O Que Restou de Nós? escrita por Ookamimi


Capítulo 6
Não somos os únicos




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Akemmyh: Ele havia mesmo concordado tão facilmente? Mal podia acreditar! Eu estava constrangida, assustada, envergonhada entre outros sentimentos que me confundiam naquele momento, eu realmente não entendia mais nada.

  – Gente o que tá acom teseno? – Foi como se essas palavras pulassem da minha boca, estava tão confusa que mal conseguia falar.

  – Sei lá. – Os dois responderam em uníssono.

  Falariam algo mais, porém o som de galopadas os interromperam, fizeram uma expressão negativa e raivosa. E eu nem sabia que tinham cavalos aqui.

  – São eles, obviamente. – Castiel forçou uma boa postura, assim como Rechishiah. Ficaram sérios como da primeira vez que os vi, ficavam assustadores dessa forma, talvez isso fosse como uma prevenção, como animais selvagens fazem para se proteger de predadores.

  Eles saíram da barraca, deixando-me sozinha lá dentro. Sequer deu tempo de reclamar que escutei o som das galopadas ainda mais forte, estava perto. Eu, com minha curiosidade esplêndida, coloquei apenas meu olho esquerdo para fora da barraca, já que ela estava entreaberta.

  Era um grupo, um trio, na verdade. Uma garota e outros dois garotos, dois dos membros estavam com um sorriso de canto e o último estava sério, realmente sério. Um robô?

  – Olá, amores. – Por que será que eu tenho um mau pressentimento sobre isso? Eles estavam calmos e com uma expressão péssima no rosto, era desagradável e passava um ar de insegurança.

  – Olá … – Rechishiah e Castiel não estavam nem um pouco animados, estavam até um pouco irritados pelo que eu conseguia ver. – Não pensávamos que voltariam tão cedo. – Castiel disse, franzindo o cenho.

  – Ah, é verdade. Acabamos nosso trabalho mais cedo, eu queria voltar para te ver. – A garota pulou do cavalo e foi até Castiel, com um sorriso, colocou os braços ao redor do pescoço dele e o arrastou para perto. Ele parecia estar com raiva, ao parecer não se dava bem com ela, mas, de qualquer forma, era engraçado. Por sorte não deixei escapar nenhuma risada.

  – Não toque no meu irmão com essas mãos nojentas, está bem? – Rechishiah a empurrou para longe com um sorriso falso e desafiador no rosto.

  Ela disse irmão? Espera, o que? HÃ?

  – Havia esquecido que você estava ai. – A garota se aproximou a Rechishiah, era um pouco mais alta que ela, e estava com uma expressão de raiva, ou melhor, ela estava furiosa.

  – Midna, vamos chamar atenção. – O robô disse, sua voz era quase monótona, tão baixa que mal se podia escutar.

  – Pfft, tudo bem, vamos logo. – Ela deu as costas para os dois e subiu no cavalo. – Depois vamos ter uma Separação, meia-noite em ponto. Não se atrasem. – Ela e o grupo se retiraram.

  – “Ain, não toque no meu lindo e adorável irmão seduzente e perfeito”. – Castiel articulou de uma forma … Homoafetiva(?).

  – Ah, vá se ferrar. Eu te ajudei, agradeça. – Ela deu um tapa na cabeça dele, com certa dificuldade, ele era mais alto.

  – Eu não me importaria de deixar ela me agarrar. – Ele riu.

  – Pervertido. – Ela deu as costas e entrou na barraca, como reflexo a segui.

  – Sobre essa Separação? – Perguntei quando estava ao lado dela, meia-noite, seria realmente estranho.

  – Ah, é verdade, eu esqueço que tenho que te ensinar umas coisas. – Ela riu de uma forma nervosa. – Separação é quando mais de um grupo sai para caçar, chamamos assim pois nos dividimos na área, entre os quatro grupos. Assim vasculhamos a nossa parte. O objetivo é encontrar suprimentos, sobreviventes animais, tanto racionais quanto irracionais. Sem contar os pássaros, obviamente.

  – Entendo. Vocês vão por aquela direção, não é? – Perguntei.

  – Como sabe? – Ela me olhou com um sorriso e com o cenho franzido.

  – Minha “casa”, ela fica para lá. Vocês me encontraram próximo a ela. – Creio ser um bom método para raciocínio.

  – É verdade. Sobre isso, como você chegou … Ontem, por que já passou da meia-noite e eu estou me atrasando para a Separação de propósito por que não quero ver aqueles nojentos, você não é obrigada a ir na Separação agora. – Ela disse pegando o arco que estava no chão. – Eles guardam tudo, menos meu arco.

  – E-Eu gostaria de ir! – Eu NÃO ficaria aqui enquanto eles estão lá fora tentando salvar quem puderem.

  – Eu sei, toma aqui. – Ela jogou duas pistolas para mim, por sorte consegui pegar sem que caíssem no chão. – Você não parece ter experiência com armas, então fique com essas para treino, tudo bem?

  – Sim, obrigada. – Ela estava realmente me dando uma chance, não desperdiçaria de forma alguma.

  – Vamos logo. – Ela pegou uma aljava cheia de flechas e a colocou nas costas, amarrando-a sobre o ombro e um pouco acima da cintura.

  Saímos da barraca, e o grupo Hunter inteiro estava nos esperando, ao parecer nem ligavam, ninguém queria ser pontual. Eu fiquei ao lado de Rechishiah, ela estava bem calma. Poucos minutos depois todos começaram a andar, íamos em um ritmo mediano, nada de pressa.

  Notei uma certa tensão entre os membros do grupo, Rechishiah apenas falava com Castiel, e alguns dos rapazes se sentiam desconfortáveis. Kentin estava bem, agarrado com Meary, mas bem. Oliver também não estava tenso, assim como Dake que andava normalmente. Ahrly andava sem nenhum tipo de preocupação, mas eu senti algo tenso vindo dela, não sei, talvez estivesse se sentindo mal. Alexy parecia estar em outro planeta.

  Então percebi o verdadeiro local de onde vinha essa tensão toda. O rapaz de cabelos loiros, pelo que me lembro se chamava Nathaniel, o outro Armin e Lysandre andavam com uma cara fechada demais. Não olhavam nos olhos um do outro, pareciam se ignorar. Ninguém estava percebendo? Era como se se odiassem, era estranho.

  – Não ligue para eles, digamos que há certa “disputa” por algo … alguém … somente esqueça isso. – Ahrly disse, aproximando-se a mim com uma expressão pacífica e ao mesmo tempo engraçada.

  – Disputa? – Perguntei automaticamente.

  – Você entrou no grupo agora, com o tempo vai saber. – Ela riu sem graça, por que tenho a impressão que esse grupo vai dar muitos problemas na minha vida?

  Andamos.
  Andamos.
  Andamos.


  Não era tão longe, mas estávamos indo em uma velocidade tão … tão … tão não veloz que parecia que nunca chegaríamos.

  – Vocês se atrasaram! – Era aquela mulher de antes … Midna, eu acho. Ela estava bem irritada, e quando trocou olhares com Rechishiah e Meary eu quase pude ver trovões no cenário, não era agradável. – Então, vamos logo. – O grupo dela, que tinha mais ou menos o mesmo número de membros que o nosso, saiu correndo para uma parte do terreno, saindo da floresta. Que bom.

  – Melhor irmos logo. – Castiel disse para todos. – Vamos nos divid-

  – Eu vou com você. – Rechishiah disse irritada, interrompendo-o e se aproximando a ele.

  – Mas você não fica com o Lysand?- atah, entendi, desculpa. – Ele parecia ter se tocado de algo, eu realmente tenho que investigar mais essas pessoas para saber o que se passa. – Mesmo assim, acho melhor você ir com ele, sempre fizeram grupo junto, não seria melhor?

  – Não! Eu fiz com você hoje, e ainda encontramos a Akemmyh! Formamos um grupo melhor, viu? – Ela estava realmente irritada, não parecia querer ficar com Castiel, mas também não queria ficar com Lysandre, o que aconteceu enquanto eu estava fugindo de errantes?

  – Realmente, que ótima hora para arrumar brigas. Afinal, apocalipses zumbis servem para isso! – Castiel disse irritado, batendo três vezes na cabeça de Rechishiah com o punho fechado.

  Consegui escutar um suspiro de Lysandre, não parecia estar irritado, mas um pouco sentido com o assunto.

  – Akemmyh, você virá com a gente, para entender como funciona o Grupo de Caçada. – Castiel disse e eu assenti com a cabeça. Fui em direção a eles, e ao parecer os grupos já estavam formados, de forma … legal(?).

  Meary estava com Kentin, realmente não desgrudavam. Oliver e Dake estavam um pouco perdidos nos pensamentos, mas pareciam saber que ficariam em dupla. Ahrly ficou com Nathaniel, Lysandre, Armin e Alexy ficaram como trio.

  Os números realmente não batiam, mas não parecia que Rechishiah voltaria atrás na própria escolha.

  – Ah … – Castiel suspirou, tentando conter a própria raiva. – Então vamos logo.

  E mesmo com o clima tenso e sombrio entre todos, separamo-nos e fomos a nossa busca. Posso dizer que gostava bastante de estar perto deles, mas em alguns momentos perdiam a cabeça, fazendo-me perder também.

  Não gostava nem um pouco daqui de fora, era tão … tão ruim, não sei, não me sentia bem em olhar gente morta andando.

  Castiel mandou Rechishiah para frente, Rechishiah me disse para ficar ao seu lado, e foi o que fiz. Castiel ficava a poucos metros atrás de nós. Disseram-me para destravar as armas, o fiz e continuamos andando.

  O lugar estava tão vazio, era estranho. Nas vezes em que eu saia, deveria tomar muito cuidado, pois os zumbis estavam em toda parte.

  Não havia nenhum errante. Apenas mortos, como se alguém já tivesse passado por aqui e feito a limpa nas hordas.

  – Estranho. – Castiel disse, parando. – Você acha que …

  – Tenho certeza. É melhor voltarmos, agora. – Ela disse, agarrando meu braço e dando meia volta comigo.

  – O que? Por que? – Estávamos voltando? Mas … tínhamos acabado de chegar!

  – Sim, mas temos que encontrar os outros. – Castiel disse, observando a área. – Será que eles não se deram conta?

  – Armin, Alexy e Lysandre? Duvido! Temos que encontrá-los. – Rechishiah disse em um tom de preocupação. Ela estava tensa demais, creio que, apesar de estar brigada com algum deles, ainda se sentia inquieta.

  – É verdade. Vamos procurá-los, Armin, Alexy e Lysandre foram para a esquerda. – Rechishiah soltou meu braço, e fez um sinal para que a seguisse. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, e eu precisava perguntar. Havia entrado no grupo, eles tinham que me contar as circunstâncias, senão eu não conseguiria me proteger.

  – Rechishiah, o que foi? – Eu perguntei em sussurro.

  Ela me olhou, não tão alegre. Suspirou, para tomar ar e dizer:

  – Estamos em um apocalipse zumbi, e, obviamente, não fomos as únicas pessoas do mundo a terem sobrevivido a isso. Não podemos confiar em ninguém, pois o interesse nesse tipo de situação é completamente superior a bondade. O nosso acampamento é uma pequena parte das pessoas que sobreviveram, mas existem outros por ai. Nós temos pessoas boas tanto fisicamente quanto mentalmente, armas de melhor e mais fácil equipamento, eles não. Entende? – Então era isso …

  – O outro acampamento quer nos matar? – Foram as únicas palavras que saíram da minha mente.

  – Qualquer um que encontrarmos no caminho vai querer. – Castiel disse, aproximando-se de nós. – Eu estava pensando, talvez se nos separássemos poderíamos encontrá-los mais rápido. Vá com Akemmyh por ali, eu vou pelo outro lado. – Ele apontou para os locais.

  – Não. Melhor, leve ela com você. Eu tenho que avisar para o pessoal do acampamento para não sair. – Não, não faça isso. Não. Não. Não. Não. Rechishiah, não!

  – Você tem certeza? Acho que é perigoso voltar agora, está muito escuro. – Ele disse, com uma expressão fechada.

  – Tenho. Vá logo, eu não vou morrer tão cedo. – Ela deu meia volta e correu para longe de nós, estava voltando pelo caminho que havíamos feito.

  – Ei! – Ele gritou, ela olhou para trás. – Se você morrer, eu acabo contigo. – Rechishiah riu e sacou a língua, fez um sinal de “adeus” e se foi.

  Não.
  Não.

  – Melhor irmos logo. Por onde você acha melhor? Rua da direita, ou esquerda? – Ele realmente estava querendo saber minha opinião? Que estranho, vai ver ele não é tão mal assim.

  – Ah … Não sei, esquerda? – Faria realmente diferença? As duas ruas eram iguais.

  – Então vamos para direita. – Ele disse, rindo.

  – Ei! Eu disse E-S-Q-U-E-R-D-A! – Se eu havia me irritado? Obviamente.

  – Pelo que me lembro, ela disse “Leve ela com você” e não “leve Castiel com você”. Você me segue e obedece, entende? – Ele estava tirando uma com a minha cara, com certeza! Ele parece ser muito mais calmo com Rechishiah por perto.

  – Pfft! – Eu estava tão irritada, fervendo de raiva, e não podia fazer nada.

  Fomos para a direita, apesar de eu querer muito, muito mesmo chutar a canela dele, chamá-lo de galinha e ir para a esquerda. Mas acho que não é uma boa ideia. É, não é algo bom para se fazer com alguém que está fortemente armado. Uhum.

  – Sua arma está destravada? – Ele parecia ter escutado algo, ficou em posição de ataque, colocando a arma na sua frente, observando todos os lados.

  – S-Sim. – Fiquei gelada, o que eu tinha que fazer?

  – Então fique em posição. Se você atirar de mal jeito a arma vai parar na sua cara. – Ele disse e depois riu.

  – S-Sim. – Eu não fazia ideia de como ficar, coloquei as duas armas um pouco mais a frente do meu rosto, afastando-as.

  – Haha, não é assim. – Ele se aproximou e agarrou a minha mão, esticando meu braço e fazendo a arma ficar mais distante. Colocou a mão na minha cintura, já que eu estava parecendo um robô de tão dura. – Fique normal, se ficar tensa não vai conseguir atirar.

  – E-Entendi. – Era vergonhoso.

  – Ótimo. Vamos log-

  AAAAAAAAAAAH!

  – O-O que foi isso?! – Perdi a posição no mesmo instante. – Eram os rapazes? – As vozes eram obviamente masculinas, já que o grito era forte e não fino.

  – Eram Alexy e Armin. Vamos encontrá-los logo. – Ele foi correndo, e eu ao seu lado.

  – E o Lysandre?

  – Esse não grita nem na morte. – Castiel disse, sem tirar o ar de preocupação. – Eles devem estar com problemas, com certeza.

  – Então é melhor irmos log- – Ele colocou o braço na minha frente, impedindo-me de ir.

  – Não se mexa. – Ele agarrou meu braço e me arrastou lentamente para trás da metade de caminhão que havia batido em um carro. – Não faça barulho. – Sussurrou.

  – O-O que foi? – Perguntei em sussurro.

  Ele não me respondeu. Estávamos escondidos e eu sequer sabia o porque. Então …

  – Eles vieram por aqui? – Escutamos uma voz masculina, a alguns metros de distância. – Melhor, solte-os aqui, se estiverem por perto, morrerão. – Soltar? Soltar o que?

  – Tsc – Castiel ficou tenso. – Ei. – Sussurrou, apontava para o beco ao lado. Eu podia ver que ele estava tenso, muito tenso. Suava desesperadamente. Talvez fosse pelo que o homem disse, soltar o que? Talvez ele soubesse.

  – Você tem certeza? – Escutamos outra voz masculina. – As Quimeras podem fugir.

  Quimeras?

  – Droga. – Castiel sussurrou, começou a suar mais que antes, o que estava acontecendo? O que era uma Quimera?


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