Ela era baixa e desengonçada. A caça estava bem na minha frente quando eu contornei e dei de cara com uma das partes inacessíveis por qualquer um desse colégio.
Ela estava caída no chão, seu olhar de dor era evidente, e a transformação final já estava ocorrendo.
Ela era uma guardiã dos poderes divinos. Acredita-se que existiram apenas três no mundo. O primeiro, há novecentos mil anos atrás, utilizou seu poder de uma maneira incorreta e foi brutalmente castigado. O segundo, há quinhentos anos atrás deixou que o poder que fora lhe dado, subisse à cabeça e lhe levasse à loucura. Foi assassinado pela igreja católica sendo acusado de bruxaria. E então a terceira, presente entre nós, mais uma tentativa do Senhor de confiar nos humanos.
A menina sofria. A minha caça, tão frágil, tão pequena, tão sozinha...
Quando eu a ajudei levantar, ela se espantou com alguma coisa. Quando eu a toquei senti uma sutil leveza na sua expressão, de alguma forma estranha a menina se sentiu mais segura. E eu também me senti bem ali, enquanto a carregava.
Ela recostou sua cabeça no meu ombro, seu coração batia desesperadamente, a transformação já deveria estar no final. Sua lágrimas escorriam dos seus olhos e eu sentia o peso delas sob meu corpo. Algo estava errado.
Eu estava sofrendo o que ela sofria.
Levei-a para um lugar mais fresco, enquanto tentava mentalmente acalmar sua respiração.
Lembrei-me de quando fazia isso inúmeras vezes quando clamavam por ajuda. Recostar a cabeça na cabeça da guarda a fazia suavemente sentir um alívio. Não sei se isso funcionaria ainda já que eu não pertencia mais ao Céu...
Mas no fundo, ela desconfiava de algo. Ela sabia que eu não era um típico adolescente de 17 anos que resolveu ajudá-la, ela sabia que eu era algo a mais... Era um risco eu estar ali.
– Sente-se - ajeitei-a enquanto ela tentava sentar. Era ridículo vê-la perder tempo em parecer comportada. Ela não sabia que eu sabia, mas a dor provavelmente a estava matando, embora ela não quisesse demonstrar isso... Por algum motivo idiota.
– Eu estou bem - ela disse entredentes. Ela estava rígida, provavelmente se segurando para não gritar de dor. Sua expressão era de súplica, ela reprimia uma lágrima.
Eu sentei de frente pra ela. Sua pele era tão branca quanto o algodão, e seus olhos azuis estavam arregalados e assustados.
– Não reprima - eu disse quando involuntariamente passei meu dedão abaixo de seus olhos.
Ela soube do que eu estava falando. Meu aviso pareceu ser ouvido. De repente a menina soltou o ar violentamente e deixou que as lágrimas caíssem.
Ela soluçava quando falou:
– Eu não sei... O que eu sou - ela apertou seu joelho contra a barriga. Eu queria abraçá-la. - Eu tenho medo.
Ela tinha medo. Ela tinha medo de quem era. Ela não entendia o porquê dos poderes... Ah Deus...
De repente ela parou de soluçar e reprimiu o choro novamente. Seus olhos azuis me fitaram novamente, aquilo me deixava nervoso.
– Eu estou falando essas coisas... - Ela revirou os olhos. - Desculpa... Você está perdendo o seu tempo... Eu sou uma idiota!
Ela se levantou com dificuldade e começou a se preparar para ir embora.
– Espere - eu disse me levantando. Vê-la ir embora de repente me fez querer ir atrás.
Ela era tão frágil...
E então me olhou novamente.
– Por favor... Vá - ela disse fechando os olhos.
Eu não poderia fazer nada por ela.
– Emily?
Ela se virou mais uma vez.
– Isso vai passar. Apenas mentalize a paz.
Ela franziu o cenho estranhando meu conselho, e então saiu.
E eu queria ir atrás...
Eu queria protegê-la.