Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 45
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Oi,oi,oi gente! Antes de vocês lerem mais um capitulo escrito por essa louca autora que também está muito, mas muito feliz da vida por ter vocês como leitores (Embora alguns fantasminhas nem comentem, né), eu gostaria de responder uma pergunta que em fizeram por mensagem sobre dedicar alguns personagens para alguém em especial. Então gente, a Anippe é dedicada para a Sâmara Blanchett, que tá arrasando com a sua primeira fanfic Hurmire (Segue o link nas notas finais caso vocês queiram ler, eu super recomendo,ok?ok ). E outro personagem que ainda vai dar as caras por aqui é o Zion que no caso é dedicado ao meu amigo Jonay, que também escreve delicias de fics!
E enquanto a mudança de Henutmire e esse "ciúme obsessivo'' dela, você aguardem por que muita coisa vai rolar daqui para frente...
Mas sem muito blá blá blá, vamos com mais um capitulo de Coração de Seda...



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—Vocês tem razão. —Falo escondendo meu medo. Ramsés não me dará ouvidos e eu sei muito bem disso.

—Faça algo antes que a nova praga seja mandada. —Hur fala apreensivo.

—Mas é claro... —Falo assustada. —Teremos uma nova praga, certo?

—Moisés deixou isso bem claro. —Anippe alerta. —A senhora precisa intervir.

(...)

Alguns dias se passaram desde a morte de Nefertari e hoje será oficializado a minha coroação. Hoje também será o funeral de minha cunhada, ainda não acredito que ela morreu e que Ramsés agora é viúvo. —Meu irmão terá a árdua tarefa de me coroar em frente aos nobres e em seguida teremos o cortejo fúnebre de Nefertari. — Tudo ainda está muito confuso para mim. Tentei falar com Ramsés sobre a liberdade dos hebreus, mas o coitado só lamento a morte da esposa.

—Então Ramsés pediu para você confeccionar uma coroa para mim? —Pergunto assim que Hur me explica sobre o tesouro que Uri encontrou.

—Isso mesmo. É até um pouco irônico, não? —Hur pergunta risonho. —Aproveitei e fiz algo para nosso filho. —Hur fala e então me mostra a delicada coroa destinada á Djoser.

—É magnífica, Hur! —Falo maravilhada assim que Hur me entrega a coroa. —Deixe-me ver a minha,Hur!

—Claro que não! —Hur fala e passa a rir. —Você vai ver na coroação.

—Por favor, Hur! Deixe-me ver! Por favor! —Peço ansiosa e então Hur começa a rir de mim.

—É uma surpresa, Henutmire. —Hur fala me deixando ainda mais ansiosa. —Mas eu garanto que a coroa que fiz para você é ainda mais bela que a coroa que Nefertari te deu. —Hur fala ao acariciar o meu rosto com carinho.

—Eu vou ver onde Djoser está para entregar o seu presente. —Falo ainda admirada com a coroa de Djoser. —Vem comigo?

—Vamos fazer uma coisa... —Hur fala ao tirar a coroa de minhas mãos. —Você fica aqui e eu vou até Djoser. Fique aqui no quarto até Paser vir buscar você.

—Eu não sei se vou aguentar esperar. —Falo e faço Hur rir ainda mais. —Onde está Leila e Karoma?

—Você fez bem em tornar Karoma sua dama de companhia. —Hur fala orgulhoso de mim. —Olhe só para você... —Hur fala ao me olhar da cabeça aos pés. —Eu sinto muito pela morte de Nefertari, mas eu me orgulho por você. —Notei o quanto Hur está emocionado por me ver tão bem. —Espero você na sala do trono.

(...)

—Gostou? —Karoma pergunta após me maquiar. De fato Karoma é ótima em fazer a maquiagem dos olhos, mas eu me sinto um pouco estranha ao ver meu reflexo.

—A maquiagem está muito forte. —Falo surpresa comigo mesma. —Mas eu adorei, Karoma. —Falo e faço com que Karoma sorria.

—O rei pediu que a senhora usasse este colar. —Leila fala ao entrar em meu quarto com o colar de Nefertari e que um dia foi de minha mãe. —Reconhece?

—Claro que sim. —Respondo emocionada ao ter em minhas mãos o colar que meu pai deu para minha mãe. Lembro-me bem que minha minha deu para Nefertari no dia do seu casamento com Ramsés. —Coloque em mim, por favor.

—Claro. —Leila fala e então põe o colar em meu pescoço.

—Ele é lindo. —Karoma fala emocionada.

Nossas atenções são dadas para Djoser,Anippe e Amenhotep que entram em meu quarto esbanjando a beleza da juventude de cada um deles. É épico ver os três com suas respectivas coroas, mas eu me emociono ainda mais ao ver Anippe com a coroa que um dia foi minha.

—Vieram me buscar? —Pergunto irônica ao ver os três juntos. —Você está bem, meu querido? —Pergunto para Amenhotep.

—Eu não quero ir, tia. Não quero sair do palácio. —Amenhotep fala ainda triste.

—Pense no seu pai que precisa de você, Amenhotep. —Incentivo o meu sobrinho. —E eu não posso te deixar sozinho no palácio.

—Terei os servos.

—Os servos não são a sua família. —Falo. —Não fique tão triste, meu querido. Você tem á mim e ao seu pai. —Abraço o meu sobrinho e noto o quanto emotivo ele está com tudo isso.

—Tem toda razão. —Amenhotep concorda. Parece que a morte de Nefertari foi fundamental para que Amenhotep se tornasse um pouco mais humilde. —Além do mais eu quero ver a senhora sendo coroada oficialmente como rainha do Egito.

—Isso é o de menos. —Falo. —Entenda que sua mãe estava muito doente, Amenhotep. —Lágrimas se formaram nos olhos de meu sobrinho ao me ouvir falar de Nefertari. —Chore, meu querido. Chorar faz bem. —Minhas palavras foram um tanto irônica e soaram falsamente aos ouvidos de Anippe que abafou sua risada.

—Com licença, soberana. —Paser fala ao entrar em meu quarto. —Mas o rei pediu para que eu a levasse até a sala do trono.

—Minha tia não está linda, vovô? —Amenhotep pergunta ao segurar a minha mão com delicadeza.

—Com todo respeito, parece a própria deusa Ísis. —Paser elogia. —Está pronta?

—Claro. —Falo.

—Iremos agora para a sala do trono. —Anippe fala e então segura nas mãos de Djoser e Amenhotep. Me alegro ao ver que meus filhos estão tentando animar Amenhotep e mais alegre fico ao ver Paser sorrir.

—Eu não tenho palavras para agradecer por tudo o que a senhora está fazendo pelo meu neto. —Paser fala pleno de emoção. —Me permita. —Paser pede para segurar minhas mãos e em seguida beijá-las em forma de respeito.

—Não precisa me agradecer. Eu só estou fazendo o que desejo que façam com meus filhos quando eu partir. —Enfatizo a última palavra e então Paser me olha um pouco amedrontado. —Agora vamos. —Falo. Karoma e Leila dão seus últimos ajustes em minhas vestes antes que Paser me leve para a sala do trono.

(...)

As portas foram abertas para que passasse assim que Paser anunciou a minha chegada na sala do trono. Ansiosa e amedrontada por ver que até mesmo Jahi está na cerimônia de coroação e que ficará para o funeral de Nefertari, sou carregada em minha liteira pelos seis servos. O dia é de tristeza pelo funeral de minha cunhada, mas pelo o que vejo todos estão felizes por me terem como a nova rainha do Egito.

Senti todos os olhares se voltarem em minha direção, mas mesmo assim não me deixei levar e olhei apenas para meus filhos. Mas minha atenção foi dada para Ramsés que me esperava do alto do altar, de pé perto do trono com um semblante entristecido mas ao mesmo tempo feliz por me ter ao seu lado. Foi então que os servos abaixaram a liteira e eu dei minha mão para Paser, já que ele é o sumo sacerdote, também é responsabilidade dele me levar até o rei.

Quando Ramsés segurou a minha mão delicada e sorriu para mim, senti como se nossos pais estivessem no trono rindo para nós. Então nós dois olhamos para o trono, com uma vaga lembrança de nossos pais sorrindo orgulhosos para nós, senti algo sublime preencher meu coração e então Ramsés voltou o seu olhar para mim.  Mas meu devaneio foi deixado de lado ao olhar para Hur e meus filhos, me alegro por saber que eles estão presente e que nada poderá nos separar como eu temia. —Acompanhei o olhar de Ramsés que foi até Uri que trazia consigo a minha coroa. —Não desviei o olhar da coroa por um momento sequer e então Ramsés a recebeu.

—Henutmire. —Ramsés fala ao erguer a coroa para o alto da sala do trono. Não deixei de contemplar a coroa um instante sequer, me orgulho ainda mais ao saber que Hur a confeccionou. —Para cuja beleza os deuses contemplam todas as manhãs e tenebrosas noites, a partir de agora tu és a dama das duas terras, senhora do alto e do baixo Egito... —Ramsés prosseguia com seu interminável discurso enquanto me coroava.

A coroa é de ouro banhada a ouro branco e prata, revestida com rubis e safiras que adornavam delicadamente as laterais. Traços de ouro branco marcavam a parte central da coroa com uma pedra mediana e clara, uma tonalidade um pouco azulada e acinzentada que me deixavam um pouco confusa com a mudança de cor, que tipo de diamante é esse? Mas o que mais me chamou a atenção foram os adornos em ouro e safiras que estavam enfeitando a coroa. Também não pude deixar de notar a presença de duas serpentes em volta da pedra azul-acinzentada que simbolizam o marco maior do Egito.

A nossa rainha. Cuja missão é trazer a paz, o amor e acima de tudo ser tão poderosa e justa como a própria Ísis.  —Ramsés finaliza ao pôr a coroa por completo em minha cabeça. Nenhum nobre se manisfestou ao me ver coroada oficialmente como rainha do Egito, até porque Ramsés me levou até o terraço de onde todos os súditos e o exército egípcio poderiam me ver já coroada. Meu irmão levou minha mão ao alto, precisamente aos céus e foi inevitável não lembrar do que meu pai um dia falou para mim sobre meus olhos. —O que nosso pai diria ao nos ver governando todo o Egito, Henutmire? —A pergunta de Ramsés faz com que eu respire fundo tentando esquecer a minha mágoa por nosso pai. —De fato os descendentes de nosso pai mandam e desmandam no Egito.

—Tudo isso é nosso, Ramsés. —Falo ao ver todo o exército curvado diante mim. Meu coração bate tão forte que sinto-o rasgar-se como uma seda. A paz de um sonho... É assim que penso que isso é. Aqui a princesa do Egito morre e se despede de todos...

—A princesa do Egito está morta, mas deem vida longa a rainha! —Falo para mim mesma e então Ramsés me lança um olhar ambicioso.

—Você e eu, a filha e o filho de Seti, a rainha e o rei do Egito, Henutmire. Você sabe o quanto isso é poderoso? —Ramsés pergunta ainda ambicioso. —Prepare-se para o seu primeiro cortejo como rainha do Egito.

(...)

—Você está abatida. —Hur chama a minha atenção assim que me dirijo a minha liteira para em fim começar o cortejo fúnebre de Nefertari. —Sente-se indisposta?

—Me sinto um pouco cansada. —Falo ao ver Amenhotep fixar ao lado de Djoser na liteira. Pelo o que vejo Anippe ficará sozinha.

—Deixe-me ajudar você. —Hur fala preocupado comigo. Eu então seguro sua mão para me apoiar e aproximo meu rosto do seu. —Melhor assim. —Ele fala ao me ver sentada na liteira. Hur olha para o anel dado por Gab e então segura a minha mão. —Eu já vi esse anel em Gab. —Hur fala com sua voz alterada. —Como veio parar em sua mão?

—Fazia parte do plano de Gab para que eu fugisse do palácio. —Minto. Sei muito bem que Gab me deu este anel quando eu ainda pensava em ir para Canaã. Agora eu não faço a mínima ideia de como irei... —Mas agora não serve mais. —Falo e retiro o anel dado por Gab de meu dedo. Hur então me olha com uma certa desconfiança, mas rapidamente passa a sorrir.

Ele então se senta ao meu lado e em seguida a leiteira é levantada a espera da permissão da passagem. —Nossas mãos estão entrelaçadas como sempre ficam em certos momentos de temor. —Temor por causa da reação que o povo egípcio pode ter em me ver como rainha tão de perto.

—Você está magnífica. —Hur me elogia ao me ver com a coroa feita por ele mesmo. A nossa liteira então seguiu o mesmo trajeto que a liteira de Ramsés levava.

—Anuncio a chegada do grande faraó Ramsés, amado de Ptáh e protegido de Amon. E da senhora das duas coroas, protegida de Hathor, filha do poderoso faraó Seti e irmã do Hórus vivo, a rainha Henutmire. —Paser então cessou para olhar para mim, mas prosseguiu rapidamente. —E de toda família real no cortejo fúnebre da grande esposa real, a rainha Nefertari. —A voz de Paser saiu embargada pela dor e tomada pela tristeza.

—Deve estar sendo doloroso para Paser estar no cortejo fúnebre da própria filha. —Hur fala e eu não consigo evitar o meu riso. Riso este que o assusta. —Por que está rindo. Henutmire?

—Sabemos muito bem que Nefertari não é filha de Paser. —Minhas palavras chocam Hur mais uma vez. —Paser apenas sentiu pena de Nefertari quando soube que ela era uma bastarda. Ou você acha que ele realmente a amava como sua própria filha?

—Tem idéia do absurdo que está falando? —Hur pergunta bravo. —Paser sempre amou Nefertari e em momento algum sentiu pena dela.

—Isso é o que você diz, Hur. Mas eu não duvido nada que Paser tenha sentido pena de Nefertari. —Falo e então volto minhas atenções para os súditos.

—A venda da ignorância está vetando sua vista, Henutmire. —As palavras de Hur não me comovem. —Que pena que olhos tão lindos como o seu terem o brilho repugnante da soberba e da discórdia. —Hur não teve a coragem de me olhar ao falar tão atrocidade sobre mim.

—Saiba que para mim isso é apenas um elogio. —O surpreendo ainda mais com a minha frieza. Trato de não olhar para ele novamente, mas minha atenção é dada para Ramsés que pede para que parem o cortejo.

—Olhem bem para este homem. —Ramsés pede e então aponta para Moisés. Meu filho então olha para mim esperançoso, mas toda sua tranqulidade se vai com o que Ramsés fala. —Ele é o responsável por todas as pragas que açoitam o nosso povo e também é culpado pela morte de minha esposa Nefertari.

Moisés e eu nos entreolhamos abismados com as acusações de Ramsés, mas nada eu falo sobre a situação desagradável em que nos encontramos. Ramsés está se deixando levar pela dor de ter perdido Nefertari e pela raiva que tem em saber que nesta briga Moisés está saindo vitorioso.

—Você quem devia zelar pela sua esposa e pelo seu povo, Ramsés! Não eu! Como um rei tão inoportuno pode blasfemar contra mim? —Moisés enfrentou Ramsés mais uma vez desde que voltou para o Egito.

—Como ousa dirigir a palavra até mim? —É a forma que Ramsés tem em se defender de Moisés na frente de todos. —GUARDAS! —O grito de meu irmão ecoou aos quatro ventos. —Não permitam que sequer um escravo acompanhe o cortejo fúnebre de minha esposa. Não quero fazer da minha última homenagem a mãe de meu filho um...

—Chega, Ramsés. —Peço bravamente impedindo a discussão entre Moisés e Ramsés. Ramsés então para de falar, mas sua ordem é acatada pelos guardas. Eu olho penosa para Moisés e Joquebede, mas meu filho passa a sorrir afirmando que está bem.

—Você me tirou Nefertari, Moisés. —Ramsés fala bravo e então olho assustada para meu irmão. —Mas eu tirei Henutmire de você e muito em breve irei tirar muito mais.

—Se minha mãe é rainha foi graças ao pedido de Nefertari, Ramsés. —Moisés parte em sua defesa. —Não tente nada contra a mulher que Deus escolheu para ser mãe do libertador.

—PROSSIGAM COM O CORTEJO! —Ramsés ordena furioso com a afronta de Moisés.

—O que foi tudo isso? —Pergunto para mim mesma, mas é Hur quem me responde.

—É as consequências que temos por ter a mãe do libertador como rainha...

(...)

—Amenhotep já se recolheu. —Anippe me avisa assim que ficamos sozinhas em seu quarto. —Por que me olha assim? —Ela pergunta ao notar meu olhar indiscreto.

—Você está diferente. —Falo ao notar mudanças nas feições de minha filha. —Foi a ida até a vila que fez você mudar?

—Não exatamente a ida até lá. —Anippe fala envergonhada e então eu vejo os olhos de minha filha brilharem. —Mãe...

—Sim? —Pergunto curiosa ao ver o nervosismo de Anippe.

—Como é estar apaixonada? —Anippe pergunta desconfiada e então eu entendo tudo. Minha filha está apaixonada por alguém, ou melhor, por algum rapaz.

—Você se apaixonou, não foi? —Minha filha arregala os olhos com a minha pergunta.

—Não! Não! Mas o que é isso? Não se trata disso...

—Mas é claro que se trata disso, Anippe. —Falo e faço minha filha corar. —Mas se você está apaixonada, porque me pergunta como é estar assim?

—Porque eu sei como a senhora sofreu por causa de Disebek. E também porque sempre soube que Nefertari amou Moisés. —Anippe fala um pouco entristecida. —Não sei se estou me deixando levar por uma bobagem.

—Tem algo mais que você não quer me dizer. —Falo ao ver o quanto Anippe está triste.

—Eu não sei o que de fato estou sentindo. Ou se sei não quero admitir... —Anippe fala confusa e acaba me confundindo também. —Eu cresci neste palácio sem olhar para nenhum nobre e sentir o que estou sentindo agora. —Minha filha então me faz lembrar a indecisão de Nefertari sobre Moisés e Ramsés. —Na verdade eu estou em dúvida.

—Dúvida? —Falo ironicamente ao olhar para minha filha. —Sobre o que?

—Chibale sempre me tratou muito bem desde que éramos crianças, mas teve um dia em que ele deu ao entender que tinha sentimentos por mim. —Anippe para de falar imediatamente e então eu me lembro da preocupação de Chibale com Anippe. —E antes de partir para Philae eu o beijei.

—Anippe! —Falo escandalizada ao imagina que minha filha e o filho de Gahiji se beijaram. Mas nervosa eu fico ao imaginar Anippe beijando qualquer outro rapaz. —Eu não ouvi isso!

—Calma, mãe! Por favor, não fique assustada...

—Assustada? Minha filha eu não posso acreditar que o bebê que um dia amamentei tenha beijado um rapaz... —Falo escandalizada.

—Mas então eu conheci Zion, o rapaz que falei. —Anippe fala pausadamente. —E então eu senti algo muito forte dentro de mim...

—Pare. —Peço e faço minha filha rir. —Você não beijou ele também, beijou?

—Ele fez comigo o que o papai fez com a senhora. —Anippe me deixa ainda mais transtornada. Resta eu me lembrar o que Hur fez comigo que esse rapaz também fez com minha filha! Por Deus, se for o que eu estou pensando... —Eu estava sem conseguir dormir e então Zion me encontrou na frente da casa onde eu estava e...

—Vá direto ao ponto, Anippe. —Peço sendo levada pelo meu temor. Eu só posso estar vivendo um pesadelo ou algo do tipo, ou talvez eu esteja me preocupando demais com minha filha.

—Zion me beijou e revelou o que sente por mim. —Anippe fala. Eu me sento ao sentir minhas pernas bambas ao escutar o que aconteceu com a minha filha. Quanta ironia... —Mas eu estava confusa e então pedi para que ele não se aproximasse mais, mas ele me disse que sentia a necessidade de me proteger...

—Seu pai faz a mesma coisa. —Falo e faço Anippe sorrir. —Qual a idade deste rapaz?

—Ele tem dezessete, se não me engano, fará dezoito em algumas luas...

—Mas você tem apenas quatorze. —Falo e deixo claro o meu espanto. Mesmo que o aniversário de minha filha esteja perto, eu não me conformo. —Por acaso está louca, Anippe? E Chibale? Ele também tem quase a mesma idade desse outro rapaz!

—A senhora acha que eu fiz mal? —Anippe pergunta um pouco envergonhada. Eu então uno nossas mãos e respiro fundo antes de começar a falar.

—Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria fazer tal coisa, Anippe. —Falo. Noto o quanto Anippe está nervosa ao ponto de tremer, de fato ela está atormentada. —Mas eu ainda preferia que fosse mais tarde. —Faço a minha filha rir. —Você precisa parar de pensar...

—Mas não se ama com a mente. —Anippe ressalta.

—Eu sei, minha querida. Mas você ainda é tão nova... —Falo e então seguro o rosto delicado de Anippe. —Você está na idade de se divertir e desfrutar da sua juventude ao invés de se apaixonar por algum rapaz.

—A senhora tem razão. —Anippe concorda. —Eu tentei conversar com o meu pai sobre isso, mas ele ainda está magoado comigo.

—Dê um tempo para seu pai. Ele vai te perdoar em breve. —Falo. —Mas eu não acho aconselhável você conversar com seu pai sobre seus pretendentes. Nenhum pai gostaria de saber que sua filha está sendo tão disputada.

—Djoser disse a mesma coisa. —Anippe fala e eu fico contente pela cumplicidade de meus filhos. —Aliás, ele também me falou sobre Halima, a irmã de Zion.

—O que tem essa moça? —Minha voz foi branda ao imaginar o envolvimento de Halima com Djoser.

—Ele me falou que a considerava como uma irmã, mas Halima vê meu irmão com outros olhos. —Começo a rir ao saber o quanto Djoser se parece comigo. Isso me faz lembrar o quanto Hur me amava e todos notavam isso, todos menos eu. —Meu irmão parece não perceber os olhares indiscretos de Halima.

—Você deveria fazer o mesmo. —Falo. —Sinto falta de quando vocês dois só se importavam com os brinquedos.

—Acho que agora a senhora terá que se acostumar com outro tipo de coisa...

—Não mesmo. —Falo ríspida. —Quero que você e o seu irmão se preocupem com outras coisas.

—Que tipo de coisas?

(...)

—Quero que Anippe tenha aula de dança enquanto Djoser tenha atividades militares, Leila. Nada pode faltar para os meus dois filhos, eles devem estar sempre ocupados. —Ordeno ao observar o harém. Anippe e Djoser me olham assustados, todavia eu não me preocupo.

—Mais alguma ordem? —Karoma pergunta no lugar de Leila.

—Quero que organizem o jardim. Com todas essas pragas houve um grande desleixo por parte dos servos. —Falo ao me lembrar do quanto minha mãe se importava com o jardim real.

—Mais alguma coisa? —Leila pergunta.

—Levem Anippe até a costureira real para tirar suas medidas. —Minha ordem faz Anippe me olhar assustada. —Isso é tudo.

—Está atarefando Anippe ao extremo, mãe. —Djoser fala ao ver sua irmã ser levada pelas minhas damas. —Ela fez algo de errado?

—Estou a atarefando justamente para ela não ter tempo para pensar em nada além dela mesma. —Falo. —Aliás, você deveria fazer o mesmo.

—Não quero ir treinar sem antes saber o que será de nossa família. Não vamos mais partir com Moisés?

—Não. —Minha resposta foi curta. —Mas Ramsés me permitiu louvar o nosso Deus, meu filho.

—De verdade? —Meu filho pergunta incrédulo. —Meu tio está tão mudado...

—Tentarei intervir pelo seu irmão, Djoser. Talvez agora Ramsés me escute. —Falo em relação a liberação dos hebreus. Eu preciso fazer algo por Moisés e também devo fazer isso por causa de Hur. Mesmo com nossas discussões, eu o amo acima de qualquer coisa.

—Bom, eu já vou indo. Vou aproveitar e levar Amenhotep comigo. —Djoser fala ainda preocupado com o estado do primo. —Ele vive sozinho e calado pelos cantos.

—Perder uma mãe nessa idade não é fácil, Djoser. Amenhotep, mesmo sendo como é, amava a mãe. —Falo. —Ele agora precisa de nós. Sem exceção.

—Pode deixar. Eu vou fazer de tudo para amenizar a dor de meu primo. —Djoser fala risonho e sai do harém.

A sensação que eu tinha de perder meus filhos já não me atormenta mais, entretanto, eu me sinto ameaçada com o envolvimento de Anippe com Zion. Não quero que minha filha fique dividida entre permanecer no palácio e abrir mão de Zion, ou partir rumo a terra prometida. Mas o pior de tudo é saber que Anippe também se envolveu com Chibale. Não sei se minha preocupação deve-se ao meu ciúme de mãe, mas de forma eu preciso proteger a minha filha. —Até mesmo de Hur que insiste em não perdoar Anippe. —Eu precisa encontrar uma maneira de fazer com que os dois voltem a se entender ou a convivência será impossível.

—Soberana. —Ouço alguém me chamar. Me deparo com Gab devidamente vestido para uma viagem. —Estou indo embora do palácio.

—Isso é seu. —Falo e então mostro o anel que Gab me deu dias atrás. —Não tenho motivos para permanecer com ele.

—Eu ainda prefiro que fique com a senhora, mas se prefere me devolver. —Gab fala e então recebe o anel de volta. —Esse anel é muito valioso...

—Eu não dou muita importância para riquezas, você melhor do que ninguém sabe disso. —Falo.

—Falo sobre o valor significativo, soberana...

—Radina não irá regressar para a Núbia? —Pergunto admirada tentando evitar uma possível conversa inconveniente

—Ela gostou tanto do Egito que preferiu ficar. —Gab fala risonho. —Mas eu também gostaria de pedir outra coisa.

—Pode falar.

—Esqueça esse desejo de vingança contra Yunet, Henutmire. Isso vai lhe fazer mal! —Gab insiste com a sua idéia de sempre. —Yunet será queimada publicamente, quer maior castigo que esse?

—Ela matou o meu pai, matou Disebek e Maya, sem falar dos filhos que ela me privou de ter e de toda a dor que causou á Paser. Yunet foi má ao ponto de colocar Moisés contra mim e Disebek, Gab. Essa mulher sentia prazer em me ver mal e você ainda assim quer que eu sinta pena dela? —Gab mal me reconheceu diante de tanta fúria. —Uma surra para aquela mulher foi pouco!

—Mas você não deve sujar suas mãos. Deixe Ramsés se encarregar disso.

Quem vai se encarregar de Yunet sou eu e não Ramsés. Eu quero ver Yunet rastejar feito uma cobra clamando por misericórdia, Gab. E eu sei que ela vai fazer isso. —Minhas palavras aterrorizam o príncipe núbio, mas eu não me deixo intimidar pelo olhar repreensivo dele.

—Você está se tornando uma pessoa amarga e quando você de fato se tornar uma, nada vai impedir de você se igualar á Seti. —Tento não responder Gab diante da sua comparação absurda. —Com licença.

—Toda. —Falo ao ser reverenciada por Gab. Assim que ele saí do harém, eu de imediato começo a rir de suas palavras. Afinal, porque todos falam que estou me tornando amarga?

(...)

—Você é a única pessoa que me dá forças no momento, Henutmire. —Ramsés fala ao me ver entrar na sala do trono. —Pode me perdoar pelo o que fiz com você?

—Tudo está bem agora, Ramsés. Vamos esquecer o nosso mal entendido. —Falo ao me pôr ao seu lado.

—Eu não faço a mínima ideia do que fazer agora com a morte de Nefertari. —Ramsés fala atordoado. Antes que eu fale alguma coisa, Ikeni entra eufórico na sala do trono. —O que aconteceu, Ikeni? Como ousa aparecer para mim sem ser anunciado?

—Me perdoe, soberano. Mas é que o senhor precisa ver como o céu está...

(...)

—O que é isso? —Ramsés pergunta atordoado ao ver o céu escurecer rapidamente e um vento muito forte fazer com que ele me proteja.

—É uma nova praga. —Falo e então Ramsés me olha furioso. Nos afastamos ao ver que pedras caem do céu assim como o fogo que queima tudo que existe.

—Maldito seja esse deus! —Ramsés fala ao voltarmos para a sala do trono. Eu desso cada degrau afoita pelo o que acabei de ver. É possível chover fogo?

—O que você vai fazer agora, Ramsés? —Pergunto amedrontada. O vento que circula na sala do trono é tão forte que o fogo das lamparinas se apagam.

—MALDITO MOISÉS! MALDITOS HEBREUS! —Ramsés esbraveja aos quatro ventos. —MAS EU NÃO VOU CEDER! NÃO VOU!

—ENTÃO VAMOS TODOS MORRER! —Grito nervosa. —Por favor, Ramsés. Liberte os hebreus!

—Eu não posso fazer isso, Henutmire. Eu não posso! —Ramsés fala e em então me olha assustado. —Isso está acontecendo simplesmente porque mandei prender a mãe hebréia de Moisés!

—Você fez o que? —Pergunto incrédula. Ramsés não foi capaz apenas de me prender como também foi capaz de prender Joquebede. —Você está louco!

—Estou louco de raiva, Henutmire! E não tente intervir por Moisés! —Ramsés fala enfurecido pela minha preocupação com Moisés.

—Sendo assim estamos perdidos. —Falo seriamente ao ouvir os fortes trovões e sentir a claridade dos raios iluminar a sala do trono. O que será de todos nós?


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Notas finais do capítulo

Campanha #ImpeachmentDeRamsés
Gente, desculpa eu ri com Anippe e Henutmire suahsuhaushasuh Mas bem que a senhorita Anippe anda sendo bem disputada hein
Ramsés e Henutmire devem ter crises de gargantas por que eu nunca vi gritarem tanto!
"Que pena que olhos tão lindos como o seu terem o brilho repugnante da soberba e da discórdia." Acho que alguns pensaram que Henutmire fosse jogar o Hur de cima da liteira... Eita que Hurmire tá que tá hein!?

Link da fanfic citada nas notas iniciais: https://fanfiction.com.br/historia/691593/O_Maior_Amor



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