Teenage Dream escrita por LelahBallu


Capítulo 4
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Hey!!
Bye!!



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CAPÍTULO 03

Encarei Sara piscar os olhos como se tivesse saindo de um transe ou de um sonho. Possivelmente dos dois.

— Repete. – Pediu quando finalmente resolveu falar algo, em vez de ficar apenas me encarando com boca aberta e olhos chocados. – Eu não acho que entendi direito. - Soltei um suspiro arrependido, eu deveria ter ficado calada. Por que eu não fiquei calada? Agora eu teria que contar toda a história, e acredite, cada vez que eu revivia mais envergonhada eu ficava.

— Eu beijei Oliver. – Repeti sem humor e me sentando em sua cama. As palavras fazendo o estrago, invocando imagens e trazendo mais perguntas.

— Ok. – Assentiu ainda parecendo tonta com a notícia.  E nem um pouco ok. – Ok. Então... Antes que eu fale qualquer coisa... – Começou hesitante. - Nós estamos felizes com isso?

— Estamos confusas como o inferno. – Murmurei respirando fundo e soltando meu ar lentamente. Era um jeito gentil de se colocar, a verdade era que eu estava surtando. Simples assim. Que diabos eu fiz?! Eu apenas sentei em seu colo e o beijei? Eu me esfreguei em seu colo e toquei minha língua com sua? Eu realmente tinha ido tão longe? O que estaria passando em sua mente agora? E o que diabos Oliver estava fazendo no Dirk?

— Bem... Foi um beijo do tipo “Boa noite”? – Sugeriu. – Algo amigável e inocente? – Perguntou com esperanças. - Talvez possa ser considerado fraternal? – Refleti sobre sua pergunta, lembrando-me sobre o beijo e a forma como me senti beijando-o, lembrando-me da forma como ele parecia sentir também. Da forma como eu queria muito repetir.

— Foi do tipo “Boa noite”. – Murmurei assentindo para ela que soltou um suspiro aliviado, mas ainda sem encara-la, fixando-me apenas no vazio completei. – “‘Boa noite, vamos entrar e transar como dois coelhos.” – Concluí.

— Felicity! – Exclamou surpresa.

— Eu sei. – Murmurei desanimada e baixando minha cabeça, mas quando ergui meus olhos encontrei seu sorriso enorme. Eu não entendia como ela podia passar tão rapidamente de ter esperanças de um beijo casto, a algo semelhante a orgulho por eu ter pulado em cima dele, ela devia estar decepcionada, ou no mínimo tão confusa quanto eu. – Sara!

— O quê? – Perguntou inocente.

— Você não pode ficar feliz com isso. – Neguei. – Não pode me incentivar, e não pode comemorar. Helena fez isso, e eu preciso que pelo menos uma das minhas amigas seja sensata.

— É só que... – Começou ainda sorrindo, então observou meu rosto atentamente e soltou outro suspiro dessa vez cansado. Dirigiu-se até meu lado e se sentou. – É só que... – Recomeçou. – Você sempre foi louca por ele, Felicity. Eu sei que você era, do tipo amor de adolescente, com direito a desenhar corações com as iniciais, escrever seu nome com o sobrenome dele no caderno, fazer testes em revistas pensando nele e até mesmo esconder uma foto dele em seu diário. Esse tipo de amor.

— Eu era ridícula. – Murmurei envergonhada. Lembrava-me de cada momento em que Oliver esteve conosco, eu não precisaria de um espelho para saber que eu exibia o olhar de uma garotinha apaixonada sempre que o observava. Claro que na época eu julgava estar sendo discreta, mas agora... Bem, agora refletindo sobre, minha paixonite por Oliver era tão óbvia que chegava a ser ultrajante ele não perceber. Estúpido.

— Você estava apaixonada. Ele era seu príncipe encantado. – Sorriu. – Um Rock Star. E nem todo mundo tem a oportunidade de beijar sua paixão platônica. É por isso que estou feliz. É por isso que quero comemorar, eu sei que tudo está confuso como o inferno agora, principalmente por que o beijo foi tão... Intenso, mas vocês dois vão encontrar o caminho certo. Eu sempre pensei que eventualmente isso mudaria, iria diminuir até o momento em que você percebesse que já não se sente mais assim. Ou ele se mostraria de alguma forma interessado, sempre pensei que ou sumiria de vez ou a coisa toda ia explodir.  – Ela me encarou parecendo me avaliar antes de prosseguir. – Eu quero sua honestidade, você pode me dizer com 100% de certeza que o que o quer que seja que você sentia por Oliver, que esse sentimento, ele não existe mais?

— Ainda existe. – A hesitação que tinha antecedido a resposta sequer foi por que eu precisava analisar meus sentimentos e me perguntar sobre, foi por que eu não queria admitir. Mesmo para Sara, eu não queria admitir. – E eu tenho medo de que o beijo deixe tudo estranho, de que nosso relacionamento acabe mudando e não de uma maneira legal, Oliver pode se tornar distante, friamente educado, e eu não sei se posso lidar com isso.

— Você não deveria lidar com isso. – Assentiu. – Por que mudar o relacionamento de vocês não significa que será algo ruim, eu sei que ontem eu lhe dei meu melhor discurso de seguir sua vida e de dar uma chance à outra cara que não fosse Oliver, mas o que aconteceu? Você saiu com um cara muito legal, mas voltou para casa com Oliver. Por que é isso que você faz, você ama Oliver, e nenhum homem, não importa o quão divertido, legal, e bonito ele seja, não importa se esse cara tenha apenas qualidades, sempre vai existir um único defeito, ele não é Oliver. Você o ama Felicity, não como uma irmã, e já não mais como uma adolescente, tudo o que você precisa é dizer a ele.

— Se eu tivesse a certeza que nada mudaria...

— Tudo vai mudar! – Sara protestou. – Precisa mudar. Vai continuar fingindo que acha a vida amorosa dele engraçada? Que vê-lo com outra não doí? Diga-me uma coisa Felicity, você conseguirá um dia assistir ao casamento do único cara que amou? Por que um dia, isso irá acontecer. Pessoalmente eu acho que cabe apenas a você decidir se vai estar vestida de madrinha ou de noiva no casamento de Oliver, sua escolha. Qual vai ser?

POV OLIVER

Andei de um lado para o outro com passadas largas enquanto sentia o pesado olhar de Tommy em mim. Eu podia dizer que ele estava confuso com minha atitude estranha, mas eu mesmo estava confuso nesse momento. Com Felicity, com o beijo, com tudo no que acreditei em todos esses anos, meus pensamentos não seguiam uma linha de raciocínio clara, e era por esse motivo que eu me via incapaz de responder a pergunta silenciosa de Tommy que era “O que estava acontecendo?”.

— Ollie. – Escutei a voz de Tommy se erguer impaciente. – Por que você não para um minuto, toma algo forte e me esclarece por que você está tão determinado a fazer buracos no meu tapete? – Parei alguns segundos apenas para lhe lançar um olhar reticente antes de voltar a minha marcha. – Ou você pode continuar o que está fazendo.  – Murmurou encostando-se a parede.

— Ela me beijou. – Murmurei parando bruscamente. Ele me lançou um olhar incrédulo. – Felicity. – Completei para que não houvesse nenhuma dúvida sobre a quem eu me referia. – Felicity me beijou.

— Sua irmã te beijou. – Murmurou sério.

— Ela. Não. É. Minha. Irmã. – Murmurei entredentes e me aproximando dele com passos largos. Ele abriu um sorriso confiante sem sequer se abalar. Antes que eu pudesse piscar senti-o depositar em minha mão a bebida que ele segurava. Encarei o copo em minha mão, e não vi outra escolha se não beber sem muita cautela o quente líquido escuro do Whisky. Eu precisava daquilo.

— Eu sei. – Assentiu. – Eu nunca achei que fosse, mas eu precisava que você falasse isso. Você precisa ser claro, e lutar contra todos aqueles que pensam diferente, e convencer não só a eles, mas também a  Felicity de que você nunca pensou nela como uma irmã.

— Eu...

— Poupe seu fôlego. – Pediu. – Eu não estou dizendo que você teve pensamentos devassos quando ela não passava de uma garotinha descobrindo a beleza de estar apaixonada, mas você também nunca pensou em Felicity como uma irmã. E posso inclusive arriscar dizer que você a amou quase imediatamente. Algumas vezes acontece assim Oliver, não há uma fórmula, não existe um número constante e aceitável que vai determinar em quanto tempo você poderá amar alguém. Às vezes acontece de imediato, o que demora é o tempo que você levará para admitir.

— Você está apaixonado. – Murmurei boquiaberto.

— Inferno. Não! – Negou rapidamente. – Eu vi você se apaixonar por Felicity. – Esclareceu.  – Você a ama. – Deu de ombros. – Você deveria falar abertamente sobre seus sentimentos. Com ela, não comigo que poderia estar muito bem com outra companhia nesse momento. – Acrescentou em tom baixo e impaciente.

— E se ela não me ama? – Perguntei inseguro e ignorando seu momento de rabugice.

— Eu pensei que um homem de 32 anos não seria tão inseguro. – Meneou a cabeça ocultando um sorriso de divertimento. – Você me decepciona Ollie.

— Tommy...

— Ela sempre o amou. Você sabe disso. – Apontou.

— Paixonite de uma adolescente. – Protestei. – Eu era o novo cara, mais velho e diferente dos da sua vizinhança, ela se interessou por mim, por que aos 16 anos sempre procuramos amores que nunca serão retribuídos. Você era apaixonado por nossa professora de artes!

— Ahh eu amava aquela mulher. – Murmurou com nostalgia, ergui uma sobrancelha em desafio. Ele suspirou e sentou-se em seu sofá com irritante lentidão. Tomou seu tempo me encarando antes de voltar a falar. – Eu vejo aonde você quer chegar. E eu concordo... Até certo ponto. Ela pode ter superado o que sentia por você, é uma possibilidade, mas existe a possibilidade de que não, de que ela te ama, e você a ama também, e só não estão juntos pelo o que parece ser eu tenho a habilidade de escolher amigos completamente idiotas!  - Ergueu a voz me lançando um olhar irritado.

— Eu...

— Ela te beijou! – Levantou-se, seu tom voltando a se tornar algo perto do compreensivo. – Se uma mulher beija um homem, no mínimo ela tem alguma simpatia por ele. Desejo. Algo. E se tratando de Felicity...

— Ontem eu a vi beijando outro cara. – Murmurei sentindo aquela mesma pressão que se acumulava contra meu peito sempre que eu a via com um homem que não fosse eu. É claro que eu sorri, claro que brinquei sobre seus relacionamentos, é claro que a deixei pensar assim, essa havia sido uma habilidade que eu havia aperfeiçoado sempre que ela estava por perto, a de ocultar o que eu realmente sentia. Ciúmes, amor, tristeza, desejo. – E hoje ela me beijou para cumprir uma de suas brincadeiras de curso. – Imagens de Felicity caminhando até a mim e sentando em meu colo voltou a entrar em minha cabeça com surpreendente força. Sacudi a cabeça como se eu pudesse espantar as imagens não só de forma figurativa, mas como fisicamente. Eu precisava focar meus pensamentos nas possibilidades, no que poderia acontecer de errado, e se resolvesse falar com ela e estivesse me precipitando?  Encarei Tommy como se ele mesmo pudesse me responder. – Supondo que tenhamos essa conversa, e de que ela ainda pense em mim como algo mais, e se tudo der errado? Ainda há a possibilidade, pequena ou não de que um envolvimento entre nós dois seja um erro, que após um tempo percebemos que não funcionamos como casal e no final teremos perdido a base de nossa relação, eu me importo com Felicity, eu não quero ser o cara que irá acabar a magoando no final. – Confessei.

— Então... – Murmurou voltando a se sentar e apoiar o braço no braço do sofá enquanto apoiava sua bochecha em seu punho, uma postura tão relaxada que me fez ficar ainda mais irritado.

— Então, o quê? – Perguntei entredentes.

— Você vai apenas dizer a ela que tudo bem, que o beijo não foi uma grande coisa? – Perguntou-me com desdém. – Quando ela encontrar um namorado sério irá trancar seus ciúmes e fingir que o aceita em sua família? Quando ela vir até você contando que aceitou o pedido de casamento, você conseguirá felicita-la? – Questionou-me fazendo com que eu engolisse em seco diante a possibilidade. – Eu já posso imagina-la pedindo para que seja seu padrinho. “Oh Ollie, eu seria tão feliz se você fosse meu padrinho.” – Murmurou com voz afetada. Eu queria avançar até ele esmurra-lo por me provocar dessa maneira, mas me contive e apenas lhe lancei um olhar apoplético.

— Felicity nunca me chamou de Ollie. – Escutei-me dizendo bobamente.

— Ela também nunca o chamou de irmão. – Observou me lançando um olhar de desafio. – Talvez, você deva se acostumar quando ela começar a chama-lo assim também.

— Filho da puta. – Praguejei antes de dar as costas ao seu sorriso irritante e abrir a porta com extrema força desnecessária, cego por minha raiva caminhei com passos largos até meu carro e entrei. Soquei o volante e tentei em vão controlar minha respiração que havia se agitado com meu estou. Fechei meus olhos e encostei minha cabeça no mesmo, aos poucos, vagarosamente retomei meu controle. As palavras de Tommy ressoando em minha cabeça, de repente eu tive a visão de um futuro de Felicity em que eu não fazia parte, e isso me machucou mais do que me irritou, machucou de mais. Então uma resolução chegou a minha mente ao mesmo tempo em que eu ligava meu carro e saia da garagem de Tommy. Eu poderia aceitar muitas coisas na minha vida, muita decepção, muita merda, mas eu nunca poderia lidar com um futuro em que Felicity Smoak não fizesse parte. 

Filho da puta manipulador.

Voltei para casa e corri as escadas saltando em dois em dois degraus. Quando parei em frente a sua porta tomei meu tempo respirando fundo, tentando, me obrigando a me controlar, eu queria dizer muitas coisas a Felicity, mas não queria e não iria soltar tudo de forma afobada, quando me julguei mais calmo ergui meu punho e toquei levemente em sua porta, bastou uma leve batida para perceber que havia sido em vão. A porta cedeu ao menor toque indicando que estava apenas encostada, dando um passo para dentro e invadindo sua privacidade, notei que o quarto estava vazio.

Exalei o ar com pesar, eu sabia que amanhã ou até mesmo mais tarde eu não teria mais a coragem de me abrir com ela. Eu podia sentir nesse mesmo momento a coragem lentamente se esvair.  Eu estava lutando com a vontade de apenas me isolar e esquecer a conversa que eu havia tido com Tommy, esquecer que havia tido um beijo, se eu pudesse realmente esquecer algo, na verdade eu gostaria de esquecer a forma que eu me sentia por ela. Eu não podia deixar a coragem se esvair, mas eu não sabia se ela estava com Helena ainda ou se agora ela estava com Sara. Eu havia a confundido, era quase certo que ela não voltaria para casa, eu sabia disso, mas apesar de dizer a mim mesmo que deveria ir atrás dela, ir primeiro na casa de uma e então em outra até encontra-la, eu sentei em sua cama com pesar, perdendo minha coragem e assumindo o verdadeiro covarde que eu era eu deitei em sua cama e encarei o teto, até que meus olhos se fecharam e lentamente, quase sem perceber eu adormeci.

 

POV FELICITY

Entrei em casa com passos hesitantes. Eu era a tola que queria falar com Oliver, mas que andava com passos leves pela casa temendo encontra-lo. Como eu queria tanto alguém e ainda assim meu desejo de vê-lo se rivalizava com a vontade de evita-lo?

Ao não notar nenhuma sombra rabugenta me aguardando na sala, eu soltei um suspiro aliviado, eu sabia que teria que conversar com ele, mas o momento não poderia ser pior. A conversa com Sara tomou outro rumo, em um momento ela estava me dizendo como eu deveria falar com Oliver, no outro ela estava me entregando uma garrafa de tequila. “Você precisa de um gole de coragem”. É claro que como meu corpo era composto basicamente de covardia eu tomei quase a garrafa inteira. Foi Sara que me deixou em casa, arrependida por ter me incentivado a beber abriu a porta para mim e me empurrou porta a frente. Ela também não estava sóbria, pois sussurrou um “Fisga ele.” Antes de fechar a porta.

Então meus passos leves, não eram realmente leves.

Subir as escadas parecia mais como o gigante de João e o pé de feijão caindo do maldito pé de feijão.

Quando abri a porta do meu quarto eu quase caí no chão, me assustei de imediato com a figura masculina deitada em minha cama e parte de mim me perguntava como o intruso não me escutou bater a bunda no chão.  Dei-me conta de que eu não havia quase caído afinal. Eu não deveria ter bebido tanta coragem assim.

Então eu vi quem era o intruso. E tive certeza que eu havia bebido demais.

— Oh Oliver. – Murmurei ficando ajoelhada ao lado da minha cama. Pisquei tentando apagar a visão a minha frente, e estendi minha mão passando por seu corpo, foi então percebi que não era produto da minha imaginação, Oliver realmente estava deitado em minha cama e ele tinha o melhor e mais pesado sono do mundo. Estúpido.  – Ei. – Sussurrei no seu ouvido. – Acorde. – Chamei. Afastei meus cabelos que teimavam cair em meu rosto e pisquei sonolenta, com suspeita inclinei minha cabeça sobre seu peito e escutei as batidas do seu coração. Por um momento considerei continuar assim. Então assimilei o que significava as batidas e me lembrei do porque eu havia feito isso, logo me apressei a repreendê-lo. – Se você está vivo, você não tem direito a dormir em minha cama. – Murmurei aborrecida. Cutuquei seu ombro. – Acorde. Você me deve explicações! – Resmunguei. – Você, seu beijoqueiro atrevido, saia de minha cama.

— Você está bêbada. – Murmurou me surpreendendo ao segurar minha mão que estava prestes a descer em seu peito dessa vez em um tapa.

— Você diz muito isso. – Acusei tentando ficar em pé e quase caindo em cima dele. Ele se endireitou ainda segurando minha mão.

— São que horas? – Perguntou sentando-se. O encarei enquanto buscava em minha mente a informação. Após longos segundos franzi o cenho.

— Heim?

— Esqueça. – Murmurou como resposta. – Você não está em condições de conversar. - Eu queria protestar, argumentar e falar todas aquelas palavras elegantes e cheias de emoções que eu havia imaginado dizer antes, mas tudo o que fiz foi encara-lo longamente. – Você realmente está bê...

— Eu não estou... – Parei me concentrando em não me atrapalhar com as palavras ou gaguejar. – Eu não estou bêbada. Eu posso beijos com você. Digo, beijar você. – Pisquei tentando compreender o que havia dito. – Eu posso falar de beijos com vocês. Dois. Você. Tem dois de vocês? – Murmurei piscando até que a imagem duplicada voltasse a ser apenas um Oliver. Um já me dava trabalho de mais.

— Você fez algo além de beber?  - Perguntou se levantando e fazendo com que eu me sentasse, nossas posições se inverteram e agora era ele que estava agachado em minha frente.

— Só  alguns goles de coragem. – Sorri.

— Felicity... – Murmurou com seu tom de repreensão.

— Cale a boca. – Murmurei finalmente pondo meus pensamentos em ordens. – Você não é meu irmão. Eu tenho muita certeza que ia dizer mais do que isso, mas não lembro no momento, mas foda-se. Eu também não sou sua irmã ou você não teria me beijado. Eu... Eu... Droga. – Murmurei levando minha mão a testa e percebendo que minha cabeça não me deixava ir além. – Saia daqui, eu não tenho mais nada a dizer.

— Eu acho que você ainda tem muito o que dizer. – Observou com um olhar de compreensão. – Amanhã conversaremos. – Prometeu. - Agora você precisa dormir.

— Que se foda esse seu tom preocupado, eu não sou sua irmã. Pare. – Exigi.

— Eu sei que você não é minha irmã. – Murmurou sério. – Eu juro, eu sei.  Mas não me peça para não me preocupar com você, por que eu não vou fazer isso.

— Por favor, Oliver, saia. – Pedi. Minha voz se quebrando. As lágrimas ameaçando sair. - Não era assim que eu queria. – Murmurei me sentindo humilhada, eu estava uma bagunça.

— Eu sei. – Assentiu. – Não é assim que eu planejei também, eu não gosto de vê-la chorar. – Murmurou deslizando um dedo pelo meu rosto, seu polegar alcançando a lágrima solitária. – Odeio ser a razão por você está chorando.

— Eu estou chorando por que estou bêbada. - Meneei a cabeça em negativa, ferida por estar desmoronando em sua frente. – É isso que bêbados fazem.

— Felicity...

— Saia.  – Repeti. - Eu não o quero aqui. Saia. – Exigi. Minha voz saindo afiada, ele estremeceu diante meu tom cortante, não querendo ver sua mágoa eu me deitei encolhida na cama e lhe dei as costas. Escutei seus passos se afastarem e som de porta se fechando. Odiava que ele tivesse me transformado na aquela adolescente apaixonada novamente, eu pensei que havia superado isso. Eu não me prestava a esse papel desde Cooper. E ainda assim naquela época havia sido diferente.

Flashback on

Subi as escadas sentindo a raiva dominar cada parte de meu corpo, sentia meu sangue rugir em minhas veias, e os protestos e desculpas de Cooper ecoar em meus ouvidos. Mesmo longe, mesmo não estando mais em sua casa eu podia ouvi-lo, suas desculpas esfarrapadas, seus argumentos inúteis e finalmente seus pedidos de desculpas fracos, promessas de que não voltaria acontecer.

Como pude ser tão idiota? Como pude me enganar tanto com alguém?

— Como? – Perguntei-me em alto e bom som, encarei o teto acima de mim como se esperasse que alguma divindade me respondesse. Encarei a porta do meu quarto a minha frente e exibi um suspiro revoltado e a ignorei, virei à esquerda e fui até o quarto no fim do corredor. Parei observando a porta em questão e ainda dominada pela raiva a abri sem me importar em bater antes ou me certificar que ele estava lá, ou sozinho. – Por quê? – Perguntei assim que observei a figura masculina deitada na cama.

— Felicity? – Perguntou confuso, sua voz ainda sonolenta. Em outro dia talvez eu o provocasse por estar dormindo no meio da tarde, perguntaria como ele convenceu seu pai de que não era necessário na empresa. Por mais que Oliver fosse um exemplo de responsabilidade no que diz a filial da empresa em Coast City, quando chegava aqui ele evitava pisar na QC daqui. Ele dizia que ninguém o via como algo além do filho do patrão e que como sempre estava aqui no período de férias, ele não se importava em perder tempo provando o contrário. – O que você está fazendo? O que aconteceu? O que ele fez?

— Por que vocês traem? – Perguntei séria. Até o momento tudo que havia me mantido andando era a raiva, só agora ao encarar Oliver ainda meio deitado em sua cama, apoiado em um cotovelo, a mão oposta esfregando os olhos, seu torso desnudo, só ao vê-lo eu me senti realmente traída. Eu não estava apenas com raiva agora, eu estava magoada, eu me sentia ferida. Perceber isso fez com que eu soltasse o soluço preso em minha garganta, as lágrimas finalmente escorrendo em meu rosto. – Por que vocês homem não podem se contentar apenas com uma?  - Minhas lágrimas o despertaram, ele sentou-se rígido seu rosto mostrando a raiva o dominando facilmente.

— Eu vou matar aquele filho da puta. – Prometeu.

— Não seja estúpido. – Murmurei enxugando minhas lágrimas e me aproximando de sua cama. Com um gesto vago indiquei que ele fosse para o lado oposto e me cedesse seu lugar. Provavelmente por ainda estar em choque com a cena que vi, eu não levei um segundo sequer pensando no fato de que eu estava deitando na cama de Oliver Queen. – Eu não quero ter que visitar você na cadeia. – Tentei gracejar, mas o efeito era completamente destruído pelas lágrimas que continuavam a descer. Ele não sorriu, sua atenção estava fixada em meu rosto. – Deite-se Oliver, isso vai ser estranho se você ficar sentado olhando para meu rosto vermelho.

A contra gosto ele deitou-se ao meu lado os braços cruzados sobre seu peito amplo. O observei sorrateiramente, seu rosto permanecia voltado para frente, encarando o teto, mesmo assim eu podia notar a rigidez de sua mandíbula, sinal de tentava se controlar. Oliver provavelmente ainda tinha pensamentos sobre um encontro sangrento com Cooper, mesmo ele não sabendo ao certo o motivo do meu choro. Oliver também muito provavelmente não se dava bem perto de uma mulher chorando, por ele não me encarou até que minha respiração se acalmou, sinal de que minhas lágrimas haviam parado.

— Você está melhor? – Perguntou após um tempo.

— Sim. – Murmurei de volta.

— Você vai me dizer o que ele fez? – Perguntou entredentes.

— Eu acho que o que ele fez já não precisa ser dito. – Retruquei. – Você sabe. Ele me traiu. E é claro que eu descobriria da forma mais clichê possível, indo fazer uma surpresa no dia do seu aniversário. Bem, “surpresa”. – Cantarolei ironicamente. Fixei minha atenção nele. – Por que eu sou a traída e você é que evita me encarar? – Murmurei incomodada que depois do breve olhar após perguntar se eu estava bem, ele voltou a encarar o teto.

— Por que eu não gosto de vê-la triste. – Sua resposta me deixou surpresa.

— O que aconteceu com “Você fica bonita quando chora?” – Brinquei sabendo que essa era uma frase típica usada pelos garotos quando tentam animar suas namoradas ou amigas, quando elas estão tristes.

— Não deve existir beleza ao se fazer uma garota chorar. – Retrucou. Sorri com seu comentário. Oliver poderia ser aquele homem lindo, que a primeira vista era duro e inalcançável. Mas Oliver nunca foi outra coisa se não doce comigo.

— Então você deveria olhar para mim, Oliver Queen. – Murmurei encarando seu perfil. – Por que você acabou de me fazer sorrir.

Seu rosto virou com admirável rapidez tão logo eu terminei minha frase. Seus olhos leram meu rosto em busca de sinceridade. Eu sorri diante sua dúvida e percebi que só estar ao seu lado, só ao escutar suas palavras doces, ele já havia me animado, de certa forma.

— Obrigada. – Murmurei. Ele franziu o cenho confuso.

— Eu não fiz nada. – Murmurou sério.

— Você me escutou. – Expliquei. – E tem o bônus de não ter me expulsado de seu quarto por tê-lo acordado.

— Eu jamais a expulsaria. – Murmurou ofendido. – Eu só não sou bom consolando as pessoas. – Confessou.

— Bem, na próxima vez que uma garota vir chorar em sua frente... – Comecei brincado. – Ofereça seu ombro, a abrace, e a escute. Você está indo bem. – Pisquei.

— Eu pequei em dois pontos. – Murmurou ainda franzindo o cenho.

— Hum?

— Eu imagino que não seja muito tarde para fazer isso. – Continuou ignorando minha pergunta. Segurei uma exclamação surpresa quando senti seu braço forte envolver meus ombros e me atrair para seu peito largo. Ainda sentindo-me um pouco nervosa com essa aproximação ergui meu rosto tentar encontrar seus olhos. – Durma, Felicity. – Veio à ordem imediata.

— Mas eu não durmo à tarde. – Protestei. – Isso é coisa de gente velha. – Ai!- Exclamei ao sentir o pequeno beliscão em minha cintura.

— Eu durmo. – Murmurou ignorando minha reação exagerada. – Então feche seus olhos e sua preciosa boca.

— Como? – Perguntei incerta se havia entendido direito. Ele não voltou a falar, o silêncio que havia se seguido me fez acreditar que ele já havia voltado a dormir. Por um tempo foi o que pareceu, até que ele voltou a quebrar o silêncio.

— Eu sinto muito. – Escutei sua voz soar. – Eu pensei que ele era legal.

— Eu também. – Murmurei de volta. – Acho que ele enganou a nós dois.

— Ele não a merecia. – Continuou.

— Ambos sabemos que você acha que ninguém merece. – Murmurei. Minha tristeza agora vinda da razão pela qual ele pensava assim. Oliver me via como sua irmãzinha que nenhum cara merece estar por perto.

— Ninguém merece. – Reafirmou. – Você é boa demais para qualquer um de nós.

Franzi o cenho ao escutar o “nós”, que ele houvesse se incluído me enganou a primeiro momento, por um breve e fugaz segundo eu me iludi, eu vi uma centelha onde não existia, então a parte racional em mim rapidamente a sufocou. Refleti que ele se referia a nós homens no geral. Deitada em seus braços eu percebi que mesmo esse gesto não era nada além do que fraternal para Oliver. Ainda assim me permiti ser ousada, me permiti murmurar em voz alta a pergunta que teimava vir aos meus lábios, mesmo eu já tendo a respondido.

— Nós? – Perguntei em alto e bom som, mas não houve resposta, hesitante chamei seu nome. – Oliver? – Murmurei ansiosa para ouvir sua resposta, o silêncio foi tudo o que recebi, percebi que já dormia, e que seu comentário havia se perdido pouco antes de sua consciência. Tudo o que me restava fazer era fechar meus olhos, e mesmo não tendo o costume de dormir à tarde, aproveitar de seu carinho, do calor do seu abraço.

Flashback off

Agora eu estava no quarto escuro, o som da porta se fechando ainda ecoando em meus ouvidos. Eu tinha estado triste naquele dia, mas ainda assim havia sido diferente, por que naquela ocasião ele nada tinha haver com o ocorrido, ele foi meu porto seguro, aquele que me acalentou. Com um suspiro cheguei à conclusão que hoje eu teria que me virar sozinha.

Isso até que sentir meu colchão ceder com o peso atrás de mim.

Fechei meus olhos com força temendo se tratar de minha imaginação e que se assim fosse, eu não queria descobrir. Mas o peso de sua mão segurando minha cintura era real demais. A pressão sutil de seu braço me atraindo para seu corpo era real demais, seu queixo apoiando-se ao meu ombro, sua respiração em meu ouvido, tudo isso, não poderia ser produto da minha imaginação. Podia?

— Você está com raiva de mim? – Perguntou com receio. Sua pergunta dando luz a minha pergunta.

— Não. – Murmurei após alguns segundos. – Mas hoje, agora, eu não gosto muito de você.

— Está bem. – Assentiu. – Amanhã eu posso mudar isso.

— Oliver? – O chamei ainda me negando a voltar meu corpo em sua direção e encara-lo. Era mais seguro assim, está envolta em seus braços, mas meu rosto escondido de qualquer constrangimento. Era melhor.

— Sim?

— Nós não vamos poder fugir dessa conversa por muito tempo, não é mesmo? – Questionei sentindo meus olhos cada vez mais pesados.

— Não. – Concordou. – Mas podemos fazer isso amanhã também. Hoje podemos ignorar isso.  Está bem?

— Sim. – Concordei nem um pouco ansiosa para as complicações que podiam vir pela manhã. Passaram-se mais alguns longos segundos, segundos em que julguei que ele já estaria dormindo. Em que eu me arrisquei me mexer, meu braço alcançando sua mão em minha cintura, bastou apenas um toque antes que ele voltasse a falar, interrompendo-me no ato.

— Felicity? – Chamou-me hesitante. Sua voz parecendo até mesmo insegura. – Você ainda quer que eu saia? – Percebi que ele havia entendido errado meu gesto. Sem hesitar continuei o que antes estava decidida a fazer, segurando sua mão puxei seu braço fazendo com que me envolvesse mais ainda, abraçando-me por completo. Sua respiração forte sendo o único sinal de que ainda seguia acordado, aguardando minha resposta.

— Não.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e desculpa tah cheia de pressa, vejo vocês nos coments. Xoxo, LelahBallu.