Apenas Humanos escrita por Beca Valdez


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Vcs podem tentar ler com uma música triste. Talvez ajude, slá.
Boa leitura.



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Capítulo único.

Não, isso não podia estar acontecendo. Definitivamente não podia.

Eu que sempre tentei protege-la de tudo, acabei não conseguindo protege-la daquilo. Como sou idiota...

Ainda assim, ela que sempre fora tão sorridente e bela, estava morrendo. Queria tanto estar no lugar dela, priva-la de toda aquela dor, mas tudo o que eu conseguia fazer era chorar, chorar como uma criança.

...

A guilda estava barulhenta como sempre, se bem que era eu que estava causando boa parte do barulho com meus gritos, enfim, não importa.

–Foguinho maldito. –Gray gritou. Estava vestindo apenas uma cueca. Não me lembro muito bem do motivo de estarmos brigando, também não importa, ele me irritou.

–Cale a boca, olhos puxados. – E soquei sua cara, com raiva. Não muito tempo depois Gray revidou me dando outro soco.

–Parem de brigar! –Erza surgiu do nada, uma aura assustadora emanando dela. Senti um suor frio descer por minha testa.

–O-Ok. –Gray e eu concordamos. Erza pareceu satisfeita. Suspirei aliviado.

Fui até o balcão onde Mirajane estava limpando um copo de vidro com um paninho encardido, me sentei em uma das cadeiras e comecei a vasculhar por todos os lados da guilda uma cabeleira loira.

–Mira, sabe onde está a Luce? –Perguntei para a garota, que apenas deu de ombros e respondeu.

–Não, ela não apareceu por aqui hoje. –Ela respondeu.

Senti alguma coisa borbulhar em meu estômago, um mal pressentimento talvez.

–Vou ir ver se ela está bem. –Disse, me levantando da cadeira. Pude notar um pequeno sorrisinho no rosto de Mira antes de ir embora. Droga, acho que ela já sabia o que eu sentia por aquela maga celestial irritante.

...

Assim que cheguei, notei que todas as luzes da casa estavam desligadas. Pensei que talvez ela não estivesse por ali, mas então percebi que as janelas estavam abertas. Sorri de canto, já atravessando a janela do quarto dela. Sabia muito bem o quanto aquilo a irritava, mas adivinha? Eu adorava irrita-la.

O quarto estava escuro e irradiava por toda parte o cheiro dela. Agradecia de vez em quando por ter um olfato de Dragon Sayler e poder sentir o aroma dessa loira tão intensamente.

Lucy estava deitada em sua cama, quieta, toda coberta por um lençol branco. Sorri.

–Hey, Luce, estou com fome. O que tem para comer? –Perguntei indo até ela. Lucy não respondeu, continuou quieta.

Me abaixei até ficar na altura dela. Tirei o lençol branco que cobria seu rosto e senti meu coração se partir.

Lucy estava horrível. Os olhos muito vermelhos e marejados, o nariz também vermelho e a pele mais branca do que o normal.

–O-O que houve? –Perguntei, preocupado.

Ela fungou, me encarou por alguns segundos com seus olhos achocolatados alucinantes e cheios de água e depois se levantou da cama.

–Já disse para não sair entrando na minha casa, Natsu. –Ela disse, já saindo do quarto. Segui ela.

–Você não respondeu minha pergunta. –Insisti. Lucy acendeu as luzes da cozinha e abriu sua geladeira.

–Está tudo bem. –Respondeu, claramente mentindo, enquanto tirava uma jarra de suco de laranja dali.

–Você é uma péssima mentirosa, Luigui. –Avisei.

–Meu nome é Lucy! –Gritou, emburrada. Dei um sorriso de canto. Sim, era muito bom irritar essa loira.

–Por que não foi para guilda hoje?

Ela deu de ombros.

–Não sou obrigada a ir todos os dias. Aliás, eu podia muito bem ir mais tarde, são só 14:00h. –Botou um pouco do suco alaranjado em um copo qualquer e começou a bebericar o liquido.

Avancei para mais perto dela, mas acabei esbarrando em uma mesinha no meio do caminho, derrubando um papel dobrado no chão. Me abaixei para apanha-lo e curioso como sou, comecei a ler o que tinha escrito.

–Não! –Lucy berrou, derramando seu suco, mas já era tarde. Arregalei meus olhos, meu peito ardia, o que significava aquilo? –E-Eu ia contar, juro que ia, mas não agora.

Balbuciei alguma coisa incompreensível para mim mesmo, ainda em choque. O papelzinho era uma nota médica. Lucy estava com... câncer?

...

Ela tinha levado dois dias para tomar coragem e anunciar aquilo para a guilda. Eu ainda não conseguia acreditar, talvez estivéssemos tão ocupados sendo magos, sendo invencíveis, que talvez tivéssemos esquecido que ainda somos humanos e que humanos são fracos, adoecem e morrem. Balancei negativamente com a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos.

Estava sentado em uma cadeira encostada no canto da parede da guilda, afastado, enquanto Lucy contava para todos que estavam sentados ao redor dela que estava com câncer. Ela chorava muito, queria sair correndo dali e abraçar ela, mas sabia que talvez não fosse adiantar de nada, e de toda forma ela já estava sendo abraçada por Erza, Mira e Lisanna, que também choravam.

Olhei para o teto e suspirei. Por que isso tinha que estar acontecendo com ela?

...

As semanas se decorreram devagar. Eu estava indo praticamente todos os dias na casa de Lucy, juntamente com Happy. Estava importunando Wendy, perguntando se ela de alguma forma poderia curar Lucy com sua magia e a mesma sempre olhava triste para o chão e dizia que não.

Lucy estava tendo cada vez mais dores de cabeça e de vez em quando vomitava. Passava o dia descansando na cama por ordens minhas enquanto eu e Happy comíamos toda sua comida. Também estava fazendo um tratamento com Polyusca por ordens do mestre.

Certo dia, Lucy viera conversar comigo na guilda. Todos continuavam a insistir para ela ficar em casa mas ela era uma baita cabeça dura. Me disse que era um câncer hereditário e que sua avó já tinha tido. Disse também que o câncer não pode ser retirado completamente com a cirurgia e que agora estava fazendo radioterapia com Polyusca.

Sinceramente não entendi nem metade do que ela disse, estava usando muitos termos médicos difíceis, mas ainda assim não consegui deixar de observa-la. Estava pálida, a boca constantemente ficava seca e também parecia ter perdido peso. Como ela ainda conseguia estar tão linda, mesmo nesse estado?

...

De noite, invadi a casa de Lucy novamente. Happy ficou em casa. Não sei ao certo por que eu estava indo na casa dela tão tarde assim, apenas queria me certificar que estava tudo bem. Me pergunto se Lucy estava achando tudo aquilo no mínimo estressante; todos sempre a sua volta, preocupados de que a qualquer passo que ela desse pudesse ser o fim.

Engoli em seco e pulei a janela. A luz da cozinha estava acesa, fui diretamente para lá.

Lucy estava sentada no chão, encostando as costas na geladeira, o olhar distante. Me sentei ao lado dela, mas Lucy não disse nada.

–Ei, tudo bem? –Perguntei, sem olhar para ela.

–Por que estão todos me perguntando isso? Relaxem, eu não vou morrer! – E riu, se divertindo com a situação. Não achei aquilo nem um pouco engraçado. –Bem, não por enquanto.

Bufei.

–Cale a boca, Luce. Você não vai morrer. –Falei, decidido. Lucy deu um sorriso de canto e depois olhou para o chão.

–Natsu... você gosta de mim? –Seus cabelos loiros cobriam seu rosto. Olhei para ela, intrigado.

–Claro que gosto. Você é uma das melhores parceiras que eu já tive. –Respondi.

–Não, não foi dessa forma que eu quis dizer. –Balançou a cabeça negativamente. Agora eu tinha entendido. Senti meu rosto esquentar enquanto olhava para o teto, sério.

–Sim, Luce, eu gosto de você. –Lucy levantou o rosto e sorriu. Um sorriso tão doce, mas ao mesmo tempo tão triste que senti meu coração pesar. Me aproximei dela, devagar, enquanto ela ficava vermelha.

Imaginei por muito tempo como seria beijar Lucy Heartfilia. Era uma das melhores coisas do mundo. A boca dela era extremamente macia e doce.

Senti-a botar sua mão em meu rosto delicadamente enquanto a outra tirava devagar meu colete preto. Já entendia o que aquilo queria dizer.

Admito, as vezes eu conseguia ser bem inocente, mas Igneel tinha me ensinado certas coisas antes de desaparecer. Essa era uma delas.

Segurei a mão dela que tirava meu colete e a encarei seriamente.

–Tem certeza disso? – Concentrei-me em seus olhos, recebendo um outro sorriso.

–Sim. –E então voltou a me beijar, intensa, enquanto passava uma das pernas em volta da minha cintura e ficava em cima de mim.

Tirei sua blusa delicadamente e beijei seu pescoço.

Daria a ela a melhor noite de sua vida.

...

E os dias foram se passando mais uma vez. Estava mais feliz do que nunca. Lucy e eu ainda não tínhamos dito a ninguém que éramos um casal a pedido dela, claro, que dizia que ia ficar completamente envergonhada. Se fosse por mim eu já teria saído gritando pela cidade que estava namorando Lucy Heartfilia.

Ela também parecia estar melhorando, o que me deixava extremamente contente, até que em um certo dia...

–Onde está Polyusca? –Lucy entrou na guilda com um estrondo. Vomitou sangue no chão enquanto apertava a barriga com as mãos. Corri desesperado até ela e passei seu braço que agora estava quase esquelético por cima de meu ombro.

–Polyusca!- Berrei o nome da mulher, com raiva. Droga, cadê ela?

A velha de cabelos róseos apareceu correndo. Veio até Lucy, que respirava com certa dificuldade e a levou até a ala da enfermaria.

Os minutos que se passaram foram torturantes. A guilda estava tensa e em silencio. Gray e Erza me consolavam com algumas tapinhas nas costas, embora não adiantasse muito.

Depois de mais ou menos cinquenta minutos, ou talvez uma hora, Polysca abriu as portas da enfermaria. Dei um pulo da cadeira em que estava.

–Lucy está bem? –Lisanna perguntou, desesperada.

Polysca lançou um olhar triste na direção dela. Me assustei.

–Sim, ela está, mas sinceramente não sei por quanto tempo. O tumor em seu cérebro é muito grande. –Ela disse, baixinho. –Mas vocês podem ir vê-la. Em um grupo pequeno, claro.

Fui o primeiro a sair correndo até a enfermaria. Senti alguma coisa arder no fundo de meus olhos quando olhei para Lucy.

Ela estava tão pálida quanto papel. Lia um livro qualquer sentada na maca. Vários fios se prendiam em seus braços finos. Em sua cabeça já não jaziam mais seus belos cabelos loiros e lisos, todos os seus fios tinham sido raspados.

Ela tirou os olhos do livro por um instante e se virou para mim. Um sorriso brotou em seu rosto angelical.

Pisquei várias vezes, tentando espantar as lágrimas.

Eu não podia chorar. Lucy, que estava sofrendo com tudo aquilo, estava sorrindo. Definitivamente eu não poderia chorar.

Respirei, tentando manter a calma, e me sentei ao lado dela na maca.

–Oi. –Ela disse ainda sorrindo.

–Oi. –Respondi com a voz rouca.

– O que achou do novo visual? –Ela brincou, forcei um sorriso.

–Você continua linda. –Me aproximei e beijei sua cabeça raspada.

–Você não sabe mentir, Natsu.

–Não estou mentindo. –E realmente não estava. Para mim, Lucy ficava maravilhosa de todas as formas.

–Hm... –Ela pareceu se agradar ao ouvir aquilo. Entregou o livro que estava lendo a alguns instantes para mim. –Continua a ler para mim?

–Claro. –E peguei o livro de suas mãos finas e frias.

...

Polyusca agora vinha constantemente para a Fairy Tail. Lucy tinha dado todas as suas preciosas chaves para Yukino, que ficara arrasada ao saber da notícia. Vivia insistindo, dizendo que ela não deveria ter feito isso, mas Lucy simplesmente já sabia da verdade e a aceitava enquanto eu não conseguia aceitar aquilo de jeito nenhum.

Aproveitei cada instante que eu tinha com ela e quando seu dia chegou, foi como se arrancassem minha alma de meu corpo.

Lucy tinha vomitado sangue no meio da guilda novamente. Polyusca a levara às pressas para a enfermaria e depois de uma longa espera, Polyusca apareceu novamente com os olhos marejados.

–E-Eu fiz o que pude! –Ela murmurou, rouca. –Acho que ela não tem mais muito tempo.

Senti o chão sumir sob meus pés ao ouvir aquelas palavras. Meu coração batia assustadoramente rápido.

E mais uma vez corri até a enfermaria. Lucy estava deitada na maca e respirava com a ajuda de um nebulizador.

Ela me encarou afetuosamente. Fui até ela e me ajoelhei ao seu lado na maca. Lucy retirou com certa dificuldade o nebulizador do rosto. Sabia que ela não deviria ter feito isso, mas não disse nada.

Ela acariciou meu rosto, sorrindo.

–A Fairy tail foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida! –Sua voz soava áspera e baixa. Olhei para trás. Toda a guilda estava ali, todos com os olhos encharcados encaravam Lucy. Ela lançou o olhar de volta para mim. –E eu não estaria nela se não fosse por você.

Me lembrei do dia em que conheci Lucy. Tinha a puxado comigo e a trouxera para a Fairy Tail. Uma memória tão boa que agora parecia tão distante.

–Ei, calma. Você ainda vai ter muito tempo para me agradecer por isso. –Tentei soar calmo.

–Foi... Foi um prazer ter você como parte da nossa família, Lucy. –Soluçou Makarov, que já chorava muito. Fez então um sinal, levantando o dedo indicador e o dedão da mão. A guilda todo fez o mesmo sinal.

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela. Pôs a mão na boca, tentando abafar um soluço. Engoli em seco.

–Vou sentir saudades das nossas brigas. –Ela soluçou, olhando para mim de novo. –Do jeito que você me protegia. Do que...

Calei-a com um beijo salgado, graças as lágrimas que não paravam de brotar do rosto dela.

–Vocês se gossstam! –Balbuciou Happy, também chorando intensamente.

–Sim. –Lucy olhou para o gato azul e sorriu. –A gente se gosta.

A máquina que captava os batimentos cardíacos de Lucy começou a ficar mais lenta. Lucy arfou, buscando ar.

–Adeus, minna. Até a próxima. – A máquina parou, Lucy fechou os olhos. Acabou. Lucy estava morta, tinha morrido com um sorriso nos lábios. Levei alguns segundos para perceber que não era brincadeira, droga Lucy.

Senti meu rosto ficar molhado. Todos começaram a berrar e a soluçar desesperados. Erza me abraçou e eu a abracei de volta, chorando como uma criança.

Sim, Lucy Heartfilia com certeza seria lembrada para sempre em nossas vidas.

Fim


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?Desculpem qualquer erro. Sinceramente não sei muito sobre câncer e tal, então tentei abreviar a coisa o máximo possível.Comentem e bjsss.Ps: Avisem se acharem algum erro



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