Cebola a puxou para o meio da roda, improvisando um passo frente a frente a fazendo encarar seus olhos que brilhavam castanhos, perto até demais para o seu gosto, Monica meio sem graça se perdeu na agilidade dele, ele a rodava a envolvendo sob gritos do pessoal, até que parou atrás dela, cheirando seus cabelos, ela pode sentir quando o rosto dele colou em seu pescoço, tratou de se afastar sem graça e voltar pra roda, ele voltou para seu lugar rindo, ela voltou fechando a cara e cruzando os braços, que moleque mais abusado.

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Descruzou os braços logo depois voltando a socializar com o pessoal, tentou evitar olhar para ele nos minutos que se passaram, mas não se conteve, girou o salão e pousou seu olhar sobre o dançarino de cabelos rebeldes, percebeu que ele ainda a olhava sorrindo, assim que seus olhos se encontraram Cebola deu uma piscada de lado e voltou para o meio da roda arrasando com uns passos que envolviam piruetas no ar e no chão para delírio da galera.

Monica sorriu ao ver o quanto o menino dançava bem, achou engraçado o jeito dele, e jurava que ainda sentia o arrepio que ficou instalado na sua nuca.

O workshop acabou sob muitos aplausos e elogios, todos gostaram, alguns foram até o balcão para saberem valores e horários, pelo jeito a estratégia de marketing do dono tinha dado certo.

Monica pegou suas coisas e saiu da sala sorrindo, guardou tudo que conseguiu dentro da bolsa e ficou ao lado da recepção esperando as duas amigas.

Sentou no degrau que dava acesso a saída, tirou uma toalhinha para enxugar seu suor e prendeu o cabelo num rabo de cavalo alto.

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Cebola enxugou a testa suada com a camiseta, tirou o boné e bagunçou ainda mais seus cabelos que já eram rebeldes por natureza. Estava cansado mas satisfeito, tudo tinha ido bem e a apresentação deles foi a mais animada.

Virou quando viu alguém o chamar.

– E ai velho – Ricardo o cumprimentou animado – Arrebentamos, mandamos ver.

– Foi demais – Cascão chegou os parabenizando.

– Foi muito louco – Cebola os cumprimentou animado.

– É... E você ainda tirou uma casquinha da patricinha bailarina – Ricardo brincou dando uma cutuvelada nele.

– Ah verdade, nada besta né careca – Xaveco comentou se aproximando também- Bem vi você lá dançando com a bonitinha.

– Hahaha, foi só pra irritar ela, hoje mais cedo trombamos de frente, derrubei tudo o que a mina trazia na mão, ela ficou brava demais – Cebola comentou terminando de guardar os fios do som.

– Hhaha, da hora, ta ligado que patricinha é B.O né?! - Um dos dançarinos do grupo deles alertou ouvindo o papo.

– Relaxa velho, já sou vacinado – Cebola concluiu saindo de lá carregando uma caixa.

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Passaram se aproximadamente 20 minutos quando Monica ouviu alguém a chamando.

– Moça... – A menina da recepção chamou.

– Oi... Eu? – Monica perguntou se virando.

– Sim, pode vir um pouco aqui? – Ela pediu educadamente.

Monica levantou e se dirigiu até a recepção curiosa.

– Oi.

– A Sra. Alice deseja conversar um pouco com você – Ela avisou indicando um escritório por trás do balcão de entrada.

– Desculpa, mas quem é Alice? – Monica perguntou intrigada.

– É a coordenadora da equipe de balé, pode entrar ela já está na sala.

Monica entrou com um pouco de cautela, observou um corredor ladeado de portas, imaginou ser ali a diretoria, onde a primeira sala estava aberta com uma moça sorrindo delicadamente atrás de uma mesa, os tons claros da parede e a boa decoração deixavam o ambiente daquela sala mais leve.

– Olá, prazer sou a Alice, pelo que soube você é a Monica – Alice se apresentou sorrindo fazendo menção para menina sentar.

– Oi, sou sim, prazer dona Alice, tudo bem? – Monica respondeu se sentando na cadeira em frente a mesa dela.

– Bom você deve estar se perguntando o por que te chamei – Alice começou a falar – Mas a resposta é simples, quando fazemos ações de marketing na escola não são só os alunos que observam se gostam das aulas, professores e ambiente, nós coordenadores e professores responsáveis pelas modalidades também observamos um por um dos inscritos e participantes que passam por aqui.

Monica continuou a ouvi lá com atenção, quieta.

– Sendo assim, eu e a Rita, que é a professora de balé do avançado, vimos seu desempenho no workshop, e nos espantamos. – Alice concluiu interessada.

– Ah... Obrigada rs, eu danço desde pequenininha, e sou bem rígida no quesito dedicação – Monica respondeu envergonhada.

– Exatamente disso que precisamos na nossa equipe de apresentações – Alice falou sorridente.

– Co.. Como assim? – Monica perguntou assustada.

– Estamos em épocas de constantes apresentações e sempre que detectamos um talento nós oferecemos espaço para ele em nossa equipe – Alice explicou calmamente.

– Nossa, que honra – Monica falou sorrindo.

– Temos analisado nossas turmas e sempre que uma das bailarinas se destacam, convocamos para a equipe de apresentações, nossa escola, modéstia a parte, é ótima, tenho certeza que não vai se arrepender se aceitar meu convite – Alice concluiu se levantando.

– Eu.. É que, eu não moro em São Paulo, eu... Eu sou da equipe de balé do Rio de Janeiro, do professor Marcos – Monica comentou ansiosa.

– Ah sim, conheço a equipe do Rio, muito boa também – Alice sorriu se lembrando das apresentações que assistiu na cidade – Mesmo assim acredito que nossa escola possa oferecer mais oportunidades para você, inclusive prepara-lá para brilhar em grandes companhias num futuro próximo, nossas aulas de balé são ministradas com base nos fundamentos da Le Ballet, levando em consideração seus grandes espetáculos, mas não precisa me responder agora, pense na resposta, as portas estarão abertas.

Alice saiu da sala deixando Monica sem reação, ela continuou sentada boquiaberta, ficou imaginando o que o Marcos a aconselharia fazer nesse momento, ela não iria deixá-lo, tudo que aprendeu foi com ele, e o único motivo pelo qual ela viria morar em São Paulo seria para dançar pela Le Ballet, tirando isso essa idéia estava fora de cogitação para seu pai, pegou sua bolsa e saiu de lá pensativa para encontrar as amigas.

Denise e Magali já a esperavam na recepção, conversando com alguns meninos que Monica não reconheceu de imediato.

– Voltei meninas – Monica comentou sorrindo, disfarçando a tensão que se instalou sobre ela após aquela proposta.

– Oi ami, que bom vem que vou te apresentar o pessoal da nossa turma – Magali comentou sorrindo – Esse é o Cascão, esse aqui é o Xaveco namorado da Denise, esse aqui é o...

Cebola vinha se aproximando carregando sua mochila nos ombros, e parou na roda dos amigos.

Depois de dar oi pra todo mundo ela o viu chegando.

– Ah, e esse aqui é o Cebola – Denise apresentou rindo – Mas acho que vocês já se conhecem.

Monica ouviu aquele nome e lembrou que já tinha o escutado em algum lugar, quis rir e muito, mas conteve a risada, quem se chamava Cebola no universo?!

– Oi Cebola – Monica o cumprimentou dando tchauzinho com as mãos, reparando em como ele era bonito.

– Oi, com o é o seu nome? – Ele perguntou se aproximando.

– Monica, meu nome é Monica – Monica respondeu se afastando um pouco da aproximação repentina.

– Hum, Curti! – Cebola falou lhe lançando mais uma piscada.

Monica riu e virou a cara envergonhada.

– São amigas de onde? – Cascão perguntou curioso.

– Ela é filha de um antigo amigo do meu pai – Magali respondeu sorrindo - E ai meninas vamos? – Ela perguntou para Denise e Monica.

– Vou sair com o Xaveco hoje amis, mas de manhazinha ainda te vejo né Mo? – Denise perguntou preocupada.

– Meu voo sai meio dia De, se chegar até umas onze te encontro – Monica respondeu sorrindo.

– Ah, então fechou – Denise concluiu.

– Ueh, da onde você é? – Cebola perguntou encucado.

– Sou do Rio Cebola, vim para a palestra – Monica respondeu sorrindo o olhando levemente interessada.

– Hum, entendi – Cebola respondeu pensativo.

– Volto amanhã de manhã – Monica respondeu calmamente.

– Então temos que sair pra uma despedida – Cebola propôs piscando para o Xaveco que entendeu todo o esquema.

– É, por que não vão com a gente lá pro barzinho da vila?! – Xaveco convidou.

– Isso gente, vamos – Denise pediu empolgada, sair com a turma era sempre animação na certa.

– Opa, por mim fechou, bora Maga? – Cascão perguntou claramente interessado.

Magali olhou para Monica, em tom de pergunta, Monica sorriu em resposta então Magali concordou.

– Vamos, vamos, no barzinho de sempre? – Magali questionou se animando.

– Sim, lá tem pista de dança – Xaveco concluiu sorrindo.

– Então nos encontramos umas oito da noite - Cascão concluiu indo em direção sua casa.

– Demoro – Cebola respondeu o seguindo.

Monica e Magali também concordaram e seguiram rumo a república.

– Quero saber tudo que a Alice queria com você ami - Magali perguntou para a recente amiga sorrindo.

– Vou te contar, você não sabe... - Monica começou a falar...

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Cascão e Cebola caminhavam para casa quietos quando Cascão fez um comentário que tirou o amigo do transe.

– Você não perde uma ein – Cascão comentou empurrando o amigo.

– O que? Ta louco? – Cebola respondeu rindo.

– Ah, para já ta preparando o bote, que to ligado – Cascão zuou – Cuidado que é B.O.

– Hahaha, cansei desse papo chato – Cebola concluiu chegando na porta de sua casa – Até mais tarde.

– Té mais careca – Cascão respondeu rindo e balançando a cabeça em reprovação.