sua segunda paixão foi dez anos depois e você achou que nunca fosse acontecer novamente. Você ainda estava sendo treinada e era apenas um reforço na missão. Tudo que você fazia era vigiar. Sua atual posição era em uma esquina com um quarteirão de distância de onde a operação estava sendo realizada. Você estava propositalmente apoiada em um poste onde a lâmpada estava queimada, pura coincidência, diga-se de passagem. Duas garotas riam de forma escandalosa enquanto andavam de braços dados, comentando em voz alta – você achou isso extremamente irritante- sobre seus respectivos encontros.

“Eu não posso confiar em um cara que não gosta dos Rolling Stones.” A mais alta comentou.

“Pare de ser exigente. Nem todo mundo ouve suas bandas velhas. Você deveria estar atualizada. Talvez ele não confie em uma mulher que não dance musica eletrônica.”

Você rolou os olhos –uma ação cada vez mais comum na sua vida- e encostou-se à parede, com o intuito de ficar mais invisível. Percebendo que seu objetivo tinha sido alcançado, você esperou, desejando que seu celular vibrasse avisando que você poderia sair dali. Como se uma força maior ouvisse seus pensamentos, o aparelho vibrou em seu bolso.

Pizza para o jantar?

Você suspirou. Mais uma missão completa, embora você se sentisse completamente inútil. No entanto, ele disse que você participaria da próxima. Você sabia que a atual missão era algo grande. Envolvia gente importante. Afinal, para que eles precisariam de agentes vigiando cada esquina? Talvez na próxima você entendesse melhor.

Seguindo para casa, você percebeu que estava percorrendo o mesmo caminho que as duas mulheres. Irritada, porque elas ainda comentavam sobre homens, você nem percebeu quando um cara armado apareceu de repente e apontou a arma para elas. Você não reagiria e seguiria seu caminho, mas o seu interior pedia por alguma adrenalina, então você simplesmente andou até eles.

O homem notou sua presença, confuso pela sua falta de expressão. Não havia medo, receio, pavor, hesitação, nada. Apenas um vazio. Aproveitando o momento de devaneio no assaltante, você o desarmou tão rápido quanto tirar uma camisa, chutou o joelhou dele e o fez cair no chão. Com a arma, você deu um golpe só para desacordá-lo.

Você tentou continuar seu caminho, mas uma das garotas segurou seu braço.

“Obrigada.” Ela disse, chocada. A amiga dela te observava incrédula.

Então você a encarou. E foram os olhos castanhos mais claros que você já viu. Eles eram frios e nublados. Seu corpo gelou, e aquilo te agradou imensamente. Sua vontade foi de beijar a mulher a sua frente, querendo aproveitar a sensação de calor que um beijo traria, para logo em seguida seu corpo tremer com os olhos frios. Você queria sentir a montanha russa de sentimentos que isso traria, algo que não era comum na sua vida. Sabendo o quão irracional era aquilo, você apenas balançou a cabeça e continuou andando.

Sentimentos são incomuns na sua vida. Eles quase não existem, mas em alguns momentos, eles estão lá. Apenas como uma memória. Se pessoas com olhos castanhos cruzarem seu caminho, eles são ainda mais frequentes.

Você não sabe o porquê. Não sabe de onde isso nasceu. Apenas que era uma mania, algo que te prendia, algo que te fazia sentir. Alguns castanhos eram viciantes, outros repugnantes, dois foram apaixonantes. A única certeza é que eles nunca te entediavam.

A terceira vez que você se apaixonou você estava amarrada em uma cadeira. Você tinha conversado com a mulher- Verônica- por alguns minutos e não havia notado, porque seu foco era a missão. Michael era a única pessoa pela qual você chegava a se importar e a única que sabia alguma coisa sobre você. Pouco, mas ainda sim. Você precisava saber de tudo do que ele desconfiava. A mulher relatava o que sabia e a apreensão era óbvia em seu rosto. E alguns momentos você desviou a atenção para os olhos dela, mas sua mente ávida mandava você prestar atenção nos fatos.

Até um barulho constante começar a incomodar e você levantou, na intenção de descobrir de onde ele vinha. Quando você abriu a porta e viu a mulher acuada na banheira, você sabia que seria rendida. Sua mente começou a trabalhar em qualquer plano de fuga, todavia foi interrompida pelo choque fixo no seu pescoço.

A mulher dos olhos castanhos amarrou você e logo você descobriu que ela possuía mais informações do que imaginava. Informações que você queria. Você não sentiu raiva ou ódio pela sua atual condição. Afinal, você sabia que ela não iria te matar e que você poderia continuar sua busca.

O único problema daquele encontro foi quando a mulher ajoelhou entre suas pernas e prometeu lhe torturar.

“Eu li sua ficha.” A mulher disse. Você estava começando a ficar curiosa pelo nome dela. “Eu meio que sou uma fã. Eu realmente não queria machucar você. Mas eu preciso do nome. Você deveria saber que tortura quase nunca funciona.” Ela pausou e adicionou com ênfase. “ Quase nunca.”

Ela testou o ferro, e você podia sentir o calor que emanava. Naquele momento, você a encarou e ali estava. Os olhos castanhos lhe perseguindo no momento mais inapropriado.

“O que não disseram na minha ficha...” Você tentou argumentar. “É que eu gosto desse tipo de coisa.”

“Eu estou tão feliz que você disse isso.” Ela rebateu, sorrindo divertida. “Eu também.”

A tortura não aconteceu. O celular dela tocou e ela saiu, dizendo que em breve vocês teriam um novo encontro. Você já não prestava mais atenção. Ela foi embora e tudo o que você pensava era nos olhos castanhos mais indefinidos que você já encontrou. Você não sabia se eram frios ou quentes, sendo que isso era a primeira coisa que você definia. O que te assustava era os adicionais.

Uma tensão foi criada. Uma promessa de tortura que não aconteceu e tinha um tom bizarro de flerte que te prendeu. Você mentalmente prometeu que um dia você encontraria aqueles olhos castanhos.

Dessa vez, você tinha a desculpa da vingança. Você tinha a curiosidade que nunca teve.

Você não sabe o porquê. Não sabe de onde isso nasceu. Apenas que era uma mania, algo que te prendia, algo que te fazia sentir. Alguns castanhos eram viciantes, outros repugnantes, três –agora- foram apaixonantes.

Finalmente um foi indefinido. E você tinha todos os motivos para aprender a definição dele.

Olhos castanhos sempre foi sua redenção.


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