Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 85
Capítulo 85


Notas iniciais do capítulo

Oiee, gente. Quase um mês sem postar capítulo, né? Mas finalmente cheguei. Espero que estejam gostando de ver a história pelos olhos da Anippe, muitas mudanças vem aí... Inclusive novo otp heheh



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Algumas semanas se passaram e eu permaneci um pouco afastada de todos. Hoje é dia de festa no acampamento dos hebreus e eu estou entre Arão e Joquebede. Não nego que ficar afastada de todos me faz bem,mas eu posso ver Zion olhando para mim, assim como Chibale. Mas eu tento olhar sempre para algum coisa, sempre esbarro o meu olhar em Arão, o que começa a me incomodar um pouco. Não porque ele está sendo indiscreto, mas sim porque estou ficando entediada. Mas todas as vezes que olho para o sumo sacerdote algo em mim se alegra.

—Você deveria estar dançando com as outras moças. —Joquebede fala e então sorrio. —Já basta Arão parado como se não soubesse o que é uma festa.

—Desde que Eliseba morreu. —Falo. —Ele não tem ânimo para festa.

—Não é isso. —Arão fala e então rimos. —Estou velho demais para isso.

—Mas é claro que não, Arão. —Nego. —Você ainda é muito jovem e atraente. —Falo sem pensar. Quando me dou conta estou diante do olhar surpreso de Arão e o meu rosto corado pela vergonha. O que eu fiz? —Digo, atraente na visão geral das mulheres. E... Ah, você entendeu. —Pela primeira vez na vida fico sem argumentos. —Me desculpe se fui ousada...

—Claro que não. —Arão fala enquanto Joquebede se afasta. —Ousadia é seu segundo nome. —Ele fala enquanto estou nervosa. —Mas saiba que esse logio vindo de você me faz bem.

—De mim? —Pergunto sem entender.

—Sim. Um elogio vindo da moça mais bonita do acampamento. —Arão ressalta me deixando sem jeito. —Deveria estar se divertindo. —Ele muda de assunto enquanto estou nervosa.

—Eu? Não. —Nego mais uma vez. —Porque... —Paro de falar imediatamente ao ter uma ideia tanto quanto absurda. —Arão, vamos dançar? —Pergunto risonha e então vejo o viúvo rir depois de tanto tempo.

—Normalmente é a moça quem recebe o pedido. —Arão fala me fazendo rir alto. —Você é diferente, Anippe.

—Vem ou não? —Pergunto ao estender minha mão para Arão enquanto todos festejam de noite no acampamento. Ele então segura a minha mão, assim vamos para o meio da festa.

(...)

—Eu nunca mais faço isso. —Falo rindo assim como Arão. —Eu comecei a dançar o que não deveria, então todos olharam para mim!

—Eu fiz um esforço para não rir, mas foi inevitável. —Arão fala risonho. —Mas isso me fez bem, fazia tempo que não ria tanto.

—Para mim também. —Falo e então olho para o céu enquanto caminhamos. —O céu deveria ser perto.

—Não me diga que bebeu vinho. —Arão brinca e eu nego. —Menos mal.

—Mas eu falei isso porque... —Suspiro. —Ele é surreal, inalcançável, esplêndido...

—Como você. —Arão fala seriamente e toma minha atenção enquanto o olho com atenção. —Se sentiu ofendida?

—Não. —Nego ao olhar bem para Arão. —Eu só não entendi muito bem o que você me disse...—Falo pausadamente e então Arão sorri. —Não está me cortejando, está?

—Claro que não. —Arão afirma rindo. Por um segundo me entristeço, mas logo esqueço esse sentimento. —Você não iria se sentir ofendida?

—Não vindo de você. —Falo, mas imediatamente vejo o meu erro. —Até porque você não é um desconhecido e...

—Tudo bem, Anippe. Eu entendi. —Arão me interrompe. —Não precisa ficar nervosa.

—É que assim vou estar parecendo uma oferecida. —Falo.

—Tudo, menos uma oferecida. —Arão fala risonho. —Vá descansar, não é adequado você estar sozinha comigo sendo tão tarde. —Ele fala zeloso.

—Mas não poderiam falar nada. Sabem que você não faria nada comigo. —Falo. —Você é o sumo sacerdote, não se envolveria com nenhum tipo de escândalo.

—Mas você é uma jovem. —Arão ressalta e então eu entendo o que ele quer dizer. —Quantos anos tem? 14?

—Arão, eu já lhe disse que tenho 15! Quase 16!—Falo sabendo que ele pergunta isso para me irritar. —Já faz quase um ano que saímos do Egito. Alguns meses que meu pai morreu... —Falo. —Logo teremos a páscoa.

—Falta muito, nem tão pouco assim. —Arão fala risonho. —Boa noite, Anippe. —Arão deseja e então o abraço de surpresa.

—Boa noite, Arão. —Falo ao sentir sua mão afagar meu cabelo. Eu então desprendo meus braços dele e sorrio antes de entrar na tenda de Joquebede.

—Posso saber com quem estava? —Moisés pergunta me assustando novamente.

—Estava com Arão. —Minha resposta deixa Moisés calmo. —Ele me acompanhou até aqui. Todos já estão dormindo?

—Sim. —Moisés responde. —Mas eu fiquei te esperando.

—Não precisava. —Falo risonha. —Eu já vou dormir.

—Anippe... —Moisés chama por mim e então volto minhas atenções para ele. —Como você está? Como se sente depois desses dias?

—Hoje me senti melhor. —Minhas palavras alegram meu irmão. —Fazia tempo que não me divertia. —Confesso. —Mas agora eu quero dormir, Moisés...

—Claro. —Ele fala risonho. —Tenha bons sonhos. —Moisés desja ao beijar meu rosto e então sorrio. —Shalom, minha irmã.

—Shalom. —Falo e então vou para o meu quarto. Vejo Miriã deitada na cama ao lado, mas nem por isso mudo de humor.

Sorrio ao lembrar de Arão, sorrio como a muito tempo não faço. Eu também estou feliz pelo fato de vê-lo tão feliz hoje, também fazia tempo que ele não sorria. Estou prestes a explodir de felicidade sem motivo algum. Eu não sei o que estou sentindo, nunca senti antes. Apenas sinto quando me lembro de Arão.

—Anippe? —Miriã chama por mim ao me ver. —Onde estava? Fiquei preocupada.

—Preocupada? —Indago surpresa.

—Claro, a noite está fria. —Miriã fala e então toca em mim. —E você também.

—Eu não senti frio. —Falo e então sorrio.

—Tome. —Miriã fala ao me deitar em minha cama e me cobrir com sua coberta. —Você vai acabar ficando resfriada.

—E você? —Pergunto ao ver que Miriã vai ficar desagasalhada.

—Eu vou ficar bem. —Miriã fala e então sorrio de canto.

—Desculpa pela forma como venho te tratando. —Falamos ao mesmo tempo e então sorrimos.

—Eu não sei bem o que ando fazendo. —Falo fazendo Miriã rir.

—Eu também sou assim na maioria das vezes. —Miriã afirma. —Mas agora tente dormir.

—Eu tenho o meu, pode ficar. —Falo e então devolvo o cobertor de Miriã. —De noite no deserto é frio, mas eu estou quente.

—Anippe... —Miriã chama a minha atenção ao entender de forma errada. —Está apaixonada?

—Claro que não. —Falo fazendo Miriã rir alto. —Não faça tanto barulho!

—Não posso evitar. —Miriã fala e então abafa o riso. —Quem é?

—Não estou apaixonada! —Nego. —Boa noite, Miriã. —Falo ao me enrolar nos lençóis ainda ouvindo a risada de Miriã.

—Shalom, Anippe. —Ela fala e então vai para a sua cama enquanto me deito melhor. —Anippe? —Ela me chama e então olho para ela. —Por quem está apaixonada?

—Miriã! —Falo ao jogar meu travesseiro nela, mas logo recebo de volta. —Shalom! —Falo antes de me deitar dando as costas para ela.

(...)

—Se aquilo não é carinho, então o que é? —Pergunto para Miriã ao ver Deborah e meu sobrinho.

—Amor. —Miriã fala enquanto ajudo a carregar os cestos com roupa. —Mas, quem é seu pretendende? Ontem a noite estava fria e você estava muito bem aquecida... —Miriã fala e então a repreendo ao ver Arão se aproximar.

—Eu estava com Arão, Miriã. —Falo e então seu semblante muda.

—Shalom. —Arão fala ao nos ver, mas logo continua a andar. Eu paro e então observo seus passos.

—Anippe? —Miriã me chama e então olho para ela. —Anippe, você está apaixonada pelo meu irmão?

—Que absurdo é esse, Miriã? Enlouqueceu de vez? —Pergunto. —Vamos logo lavar isso. —Falo e então voltamos a andar, mas antes olho para Arão e recebo um sorriso.

—De tanto olhar para trás, vai cair. —Miriã fala e então volto minhas atenções para ela.

—Espero que esteja brincando. —Falo. —Como eu iria gostar de Arão?

(...)

—Você e Miriã? —Halima pergunta surpresa. —Que evolução.

—Que coisa... —Falo risonha.

—Você está de bom humor. O que aconteceu? Sonhou que algum príncipe vinha te buscar em um cavalo branco? —Halima pergunta é então começamos a rir.

—Nada disso. —Falo. —Eu nem sei o que está acontecendo comigo. Me sinto bem!

—Quem fez essas tranças em seu cabelo? —Halima pergunta ao olhar para meu cabelo.

—Foi Miriã. —Falo. —São diferentes do cabelo da minha mãe.

—Os seus são mais claros? —Halima pergunta.

—Sim. —Respondo e então olho para os cabelos castanhos acobreados de Halima. —As vezes eu só queria estar lá com ela. Tentando fazer algo para que ela não se sentisse sozinha...

—Não pense nisso. —Halima pede enquanto brinco com meu cabelo. —Assim vai pensar no tempo que falta para voltar para casa.

—Eu não tenho casa. —Falo, deixando Halima confusa. —Ou pelo menos penso assim.

—Claro que tem. —Halima fala exaltada. —Você tem um palácio apenas seu. Você cresceu com seus pais, com seus irmãos. —Ela ressalta. —Nasceu no mesmo luxo que Djoser, no mesmo conforto. Você tem uma família, Anippe. Você teve seu pai, ainda tem sua mãe.

—Eu sei. —Falo prestes a chorar. —Mas eu não consigo aceitar a morte dele, Halima! —Esbravejo. —Eu sinto como se ele estivesse vivo! Mas eu acho que só sinto isso porque quero acreditar! —Falo. —Mas o meu coração não aceita a morte dele tão fácil! Não tão fácil! —Esbravejo e então Halima vem até mim.

—Não... Essa sua mudança de humor, não! —Halima fala preocupada e então choro. —Fica calma, Anippe! Pelo amor de Deus, mantenha a calma! —Ela pede ao ver que estou descontrolada.

Eu não sei como controlar minhas emoções desde que eu ainda era uma criança. No início todos falavam que eu era muito nova, não entendia muita coisa. Mas então eu cresci, enfrentei meus pais, fui para Philae onde vi que estava errada. Passei meses achando que havia me convertido, mas na verdade ainda há algo de muito obscuro em mim. Talvez em meu coração, por se tratar de sentimentos. Talvez no sangue, por ser neta de Seti e sobrinha de Ramsés. Não sei muito bem o que estou pensando. Não sei muito bem o que quero me tornar. Algumas vezes acho que estou me tornando alguém pior do que pensei que poderia ser. Outras vezes não sei nem o que é pensar.

Flash Back On

Que coitado seria o reino que tivesse Anippe como rainha. —Meu tio Ramsés fala risonho para Paser.

—Não diga isso, meu soberano. Vossa sobrinha... —Paser tenta amenizar, mas eu interfiro.

—Meu tio tem razão. —Falo para surpresa dos dois homens. —Se eu pudesse um dia der rainha, com toda certeza iria pôr para fora os bajuladores do reino, rasgaria com minhas mãos os acordos mais inescrupulosos e aceitos por conveniência. E acima de tudo, apagaria o nome de muitos da história. —Minhas palavras assustam meu tio. —Garanto esse reino não seria apenas palco de bajulações, vinho, torneios e construções de estátuas. —Falo sobre o governo do meu tio. —Haveria medo no olhar de quem nos odiassem, haveria respeito para os estranhos, haveria guerra para os reinos que não se curvassem. Assim como haveria progresso no equilíbrio da ordem cósmica.

—Ouvi as mesmas palavras vindas da boca do falecido Seti. —Paser fala me deixando surpresa. —Era exatamente assim que ele governava.

—Eu faria muito pior que ele. Eu queimaria os vermes em massa ao invés de chicotear um por um todos os dias. —Falo.

Flash Back Off

—Eu sei que ainda é cedo para pensar nisso tudo, mas você precisa se acalmar e tomar um rumo. —Halima fala enquanto lembro do meu tio Ramsés. —Você vai voltar para o Egito como princ...

—Rainha. —Falo surpreendendo Halima. —Se meu irmão não te aceitar e ainda assim preferir Yaffa, eu quebrarei sua coroa em duas e usarei a coroa de minha mãe. —Falo. —Irei governar sozinha, eu posso fazer isso. Mas não posso deixar que Djoser cometa algum erro.

—Você como rainha? —Halima pergunta curiosa. —Anippe...

—Se minha mãe é rainha, eu também sou...

—Eu não desejaria algo assim. —Halima aconselha. —Depois que sua mãe se tornou rainha, muitas coisas ruins aconteceram.

—Lhe garanto que não daria os mesmos passos que ela. —Rebato.

—Claro que não. Você não tem filhos, não tinha alguém ao seu lado para quem amar e ser amada. E acima de tudo, não tem um filho no ventre como sua mãe tinha até pouco tempo. —Halima fala me deixando sem palavras. —Não que a vida da rainha Henutmire tenha sido conturbada, mas a sua vida não foi como a dela. Sua mãe enfrentou a vida desde que nasceu sendo filha do faraó Seti, acha mesmo que a vida dela era fácil? Todos olhavam para ela com temor porque sabiam o que aconteceria se fizesse algum para ela. —Ela dá uma breve pausa. —Eu vi no olhar da sua mãe o que poucos conseguem ver: Coragem. —Fala. —Coragem de amar um bebê escravo e enfrentar o faraó, seu próprio pai. Coragem para seguir em frente achando que era amaldiçoada por não gerar filhos. Coragem para amar um hebreu e ser mãe. Mas sua mãe foi mais corajosa em sentar no trono que era seu desde que nasceu. Nem mesmo Gab, que é "bastardo", ou Kamés, que morreu ainda criança, eram dignos daquele trono, Anippe. E me perdoe pelo o que vou dizer agora. Mas algo me diz que, assim como os filhos de Seti, haverá uma guerra pelo trono entre você e Djoser.

—Porque acha isso?

—Porque no fundo da sua alma, há o mesmo direito de sua mãe em ser rainha. —Halima fala me fazendo pensar. —Dizem que o faraó Seti herdou o desejo de poder de seu pai, mas que nenhum filho de Seti herdou esse desejo. Eu não concordo, esse desejo e habilidade em fazer o que deve ser feito sem se importar com os sentimentos está camuflado em sua mãe e em Djoser. Mas isso desabrochou em você, não está camuflado. —Ela então olha para o chão. —Por isso eu acho que a história vai se repetir.

—Como assim? —Indago confusa.

—Gab foi posto de lado e esquecido, Kamés e Ramses morreram, para todos verem que a merecedora do trono é sua mãe. —Ela fala ao voltar e olhar para mim. —Uri não poderia reinar, não era filho de sua mãe, assim como Moisés também não teria direitos. Amenhotep era o herdeiro até então por ser filho de Ramsés, mas morreu assim como a criança que Nefertari carregava no ventre. Você está aqui no meio do deserto e no Egito é apenas a princesa. E Lyanna... —Halima faz uma pausa. —Morreu como um anjo sem saber qual seria seu destino.

—Meu pai falava que o destino da criança que minha mãe carregava era grandioso. —Falo com uma ponta de ironia. —Que ingênuo ele foi.

—É assim que os pais pensam sobre os filhos. E Hur não foi tolo, assim Seti também seria. Ele não imaginava que Henutmire seria rainha. Se a morte não tivesse envolvido a alma de Lyanna, quem sabe o que ela poderia ter se tornado...

—Eu não sei, Halima. Para mim há algo faltando. Eu não consigo acreditar que meu pai morreu e muito menos Lyanna. —Falo pensativa. —Djoser viria me buscar agora mesmo se tais coisas tivessem acontecido.

—Supondo, apenas supondo que Djoser esteja mentindo. Porque ele faria isso?

—Eu não sei. —Falo confusa. —Mas algo está fora do lugar. —Revelo. —É como se o tabuleiro de Senet estivesse com suas casas fora de órbitas.

—Como se tudo fosse planejado?

—Exatamente. —Afirmo. —Essa mensagem demorou muito a chegar, mas a nova mensagem onde fala sobre Lyanna não demorou tanto. —Falo e então Halima parece pensar. —Meu pai morreu quando Lyanna ainda nem pesava tanto no ventre de minha mãe, depois de meses a notícia de sua morte chegou. Agora que Lyanna morreu, a notícia chegou incrivelmente rápido.

—Acha que alguém...

—Fazem quase dois meses que Lyanna nasceu e faleceu, Halima. Quando a notícia que meu pai morreu chegou, se faziam quase cinco meses. —Falo deixando Halima perplexa. —Tem alguém que se opõe nesse meio. Minha mãe não deixaria de me contar tal coisa, não mesmo.

—E quem poderia ser esse alguém? —Halima pergunta pensativa. E então respondo com apenas um nome e certeza. E é essa pessoa que irei guerrear verdadeiramente dentro daquele palácio.

Gab.


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Notas finais do capítulo

Anippe está suspeitando de Gab, gente. Será que nossa neném rebelde vai descobrir tudo?



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