Drowning escrita por Boca de Netuno


Capítulo 1
tamanho único.




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Ele não fazia por mal, Escorpião sabia disso. Peixes jamais faria algo para propositalmente magoar alguém, mas ele estava ficando cansado dessa situação. Ele não escolhera ser puxado pela correnteza que eram aqueles olhos claros, mas já estava muito além da arrebentação para ser salvo. Já confessara seus sentimentos por Peixes, mas Peixes estava sempre perdido em seu próprio mundo para entender a fundo o que Escorpião constantemente tentava lhe explicar. Não era nada novo, aquele cara raramente estava presente na realidade.

Deitado em sua cama, a cabeça de Escorpião circulava numa nébula infinita. Nada lhe vinha à mente, nada que pudesse lhe distrair. Sentia seu peito sobrecarregado, seu corpo inteiro tenso, e nada do sopor se apresentar. Nunca pensou que o písceo lhe aborreceria de tal forma. Não, isso era uma grande mentira. Escorpião não se aborrecia com ele. Se aborrecia em não conseguir se fazer entender. Porque amar Peixes era algo sui generis. Estar perto dele era confortante, despretensioso. Ele emanava amabilidade, e exalava cheiro de sol. Peixes era a brisa num dia quente de verão, era o entrelaçar de mãos, estonteante como uma noite de céu limpo.

De repente, uma batida veio da porta, tirando Escorpião de seu estupor. “Escorpião?” soou a voz, tão baixa que quase não podia ser ouvida. Sem esperar uma resposta, Peixes abriu cuidadosamente a porta e pôs um pé para dentro. “Está acordado?”

Sem olhar para o Peixes, ele se aproximou do canto da cama, dando espaço para o outro. “Entre. Não esqueça de fechar a porta.” Escorpião puxou o cobertor, esperando o outro subir na cama ao seu lado. “Pesadelo?” suspirou, virando de lado, passando uma mão por cima de Peixes e puxando-o mais para o centro da cama.

Peixes sacudiu a cabeça levemente. “Não consegui dormir.” ele sorriu, se ajeitando no travesseiro. “Achei que fosse mais fácil cair no sono se estivesse com você.”

Escorpião não se conteve e deixou um riso sair. “Sou tão enfadonho assim?” Peixes abriu mais o sorriso e escondeu o rosto no peito do outro, colocando seu braço na cintura dele e sacudindo a cabeça mais vigorosamente. Escorpião sorriu e apoiou seu queixo no topo da cabeça de Peixes. A proximidade lhe tirara o aperto do peito, mas fez seu corpo inteiro estremecer de leve, como se o toque do outro trouxesse uma descarga elétrica.

Ao falar de afeição, todos sempre comentam sobre borboletas no estômago, sobre arrepios e palpitações, mas acabam esquecendo de observar como os corpos se encaixam perfeitamente, como a ansiedade se dissipa, como a respiração se torna mais fácil, mais lenta, mais compassada. Não havia nada naquele momento que Escorpião poderia pedir; a não ser, talvez, que o momento nunca acabasse. Ele ficaria feliz em ser levado pela ressaca do mar, de novo e de novo, se isso significasse que Peixes estivesse ali em seus braços. Mas ele não podia se deixar tornar espuma, não podia se deixar extinguir com o vento.

Peixes moveu uma perna para cima da do outro, enlaçando-as, e suspirou. Apesar de manter sua cabeça clara, a pulsação de Escorpião aumentou de tal forma que ele podia a sentir em seus ouvidos, e muito provavelmente Peixes também poderia a escutar. A agitação não era bem-vinda, e ele tentou se deter, traçando círculos morosos no tecido azul da blusa do písceo. Resolveu que deveria tentar mais uma vez, ou acabaria passando a noite acordado. “…Peixes?”

“Hm?” vibrou a voz em seu peito. Ainda soava desperto.

“...Eu te amo.” disse sem mudar de posição, encarando a escuridão que era a parede oposta. Peixes se manteve calado, e ele receou que não fosse haver resposta alguma, até que a voz abafada vibrou contra seu peito outra vez.

“Eu sei.”

E calou-se novamente.

“Peixes, eu quis dizer - -“

Peixes se afastou o suficiente para ficar frente a frente com Escorpião, fitando-o com uma expressão neutra. “Eu sei o que você quer dizer.” e então ele sorriu, tão extensamente que seus olhos estavam quase cerrados. Escorpião sentiu o peso em sua cintura sumir, e a mão do Peixes em seu rosto, traçando gentilmente. Serenamente, Peixes se aproximou, fechando qualquer distância que havia entre eles, selando seus lábios nos dele.

Entre o êxtase e o desfalecimento, Escorpião tentou marcar esse evento em sua mente nos mínimos detalhes: como ele podia sentir o Peixes sorrindo em seus lábios, e seu sabor de meia-noite, como a mão de peixes movera-se para sua nuca, e a inspiração brusca que ele mesmo dera sem notar. Como o Peixes se afastou cedo demais, mas deu um riso abafado, beijando-o na ponta do nariz antes de esconder seu rosto na curva do pescoço dele. Escorpião podia sentir o calor vindo do rosto do outro. Peixes o puxou pela cintura, apertando-o. “Eu amo você… muito.”

Ele nunca esteve tão contente em se deixar afogar.


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Notas finais do capítulo

*sui generis é uma expressão em latim que quer dizer "único em seu gênero"

estou enamorada por Escorpeixes, me deixa

são 04:35 de uma segunda-feira e eu acabei de terminar de escrever. espero que gostem.