Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 36
Capítulo 36




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—Seja muito bem-vinda de volta, querida sobrinha. —Ramsés fala fazendo com que todos façam suas devidas reverências para Anippe, até mesmo Yunet.

—Pode me explicar o que está acontecendo, meu irmão? —Pergunto um pouco assustada por ver Yunet próxima de Anippe.

—Anippe não será mais uma sacerdotisa, Henutmire. —Ramsés fala me deixando um pouco confusa. Mas ela deixou claro que não voltaria para o palácio no papiro em que mandou para Djoser. —Sendo assim Anippe voltará a exercer seu lugar como a devida princesa que é.

—Agradeço por ter me recebido de volta, soberano. —Anippe agradece e em seguida faz uma reverência á Ramsés.

—Muita coisa mudou desde sua partida, Anippe. —Ramsés fala sorridente. —A começar pela chegada de Moisés.

—Não vejo a hora de conhecê-lo. —Sinto uma certa ironia na voz de Anippe, todavia minha filha vem até mim e me abraça acaloradamente.

—Temos muito o que conversar. —Ramsés fala e então olha para Yunet. —Peço que a grande esposa real e sua divina mãe se retirem. —Meu irmão pede contrariando Nefertari e Yunet. De todo modo as duas se retiram acompanhadas por Amenhotep e o ambiente fica mais tranquilo.

—Viu o jeito que Anippe e Yunet se olharam? —Hur pergunta e eu nego.

—Graças aos deuses você voltou, Anippe. —Falo emocionada por ter minha filha de volta. Senti toda a minha mágoa ir embora ao ver minha filha mais nova sorrindo para mim, mas ao mesmo tempo me preocupo com a maneira que Hur está reagindo.

—A senhora nos deixou preocupados. —Paser fala sorridente e Anippe o olha simpática.

—Mas eu escrevi para vocês. Mandei cartas para meu tio e para Djoser. —Anippe fala e acaba fazendo com que Paser me olhe com desconfiança. Afinal de contas ele me entregou a carta de Anippe e eu a destruí.

—Para mim? —Djoser pergunta confuso.

—A mensagens deve ter extraviado no caminho, princesa. —Paser mente ciente de que eu fiz por onde Djoser não ler o papiro de Anippe. —Mas me diga o motivo de ter abandonado o sacerdócio.

—Eu entendi que esse não era o meu destino. —Anippe reponde e então olha para Hur. Fico ansiosa pela reação de Hur, todavia meu marido trata Anippe com frieza.

—O que importa é que você está bem. —Hur fala secamente para infelicidade de Anippe.

—Senti sua falta. —Uri interrompe o mal momento ao abraçar Anippe. —Minha irmã mais nova...

—Meu irmão mais velho. —Anippe fala contente e abraça Djoser em seguida. —Quero conhecer Moisés. —Ela fala contente e em seguida Ramsés me repreende com seu olhar.

—Creio que muito em breve você fará isso. —Meu irmão fala vindo até nós. —Afinal de contas Moisés virá atrás de seu cajado.

—Cajado? —Anippe pergunta confusa. Mal sabe a minha filha que Yunet roubou o cajado de Moisés. —Isso não importa. Quero conhecê-lo. —Minha filha fala animada.

—Mandei que preparassem um banquete em sua homenagem, Anippe. —Ramsés fala. —Precisamos comemorar a sua volta!

—Não está cansada? —Pergunto para minha filha.

—Descansei durante a tarde.

—Pedi para que ela se escondesse até o banquete. Quis fazer uma surpresa para você e Hur. —Meu irmão fala enquanto os servos nos entregam taças com vinho.

—Menos para os príncipes. —Uri ressalta para um servo.

—Exato. —Falo fazendo meus filhos rirem.

—O senhor permite? —Anippe pergunta para Hur com a intenção de que ele fale algo. Até por que Hur se tornou reservado desde que Anippe surgiu na sala do trono.

—Faça o que bem entender. —Hur responde ao forçar um sorriso para Anippe. Um sorriso falso que deixa bem claro a sua insatisfação por ter Anippe de volta ao palácio. Sei o quanto Hur ainda está magoado com Anippe, mas ele pode se esforçar mais um pouco para esconder isso ou caso contrário todos irão notar.

(...)

—Sentiu falta de seu quarto? —Pergunto para minha filha assim que entramos em seu antigo quarto. —Nada mudou desde que você foi embora.

—Não é verdade. —Anippe fala olhando cada detalhe de seu quarto. —Aquela mulher é Yunet, não é? Aquela que estava de branco?

—Ela mesma.

—Como meu tio permitiu que aquela mulher voltasse? —Anippe pergunta incrédula.

—Yunet roubou o cajado de Moisés pensando que com isso nenhuma praga irá nos atingir. —Revelo. —Mas todos sabemos que isso não é possível.

—Eu mudei o meu pensamento sobre os hebreus desde que vi inúmeras pessoas morrerem em Philae. —Anippe confessa. —Até hoje posso ouvir os gritos apavorantes, os gemidos de dor, as súplicas... —Minha filha fecha os olhos e leva as mãos até os ouvidos.

—Já passou. —Falo retirando as mãos de minha filha de seus ouvidos.

—Não até meu tio libertar os hebreus. —Anippe me surpreende com suas palavras. —Eu vi que todo o ódio que eu sentia pelo povo de meu pai estava me transformando em uma pessoa sem personalidade, mãe.

—Não está mentindo para mim, Anippe? —Pergunto incrédula diante da benevolência de minha filha.

—Eu estava louca, mamãe. Obcecada pelo poder, pelo luxo! —Minha filha fala sendo tomada pelo remorso. —Mas agora eu vejo que tudo o que acontece e está para acontecer é obra de Deus.

—Acredita mesmo neste deus? —Pergunto surpseja ao ouvir minha filha falar do Deus de Israel com tanta devoção.

—Se eu pudesse eu partiria com os hebreus. —Minha filha fala temendo minha reação. —Mudei muito, não acha? Mas talvez essa minha mudança seja prejudicial a minha vida.

—Me diga uma coisa, Anippe. —Falo me aproximando de minha filha aos poucos. —Você teria coragem de partir com Moisés?

—Eu não teria coragem. Eu tenho. —Anippe me responde sincera. É então que um enorme sorriso estampa o meu rosto. Anippe e Djoser são capazes de partirem com Moisés, assim como eu acho que também tenho coragem de fazer o mesmo. —Mas a senhora não entenderia isso, minha mãe...

—Eu já pensei muito em ir para a vila começar uma nova vida fiel ao Deus de Israel, Anippe. —Minha revelação chocou Anippe. —Até Djoser pensou nisso...

—Mas e o papai? —Anippe pergunta aflita.

—Com a chegada de Yunet eu e o seu pai vivemos com medo. —Falo. O semblante de Anippe então muda rapidamente, ela mais parece estar enfurecida por saber que Yunet está de volta do que qualquer outra coisa.

—Ela fez algum mal para a senhora? Ela feriu meu pai? —Anippe pergunta assustada. —O que essa mulher fez dessa vez, mãe?

—Ela me enfrentou. Falou coisas horríveis... —Falo. —Fez questão de mencionar o nome de Disebek.

—Achando que causaria ciúmes em meu pai. —Anippe presume pensativa. —Essa mulher é um monstro! Matou todos os filhos que a senhora carregou no ventre! Que no caso seriam meus irmãos! Meu sangue!

—Não se preocupe com isso. —Falo assustada pela reação de minha filha.

—Não me preocupar? —Anippe pergunta incrédula. —A senhora não vê o risco que corre com essa mulher aqui?

—Sei muito bem...

—Então não venha me pedir para não ficar preocupada! —Anippe deixa claro a sua revolta. —Essa mulher vai pagar por ter matado meus irmãos, por ter matado todos os que matou! Se meu tio nem a senhora têm coragem de puni-la, eu terei!— Vi o mesmo olhar de meu pai nos olhos de Anippe. O mesmo brilho, a mesma raiva, o mesmo desejo de massacrar um inimigo!

—E o que você vai fazer?

—Nada que seja motivo para a senhora se preocupar. —Anippe responde.

—Assim espero, Anippe. —Respondo. —Agora me dê um beijo de boa noite. Você precisa descansar...

—Muito pelo contrário! Tenho vontade de andar por todo o palácio, ir ao Nilo...

—Terá tempo para isso, mas hoje não. —Falo para tristeza de Anippe. —Boa noite, minha filha. Espero que você tenha lindos sonhos. —Anippe então me abraça emocionada, beijo o topo de sua cabeça e em seguida me retiro.

(...)

—Como ela está? —Hur pergunta assim que me vê entrar no nosso quarto.

—Ela está ótima. —Respondo surpresa pela preocupação de Hur. —Por que não vai ver nossa filha?

—Não vejo necessidade. —Hur responde friamente. —Nem sei por que ela voltou para o palácio.

—HUR! —Meu grito de impaciência o assusta. —Anippe voltou por que viu que estava errada! Nossa filha está tentando mudar o que aconteceu...

—Mas eu não quero vê-la, Henutmire! —Hur esbraveja orgulhoso. —Anippe me envergonhou...

—Tente pelo menos fingir que se importa com ela! —Peço desesperada. —Por favor, Hur!

—Não! —Hur teima mais uma vez. —Não me peça para olhar para Anippe como antes!

—Eu pensei que você fosse a única pessoa capacitada para cuidar de nossos filhos caso algo de ruim acontecesse comigo. —Minhas palavra fazem Hur suspirar. —Eu pensei que você pudesse olhar cada passo deles caso algo me ocorresse e eu chegasse a morrer... —Minha voz oscilou ao falar a última palavra. —Mas eu vejo que não!

—Nada vai acontecer com você! —Hur fala desesperado.

—Eu sou egípcia, Hur! Irmã do faraó que enfrenta um deus que já mandou cinco pragas para este reino! Quase morro de tão sedenta! —Esbravejei. Os olhos de Hur se encheram de lágrimas por saber que tenho razão. —Você precisa cuidar deles se algo me acontecer, Hur. Ou você acha que eu não serei afetada? Pessoas estão morrendo ainda pelas doenças causadas pelos piolhos e pela fome!

—Henutmire...

—Me deixe falar, Hur. —Peço. —Somente o deus de Moisés sabe a próxima praga e eu temo por vocês mesmo sabendo que não serão afetados!

—E o que iremos fazer? —Hur pergunta confuso.

—Eu não sei. —Respondo. —Amanhã é provável que Moisés anuncie uma nova praga e então iremos esperar Ramsés libertar os hebreus.

—E se não libertar?

—Eu irei sofrer com as consequências. —Respondo seguida por um calafrio repentino que faz com que eu cesse a conversa. Todavia Hur me olha preocupado, e com toda razão ele deve ficar. Até porque eu mesma sinto que uma tragédia está por vir.


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Notas finais do capítulo

Anippe está arrependida! ATÉ QUE EM FIM! Agora só falta o Hur perdoar, gente.



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