Alegoria da Primavera escrita por Deimos Ass


Capítulo 1
Lição 1: "Diabretes também precisam de amor"




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Alegoria da Primavera

Lição um:

“Diabretes também precisam de amor”

O som longínquo de carros na estrada lamacenta apenas o desanimava. O que mais o ajudaria naquele momento era um pouco de fé, mas uma bela quantidade de carros da OCD mudasse o seu curso de sul para oeste também seria de grande auxílio. O som motor dos carros ia ficando cada vez mais baixo, para mais longe dos ouvidos atentos de Tomas.

Apertou a cruz em seu pescoço com uma das mãos, e o cabo da lança com a outra. Aquela noite estava mais difícil do que esperava que seria. Só queria que aquele maldito se aproximasse logo para poder voltar para casa e ficar assistindo Sense8 até dormir.

Àquela altura já havia feito até promessa de trinta pulos para São Longuinho. Cinco horas no frio chuvoso daquela floresta ridícula, e nenhum sinal de Lucio. O mais perto que chegou de achar um demônio foi avistar uma fada vermelha chutando um vespeiro.

Se o sinal pegasse ali, já teria ligado para Mari e Reiel e avisado que voltaria no dia seguinte para procurá-lo sem fome. Mas como a Tim tem sim fronteiras, e não poderia partir de nenhuma busca para outro lugar sem avisá-los, estava preso naquela floresta estúpida a procurar um domador de diabretes.

Estava cogitando bastante a ideia de tocar o foda-se e ir para casa, quando ouviu sons. Sons inconfundíveis, para ser mais exato.

— Vocês são uns inúteis, aprendam a fazer as coisas direito! — o estalo de uma chicotada bateu-se contra as paredes de árvores, e chegou aos ouvidos de Tomas.

“Lucio”, murmurou o nome do criminoso em sua cabeça, e sorriu levemente. Parecia que a sua noite de Sense8 com pizza e Coca-Cola estava mais próxima do que pensava. “Acho que isso merece até um pote de Nutella”, pensou, lambendo o beiço.

Não era como se fosse um mau caçador. O real problema era o simples fato de Lucio ser o que ele gosta de chamar de “trampinho pipoquento da porra”. Quando descobria o lugar onde ele estaria durante a maior parte do dia, ou por mais de um dia, ele ia até lá. E é claro que a bola de cristal ou seja lá o que for que o desgraçado tem em casa avisava pra ele que Tomas estava indo para lá e decidia ir para outro lugar.

Tudo que ele precisava fazer era fincar aquela lança nos pés de Lucio, abrir o portal para os diabretes desmaiados ou mortos voltarem ao mundo inferior, e levá-lo no carro até a sede da OCD para decidirem o que farão com ele. Não deveria ser uma tarefa muito difícil.

Estava tudo pronto. Lucio parecia não tê-lo notado. Desenterrou a baioneta da terra molhada, e ergueu seu corpo para andar calmamente até o domador. Estava certo de que tudo ocorreria bem, era um bom caçador.

— Você não me surpreende nem por um segundo. — Lucio disse para a surpresa de Tomas. Ele, que agora há pouco estava chicoteando os diabretes que abocanhavam alguns animais pequeninos que se escondiam na noite, tão cheio de raiva e imponência, agora parecia estranhamente sereno. Mas cheio de ironia. — Você é muito chato. E muito fraco. A OCD não tinha uma pessoa melhor pra me mandar? Seria mais divertido.

— Quem deveria estar “extremamente surpreso” sou eu. — rebateu completamente gago. Era obvio que estava surpreso mesmo e achava Lucio extremamente imprevisível. Mas não admitiria isso na frente dele.

A risada que o domador soltou naquele momento era tão gelada e arrepiante, parecia dedilhar o corpo humano frágil de Tomas. Ele apertava o cabo da lança com força, os nós dos dedos completamente brancos e os braços trêmulos. Não passava de uma criança medrosa.

Lucio sequer olhava para Tomas. Apenas ficava de costas para ele, pensando no quanto era superior. Seu desejo era se virar para aquele humano ridículo e jogar um diabrete com raiva nele, e depois rasgar sua carne com o chicote de couro cru. Mas não seria ruim ouvi-lo gritar um pouco mais.

Foi com essa ideia que soltou três diabretes pequenos para cima de Tomas. Eram criaturas ridículas e problemáticas, que não sabiam voar direito. Tudo o que sabiam era bater as asas nas dos outros diabretes, e gritar palavras ininteligíveis. E Tomas conseguiu derrubar três diabretes numa “cajadada” só.

Os próximos eram maiores. Eles tinham pernas fortes e asas grossas. Três deles chegaram rasgando o ar com agressividade, já derrubando Tomas no chão. Mas isso não foi o suficiente, apenas o ato de levantar a lança já fez um dos diabretes fincar o pé na baioneta, e os outros dois se chocarem atordoados atrás. Levantou-se num salto, e deu três porradas com o cabo na cabeça de cada um.

A risada de Lucio era insana e arrepiante. Aquele timbre era rouco, tão gelado e perturbador, era possível perceber aquela mente era um lugar muito escuro e profundo.

Além de imprevisível.

Ele segurava firmemente uma coleira de couro grosso que prendia um diabrete enorme. Ele tinha mais ou menos três quartos da altura de Lucio, e parecia ser o único mais calmo daquele grupo. Ele era verde e com a pele ressecada, cheia de cicatrizes sofridas e veias saltadas nos braços, pescoço, pés e testa. Os chifres eram enormes e ensanguentados, chegava a ser impossível distinguir sua cor. A respiração dele era calma.

— Guardei o meu “pequeno” Gustav para o final. — Lucio afastou os cabelos vermelhíssimos do ombro e os jogou sobre o outro, lançando um olhar sádico para Tomas. Só de olhar para aquele diabrete horroroso, já sentia suas vísceras sendo arrancadas pelas garras sujas dele. — Deixe o papai orgulhoso, garoto. — ironizou, simplesmente soltando a coleira e deixando Gustav andar solto.

A caminhada era lenta e provocativa. A cada passo, Tomas tentava retroceder dois. Mas o ar tão pesado de se respirar lhe impedia de pensar direito, e simplesmente não se movia. Apenas olhava apavorado para a criatura tenebrosa, e Lucio se virando com um sorriso cheio de dentes. Seus dedos quase vacilavam sobre a madeira da lança encantada. Tinha uma pistola com balas especiais para serem usadas contra diabretes, mas estava tão nervoso desde que escutou a voz de Lucio, que sua cabeça sequer lembrou de que tinha a arma em seu cinto.

A criatura tenebrosa estava muito perto. Seu coração podia ser sentido a bater forte no pescoço, suas mãos trêmulas e geladas estavam a alguns centímetros de falanges a derrubar a lança no chão, as pernas trêmulas não estavam muito dispostas a correr, e a sensação de desesperadamente querer urinar nas últimas cinco horas estava finalmente aliviada.

Sem muito esforço, o diabrete conseguiu derrubar o corpo de Tomas no chão, que vacilou facilmente nas mãos monstruosas e brutas. Ele o apertou contra a terra molhada com os pés, e se divertiu vendo as roupas e a pele se sujarem de lama. A expressão de terror nos olhos arregalados e chorosos dele era deliciosamente desesperada. Ele implorava com os olhos para que tivesse piedade. Implorava com as lágrimas que se misturavam à lama que lhe sujou os cabelos.

— Esmague o crânio dele. — Lucio ordenou, e o diabrete afastou as mãos para agarrar a cabeça de Tomas.

A sombra das mãos da criatura o fez acordar de seu transe, e agarrar a lança firmemente. Ele a colocou entre as mãos do diabrete, que se fincou em uma delas com a baioneta. Ele segurava firmemente o golpe com ambas as mãos. Teria que pensar em algo para fazer enquanto ainda podia segurá-lo. Além de sua lança, tudo que ele tinha era a bendita pistola, que se errasse o tiro, não teria mais chances. Lutar? Fora de cogitação. Tudo o que ele sabia fazer era matar pequenos demônios e exorcizar pessoas. Passando disso era fora de seus limites morais e físicos.

Mas ele sabia quem podia lutar com aquele diabrete e ajudá-lo. E foi pensando nessa pessoa que começou a sussurrar com esforço e raiva uma oração lenta.

— “Cobre-me com teu escudo protetor e livra-me das emboscadas e das ciladas do demônio.” — iniciou a prece com os dentes cerrados e a cara fechada de ódio. — “São Miguel Arcanjo, Príncipe da Milícia Celeste, subjuga o mal para sempre. Precipita no inferno o satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo a perder almas, porque Tu és vitorioso pelos séculos dos séculos…

A lança começava a vacilar entre as mãos fortes da criatura, e um sussurro muito baixinho em “Amém” foi assoprado da boca de Tomas. A resposta de Lucio à tentativa de pedir ajuda a um anjo guerreiro foi o riso irônico arrepiante.

Que foi calado bruscamente por uma luz dourada e heroica. Ofuscava sua vista, lhe repuxava a alma pelas raízes e quase o fazia vacilar sobre os joelhos.

Os olhos frios do arcanjo derramaram sua sobriedade no corpo de Lucio, que agora esboçava no rosto um olhar tão amedrontado quanto o de Tomas. Talvez até mesmo mais.

— Faça-o soltá-lo. — São Miguel rosnou entre os dentes branquíssimos. Sequer precisara tocar em sua espada que pendia no cinto.

— S-Sim! — Lucio respondeu desesperado, cambaleando um pouco para trás. — G-Gustav! Saia de cima dele!

O diabrete olhou para seu mestre, e deu passadas largas para trás. A lança de Tomas estava presa em sua mão, o caçador sequer se deu ao trabalho de tentar segurá-la.

— Mandarei Gustav e os diabretes que sobreviveram de volta para o círculo de onde vieram. Tomas, por favor, você tem como preparar um portal para mim? — olhou para Tomas, e falava quase que doce com o protegido.

— Tenho sim, já vou fazer isso. — Tomas tinha dificuldade para se levantar, parecia que tinha quebrado algum osso, apesar de ter o corpo enfeitiçado para que estes se regenerassem rapidamente.

— Tome seu tempo, meu filho. — alertou gentilmente, porém ainda com a expressão fria e pálida. E mais uma vez aqueles olhos profundos e aterradores devoraram Lucio. — Você virá conosco para a sede da OCD. O pessoal dos interrogatórios saberá o que fazer.

— Não… Não, São Miguel, por favor… Eu prometo, não vou mais explorar a mão-de-obra dos diabretes… Me dê mais uma chance, eu posso ser convertido, você sabe disso… — o demônio patético se ajoelhava choroso aos pés do arcanjo poderoso.

— Já demos chances demais aos nefilins. Longe de mim querer que fiquem acostumados. Você vem conosco. Por bem ou por mal. — andou até Gustav e arrancou a lança de sua mão sem o menor cuidado. Mas o monstruoso não parecia ter sentido muita dor. — Quer ajuda, Tomas?

— Eu adoraria.

Fincou a lança na terra, e passou os braços por debaixo das axilas de Tomas, puxando seu corpo para si e o levantando da terra. Tomas estava completamente imundo de lama, mas não se importava em sujar os braços. Já se sujou com coisas muito piores.

— Faça o portal, reunirei os diabretes para mandá-los de volta.

Tomas assentiu com a cabeça firmemente, e foi até um par de árvores que ficava por ali. Entre as duas, construiu uma enorme teia de aranha com uma pequena ferramenta especial que levava consigo no bolso.

Tatletáhk. — conjurou com as mãos apontadas para os fios gosmentos que se grudavam às cascas das árvores, e um brilho vermelho permeou a teia, dando lugar para uma espécie de espelho liso com uma visão para um portão verde cheio de videiras grotescas e chão quebrado com musgo.

O processo foi feito com calma, Miguel carregou dois diabretes por vez e os jogou dentro do espelho, enquanto Lucio via seus subalternos serem arrastados para longe de si com os olhos cheios de lágrimas.

Quando chegou finalmente ao último, Miguel olhou com as sobrancelhas arqueadas para aquele animal estranho. Era diferente de qualquer diabrete que já tenha visto. Provavelmente era uma quimera feita por Lucio.

— Você não é um diabrete, é Gustav? — perguntou para confirmar, e tanto o monstro quanto Lucio acenaram negativamente. — O que ele é?

O animal se contorceu na própria coluna antes de emitir um brilho verde fraco e cintilante, e sair das centelhas um jovem de dezesseis anos.

— Huh, um panmorfo. Não temos muitos de vocês lá na OCD, acho que podemos levá-lo para o laboratório de pesquisas. — Tomas comentou escorado à árvore, com as pernas doloridas.

— Tem razão. Levamos Gustav conosco, então. Pode fechar o portal, Tomas.

— Como pretende levar a nós dois e o seu protegido? — Gustav sorriu para Miguel com seus dentes tortos e estragados.

— Gustav, não provoque São Miguel… — Lucio suplicou quase que choroso, o sangue das lágrimas de nefilim já caminhava sobre os cílios ruivos. — Deixe-me levá-lo, São Miguel. Quero poupar trabalho para vocês.

Esse puxa-saquismo que o rodeava era extremamente irritante. Queria ter o poder de transferir seus títulos e méritos para outro anjo apenas para não ter que passar por esse tipo de coisa posteriormente.

— Cale a boca, Lucio. Você me perturba. — arqueou a sobrancelha sem sequer se dar ao trabalho de olhar para aquele ser insignificante. — Não preciso que leve Gustav nem ninguém. Eu tenho um receptáculo, vou levar vocês dois nele e só tirar lá dentro. Até parece que eu levaria dois demônios à céu aberto para descobrirem o caminho pra sede da OCD.

Gustav resmungou e olhou para Lucio. Parecia pedir a ele que fizesse alguma coisa. A insolência dele estranhava um pouco Miguel. A fama do príncipe entre os demônios era a de alguém que deveriam temer. Então por que Gustav não o teme?

Seu receptáculo era um relicário em formato de cruz pendurado ao cinto, junto de sua espada. Ele o abriu deixando a luz dos cristais azuis sugarem Lucio para seu interior, e ignorava os gritos de socorro e súplicas desesperados. Gustav tinha os olhos fixos em Lucio até o momento, mas agora que ele estava no receptáculo, tudo que fazia era olhar para o arcanjo cheio de dúvida.

— Ele é um filhote. Tenha paciência com ele. — Tomas alertou Miguel com os braços cruzados e uma expressão de tédio.

Miguel fixou seus olhos furta-cores em seu protegido. Às vezes ele parecia saber mais sobre demônios do que ele, e talvez de fato o saiba. Mas orgulho ou a inveja nunca fizeram parte de seus pecados, se é que ele os tem. Assentiu com a cabeça, e se voltou novamente para Gustav.

— Eu sou o quê?!

— Não sei como não pude perceber. Uma criatura insolente que não sabe com quem está falando, só poderia ser um demônio filhote.

— Já temos algo interessante para colocar no relatório. — Tomas pegou o celular para tentar usar o 3G. Precisava enviar um WhatsApp para Mariana avisando que voltaria agora. Já perdera todo o interesse em dar mais atenção para Gustav, ele não representava mais uma ameaça ali.

— Relatório de quê? Eu não estou entendendo nada.

— Relatório da OCD, para o laboratório de pesquisas.

Gustav bufou com a explicação encantadoramente esclarecedora que Tomas decidiu lhe dar. Era como Lucio havia lhe ensinado: Humanos são intolerantes, petulantes e insignificantes.

— E que merda é essa, podem me explicar?

Miguel agarrou Gustav pelos arreios que se prendiam ao troco nu. Era como segurar uma criancinha que fez malcriação. Ele mostrou o receptáculo com a tampa levemente aberta, e antes de escancará-la para sugar seu corpo, disse com a voz melódica e tranquila, como se nada:

— OCD é a sigla para Organização de Caça aos Demônios. Livramos o mundo do mal que seres como você causam no reino de Deus.

Miguel forçou Tomas a honrar a promessa pra São Longuinho e estava esperando ele terminar de dar os trinta pulinhos. Era ridículo, mas seu humor estava péssimo e o ver fazendo aquilo era um pouco divertido.

—… vinte e oito, vinte e nove, trinta. — deu o último pulinho com uma expressão irritada e a cabeça tonta. — Satisfeito, Miggy? Podemos ir pra OCD agora?

— Sim. Guarde suas coisas, o voo será mais tranquilo se não tiver nada nas mãos. — Miguel alertou enquanto se levantava da pedra onde estava sentado. — E já disse para não me chamar de “Miggy”. Eu detesto esse apelido. Nem insisto que me chame de São Miguel, você pode me chamar só de Miguel.

— E eu te chamo de Miggy mesmo assim, Miggy. — provocou com um sorriso irônico e se divertiu vendo o arcanjo revirar os olhos. — Tem certeza que não quer que eu me limpe primeiro? Tem um laguinho não muito longe daqui.

— Imagine. Eu não me importo de me sujar. Pode se limpar lá na OCD. — esclareceu com certa gentileza, mas por mais gentil que fosse, nenhuma emoção era expressa em seu rosto.

Tomas guardava suas coisas na mochila que deixou jogada perto de uma árvore. As coisas menores iam soltas lá dentro mesmo, enquanto as maiores como a sua lança eram jogadas no bolso enfeitiçado para não ter fundo. Quando tudo estava terminado, Miguel fez questão de levar a mochila para ele não ter que carregar nada e atrapalhar o voo.

— Pronto? Podemos ir?

— Sim. — Tomas respondeu num suspiro e se aproximou.

Miguel o pegou no colo com segurança, esperou que ele se ajeitasse e segurasse firme em seus ombros, antes de abrir as asas brancas e enormes e alçar voo em direção à sede da OCD.

— TOMAS, SEU MALUCO!

Mari o derrubou bruscamente do colo acalentador de Miguel para vê-lo se estatelar no chão para a dura realidade. Haviam chegado na sede da OCD tinha alguns minutos, e não faziam ideia de que Mariana e Reiel estariam esperando lá.

— Por que você não me ligou, seu fidégua’?

— Acalme-se, Mariana. — Reiel pousou as mãos enluvadas calmamente nos ombros de sua protegida, enquanto Miguel ajudava Tomas a se levantar do chão. — Mas ela tem razão. Por que não nos mandou notícias, Tomas?

— Por que a Tim tem fronteiras. — vociferou irritado para sua gêmea. — Eu vou pro banheiro me limpar e a gente se pirulita daqui.

— E os relatórios, Tomas? — Miguel arqueou as sobrancelhas. — E o receptáculo?

— Não tem como você fazer isso para mim?

— Sinto muito a falta de polidez com você, Tomas, mas eu sou o Príncipe da Milícia Celestial, e não seu assistente. — entregou o receptáculo para Tomas e escapuliu pelo corredor.

Tomas observou o arcanjo fazer seu caminho de ida pelo corredor depois de lhe responder com um ar tão esnobe. Teve vontade de fazer o mesmo pedido para Reiel, mas ele o cortou antes mesmo que formulasse uma frase boa para pedir.

— Nem pense nisso, Tomas. Meu dever é proteger todos os seres humanos que nasceram no dia 29 de Junho, o caso de você e sua irmã. Proteger, não auxiliar nos deveres pessoais. — Reiel conseguia ter o ar altivo que mais ninguém conseguia. Dominações, sejam eles anjos da guarda ou não, sempre tinham uma aparência ou personalidade mais nobre e mais autoritária.

— Por que eu não podia ter nascido uma alface? — bufou já cheio de tédio para realizar as tarefas. Jogou o receptáculo no bolso da jaqueta e foi cambaleando barra o banheiro se limpar.

— Por que Deus quis. — Mariana disse com certo ar satírico, mas com certa verdade. Só riu, vendo seu irmão empapado de lama se arrastar como um verme até o banheiro depois de um dia terrível.

Acho que nem vou assistir Sense8 quando chegar em casa. Eu vou só me jogar na cama como o vagabundo que eu sou e dormir até duas da tarde de amanhã. É domingo, de um jeito ou de outro…


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