As lágrimas quentes que escorreram dos olhos assustados de Lindsay inundaram sua face por completo, era como se uma grande enxurrada decidisse acomodar-se em sua pele. Nem ela sabia, até aquele momento, que poderia chorar tanto como chorou diante do 'corpo' de sua amada irmã.

Uma gargalhada rouca e estranha ecoou atrás de si, o desconhecido ria incontrolavelmente, como se tudo aquilo fosse algum tipo de Stand Up ou algo parecido. E se realmente fosse? Conhecendo bem a criatura aparente á ela, sua irmã querida poderia preparar qualquer 'pegadinha' ou armação engraçada para assustá-la. Assim, Lindsay virou-se enxugando as lágrimas, de moça abatida e desesperada, passou á mulher enfurecida que seria capaz de matar alguém apenas o olhar.

O francês ali presente tentou manter sua postura séria de homem enfurecido, como antes o planejado, mas não conseguiu, pois sua risada era mais forte do que qualquer fingimento poderia ditar. A detetive cerrou os punhos em sinal de raiva, aproximou-se dele com intenção aparente de esclarecer a razão de tantas gargalhadas vindas do mesmo.

–Isso é um planinho macabro de vocês dois, não é?-ela perguntou p empurrando pelo peito.

–Como assim? Não tem nada de plano, ela...-tentou explicar-se, mas a voz feminina vindo do fundo o impediu.

–Chega,Owen,vamos assumir tudo logo.-a loura aproximou-se dos dois.-Estava com saudades maninha!-sorriu sorrateiramente.

–Você é louca ou o quê? -gritou enfurecida e certamente pensou na probabilidade de esbofeteá-la.

–Calma,foi só uma brincadeira.-justificou seu ato nada normal.-Era só uma pegadinha num reencontro.-disse como se fosse algo natural.

–Minha cara está inchada porque chorei pela sua falsa morte,eu não merecia isso,Elisa Lefévre ! -disse ainda gritando com a irmã,bufou de raiva.

–Também senti sua falta, macaquinha dourada.-a puxou para um abraço forçado.

–Nunca mais faça isso.Também senti muitas saudades.-deixou algumas lágrimas caírem no ombro dela.

–Me desculpe pelo susto, não pensei no impacto que causaria em você. Me perdoa? -elas se olharam e Lindsay disse 'sim' balançando a cabeça.-Que bom!-sorriu.

–Vocês são idênticas mesmo! -exclamou Owen observando a cena.

–Não somos nada. Eu nunca faria uma coisa dessas!

–Calma,macaquinha,ele quis dizer somente na aparência. Owen não consegue se expressar direito, por isso é um bom amigo.

–Amigo?-Monroe arqueou uma de suas sobrancelhas.-Um bonitão desse?

–Amigo,somente um amigo. Esqueceu de que tenho um bom marido?

–Como esquecer? Você me lembra disso á cada ligação e ainda tem o prazer de dizer ...-ela afinou a voz e Elisa revirou os olhos.- 'Macaquinha dourada, você é antiquada e morrerá virgem se não encontrar logo um macho'.

–Eu não falo assim.-cruzou os braços.

–Seja como for, por que está na cidade e não ao lado do seu "bom marido"?-fez aspas com as mãos.

–Vim ver você, boba.- logo que disse,Lindsay soltou gargalhadas artificiosas.

–Me ver, jura? Depois de quatorze anos decidiu do nada vir pra New York apenas pra me ver? Me polpe,né Elisa.

–Ai,não me chame pelo nome, até parece que fiz algo de errado.-Lindsay a encarou ferozmente e ela completou: -Está bem,estou na cidade porque preciso resolver uns assuntos pendentes de negócios, sabe que sou o cérebro da empresa, então...

–É,eu sei. Eu também preciso trabalhar,quem sabe não nos esbarramos por ai?!- deu alguns passos até a saída.

–Macaquinha dourada?-a chamou e ela virou-se.-Desculpa,sei que está chateada,mas...

–Me encontre no bar The Night essa noite, fica aqui mesmo em Manhattan.Nos vemos lá pelas nove,ok?

–Claro,sem problema.-respondeu animada com um sorriso enorme.

–Até mais,doçura.-sorriu formalmente e saiu.

Ao colocar os pés na calçada, respirou profundamente. O que exatamente havia na cabeça de sua irmã quando pensou nesse plano ridículo? Lindsay nem sequer perdeu seu tempo para tentar formular uma respostas válida em sua mente. Recebeu então um aviso em seu paige,correu para pegar um táxi e aparecer na cena do crime solicitada.

Assim que chegou,foi abordada por sua mentora que visivelmente não estava disposta o suficiente para dizer o que aconteceu ali.

–Stella,eu...-foi interrompida de modo inesperado.

–Onde está seu kit?-perguntou a grega olhando para as mãos vazias de sua aprendiz.

–Bom,disse para eu vir o mais rápido, não deu tempo de voltar pro laboratório e pegá-lo.

–Foi comprar o tal café tão longe assim?

–Me desculpe por isso.-abaixou a cabeça em respeito.

–Ei,Lindsay!-Danny se aproximou com uma maleta em mãos. -Aqui está seu kit,havia esquecido no café da esquina.-entregou a maleta de cor escura á ela.

–Esqueci mesmo, obrigada.-os dois se entreolharam graciosamente.

–Agora vá e faça o que tem de fazer.-ordenou seriamente.

–Sozinha?

–Sabe como processar uma cena, não sabe?

–Sei, mas...

–Então vá e faça o que sabe.- disse e caminhou até a legista que entrara em seu veículo.- Tudo certo por aqui?

–Desde quando se preocupa?-a morena não a olhou.

–Está diferente, um pouco abatida.Aconteceu alguma coisa?-perguntou .

–Stella, não somos amigas nem nada, pra que quer saber?

–Só quero saber se está tudo bem com você e com a Megan.-expressou preocupação ao dizer o nome da menina.

–Minha filha está ótima.Até no necrotério,passar bem,detetive.-colocou seus óculos escuros e partiu.

Stella sorriu explicitamente, sorriso que rasgava sua face. Na verdade, não estava nem um pouco preocupada com a legista chata e mesquinha, mas sim com a filha dela.Stella adorava a menina, era como se nada mais existisse quando ela via a garotinha de apenas nove anos, isso porquê na mesma época em que ela nascera, sua filha também veio ao mundo, porém já sem vida. Ela realmente via o reflexo de sua pequena nos olhos de Megan, olhos fortemente azulados assim como os da mãe. Isso era algo que ela apenas havia compartilhado com seu melhor, talvez único amigo,Mac ,que não julgou-a por sentir-se da forma que se sente com relação á garotinha e mesmo se julgasse, ela simplesmente não se importaria.

Quando ficaram sozinhos e quase perto um do outro,a loura teve de agradecer mais uma vez por ser 'salva' pelo seu colega,caso contrário,Stella arrancaria seu fígado ali mesmo.

–Obrigada por trazer minha maleta.-Lindsay disse á Danny que estava perto do cadáver.

–De nada, depois eu peço algo em troca.-deu uma piscadela e ela sorriu.

–E que tal tomarmos uma cerveja essa noite?-propôs o convite sem pensar.

–Seria ótimo, as nove no The Night?

–Aham.-concordou prontamente.

Retornaram á seus devidos afazeres e não mais tocaram no assunto. Lindsay terminou de analisar completamente a cena, recolhendo todo e qualquer vestígio de evidencia possivel.Encaminharam-se para o laboratório e enfim iniciar o trabalho investigativo.

No necrotério,Stella e Lindsay ouviam atentamente as explicações da legista com relação á vitima caucasiana de vinte e poucos anos.

–Ela degustou um maravilhoso jantar ontem á noite, o material estomacal indica vinhos,chocolate,morangos e ainda caviar.

–E como isso nos ajuda com o assassino? -detetive B foi a primeira a perguntar.

–Não disse que iria ajudar. Voltando, ela jantou com alguém, um jantar íntimo eu diria, talvez o companheiro dela a assassinou.

–Com um tiro no meio dos olhos? -Lindsay se pronunciou.- Se ele a amava, não teria a matado.O amor não é assim.

–E o que sabe sobre amor?-Stella perguntou com um ar de ironia.

–Não importa, só acho que ele não a matou, isso parece ser execução.

–Sua aprendiz tem razão,Stella. Execução é a melhor escolha, a bala atravessou a cabeça e ainda não encontraram a cápsula, e tem mais...-acercou o cadáver na mesa e levantou o lençol branco que o cobria. -Estão vendo essa tatuagem?- indicou os traços na nuca da vitima.

–Eu conheço essa tatuagem. É da máfia francesa.-a loura disse satisfeita.

–E como sabe disso, Lindsay?

–Sempre me disse para pesquisar e acabei descobrindo isso.Também tenho meus contatos na França e eles irão te garantir que essa jovem era membro da máfia, isso com certeza foi uma execução.Agora só precisamos saber por parte de quem.

–Sua garota fez o dever de casa,Stella.Sinta-se orgulhosa.-a legista disse cobrindo novamente o corpo.

–Me sentirei orgulhosa quando encontrarmos quem fez isso.

–Não pense que será fácil,estamos lidando com a máfia francesa que por lá tem título de mais perigosa e perturbadora,quem entra nunca mais sai e se sair,é torturado e morto.Essa garota foi executada pela própria máfia ou gangue rival,a guerra vai começar e teremos mais corpos.-concluiu a aprendiz.

–Está sabendo muito pra quem apenas pesquisou,Monroe.

–Como disse,tenho meus contatos.

–Talvez eles nos ajude a encontrar quem matou essa jovem e evitar que mais mortes aconteçam.Não tem mais nenhuma informção,Peyton? -virou-se para a morena de olhos azuis.

–Por enquanto é só.Continuarei analisando e qualquer coisa aviso.

–Ok.

Lindsay manteve-se calada durante seu deslocamento até o andar do laboratório,Stella estranhou seu silencio e não se conteve,insistiu em perguntar:

–O que você tem?

–Nada.Estou pensando.-respondeu prontamente.

–Espero que seja em como seus amigos franceses irão nos ajudar nesse caso,pois é o que importa.

–Era exatamente isso.-concordou sem dar muita atenção ao que ela havia dito.

–Que bom.

Adentraram então o laboratório e logo foram abordadas por Mac que de modo impaciente encarou sua amiga grega. Seu estresse era evidente,suas veias grosas transpareceram em seu pescoço e suas mãos mantinham-se fortemente fechadas.

–Quem você pensa que é?-o tom arrogante e autoritário do chefe assustou a loura que de imediato afastou-se.

–Por que está falando assim comigo?- Stella aparentava não entender nada.

–Sabe muito bem.-gritou.-Não pode sair por ai se metendo em casinos para alimentar seu vicio e simplesmente colocar meu nome no meio,muito menos arrastar a Addie com você!

–Peraí... o quê?-disse um tanto surpresa.

–Não me faça de bobo,Stella,sabe exatamente do que estou falando .
–Tá,mas não precisa gritar pra todo mundo aqui ouvir.-referiu-se aos olhares curiosos de seus colegas,que pararam de fazer o que estavam realizando para apenas focalizar a atenção na discussão de seus superiores.

– Pouco me importo! Você não é ninguém pra dizer o que tenho de fazer,só não entendo o porquê arrastou minha noiva para um casino ontem á noite.

–Ei,ei...não a arrastei coisa nenhuma,ela foi por livre e espontânea vontade.-ela deu um risinho sínico.-Jamais forçaria aquela mulher a ir num casino comigo.

–Você como policial e cumpridora da lei deveria saber que isso é ilegal,eu poderia simplesmente prendê-la agora mesmo!-deslizou as mãos sobre os cabelos,ainda nervoso.

–Então me prenda.-estendeu suas mãos á ele.-Agora o laboratório inteiro sabe que nas horas vagas visito casinos pela cidade,mas não é para alimentar vicio algum.E você,como meu amigo e chefe,deveria compreender que estava naqueles lugares apenas para fechar um caso antigo e nada mais.Pois é,Mac,acho que não somos tão amigos assim.-deixou uma lágrima teimosa escorrer de seus olhos.

–Stella...

–Me envergonhou na frente de todos,na frente da minha aprendiz bastarda...-apontou para Lindsay um pouco adiante. -Sinceramente,acho que deveria rever sua opção de esposa,porquê a que tem não é a melhor pra você já que distorceu o real motivo da minha presença nos casinos.E outra,não me chame mais de 'amiga' ,seja lá qual era a nossa amizade,ela acaba aqui e agora.E não aceitarei um pedido de desculpas.-deu meia volta e entrou novamente no elevador.

Todos continuaram olhando para Mac até que o mesmo ordenou que voltassem a seus respectivos trabalhos.Lindsay aproximou-se dele e tocou seu braço numa tentativa de o acalmar.

–Ela disse sem pensar,não foi?

–Temo que não.-suspirou.-Acabei de perder uma amiga e provavelmente a confiança e o respeito de todos aqui.

–Ainda tem o meu respeito e minha confiança.

–Ah,voce não conta.

–E por que não? Sou uma aprendiz e não uma máquina que não entende nada.Obedeço ordens,mas ainda sim sou uma pessoa que também tem sentimentos,sabia?-ela fez com que Mac soltasse uma risada involuntária.

–Está bem,Lindsay. Quero que você continue trabalhando no caso,Danny e Adam estão á sua disposição.

–Ok,mas vai ficar bem?

–Tenho a confiança e o respeito de uma aprendiz...bom,acho que ficarei sim.-forçou um sorriso.

–Mac,não leve pro lado pessoal.

–Mas é pessoal.

–Eu sei,sempre que a Stella me trata mal me dizem pra não levar pro lado pessoal...só estou levando á diante uma informação sobre ela,que nada é pessoal!

–Resolverei isso.-afastou-se indo em direção a sua sala.

E mais uma vez a chuva de primavera surpreendeu os novaiorquinos com mais uma torrente de água caindo do céu sem o brilho aparente dos corpos celestes,uma chuva menos 'monstruosa' que a anterior no mesmo dia,mas ainda assim quase uma tempestade tenebrosa.Algo que afetou muitas pessoas,principalmente as que tinham compromisso marcado no horário noturno,horário esse em que iniciou a chuvarada quase sem fim.

Afetada,drasticamente,pelo fenômeno resultante da condensação do vapor d'água,a loura retornou para seu apartamento no Bronx e retirou de seu corpo toda sua vestimenta encharcada. Olhou de relance para o relógio na parede de seu quarto e viu ele marcar quase nove horas,soube então que iria se atrasar para seu encontro com Danny. Droga! Ela havia marcado com duas pessoas ao mesmo tempo e nem sequer pensou nisso quando sugeriu tomar cerveja com seu colega.O que iria dizer á sua irmã,que provavelmente já estava no lugar marcado?

Tentou entrar em contato com a senhorita 'cérebro da empresa' ,em vão. Em todas as vezes que ligou ,recebeu como resposta a voz eletronica da caixa postal e depois de nove tentativas desistiu. Certamente seu objetivo era cancelar o encontro com a irmã francesa e seguir com o plano de beber com Danny,tudo aconteceu contraditoriamente. Lindsay vasculhou seu armário de roupas á procura de outro look que combinasse com o temperatura fria e chuvosa e que ao mesmo tempo fosse casual e elegante o suficiente para o encontro,que a propósito existia apenas em sua cabeça,com seu colega.

Minutos haviam se passado e a loura ainda não enontrara a roupa adequada,o pior era que todas as outras estavam no cesto para lavar,coisa que ela não fez no fim de semana.Odiou-se por não ter o feito! E quando já estava perdendo as esperanças,encontrou seu vestido semi-novo e pouco usado no fundo do armário,suspirou de alegria. Alcançou seu par te botas escuras na prateleira mais elevada e seu casaco nude que ocupava a parte mais abaixo delas.Retocou sua maquiagem nada exagerada e arrumou-se,novamente,da forma mais formosa possível.

Após esperar dez minutos pelo metrô que ficava perto de sua casa,decidiu tomar um táxi qualquer para não se atrasar mais ainda,visto que já se passavam das nove.O sorriso que ela carregava no veículo até o local do 'encontro' destacava-se em seu belo rosto juvenil,mesmo não sendo uma adolescente propriamente dita,ela aparentava ser uma que iria se encontrar com aquele cara bonito e legal do colégio.Antes fosse.

–Por favor,uma dose de Whisky duplo.-a loura encostada no balcão gentilmente pediu ao garçom pela sua bebida.

–É pra já,senhorita Monroe!-sorriu o gato e ela retribuiu.

–Ele a conhece bem,não é?-disse Danny limitando-se apenas á um pequeno espaço entre eles.-Pelo visto vem sempre aqui.

–Não muito,ele só guardou a imagem de uma mulher bonita.-mordeu o lábio inferior.Ele soltou um risinho.

–Achei que havíamos marcado de tomar uma cerveja,só que ai você vai e pede Whisky duplo.Não entendo você,Lindsay.

–Sou uma caixinha de surpresa,meu bem.-o olhou de forma provocativa.

–Não tomou nada e já está bêbada?

–Não estou.-aproximou-se dele.-E não quero apenas beber essa noite.-seus olhos brilhavam enquanto falava.-Quero você comigo.-sussurrou no ouvido dele.

–Lindsay,você está linda e com certeza é uma mulher linda,mas...

–Danny,está dizendo 'não' pra mim?

–Não,não é isso.

–Tem cinco minutos para decidir.-bebeu de vez a bebida servida pelo garçom.-Te espero lá fora.-piscou apenas uma vez,deixou o dinheiro no balcão e então saiu.