A semana havia começado conforme dito na previsão do tempo de dois dias antes.Nessa época do ano,um simples chuvisco se transformava em uma monstruosa tempestade,época também em que mais pessoas eram assassinadas,o que tornava mais difícil o trabalho dos detetives Novaiorquinos.

A forte chuva que caía no lado de fora do prédio da Avenida Lexington,em Manhattan,irritava a detetive forense do andar 35,aprendiz no laboratório de criminalística.O que a deixava com um Q a mais de estresse era ninguém menos que o Segurança ,que a impedia de passar sem o cartão de identificação.

-Como posso saber que trabalha mesmo aqui?-indagou ele.

-Qual é,Tonny?! Você me vê aqui todo santo dia e somos amigos,não somos?-a loura tentou o convencer.

-Acho que não é tão amigo assim do Tonny.Não percebeu que não sou o Tonny?

-Droga!Cadê o Tonny?

-Está de férias e eu estou o cobrindo.

-Entendo.Mas você pode me deixar passar,basta liberar a roleta que colocarei meu lindo dedinho naquela máquina e baterei minha hora de chegada. Ok?

-Sem chance,baixinha.-disse sério e manteve a postura.

-Olha,eu vim na chuva e se fosse o Tonny saberia que odeio chuva.

-Que pena,não sou o Tonny.

-É,agora sei.Até porquê se fosse ele já teria me deixado passar. Não pode simplesmente me ceder um pequeno espaço para minha passagem?-com jeitinho fez cara de coitada que quase o convenceu.

-Hã...-pensou por frações de segundos,mas sua resposta continuou sendo negativa.-Não,não posso e não deixarei entrar sem seu cartão.

-Droga.-resmungou ela.

-Bom dia,Cal!-detetive Bonasera o cumprimentou ao chegar.

-Bom dia,senhorita B.-sorriu de modo amigável.-Dormiu bem?

-Claro que sim,e voce?

-Sonhei com uma detetive maravilhosa de cabelos cacheados e um olhar penetrante,era você,então não tem como ter dormido melhor.-a olhou com ternura.

-Ah,Cal!- o abraçou.-Você é um doce!

-De limão,só pode!-exclamou Lindsay em voz alta.

-O que faz ainda aqui?

-Pergunta pra seu amigo Cal.

-Cal?-Stella aguardava uma explicação satisfatória.

-Senhorita B,sua amiga aqui não está com o cartão de identificação e de acordo com as regras não posso permitir que ela passe pela roleta sem ele.

-Outra vez,Lindsay?-cruzou os braços e a encarou ferozmente.A loura nada disse.-Cal,ela está comigo e não representa perigo para nós.

-Obrigada,Stella.

-Essa é a última vez,da próxima será suspensa.Agradeça ao Cal também.-ambas passaram pela roleta.-E depois traga um copo de café com creme,ele adora.

-Pode deixar.-os dois se encararam por um curto período de tempo.-Mais tarde trago seu café,Cal.

-E com creme.

-Creme,não vou esquecer.-forçou um sorriso e logo alcançou Stella no elevador.

-Da próxima vez que decidir fazer um stripper em cima de uma mesa de bar,certifique-se de que suas coisas de trabalho estão bem guardadas.-retirou o cartão da bolsa e o entregou a ela.

-Valeu.Estava lá? Ai meu Deus,que vergonha!

-Deveria ter vergonha mesmo,estava parecendo uma vadia sem classe.-disse irritada.

-Me desculpa,não sei onde estava com a cabeça.

-Cala a boca,Lindsay. Você é uma detetive e não uma dançarina de bar drogada ou bêbada.

-Não estava drogada ou bêbada.

-Terá de inventar uma desculpa melhor.E mais,se eu te encontrar novamente naquele ou em qualquer outro bar dando uma de dançarina,bem,não serei mais sua mentora.Terá de procurar outra idiota para te treinar.

-Iria adorar isso,não é?

-O quê?

-É,você me odeia,o que significa que iria adorar me encontrar dançando numa mesa de bar novamente.-suas palavras saíram sem perceber,sua boca agiu mais rápido que seu pensamento de controlá-las.

-Sou a responsável por você aqui e não precisamos gostar uma da outra para levarmos á sério nosso trabalho,também não me importo o que faz lá fora,desde que isso não agrida a minha reputação.Sou uma ótima detetive e mentora,todos que treinei se tornaram impecáveis em sua função,mas ao contrário de você,nenhum deles agem ou agiram como uma pessoa sem normas,muito menos fizeram stripper numa mesa de bar.-lançou toda sua raiva nela.

-Está certa,e eu...-Stella e impediu de dizer algo mais.

-Sabe,de uma coisa você tem razão: não gosto mesmo de voce e muito menos de quem voce é fora daqui.-Stella a encarou de tal forma que Lindsay pensou que sua mentora iria arrancar seu coração com as próprias mãos e ainda obrigá-la a comê-lo de uma só vez.Mas,a detetive B simplesmente saiu do elevador e caminhou,irritada,até sua sala.

Lindsay,por sua vez,seguiu para o vestiário constrangida com as palavras e o modo como sua superior a dirigiu um sermão sobre 'caráter'.

-Por que ela não gosta de mim? Sou uma pessoa legal e muito boa no que faço.-aproveitou que estava sozinha e disse em voz alta o que estava em sua mente.

-Sim,é boa no que faz e também é uma pessoa muito legal.-Daniel apareceu com um sorriso bobo.

-É,eu estava falando sozinha. Está tudo bem?

-Comigo sim,já com você e a Stella não posso dizer o mesmo.Ela quase deslocou meu ombro no corredor,ela está uma fera.

-Comigo.Ontem ela presenciou uma cena não muito agradável e está com raiva de mim,na verdade ela nem gosta de mim mesmo,não posso fazer muita coisa.

-Tente relevar,Linds.A Stella é uma ótima pessoa,juro.-cruzou o dedo indicador com o dedo médio de sua mão direita e ambos riram.-Falando sério,ela é assim mesmo no começo,com todos foi assim,mas no final ela acaba derramando lágrimas.

-Pode até ser.-fechou seu armário.-Estou aqui tem sete meses,trabalho 16 horas por dia ajudando em vários casos e ela ainda não gosta de mim.Quanto tempo terei de esperar?

-Não sei,digamos apenas que ela não faz o tipo amigável com aprendizes,em especial aquelas que ela precisa treinar.

-Isso não justifica muita coisa.

-Sei que não,mas tente não levar para o lado pessoal.Ok?-segurou na mão dela.

-Está bem.-sorriu.-Pode soltar minha mão agora.

-Ah claro,desculpa.

-Sem problema.-sorriu de canto e saíram do vestiário á caminho da sala de descanso.

Antes mesmo que chegarem ,uma cena pouco comum foi presenciada por eles: a chegada do chefe acompanhado por uma ruiva bastante elegante.Daniel deu um risinho e cutucou o ombro da loura,que de inicio não entendeu nada.

-A nossa ruiva está chegando.-disse ele.

-Quem é ela?-perguntou curiosa,visto que não conhecia a tal mulher.

-Addison Montgomery,futura senhorita Taylor.

-Perai,Mac vai se casar e eu nem sabia de nada?

-Ele é muito reservado,nada pessoal.

-É,nada pessoal.-suspirou e cruzou os braços.

-Daniel!-exclamou a ruiva com uma enorme felicidade.-Quanto tempo! Cortou o cabelo ou fez a barba?

-Cabelo. E você continua linda como sempre.-a abraçou.-Bom te ver.

-Igualmente. E essa loura deve ser a Lindsay,certo?-estendeu a mão á Lindsay ao lado de Danny.

-Correto,prazer.-apertaram as mãos.-Então,você e o Mac...

-Sim,estamos noivos.

-Vamos nos casar no final do mês.-completou o chefe.

-Desejo felicidade aos dois.

-Obrigada,Lindsay.-a ruiva foi gentil.- Não é querendo fazer propaganda do meu serviço ou algo tipo,mas se precisar de uma consulta para saber como estão as coisas ai embaixo,pode marcar uma consulta comigo.-entregou um de seus cartões á ela.

-Uau! Nunca diria que seu trabalho é esse.

-Bom,na verdade não sou ginecologista,sou cirurgiã obstetra,mas trabalho no hospital Trinity e lá meio que faço as duas coisas.

-Que legal.-sorriu de forma forçada,algo que nenhum deles perceberam no momento.-Gostaria de conversar mais,só que a Stella está uma fera comigo e tenho que preencher uns relatórios pra ela,se não se importam...

-Claro que não,linda,não quero atrapalhar seu trabalho.E pelo que conheço sua mentora,é melhor agilizar seu trabalho.

-É.

-Outra hora conversamos mais.-Addison a abraçou com carinho.-Tchau,tchau.-se despediu de Lindsay que se apressou para estar na sala de Stella.

Stella mais uma vez foi grossa com sua aprendiz que mal havia acabado de entrar na sala.Motivo pelo qual ela não preencheu completamente os relatórios do último caso.

-Eu disse que queria eles na minha mesa quando eu chegasse.E adivinha? Não os encontrei aqui.-usou de ironia.

-Me desculpe,eu tentei terminá-los a tempo,só que você me mandou ir para uma outra cena de crime acompanhar seu trabalho.-justificou ainda de pé do outro lado da mesa de Stella.-Dessa vez a culpa não foi minha.

-Tem dez minutos pra terminá-los e deixá-los na minha mesa,só dez minutos.-foi clara ao frisar bem o tempo estipulado.

-Preciso de mais tempo.

-Dez minutos.-a fuzilou com o olhar.-Deveria ter pensado neles quando estava dançando naquela mesa.

-Vai ficar jogando isso na minha cara o tempo todo?

-Até que poderia,não vou.

-Não sei se devo ficar despreocupada,afinal se não for me humilhar com isso,encontrará outra maneira.

-Ao menos aprendeu alguma coisa durante esse tempo todo comigo.-se levantou.-Lindsay,você é apenas mais uma,não é a primeira e espero que não seja a última a treinar,com todos foi assim.Acostume-se.

-Exceto pela razão dos outros não dançarem quase desnudos num bar.

-Exato.

-Sei que não é da minha conta,o que fazia naquele bar?

-Tem dez minutos e já comecei a contar .-olhou a hora em seu relógio de pulso.

-Ok.Dez minutos.-saiu da sala.

Com a intensão e o objetivo fortemente declarado pela sua mentora,Lindsay sentou-se na sala de reuniões para preencher os relatórios que lhe restavam.Não sabia se conseguiria terminar em dez minutos,no entanto fazia tudo o possível para entregá-los a tempo.

O toque estrondoso de seu celular a desconcentra de seu dever,fazendo-a errar um ponto importante para o entendimento do relatório,o último em questão.Ela pensou em deixar a ligação cair na caixa postal e quando tivesse mais tempo retornaria,ainda bem que só pensou e não o fez.

-Lindsay Monroe,quem fala?

-Lindy,eu preciso de voce agora! Estou encrencada e preciso que venha até aqui!-a voz da pessoa do outro lado da linha parecia bastante aflita.

-Elisa,não posso ir até o outro lado do mundo apenas para satisfazer seu desejo.

-Estou em Nova York,irmã.Estou encrencada também,por favor,preciso de você.-implorou.

-Não nos vemos há tantos anos e...não posso simplesmente ir onde está.

-Estou ferida e preciso de ajuda,Lindy!-gritou.-Aquele desgraçado...Não! Não! Não!-gritou ainda mais,como se alguém a forçasse a fazer algo.

-Elisa! Elisa,o que está acontecendo?-perguntou preocupada.Não obteve mais respostas,a ligação foi interrompida.

Algumas lágrimas insistiram em escorrer pela face da loura que sentia que algo de ruim,muito ruim,estava acontecendo com sua irmã.Contudo,não sabia onde,quem ,como ou porquê.Seu coração apenas lhe faltava sair pela boca e nada poderia fazer para ajudá-la.

Será que ela ainda estaria viva? Essa pergunta perturbou a Lindsay que de imediato decidiu fazer algo,deixando os benditos relatórios pra trás.