Michonne acordou com o aroma de café no ar. Carol estava na cozinha preparando o desjejum. Rick e Daryl saíram em uma busca como nos velhos tempos. Ela ouviu os sorrisos de Maggie e Judith no quarto de Carl. Uma força incrível movia o grupo para reconstruir a vida depois do caos. Ela abriu a porta para se juntar aos amigos, nada nela acreditava que algo poderia mudar em Carl.

Ele era seu garoto, mesmo que às vezes se sentisse um monstro, ele seria sempre esse coração doce apesar das amarguras do mundo. Michonne o olhou deitado, mas praticamente recuperado balançando um coelho de pelúcia para fazer Judith sorrir. Ela tinha o instinto de proteger essa família e ela desejava poder fazer tudo por eles, tudo o que ela não pôde fazer por Andre.

Rick confessou que ele tinha quase certeza que havia um atrito entre Carl e Ron, mas o garoto preferiu não falar nada e ele acreditou que o filho poderia lidar com isso. Ele nunca imaginou que ensinar Ron a atirar teria uma consequência tão trágica.

Por um lado Michonne se ressentia por ter ficado de fora dessa história, se ela soubesse antes, ela teria um olho aberto. Por outro lado, ela sentia que ainda tinha falhado novamente, talvez ela não deixou Carl saber que ele era tão importante para ela. Agora talvez ele nunca soubesse, mas só o tempo diria como a memória dele ficaria depois de tudo.

Carl não lembrava que tinha uma irmã, pois sua memória só chegava até pouco antes da perda da mãe, depois que Rick contou tudo o que aconteceu, Denise começou a fazer sessões de terapia com ele. Ele ainda olhava Michonne com certa curiosidade, mas seu olhar maternal tão amoroso já conquistava novamente o coração dele.

Nessa manhã especialmente, Carl estava ansioso para conversar com Michonne. Ela pegou Judith nos braços de um beijo no rosto da bebê antes que Maggie saísse com ela para preparar a mamadeira.

— Como você está hoje?

— Eu me sinto bem, eu ainda penso como vai ser quando eu estiver lá fora. Mas eu não quero falar disso hoje.

Michonne observou que ele parecia mais animado do que nos dias anteriores, com certeza os primeiros momentos sempre são os mais intensos, a perda de um olho seria tão assustadora no mundo normal, então é muito mais grave em um mundo onde habilidades de sobrevivência são requeridas a todo momento.

— O que você quer conversar, então?

Um pouco hesitante, Michonne afastou os cabelos dele do rosto.

— Sabe… Eu tenho medo que você fique triste comigo porque eu ainda não lembrei sobre você. Mas eu acho que eu comecei a lembrar.

— Carl, eu nunca vou ficar triste com você. Nada que você faça, vai me fazer ficar triste com você. Eu só estou… curiosa pra saber o que você lembrou.

— Bom, não é exatamente uma lembrança, mas eu só vou contar se você prometer que não vai rir e não vai contar pra ninguém se for uma grande besteira.

— Uau! Isso está me deixando mais curiosa! Eu prometo! Eu quero saber logo o que é isso.

— Então, na verdade, foi um sonho que eu tive com você. Estava só eu e você andando na minha cidade e eu falei que eu estava com saudade da mamãe e você disse que ia me levar até ela, então nós encontramos ela. Eu não sei bem como foi isso, ela estava muito feliz e sorrindo, mas ela disse que ela não podia ir com a gente. De repente, vários walkers apareceram, ela sumiu, mas eu só lembro dela sorrindo. Bom, aí nós não tínhamos como fugir, mas um gato nos salvou!

Michonne não conseguiu conter uma gargalhada.

— Como assim?

Carl fingiu estar contrariado.

— Michonne, você prometeu! Foi isso, um gato todo colorido apareceu e nós montamos nele e fugimos.

Ao terminar de contar o sonho, Carl também caiu na risada, Michonne tinha tantas saudades de ver esse sorriso iluminando o rosto dele. Ela não pôde resistir a dar um beijo nele e eles ficaram abraçados por um tempo. Ela pensando que logo ele seria uma homem crescido e marcado por esse estranho mundo.