Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 70
Capitulo 70


Notas iniciais do capítulo

CHEGUEI! Eu sei que tô pegando pesado com vocês a cada capitulo, e quando fui revisar o capitulo 70 vi o quanto injusta estou sendo com todos vocês. Mas infelizmente, eu não posso mais mudar a trajetória da história já que estou prestes a começar FINALMENTE a escrever a segunda temporada. Digo "Finalmente" porque eu escrevi o inicio da segunda temporada umas sete vezes e não achei bom, além do mais eu vinha mudando o destino de alguns personagens como por exemplo o Ikeni que morreria na abertura do mar assim como Gab, mas eu vou precisar deles para a segunda temporada. Finalmente também porquê será BEM dificil narrar pelo ponto de vista da Anippe, já que ela é a personagem mais complexa de Coração De Seda. Tentem pegar o Seti, misturar com Henutmire, Ramsés e Gab, acrescentar o Hur bravo e colocarem ao forno por nove meses. Sim, vai da na Anippe, ou seja, ela é bastante complexa, vocês não tem noção. Essa é a personagem mais louca/bipolar/complexa que já fiz. E olhem que ela não é vilã, imaginem se fosse. E eu não posso simplesmente fazer a Anippe voltar a ser o que era antes, por que com isso a evolução dela (mesmo que repentina e curta) seria jogada no lixo.
AAAH, antes que eu me esqueça, vem uma surpresinha para vocês não ficarem desamparos e com saudades da primeira temporada enquanto a segunda não chega. Em breve irei postar " I Will Always Keep You Safe" que é nada mais nada menos que um mega especial narrado pelo nosso Djoser ♥
Boa leitura!



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Dia a pós dia eu acabo me afastando de todos, não consigo manter contato com ninguém. Após a morte de Hur uma forte tristeza dentro de mim me toma as forças, assim como a decepção de ver que Djoser me culpa pela morte do pai. Todas as manhãs eu venho até o Nilo e aqui passo o restante do dia, apenas Karoma e alguns guardas me acompanham, mas nem por isso deixo de me sentir sozinha. A verdade é que minha vida está totalmente desgovernada desde que Nefertari morreu. Desde a morte dela porque foi por isso que me tornei rainha, e isso desencadeou ainda mais o ódio que as pessoas sentiam por Hur pelo fato dele ser meu marido. —Olho para meus pés próximo a água, mas eu então sinto um olhar sobre mim. Inclino minha cabeça e então meu olhar se volta para alguém que está de longe a me observar. Não posso ver quem é, seu rosto está coberto a distância é maior, não consigo distinguir se é jovem ou já é velho, apenas sei que é um homem. —Quem é?

—Quem pode ser? —Pergunto ao andar perto da água tentando ver o rosto da pessoa. Um vento forte é lançado e eu torço para que esse mesmo vento leve o pano escuro que cobre o rosto do homem. —HEY! —Grito para o homem, mas ele apenas me olha fixamente. Seu olhar então cai sobre meu ventre. —É um rebelde! Socorro! —Grito com a intenção dos guardas me ajudarem. —Karoma! —Grito ao ver que o homem vem até mim, mas desiste por algum motivo oculto. Ele então se vai antes mesmo dos guardas chegarem.

—O que foi, soberana? —Ikeni pergunta ao chegar ao lado de outros guardas.

—Tinham um homem me vigiando, Ikeni! —Falo assustada. Ikeni então parece ficar calmo, mas mesmo assim faz um sinal para os homens irem vasculhar o local. —Será Amun?—Minha pergunta é recíproca. Claro que é Amun! Quem mais poderia ser? Algum ser divino?

—Melhor a senhora voltar,soberana. —Ikeni aconselha enquanto eu respiro fundo. Estou muito assustada com a aproximação deste homem desconhecido. —Não é seguro que fique aqui.

—Tem toda razão, Ikeni. —Falo ainda ofegante. —Mas a fisionomia deste homem não me é estranha. Já o vi em algum lugar. Mas com aquele pano cobrindo seu rosto e a roupa escura não me ajudou a distinguir quem era.

—Tem certeza que o conhece? —Ikeni pergunta preocupado.

—Não exatamente, Ikeni. Mas sua fisionomia... —Falo pensativa ao olhar para o Nilo procurando uma explicação. —Aquele homem me olhava fazia tempo. Sabe-se lá o que queria comigo. —Falo atordoada ao imaginar que tipo de homem deveria ser. Sorrio ao imaginar o que Hur iria dizer para mim se soubesse de algo assim. Certamente ele me chamaria a atenção, diria que esse homem me faria mal, mas eu iria mais me preocupar com ele se estivéssemos juntos.

Sinto um aperto no peito ao lembrar de cada vez que nos cuidávamos, sempre um com cuidado com o outro. Hur prometeu cuidar de mim e me amar até os últimos dias, e assim o fez. Meu marido partiu e a última lembrança que teve minha foi ao sair se nosso quarto. Ele estava feliz, mas que isso, Hur transmitia sua felicidade pelos olhos e com isso não falava nada.

(...)

—Como era esse homem? —Gab pergunta ao meu lado no jardim enquanto caminhamos.

—Não vi muito bem. Mas sua fisionomia não me era estranha, era familiar. —Falo para sua surpresa. —Acha que era Amun?

—Poderia ser, Henutmire. —Gab fala preocupado comigo. —Não saía mais do palácio, você não é mais uma menina e está grávida. —Ele me alerta e então eu concordo. —Sabe-se lá o que ele faria com uma mulher grávida.

—Eu estou desolada, Gab. Não sei mais o que   faço com meus pensamentos, eles estão em completa desordem. —Falo farta de tudo isso.

—Tenho algo para você. Na verdade não é para você exatamente... —Ele fala ao me segurar pela mão e me puxar. —Está na oficina.

—Na oficina? —Pergunto incrédula.

—Eu o encontrei. Acho que esse era o presente que Hur daria para você. —Gab fala assim que chegamos na oficina.

—Como pode ter certeza? —Pergunto ao ver Gab colocar um cesto na mesa. Olho incrédula ao ver o cesto e entender tudo. —Não pode ser.

—Acho que Hur já pensava em como a criança iria descansar quando não estivesse nos braços da mãe. —Gab fala assim que eu toco no cesto soberano de meu filho. —Eu sinto muito. —Gab lamenta ao me ver chorar ao lembrar de Hur e contemplar o cesto.

—Eu também sinto, mas não há nada que se possa fazer. —Falo infeliz por não ter Hur comigo. Como ele me faz falta! Em parte eu estou me sentindo culpada pela morte dele.

—Mas o que é isso, tente se acalmar. —Gab pede ao me ver chorar compulsivamente. É incrível como ele, apesar de eu quase ter o matado, se preocupa comigo. Como eu disse, é uma relação de amor e ódio onde eu odeio e ele ama. —Hur está com Deus, Henutmire. Ele está cuidando tanto de você quanto de Hur.

—Mas eu não aceito isso. —Falo sentindo uma revolta súbita dentro de mim. —Eu não queria ter perdido ele assim. —Gab então fica ainda mais próximo de mim, sinto o pousar dos seus braços e então aceito seu abraço. —Amun poderia ter tirado qualquer outra coisa de mim, menos Hur. Poderia ter tirado até minha vida, mas Hur não. —Lamento ao soluçar forte e assustar Gab com meu estado. Mas a verdade é que isso me dói muito.

—Você é forte, não pode se deixar levar por isso. Hur está bem, Henutmire. De onde ele estiver, vai estar olhando para você e seus filhos. —Gab fala  entristecido pela minha situação. —Me perdoe, Henutmire. —Ele pede perdão, mas eu não entendo.

—Perdoar?—Pergunto sem entender onde Gab quer chegar. —Pela nossa última briga? —Pergunto envergonhada.

—Apenas me perdoe. —Gab pede me deixando confusa. O que ele tem afinal? Ele então me abraça novamente, mas desta vez mais forte.

—Sabe o que é pior? —Pergunto ao me separar de Gab. —Eu não dei valor para quem eu amava e me amava também. Eu não sabia que seria a última vez que veria Hur, não sabia também que quando meu pai pediu perdão, seria a última vez que eu o veria. —Lágrimas brotaram de meus olhos ao fazer tal comparação. —Se eu soubesse que seria a última vez que iria ver Hur em minha frente, eu teria dito tudo o que deixei de falar, diria que ele é o melhor homem que já existiu. Se eu soubesse que veria meu pai pela última vez, eu teria ido atrás dele, e teria o chamado de "pai" pela última vez. Teria deixado tudo de lado, e quem sabe, perdoado ele. —Gab então chora asism como eu. —Teria perguntado porque ele sempre me protegeu tanto, até mesmo de Moisés. —Falo ao finalmente entender que meu pai na verdade tinha medo que eu sofresse com e por Moisés, e isso de fato  aconteceu. Ele tinha medo que muitos rissem de mim por ter um filho adotivo e não se sangue, ainda mais hebreu. Ele temia que eu sofresse com as chacotas. —Teria passado o resto do dia com ele. Se eu tivesse o perdoado, teríamos passado o resto da noite junto e assim Yunet não teria o matado. —Falo ao sentir o gosto amargo da culpa. —Mas aqui estou eu. Grávida e viúva. —Falo e então me sento na antiga cadeira de Hur. —Eu faço tudo errado, não importa com quem, eu faço tudo errado.—Não ousa olhar para Gab agora. Neste momento, estou envergonhada comigo mesma. —Eu só queria entender porque isso tem que ser comigo. Eu não queria ser filha de rei nenhum, eu sou queria ser filha do meu pai, e ter ele, viver com ele, saber o que é ser filha pelo menos uma vez. —A essa altura meus olhos já estão vermelhos por tanto chorar. —Mas eu não fiz isso. Não fui como Anippe que perdoou Hur, minha filha foi mais sábia, foi mais humana.

—Isso já passou. —Gab fala ao me ver desolada. —Agora tudo isso é apenas uma lembrança. Logo Yaffa voltará ao Egito com Anippe.

—Eu quero ver Anippe antes de partir. —Falo assustando Gab. —Eu sei que não vou aguentar esse parto, Gab. Quero ver os meus filhos antes de morrer...

—Você não vai morrer no parto, Henutmire. Você vai viver e ver essa criança crescer, vai vê-la correr pelo palácio. Mesmo que não seja a mesma coisa, Ramsés vai te ajudar a criar essa criança. E quando ele não fizer isso, eu vou fazer. —Gab promete me deixando incrédula. —Não é certo que você sofra assim, me perdoe. —Gab me pede novamente como se tivesse feito algo grave contra mim.

—Você não tem culpa disso. —Falo. —Mas agora eu preciso ir. —Olho então para o cesto de meu filho antes de me distanciar de Gab. —Essa oficina me trás boas lembranças. Me faz lembrar de quando eu enxergava Hur apenas como um amigo, mas ele já me amava. —Falo ao olhar para cada canto do ambiente. —Me faz lembrar de quando Anippe e Djoser corriam para aqui todas as manhãs procurando pelo pai. E então Uri ficava sem concentração alguma, assim como Hur.

—Ramsés me contou que Anippe era mais próxima de Hur do que Djoser, até mesmo Uri. —Gab fala.

—Anippe ama o pai. Não quero nem imaginar o que pode acontecer quando ela souber que ele foi morto. —Falo preocupada. —Hur sempre quis ter uma filha. Anippe foi planejada, mas Djoser não. —Falo um pouco nostalgia. —Hur estava no momento em que Anippe nasceu. Ele não poderia estar lá, era constrangedor demais para um homem ver sua esposa dando a luz, mas ele estava lá. Não saiu de perto de mim até Anippe nascer... —Falo pausadamente com meu olhar vago para o nada. —

(...)

Flash Back On

—Não faça isso! —Chamo a atenção de Hur ao ser suspensa no ar por seus braços. Ele então começa a rir ao me ver estarrecida pela situação. —Hur! Me ponha no chão! —Meu pedido faz Hur rir ainda mais. Mas ele então me põe no chão.

—Você parece uma criança birrenta. —Hur brinca assim que me recomponho.

—Isso é maneira de falar com a princesa do Egito? —Pergunto um pouco irônica.

—Você é a princesa lá fora. Em nosso quarto, você é minha esposa. —Hur fala ao puxar-me para perto de seu corpo como de costume.  —Já deveria saber disso...

Eu costumo aprender rápido, mas também me esqueço de tudo o que aprendi até agora. —Falo e faço-o rir.

—Eu lhe ensino.

Flash Back Off

—Senhora? —Karoma chama por mim. —Deseja mais alguma coisa?

—Não, Karoma. Pode ir... —Falo sem ao menos olhar para a mulher.

—Sei que a senhora pediu para não tocar no assunto, mas estou mais que preocupada. —Karoma fala ao ficar em minha frente. —Preocupada por causa daquela homem que estava vigiando a senhora hoje mais cedo.

—Você sabe quem é? —Pergunto subitamente e então assusto Karoma.

—Não exatamente. —Karoma fala com uma certa dúvida. —Não pode ser de outro reino. Os portões da cidade estão fechados.

—Isso mesmo. —Falo. —Ele é daqui, ele quer algo. —Minhas palavras assustam Karoma. —Se eu pudesse ver quem é...

—Melhor não, soberana. Vai ver é mais um dos rebeldes de Amun. —Karoma parece dissimular algo enquanto fala.

—Ou o próprio Amun. A fisionomia daquele homem não me é estranha, Karoma. —Falo pensativa. —Eu conheço ele de algum lugar.

—Fruto de sua imaginação, vossa graça. —Karoma fala nervosa.

—O que está acontecendo com você? —Pergunto desconfiada. —Você sabe quem era aquele homem, Karoma? —Pergunto ao me levantar e ficar de frente para Karoma.

—N-não, senhora. Apenas me preocupo com sua segurança. —Karoma fala sem sequer olhar para mim. —Bom, com licença. —Ela pede. Assim que Karoma se vai, eu me sento novamente. A barriga está se tornando mais pesada ainda. —Você está quase nascendo e eu ainda não sei qual nome devo escolher para você. —Falo ao tocar em meu ventre e repousar meu corpo na cadeira. Começo a sentir uma certa dificuldade em respirar, mas parece que o mundo está tomando todo o meu ar. —Vamos ver as estrelas? —Pergunto para a criança em meu ventre. Me levanto com uma certa dificuldade, mas me levanto e caminho lentamente até a janela. Olho para o céu negro e as estrelas, acabo me lembrando dos olhos de Hur.

Fecho os olhos e sinto uma brisa fresca em meu rosto, a noite está quente, ficar na varanda me faz bem nesse momento. —Sinto algo fixo ao meu rosto, como se alguém estivesse me olhando, mas eu não abro os olhos. —Permaneço imóvel e sorrio ao sentir o frescor em meu rosto, sinto como se eu fosse dona de todo o Egito agora.

—É ela... —Ouço uma voz masculina e familiar, quase como um sussurro, falar sobre mim. Eu então abro os olhos e vejo o mesmo homem que estava me vigiando hoje mais cedo.

Seu rosto permanece coberto pelo pano escuro, mas eu tento ver melhor os seus olhos. Não consigo ver bem, ele abaixa o rosto, mas volta suas atenções para mim. Seu olhar é curioso sobre mim, parece desejar me ver mais. —Sinto meu filho se mexer dentro de mim como se soubesse de algo. —Quem é esse homem? Se eu ao menos pudesse sair e ele me esperasse.

—Não. —Nego. —Ele é um desconhecido, pode me matar. —Falo assustada e então dou leves passos para poder voltar para o meu quarto. Ainda posso ver o homem caminhar para frente do palácio, com isso entro em meu quarto assustada. —Meu filho, se acalme... —Falo ao sentir meu filho se agitar em meu ventre. Ele nunca ficou assim antes.

Acabo me deitando em minha cama completamente cansada e assustada. Quem será esse homem, afinal? Maldita seja essa angústia que tenho de que estou sendo vigiada. Acho que estou ficando louca, essa é a única explicação, não há outra. Mas esse homem me é familiar, eu o conheço. Mas de onde?

 —Se seu pai estivesse aqui... —Falo ao imaginar o que Hur diria sobre esse homem que eu vejo. Sinto como se algo estivesse pesando levemente em meu ventre, por isso meu filho se move tanto. —Espero que você seja igual ao seu pai, mesmo que me doa ver você e lembrar dele todos os dias. —Falo. —Ainda posso sentir as carícias do seu pai, da voz dele e de seu sorriso. —Falo ao acariciar o meu ventre. —Certamente ele pediria para eu tomar cuidado. —Falo e então meu filho se agita ainda mais. Sinto como se Hur estivesse acariciando meu ventre, talvez isso seja saudades. Talvez...

(...)

De manhã Ramsés pediu para que eu e Gab fôssemos fazer o desjejum na sala do trono, e assim está sendo feito a sua vontade. Não nego que estou incomodada porque Djoser não me dirige uma palavra sequer. Meu filho está distante de mim, não me olha, mas posso ver que ele me culpa pela morte de seu pai. Djoser está com o pensamento distante, não parece se importar comigo, e isso me mata por dentro. Posso ver que Gab e Ramsés observam o comportamento de Djoser. —Mal me alimento pelo tamanho desconforto. —Vejo o novo copeiro servir vinho para Ramsés e me intrigo porque Gab não bebe do mesmo vinho.

—Não vai se servir? —Pergunto para Gab.

—Não posso. Desde que tive aquele infarto, Paser me proibiu. —As palavras de Gab parecem aliviar o copeiro. —Nem você deve beber. —Ele fala por conta da minha gravidez.

—Eu quero. —Djoser pede, mas eu de súbito impeço. Sinto que ele faz isso para chamar minha atenção. Djoser não beberá por ser um adolescente, tal como Gab está doente e eu estou grávida.

—De modo algum. —Falo brava ao ver o copeiro vir até Djoser com um sorriso abafado entre seus lábios.—Você não vai beber. —Olho novamente para o copeiro. Ele de fato é novo por aqui, nunca vi ele antes.

—Pode se retirar. —Ramsés ordena ao servo e então Djoser me olha bravo, mas não fala nada.—Djoser já é quase um homem, Henutmire.

—Quase. —Exalto-me e então vejo Ramsés tossir sucessivas vezes. —Você não vai beber nada. —Falo para Djoser enquanto vejo Ramsés tossir ainda mais.

—Henutmire... —Gab chama por mim ao olhar para Ramsés com medo. —Ramsés?

—Não é nada. —O rei fala ao beber o vinho novamente tentando aliviar sua garganta. Todavia a tosse piora e Ramsés põe sua mão em sua garganta tentando reprimir a dor. —Djoser... —Ramsés chama pelo sobrinho ao soltar a taça e cambalear ao levantar do trono. Ouço um som estranho vir da boca do rei, mas parece que a voz quer lhe faltar.—Me ajude, Gab!—Ele pede ao descer os degraus e cair no chão. Sua coroa vai longe com sua queda e então eu e Gab nos levantamos demonstrando nossa preocupação. Afinal, somos os irmãos mais velhos de Ramsés.

—Não. —Falo ao ver Gab ir até Ramsés. Meu irmão tosse até seu vômito sair, mas ele permanece fraco e tosse ainda mais forte. Me afasto ao ver o vômito se espalhar pelo chão frio da sala do trono.

—CHAMEM PASER! —Djoser grita atordoado e então eu vou até Ramsés. Ponho sua cabeça em meu colo e vejo que seu sangue sai de suas narinas. O inabalável sangue rubro da família real ramessida.

—Ramsés! Me diga onde é! Me diga alguma coisa! —Peço apavorada ao ver meu irmão engasgado com o próprio vômito. —Me diga! —Peço ao ver que sai mais sangue de suas narinas. Gab tenta massagear o peito de Ramsés, mas ele piora com isso. —Não toque nele! —Ordeno possessa e empurro Gab. Eu sou mais irmã de Ramsés do que ele.

—Hur... —Ramsés chama por Hur e eu vejo o espanto no rosto de Gab e Djoser. —H-Hur... Ele...

—O que tem Hur? —Pergunto confusa ao ver Ramsés morrendo nos meus braços.

—L-lyanna. —Ramsés fala ao segurar em meus braços. Ele parece lutar contra o que impede em sua garganta. —Se for... —Eu tento compreender o que ele fala, mas é impossível. —Menina. —Por fim entendo o que Ramsés quer dizer-me. Se eu tiver uma filha mulher ela deve se chamar Lyanna. —H-Hur... —Ele tenta me dizer algo, mas apenas aponta para Djoser e Gab. —Ele... Ele... —Meu irmão tenta falar algo, mas não consegue. —Henu... Henutmire... H-Henut... —Ele tenta me dizer algo, mas é inútil. Eu massageio o seu peito, mas nada parece funcionar. —V-iva... Henutmire... —Estaria Ramsés pedindo para que eu o salve, ou para que eu viva e suporte a dor do parto? —E-eu... —Ele tenta me falar algo mais uma vez, mas nada sai de sua boca. —Viva...

—Gab, me ajude... —Peço assustada ao ver Ramsés ficar arroxeado em meu colo. Ele então geme e cospe sangue ao seu lado, mas por fim para. —Ramsés? —Indago aterrorizada. Eu então sinto as lágrimas brotarem em meus olhos. —Meu irmão... —Falo ao chorar. —Amun. —Falo. —O copeiro. O copeiro!—Alerto ao olhar para Gab e Djoser. Eles então entendem. —Ele não é novo aqui, ele é um dos homens de Amun! —Falo. —PRENDAM-O! —Grito. Não pode ser! Como esse homem conseguiu entrar aqui?

—GUARDAS! —Gab grita e então os guardas surgem. —ATRÁS DO COPEIRO! AGORA! —Ele ordena afoito e então olha para mim penalizado.

—Ele matou Kamés e Ramsés, Gab. —Minhas palavras fazem Gab abaixar o olhar. —Matou nossos irmãos mais novos e também matou Hur.

—Meu tio está morto. —Djoser fala ao olhar o cadáver em meu colo. —Quem vai assumir? Eu não tenho a idade necessária.

—Sua mãe. —Gab fala me deixando surpresa. —Sua mãe além de ser a rainha reinante e consorte, será a rainha regente. A rainha regente de Djoser... —Gab fala pensativo. —Hur. —Ele fala me deixando confusa.

—Hur está morto, Gab. Mas Ramsés queria me dizer algo sobre ele. Sabe o que era? —Pergunto confusa.

—Ramsés estava morrendo, Henutmire. A insanidade provou de sua mente. —Gab fala nervoso. —Eu sinto muito, Henutmire. Sinto muito por perder tanto...

—Eu vi Ramsés nascer, Gab. Vi meu pai criar expectativas quando minha mãe estava grávida, ele ainda pensava muito em Kamés, sempre me perguntava como minha mãe se sentia quando longe dele  —Falo pensativa ao olhar para o nada. —Amun está por trás disso, Gab. Eu não dúvida nada. Ele disse que mataria um por um. O primeiro foi Kamés, o segundo foi Hur, e agora Ramsés... —Falo pensativa e desolada. —Eu quero ele morto, Gab. Nem que eu tenha que queimar essa cidade. Nem que eu tenha que queimar todo o Egito, eu quero Amun morto. —Olho então para Ramsés morto em meus braços. —Isso não pode estar acontecendo comigo. —Falo sem acreditar que Ramsés está morto. —Prenda Amun, Gab.

—Henutmire...

—PRENDA-O! —Grito como uma louca. Mas de fato eu estou louca. Louca por ter morto em meus braços o meu irmão mais novo.

—Eu quero esse homem preso. —Ouço Djoser falar para um dos oficiais. —Não importa em quais condições. Eu quero ele morto! —Seja lá qual for as diferenças que possam existir nessa família, algo agora eu vejo que não pode se mudar. Todos ficam fora de si quando perdem quem amam. São nesses momentos que o sangue fala mais alto...

"A majestade do leão chama a atenção dos demais seres da selva. E isso lhe faz de alvo, de alvo se tem a morte..."


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Notas finais do capítulo

#RipRamsés
Eu prevejo lágrimas novamente aqui...



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