Ghost escrita por Pisces


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Foi mais uma brisa minha ouvindo Ghost, da Halsey, onde decidi me concentrar mais em um dos meus casais preferidos, no caso Manigold e Verônica, sendo Thanatos mais como um terceiro. Não custa dar uma chance. Espero que gostem ♥



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I'm searching for something that I can't reach

Virou-se na cama novamente, fitando aquele rosto conhecido como se fosse o oposto. Um demônio preso em um anjo, ou ao menos em quem muito se assemelhava à um. Suas pálpebras abaixadas e seus cabelos escuros deslizando em mechas finas do maxilar ao pescoço, driblando um pouco das ondas naturais de sua anatomia até terminarem sobre as clavículas profundas e nuas sobre o toque suave da ponta de seus dedos. Suas unhas deixavam um risco leve sobre a pele clara da companhia, cursando um caminho que o levasse até os ombros, onde estacionou toda a mão. Não era a mesma coisa, nunca seria. Aquele espaço não era dele e seu nome jamais seria gravado de forma permanente nas toalhas do banheiro. Era um caso de uma noite, prometeu a si mesmo, no entanto sua carência vinha durando bem mais que o planejado.

Melhor dizendo, era a falta dele que o fazia parecer tão displicente. Era o fato de estar abandonando algo que o tornava irresponsável, afinal havia perdido há tempos a capacidade de se importar com o próprio corpo e o que atos carinhosos como aquele poderiam causar em um relacionamento conturbado, em algo que não passava de uma farsa depreciativa. No fim das contas, todos seus erros agora se marcariam em sua pele, toda a dor da ausência ficaria para sempre em marcas que outro homem havia deixado.

My ghost

Where'd you go?

I can't find you in the body sleeping next to me

Esperava um dia conseguir se perdoar por aquela traição. Não à outro e sim a si mesmo. Dizer que amava alguém sabendo que iria deixá-lo apenas porque não conseguia ser mais do que submisso nas mãos que não pertenciam a quem realmente desejava ali. Seu lado da cama, guardado por tantos anos, agora era ocupado por alguém oposto a personalidade arisca, porém afável, de seu verdadeiro amor, a quem todas suas juras de fato pertenciam.

Não tinha como ele saber. Não seria de sua boca que profanaria em voz alta sua real intenção com tudo aquilo. Entretanto, no fim das contas, não fazia o mesmo? Naquele quarto barato tudo o que faziam era encontrar o corpo um do outro como se não estivessem nas mãos de outro alguém. Bom, ao menos tudo o que tinha a dar não pertencia ao mais velho. Coisas que valiam muito mais do que àquela altura um corpo tão coberto por riscos passados e presentes deveria ser avaliado. Não valia nem mesmo um fio daquele cabelo liso enroscado entre seus dedos.

– Eu não consigo gostar de você, Thanatos. - Murmurou baixo, esperando que não ouvisse. Investiu sem certeza, errou como nunca havia errado antes e se arrependia. Voltava a repetir a si mesmo o que nada daquilo o deixava feliz, então como foi que chegara à um beco sem saída? Uma curva sem retorno? Como se deixou perder por mero desejo de esquecer alguém? Sentia-se enlouquecer, no entanto sem que conseguisse voltar a fazê-lo nos braços de quem realmente conseguia tirá-lo dos eixos sem esforço. - Nem nunca vou.

I'm off the deep end, sleeping

All night through the weekend

Saying that I love him but

I know I'm gonna leave him

Sempre voltaria. Talvez ele não o fizesse, mas era como se tudo ocorresse de forma que não havia possibilidade de controle em suas mãos. Tudo parecia tão confuso, tão errôneo que aquela já havia se tornado uma palavra repetitiva em sua rotina. O que receberia se o implorasse? Se dissesse realmente o que seu coração gritava cada dia mais, independente do quão estraçalhado pudesse estar nas mãos de Thanatos, tentando preencher em vão um vazio assinado pelo italiano em letra cursiva.

Respirou fundo, apertando os olhos. Não, ele não o queria. Já havia dito, insultado, humilhado qualquer possibilidade que nunca soube lhe estender de forma clara. Sentia-se degradado, sujo. Como se sua existência não valesse a mosca pousada entre a imensidão de sua cabeleira dourada. Afinal de contas, o Deus de seu mundo havia abominado a própria criação, deixando-a a mercê de pecados tão reais e promíscuos como nunca se imaginou capaz de cometer.

“Eu sei que quer ir para o céu, mas esta noite você é humano”, tão porcamente humano quanto qualquer um desejaria ter sido, entregando-se da forma menos puritana para um sociopata sadista. Deixou-se marcar das formas mais degeneradas e insanas de toda sua existência, tornou-se o que no fim das contas ele o julgava ser. Nada. Apenas algo a ser usado e descartado. Um “rosto bonito”, mesmo com toda aquela maquiagem.

Soluçou baixo, levando as mãos até os lábios, abafando com dificuldade o que fazia toda a noite após o mesmo ato. Por semanas, por meses. Talvez fosse capaz de levar aquela farsa por mais alguns anos, afinal era como se nunca faltasse parte em sua alma para ser corrompida. Quando a primeira lágrima escorreu, umedecendo os cílios e encharcando as ondas de seu cabelo comprido, teve a certeza de que não funcionara. Mais uma vez, e de novo, e de novo, quantas fossem necessárias para aceitar um fato constatado.

Verônica era singular. Não amava Thanatos. Não era amado por Manigold.

You say that you're no good for me

Cause I'm always tugging at your sleeve

And I swear I hate you when you leave

But I like it anyway


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