Música: Lazy Bones - Green Day

Quando voltamos para casa, nosso “pai” resolveu que iríamos sair para jantar para comemorar a minha reabilitação mental, mas antes passamos em um shopping para eu dar um trato no meu visual. Fomos ao salão de beleza, loja de sapatos, loja de bijuterias, loja de roupas.

Claro que eu renovei meu guarda-roupa e fiz eles verem cada look que eu montava. Acho que os levei à falência nessa ida ao shopping.

Fomos para casa, escolhi um dos looks e fomos para o restaurante. Era um lindo restaurante francês (acho que não foi só o shopping que levou eles à falência). As paredes eram decoradas com um papel de parede que dava a impressão de que você estava em uma masmorra de um castelo medieval. Tudo era iluminado à luz de velas e as mesas, com uma toalha de seda bege, comportavam até quatro pessoas. Mas, como eu tenho um sério problema com frutos do mar e scargô, optei por comer o que o cardápio tinha de mais normal: Gnocci com orégano e manjericão.

Após jantarmos, fomos para casa, pois Erick estava cansado. Eu, por outro lado, me sentia como se pudesse correr uma maratona inteira em menos de 15 minutos! Quando chegamos, Erick foi tomar um banho e dormir, mas eu ainda me sentia um pouco deslocada na casa, já que não me lembrava nem sequer onde era o meu quarto (havia me trocado no banheiro do térreo).

— Você está bem? - Pietro pergunta. – Parece apreensiva.

— Estou, só estou meio perdida. Sei que vivi aqui por 2 anos, mas é como se estivesse entrando aqui pela primeira vez.

— Tá tudo bem, eu acho que isso é normal. Você passou muito tempo naquela clínica. Vem, eu te levo até o seu quarto. - ele pegou minha mão e me puxou escada acima. Abriu a segunda porta à esquerda e me deu passagem para entrar. Quando entrei no cômodo, quase deu pra sentir meu queixo encostar-se ao chão. O quarto era simplesmente lindo. Era óbvio que havia passado por uma reforma recente, já que a tinta das paredes estava brilhando como se fosse nova e alguns móveis cheiravam a madeira nova, também. As paredes estavam pintadas em tons de violeta e azul Royal, a cama era branca, com colchas das cores das paredes. Tinha uma escrivaninha, também branca, com um notebook preto em cima (deduzi ser outro presente de meu “pai”). O guarda-roupa (já estava começando a achar que tinha muito móvel branco) tinha uma porta que era um espelho. A janela tinha um assento com acolchoado violeta. Isso por que eu ainda nem citei que tinha uma porta que levava a um banheiro dentro do quarto.

— É... Lindo.

— Sabia que iria gostar. Você pode crescer, mas o seu gosto pelas coisas continua o mesmo. - ele se virou para sair do quarto e, provavelmente, ir para o dele, mas virou-se novamente. – Mais uma coisa: você ainda tem 16 anos, então, a partir de amanhã você vai para a escola. - minha cara deveria estar hilária, pois ele estava se segurando para não rir. – Papai já providenciou seu material. Tudo o que você tem que fazer é levantar quando o despertador tocar e se arrumar. Boa noite.

— Boa noite. - ele tinha que estragar o meu dia perfeito com essa notícia! Não é que eu não goste de escola. Na verdade, quando era pequena, eu contava os minutos para ir pra escola rever meus amigos, aprender, rever meus amigos, fazer pesquisas, rever meus amigos e rever meus amigos. Mas era uma nova escola, com novas pessoas... Não sabia se iria aguentar ser a aluna nova, ainda mais contando com os boatos que com certeza vão surgir sobre eu ser louca pra ter passado quase 4 anos em um manicômio.

É... Amanhã será um longo dia.

Dia seguinte              

Acordei um pouco antes do despertador. Pouco antes de dormir, havia concordado comigo mesma que quanto mais rápido eu chegasse à escola, mais rápido esse pesadelo acabaria.

Vesti-me, maquiei-me e arrumei o cabelo em cerca de 45 minutos. Sinceramente, o que mais demorou foi a maquiagem. Desci para tomar café e encontrei tanto Pietro quanto Erick na cozinha.

— Bom dia. - disse Erick. – Pronta para o primeiro dia de aula?

— Pronta, sim. Animada, nem um pouco.

— Vamos, vai ser legal! Pra que você não fique tão deslocada consegui que você fizesse várias aulas junto a Pietro.

— Nossa, isso ajuda muitíssimo. - sentiram a ironia? Terminamos de tomar café e fomos andando mesmo para a escola, já que não era tão longe.

— Nervosa? - Pietro tenta puxar assunto.

— Muito. Você tem muitos amigos lá? - eu passava a mão no meu cabelo.

— Mais ou menos. Mas acho melhor você nem chegar perto deles. Boa parte deles é delinquente. A última coisa que você precisa para o primeiro dia de aula é ser pega perto de um deles quando eles estão pichando algum muro ou praticando bullying.

— Ok. Vou me manter o máximo possível longe de você quando seus amigos estiverem por perto, senhor delinquente.

— Ei! Eu não sou um delinquente! 

— Mas anda com alguns. Automaticamente você virá um delinquente.

— Acho que vou começar a repensar minhas amizades. Aliás, como ficou com a língua tão afiada do dia para a noite?

— Passei muito tempo xingando médicos e enfermeiras na clínica.

— Uau. Então, você é a delinquente aqui. - ambos começamos a rir. Finalmente chegamos a escola e Pietro me mostrou o caminho para a secretaria para que eu pegasse meus horários e alguém me mostrasse a escola. Pietro teve que ir para a sala, pois teria aula e não poderia chegar atrasado ou levaria bronca.

— Senhorita Maximoff? - chamou a diretora da escola – Aqui estão seus horários. Já chamei uma aluna para lhe mostrar a escola e... ah, aí vem ela. - uma garota ruiva se aproximou de nós. Ela tinha um ar de liderança e autocontrole, mas parecia que ela escondia alguma coisa – Senhorita Maximoff, essa é Jean Grey. Ela é capitã do time de futebol feminino do colégio, presidente de classe e monitora chefe. Jean, essa é Wanda Maximoff, aquela garota de que lhe falei.

— Muito prazer. - ela disse e estendeu a mão, cumprimentei-a e dei um sorriso meio forçado. Posso xingar médicos e enfermeiras, mas ainda tenho educação! – Venha, vou lhe mostrar a escola.

A tal Jean Grey (que sobrenome é esse?) começou a me guiar pelos corredores, apontando para as salas em que passávamos em frente, indicando as matérias, horários e criticando alguns professores.

— O professor Heron tem uma voz tediosa, então, não estranhe se a maioria estiver dormindo na aula. - passamos em frente à sala de aula que tinha escrito "ciências" na porta e realmente, a maioria dos alunos estavam cochilando.

— Já vi que terei problemas para ficar acordada nas aulas dele. - eu disse e nós rimos.

— A professora Willa, de geografia, grita exageradamente alto algumas sílabas das palavras. - mostrou a professora baixinha que explicava algo no mapa-múndi preso na parede.

Dei um leve pulo devido ao susto que levei quando ela gritou, mais alto do que deveria "EuROpa". Jean riu do meu choque e continuou andando.

— Bom, Maxi... Maximov? - Grey colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, tentando se lembrar do meu sobrenome.

— Maximoff! - corrigi e sorri devido sua confusão.

— Certo, Maximoff, seu "tour" pela escola - Jean fez aspas no ar -, vulgo minha desculpa pra chegar atrasada na aula de história, acabou. Sua próxima aula é de geografia... Boa sorte! - nós rimos ao ver a professora Willa gritar com um aluno – Se quiser, pode me procurar no intervalo. - sorriu simpática.

— Pode ser! - retribui o sorriso. Sempre tive facilidade em fazer amizades.

Grey já andava em direção à sala que teria que ir, quando se virou na minha direção e disse:

— À propósito, adorei a roupa!

Apesar de achar que ela tinha algo de... diferente, senti que seriamos boas amigas.

Pelo menos, acho que poderia considerar que a parte de fazer amizades estava ganha na nova escola.

Wanda 1 X Escola 0