Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 94
Capítulo 94


Notas iniciais do capítulo

Bom carnaval, gente! Quem não gosta, leia o capítulo e comente. Até próximo sábado!



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—Pode deixar, Leila. —Falo ao vê-la mexer em meus cabelos. —Eu mesma faço.

—Então você está aí. —Minha mãe fala ao entrar em meu quarto e se deparar com Leila.

—Eu não tive tempo de ver a senhora. —Leila fala risonha ao reencontrar minha mãe. As duas então se abraçam forte, mas logo Leila chama por Baraquias para que ele veja Lyanna. Minha irmã está atrás de minha mãe, curiosa com o garoto.

—Esse é seu filho? —Minha mãe pergunta ao olhar para Baraquias. O garoto então vem até e me faz uma pergunta.

—Ela é a sua mãe, tia? —Baraquias pergunta e então todos riem.

—Sim. A rainha é minha mãe. —Respondo. O menino então vai até Leila e olha para minha mãe.


—Muito prazer, rainha. —Baraquias fala desajeitado fazendo minha mãe rir.

—Lyanna? —Leila pergunta emocionada ao ver a minha irmã caçula. —Ela se parece com...

—Hur. —Minha mãe fala e então Leila sorri ao ver que Lyanna é tímida.

—Uri iria amar você, Lyanna. —Leila fala e então minha irmã olha para nossa mãe.

—Uri é o meu irmão que foi pro céu, mamãe? —Lyanna pergunta arragada ao pano da roupa de nossa mãe. Ela afirma que sim e então Lyanna sorri.

—Eu vou me agradar se você voltar a ser minha dama de companhia. —Minha mãe fala para Leila. —Gahiji mal chegou e já está na cozinha.

—Eu posso ver meu pai, mãe? —Baraquias pergunta e então Leila afirma. O menino então corre fazendo Lyanna rir.

—Você precisa vir comigo, tenho algo para lhe mostrar. —Minha mãe fala para Leila. —Lyanna? —Ela chama por minha irmã. Rapidamente ela olha para nossa mãe e presta atenção. —Fique com sua irmã até eu voltar.

—Pode deixar, mãe. —Falo ao pegar Lyanna no colo. Leila e minha mãe saem juntas me deixando apenas com Lyanna.

—Que linda. —Lyanna fala ao olhar para minha coroa. —A mamãe disse que eu iria ganhar uma quando crescesse. —Lyanna fala docemente e então olha para a minha mesa.

—Quer passar? —Pergunto ao mostrar o potinho com o batom pastoso. Lyanna afirma que sim e então passo levemente o batom em seus lábios. —Pronto.

—A gente pode visitar quem tá no céu? —Lyanna pergunta e então fico sem resposta. —Eu quero saber como é nosso irmão.

—Ele também queria saber como você é. —Falo ao encaracolar os cabelos de Lyanna. Vejo novamente o adorno dourado no cabelo dela e observo com mais curiosidade. —Quem deu esse adorno que está em suas trança? —Pergunto ao notar que o adorno prende a trança feita em meio ao cabelo de Lyanna.

—Tio Gab. —Lyanna responde animada. —Ele deu um para mim e outro para a mamãe. —Ela fala animada.

—E você gosta dele? —Pergunto.

—Ele me coloca para dormir quando a mamãe fica até tarde com Djoser. —Lyanna responde e então sorrio. —Vamos brincar no harém? —Ela pede e então afirmo. Me levanto e de mãos dadas saio do meu quarto com Lyanna. De súbito sinto algo nos puxar. Minha irmã grita e então sorrio ao ver que é Djoser.

—Para onde vão? —Djoser pergunta.

—Para o harém. —Falo e então Lyanna se joga nos braços de Djoser. —E você?

—Vou treinar com Zion. —Djoser fala e então volta sua atenção para Lyanna. —E a nossa mãe?

—Com Leila. —Respondo. —Elas tem muito o que conversar.

—Imagino. —Djoser fala e então põe Lyanna no chão. —De noite entrego o presente que trouxe para você. —Ela fala ao passar o dedo indicador no nariz de Lyanna.

(...)

—Princesa Anippe? —Ouço alguém me chamar. Tento não acordar Lyanna que dorme em meu colo desde o final da tarde, ela não aguentou depois de ter brincado tanto.

—Radamés. —Falo tentando disfarçar meu incômodo. Ele faz uma pequena reverência e em seguida olha para mim.

—Sua mãe pediu para levar Lyanna até ela. —Radamés fala e então olho para ele curiosa.

—Eu mesma levo minha irmã. —Falo e então olho para Zion que está um pouco afastado de nós. —Segure ela para mim. —Ordeno e assim Zion faz. —Onde minha mãe está?

—Em seus aposentos. —Radamés fala. Acaso ele vem de lá?

—Pode deixar. —Falo ameaçadora para ele. —Obrigada por ter vindo me avisar. —Falo antes de dar as costas para Radamés. Zion me segue com Lyanna sonolenta nos braços, no entanto não fala nada. —Pode me entregar. —Falo ao chegarmos em frente aos aposentos de minha mãe.

—Boa noite. —Zion fala olhando para Lyanna que dorme em meu colo. —Shalom, Anippe. —Ele fala e então sorrio.

Entro no local e vejo minha mãe sentada em sua cadeira. Ela logo se levanta, mas eu deito Lyanna na cama com cautela. Minha mãe retira as sandálias dos pés de Lyanna e retira o adorno dos cabelos dela. Minha irmã logo se acomoda na cama entre as almofadas e sorri com o conforto.

—Mãe, acho que não deveria ter mandando Radamés buscar Lyanna. —Falo e então ela olha para mim. —É estranho. —Falo ao procurar a palavra certa. —Ele é apenas um conselheiro.

—Anippe, deixe esse ciúme bobo de lado. —Minha mãe fala ao rir de mim. Lyanna acaba acordando e olha para nós. Ela chama pela nossa mãe e então vejo minha irmã deitar no colo dela. —Ficou sem sono? —Minha mãe pergunta no mesmo instante em que as portas de abrem.

—Gab. —Falo ao ficar de frente para ele.

—Quanto tempo... —Gab brinca ao fazer uma reverência. —Mudou muito. —Ele ressalta ao olhar bem para mim.

—Tio! —Lyanna exclama contente e então sorri unicamente para Gab. Ele então vai até minha irmã e beija seu rosto, assim como faz em minha mãe.

—Como vocês estão? —Gab pergunta para nós três. —Unidas, pelo o que vejo. —Ele brinca e então vou até minha mãe e Lyanna. —E você, minha princesa? Já está pronta para dormir? —Ele pergunta para Lyanna. Minha irmã se esconde atrás de nossa mãe com toda sua timidez fazendo nosso tio rir. —Ou está pronta para correr pelo palácio?

—Não fale isso. —Minha mãe fala. —Lyanna tem mais energia que Anippe e Djoser nessa idade. —Ela fala irônica e então Lyanna sorri para mim. —Onde está sua coroa de flores? —Minha mãe pergunta fazendo minha irmã olhar para Gab.

—Não me diga que já murcharam. —Gab brinca. —Farei outra para você. —Ele fala e então Lyanna sorri tímida.

—Se despeça do seu tio. —Minha mãe pede para Lyanna. Minha irmã então fica de pé na cama e beija o rosto de Gab. Logo Lyanna se senta ao meu lado e sorri para mim.

—Boa noite. —Gab fala para mim e então beija o topo da cabeça de minha mãe. Logo ele se retira e então posso ver que minha mãe está pensativa.

—Lyanna! —Falo ao sentir minha irmã me abraçar carinhosamente. Faço cócegas nela, assim ela começa a gritar e rir.

—Parem as duas! —Minha mãe pede e então segura Lyanna. Minha irmã sorri e então beija o rosto de nossa mãe. —Ela é carinhosa, não acha?

—Muito carinhosa. —Falo sorridente. —Como o papai. —Falo e tento conter a minha emoção ao ver Lyanna abraçada a nossa mãe.

—Perdeu o sono, não foi? —Minha mãe pergunta para Lyanna. —Ponha suas sandálias e vá para o harém. —Minha mãe ordena e assim Lyanna faz. A rainha ajuda a filha a se recompor e então Lyanna olha para nós antes mesmo de sair do quarto. Ela nos observa e se vai sorrindo. —Eu ainda não lhe contei que quase matei Lyanna, contei? —Minha mãe pergunta e então me assusto. Ela olha para mim com suas mãos entrelaçadas, seu dedo polegar alegava seu nervosismo ao roçar em sua outra mão.

—A senhora pensou em abortar? —Pergunto incrédula já que minha mãe é contra esse tipo de coisa.

—Não. Eu quase me matei com Lyanna no ventre, Anippe. Djoser foi mais esperto em trocar o veneno por sonífero. —Minha mãe fala e então me levanto. —Isso foi após a guerra. Quando acordei, entrei em trabalho de parto.

—Estava desesperada? —Pergunto.

—Quase louca. —Minha mãe fala. —Mas isso não vai acontecer com você quando se tornar rainha. —Minha mãe fala sorridente. —Eu posso me orgulhar por ser a primeira rainha do Egito a governar sem estar casada com um rei. E por minha causa, meus filhos serem quem são. —Ela fala e então vem até mim. —Mas você deve se orgulhar ainda mais por ser uma rainha híbrida, Anippe. —Minha mãe fala e então vejo o quanto importante sou agora. —Quando você usar sua coroa e ficar ao lado de Djoser, eu irei olhar para vocês dois, com Lyanna arragada em minhas pernas, e vou me orgulhar por Hur. Vou sentir o orgulho dele, Anippe. Porquê quem diria que aquele hebreu que chegou jovem no palácio com um filho seria pai de outro garoto e de uma garota, que após anos se tornariam soberanos do Egito? Quem diria que eu seria mãe de um rei e de uma rainha?

—Eu não sei se é mesmo certo. —Falo ao me afastar de minha mãe. —Não nasci para isso. —Minhas palavras fazem minha mãe me olhar de forma estranha. —Não nasci para ser rainha.

—E você acha que Yaffa nasceu para ser rainha? —Minha mãe pergunta me fazendo sentir mais ódio por Amun.

—A senhora matou Oritia, não foi? —Pergunto sem pensar. —Matou ela depois que Amun matou meu pai. —Falo. —Pensou que Amun iria sentir a mesma dor? —Pergunto tão brava que minha mãe não tem coragem em me responder. — Estúpida. —Falo, então minha mãe passa a me olhar com indignação. —Amun não amava Oritia, não sentiu a morte dela. Mas Yaffa sentiu a morte da mãe. Amun pode ter matado seu marido, meu pai. Mas a senhora matou apenas a mãe de Yaffa. Pode me dizer quem foi mais covarde? —Pergunto antes de sair do quarto incrédula.

(...)

—Mal chegou e já estranhou a nossa mãe? —Djoser pergunta ao me ver no jardim.

—Sabe como sou. —Falo e então olho para ele. Djoser segura sua espada, mas a põe em seu lugar. —Por um lado ela foi estúpida.

—Antes de ser estúpida, ela ficou viúva. Viúva com uma criança no ventre. Com um irmão morto, e em semanas depois com outro morto também. A filha longe, e apenas um filho perto. E sabe qual era a única certeza dela? —Djoser pergunta seriamente. —Que usaria a coroa dela ao amanhecer até o anoitecer.

—Você tirou Lyanna dela. —Falo. —Não me contou.

—Eu fiz o que fiz por nós. —Djoser completa. —E você, Anippe? O que fez por nós? —Djoser pergunta bravo.

—Nada, ainda. —Falo olhando bem nos olhos de meu irmão. Algo me diz que Djoser me esconde algum segredo. —Mas eu vou fazer. —Falo ao me aproximar dele. —E a primeira coisa que quero fazer é saber o motivo de ver medo em você. —Falo.

—Medo? —Indaga curioso. —Eu não sinto medo desde que nosso pai morreu.

—Eu não sinto medo, eu não sinto nada quando vocês falam que ele morreu. Cinco anos se passaram. —Falo e então olho ao redor. —Amenhotep teria se tornado um homem, sabia? —Indago. —Nefertari estaria mais velha, quem sabe sua beleza teria murchado. Ramsés ainda estaria levantando o reino. —Falo. —E quem sabe Uri estaria aqui longe do filho.

—Eu sinto muito a falta dele. Uri era o irmão mais velho, sempre na frente de nós dois. —Djoser fala ao olhar para o vago. —Mas ele morreu por sua própria culpa.

—Nos sonhos que eu tive com ele, onde nossas almas se encontram e meu subconsciente mostra o que quero ver, em todos eles, Uri me guia. —Falo. O silêncio se estabeleceu e ouço apenas as andorinhas. —Na noite em que ele morreu, eu me vi tão desesperada que comecei a falar coisas sem sentido. Senti como se um pedaço meu estivesse morto.

—Somos o mesmo sangue e a mesma carne. —Djoser fala. —Não pode duvidar de mim. Somos a mesma carne e sangue.

—Você não pode mentir para mim. Somos a mesma carne e sangue. —Rebato antes de me recompor.

—Me perdoe, não sei porque diz isso. —Ele fala nervoso. —E me perdoe mais uma vez por não manter Yaffa presa.

—Espero que saiba o que está fazendo. —Falo. —Yaffa pode matar você enquanto dorme. —Os olhos de meu irmão então refletem medo. —Espero que na noite de núpcias ambos se lembrem que seus pais vivem em guerra. Espero que você lembre que o pai da mulher com quem vai se deitar todos os dias, matou nosso pai. E espero ainda mais que ela se lembre que a mãe dela foi morta pela nossa mae. —Falo antes de sorrir e fazer uma sínica reverência para meu irmão antes de me retirar. Dou alguns passos sozinha com as mãos unidas e sem expressão alguma no rosto. Mas logo em seguida sorrio ao imaginar o sofrimento de Yaffa. Não sei se estou me tornando uma pessoa pior do que estava me tornando antes de ir para a ilha de Philae, mas sei que ao imaginar o sofrimento dela, me vejo imensamente feliz. —O que é isso? —Indago ao ver jaulas quase da minha altura sendo levada por servos enquanto Paser vem logo atrás.

—Feras. —Paser fala e então olho para ele curiosa. —São alimentadas pela rainha mãe fazem quase três anos.

—Me deixem ver. —Ordeno e então o pano vermelho de uma das jaulas é retirado. Logo me deparo com um leão em minha frente. Ele rosna, um líquido transparente sai de sua boca por entre os dentes. O animal olha para mim como se esperasse apenas uma oportunidade para me atacar. —E essa menor?

—Um filhote. —Paser responde em relação a jaula menor seguida pelas outras três.

—Por qual motivo minha mãe teria como mascote um leão? —Indago. —Sempre pensei que ela não levasse tanto a sério o fato de Ramsés I ser do sangue de leão.

—Vossa mãe trata esses leões como se fossem sua única segurança. Eles agora vão para a masmorra feita para eles, escondidos vão ficar. —Paser revela. —E vão passar dias de fome para mostrarem para a rainha do que eles já são capazes de fazer.

—Não sei o que minha mãe pretende com isso. —Falo ao avistar o pequeno filhote na jaula. —Mas leões parecem ser mais temíveis que espadas. —Falo ao me aproximar de um deles, o maior de todos. O animal permanece imóvel assim como eu. —Me diga uma coisa, Paser. —Falo ao imaginar coisas assim que vejo os dentes do leão. —Ter um membro arrancado é algo doloroso, não é?

—Muito doloroso, alteza. —Paser responde enquanto meu olhar reflete o leão. —Creio que a maior de todas as dores.

—Ótimo. —Falo sorridente e então olho para Paser. Olho novamente para o leão que começa a se agitar. Com isso dou meia volta e ouço o leão rugir.


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Notas finais do capítulo

Lyanna é muito fofa, não é?
Gostaram dos mascotes?



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