Quando eu te vi... escrita por Lilly Belmount


Capítulo 1
Capítulo 1




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Havia muitas coisas que eu desejava fazer na minha vida, viajar sempre foi uma delas. Meus pais sempre me proporcionaram tais oportunidades e prazeres e sempre fui muito grato. Gostava de conhecer novos lugares, novas pessoas, novas histórias. Sempre me encantei com o novo e desconhecido. Onde quer que eu passasse sempre aprendia algo de importante com cada uma das pessoas com quem eu tinha contato.

Eu poderia continuar viajando se assim desejasse, mas o prazer que eu sentia em explorar cada um desses lugares não havia como descrever. Um dos meus destinos favoritos sempre foi o Canadá. Mesmo sendo uma época de frio, curtia muito a experiência e as suas belas paisagens. Me sentia extasiado com o que encontrava.

Nevava bastante e eu precisava de algo para me esquentar. Passei o dia estudando as instalações, pontos turiscos e a minha única saída era parar no velho e aconchegante bar do Smith. Suas instalações foram feitas na mais pura madeira. Poderiamos considera-lo como uma taverna. Suas decorações não eram completamente dedicadas aos homens, havia também uma pequena influência feminina.

Não fazia ideia de que a taverna poderia estar cheia, encontrar um lugar para se sentar parecia uma missão impossível, mas mesmo assim eu não me deixaria abater. Senhor Smith se encontrava atrás da bancada, esbanjava simpatia com cada um de seus clientes. Uma simpatia que não havia como ser descrita.

Me aproximei da bancada e esperei que fosse atendido.

— No que eu posso te ajudar meu jovem?

— Preciso de algo para esquentar. — Informei a ele.

Ele mostrou um belo sorriso acolhedor e se pôs a atender o meu pedido. Não demorou e eu estava me deliciando com um bom whisky. O liquido descia esquentando a minha garganta. A sensação era tão boa. Fazia com que eu me lembrasse das noites em que eu passava ao lado do meu pai. Nós dois sentados perto da lareira tendo uma conversa amistosa. Sentia falta disso.

A taverna não era um local indicado para se ter garotas jovens por ali. Meu coração quase saltou peito a fora ao ver aquela garota. Seu sorriso doce iluminava o lugar. As poucas mulheres que ali frequentavam era atendida exclusivamente por ela. Eu acho que a encarava demais sem disfarçar, pois recebi um sorriso muito fofo dela. Nuncamesenti tão atraído por alguém. Nunca soube o que era amar e ser amado, mas diante dela não consegui me controlar. Ela era diferente do que eu poderia imaginar. Ajudava o pai com muito amor e dedicação.

Em seu rosto pude ver o cansaço, mas mesmo assim ela não deixava de sorrir para cada uma daquelas pessoas. Será que eu estava prestando tanta atenção nela a ponto de ficar com alguma expressão boba no rosto? Depois de servir algumas mesas seu pai lhe pediu para que ficasse por um tempo na bancada. Gelei ao ouvir.

— Querida me ajude aqui por favor. Preciso buscar mais lenha. A noite será de tempestade.

— Oras papai! Fique aqui, eu busco a lenha.

— Não! Você é uma garota. — Repreendeu o pai.

— Se quiser, posso ajudá-la — Me ofereci.

Tudo bem. Eu não sabia de onde havia tirado essa coragem para me oferecer. Eu nunca agi de tal maneira. Tudo era tão estranho, mas ao mesmo tempo renovador. O pai dela me olhou surpreso, mas logo concordou. A garota apenas deu de ombros não falando nada do que poderia estar pensando.

A acompanhei até fora da taverna. As lenhas já cortadas ficavam guardadas numa pequena área coberta.

— Eu sou a Abigail — Ela se apresentou mediante ao nosso silêncio constrangedor.

— Nathan.

— Vai ficar quantos dias por aqui?

— Não tenho previsão. Gosto de aproveitar cada minuto de cada viagem.

Ela fez um gesto pedindo que eu me aproximasse para ajuda-la com a lenha. De fato o seu pai não havia errado em questão ao peso. Ela precia ser o tipo de garota que não poderia pegar peso. Não apenas por ser delicada, mas por algum motivo que eu ainda desconhecia. Peguei o máximo de lenha que pude e ajudei a levar para dentro da taaverna. Seu sorriso não desaparecia de seu rosto delicado. A minha vontade era de poder conversar um pouco mais com ela, havia tido algum tipo de ligação quando a avistei. Nunca me senti tão bem ao ver uma pessoa de um lugar tão distante.

Voltei para o meu lugar onde estava sentado. Bebi uma boa dose de vinho. Minha papilas degustativas entravam em festa ao serem tocadas por esse liquido inebriante. Mesmo com os meus vinte e um anos eu conhecia bastante a respeito de bebidas refinadas. Valorizava cada uma das aulas que tive.

A boa música tocava ao fundo. Era Nirvana. Uma das minhas bandas favoritas, talvez Abigail fosse a culpada por me trazer tantos sentimentos bons naquela noite fria. A bebida e a música eram as minhas companheiras preferidas da noite. Olhava para a decoração ali exposta e notei que a caça era predominante. Na minha opnião os animais não deveriam sofrer tal abuso, eles não eram uma ameaça.

Horas e mais horas se passavam e as pessoas consumiam mais do que deveriam. Para um bom apreciador de vinhos a terceira taça já era o suficiente para que eu parasse. O clima começou a esfriar cada vez mais. Alguns dos clientes se prontificaram em sair ali.

A tarverna estava ficando cada vez mais vazia e eu não sentia vontade alguma de sair dali. Havia muitas coisas que eu gostaria de saber a respeito daquela garota. Passara uma boa parte da noite ocupada andando de um lado para o outro e assim a minha admiração e o bater acelerado aumentavam. Ou quem sabe ganhar um único beijo daquela boca delicada. A vi ir para perto da lareira acompanhada de seu livro.

— Essa tempestade vai demorar a passar.

— Eu gosto de ver a neve, me faz lembrar da minha mãe — Disse Abigail.

Abigail parecia concentrada na leitura do seu livro. Confesso que sempre admirei garotas que lessem, sempre me supreendia com o que elas tinham para contar. Minha admiração por Abigail crescia a cada minuto que passava ao seu lado.

— Por que você gosta tanto de ler? — Perguntei interessado.

— Gosto de viajar para muitos lugares, de conhecer novas pessoas, as suas lutas sem sair daqui.

— E se alguém te convidasse para viajar?

Ela hesitou antes de me responder.

— Mesmo que este fosse o meu sonho eu teria de recusar, infelizmente sair daqui seria um problema muito grande.

— Por que?

— Tantos motivos. Eu não conseguiria te explicar exatamente como é ter de lidar com tantas incertezas no momento em que estou vivendo.

Vi Abigail voltar a sua atenção para o livro. Sua intenção não era ser rude comigo, mas falar de seus problemas não parecia ser tão fácil. Um gato preto se aproximou de mim a procura de atenção e carinho. Junto com ele notei que o clima havia ficado mais pesado e sombrio, mas deveria ser efeito da lareira. Dei a devida atenção ao gato e logo voltei a contemplar Abigail.

O nosso tempo ali parecia voar.

— Por que você tanto me olha? — Perguntou ela sem tirar a atenção do livro.

— Você cativa as pessoas com o sorriso... por isso que não consigo deixar de te olhar.

No mesmo instante ela fechou o livro calmamente. O mesmo sorriso da hora em que eu cheguei preencheu os seus lábios carnudos. Já não havia como resistir ao clima que nos embalava ali naquele exato momento. Me aproximei dela e a puxei para um beijo, leve e calmo, doce e apimentado. Ela se rendia completamente em meus braços. Minhas mãos tocavam cada centímetro do seu corpo feminino. Nossos corações batiam na mesma sincronia desejando que não acabasse ali. Suas mãos delicadas se apoderavam completamente de meu corpo me causando arrepios intenso. Sua pele quente contra a minha me deixava louco por mais.A deitei no sofá e ali juntos fomos sendo guiados pelo prazer e pela magia da noite.

Olhei para um dos lados e vi algo passar em meio as sombra que a lareira projetava. Aquele gato nos assitia atentamente e o meu medo começava a perturbar. Não era agradável ser assistido por outras pessoas ou sequer animais.

— Tudo bem? — Ela perguntou num sussurro.

—Sim, me desculpe. Tive apenas um devaneio.

— Venha Nathan, me faça sentir amada, desejada.

Sorri docemente para Abigail. Queria mostrar-lhe toda a segurança do mundo.

Passei a noite ao lado dela me sentindo completamente realizado. Não havia como descrever o que passei perto daquela garota. Quando a vi soube que poderiamos ter alguma ligação no passado, pois a atração e o magnetismo entre nós era grande. Acordei mais cedo e fui para o hotel onde estava hospedado. Precisava dar algum sinal de vida para os meus companheiros.

Fiquei alguns dias sem ir até a taverna, precisava me recompor para voltar para minha casa, tinha muito o que fazer no Brasil. Meus companheiros ficaram preocupados na última vez que desapareci, mas havial lhes contado que estava tudo bem comigo, que passei a noite num lugar confortável com pessoas gentis e educadas.

Depois de aprontar as minhas malas, decidi que era hora de me despedir de Abigail e de seu pai. Em poucas horas eu estaria deixando o Canadá sem previsão de quando voltaria. Peguei o carro alugado e fui dirigindo até a parte norte da cidade. A taverna ficava na parte mais isolada, mas sempre atraia muitos clientes de alguma forma. Estacionei o carro um pouco antes da entrada principal, olhava para todas as direções tentando acreditar que eu estava no local certo. Tranquilamente comecei a andar. A taverna só poderia estar mais a frente.

Fiquei desesperado, pois quanto mais eu andava mais dificil ficava de encontrar a taverna. Nunca errava um lugar. Estava no local correto. Algo de errado acontecia por ali. Eu não poderia estar louco. Noites atrás existia um bar no local onde eu estava parado. O vento bagunçava o meu cabelo, tomava conta do meu corpo. Não poderia ser brincadeira. Não havia vestigio algum de que ali existira um bar bem frequentado.

Decidido comecei a caminhar de volta, mas senti algo tocando minha mão. Como era possivel? Calmamente virei na direção do que me segurava. Vi nitidamente a imagem de Abigail. Ela ainda mantinha um sorriso doce.

— O que aconteceu aqui?

— Não aconteceu nada! Você nos libertou quando provou que me amava de verdade. Sofremos uma terrivel maldição alguns séculos atrás e apenas com a chegada do ancestral do cavalheiro Stefan poderiamos ser salvos.

Queria ter coragem de lhe dizer algo, mas ignorei completamente o fato e fui embora. Nunca mais voltaria o Canadá durante muito anos, e sempre que era convidado temia que o mesmo pesadelo me assombrasse. O que talvez não fosse um pesadelo de verdade.

Durante a minha viagem de volta para o Brasil fiquei pensando em tudo o que havia acontecido. Não conseguia admitir para mim mesmo que tudo aquilo pareceria uma loucura. Abigail de alguma forma existia, a nossa noite juntos me provava isso. Eu não queria acreditar que de alguma forma ela estivesse morta.

Hoje com mais de setenta anos não consigo esquecer o meu primeiro amor. Sua imagem me persegue todas as noites, nunca ousei contar para as pessoas, pois elas achariam que eu estava louco. Para mim ela foi real de algum modo, tinha ainda em meus braços a marca da noite que passamos juntos. Nunca fiu capaz de amar outras pessoas como ela. Quem de nós era real? Será que todos nós somos frutos de uma mera imaginação?


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