Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Chegou capítulo novo oh oh oh! Heheheheheh
Meu povo hoje faz um ano que Os Dez Mandamentos foi ao ar Por isso trouxe um capítulo fresquinho para vocês! E mais feliz fico em saber que chegamos ao trigésimo capítulo de Coração de Seda. Agradeço os comentários incentivadores de todos Aah, feliz páscoa para todos nós.



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—CONTENHA-SE! —Meu grito acabou por assustar todos, todavia não me envergonho ou me deixo intimidar pelo olhar furioso de Nefertari. —Isso está fora de cogitação.

—Cogitação e controle! Onde já se viu um príncipe egípcio atentar contra a vida do futuro rei?! —Nefertari pergunta histérica e então eu acabo por me lembrar do dia em que Moisés quase matou Ramsés. Quanta ironia...

—Onde já se viu um neto de uma mulher como ela... —Falo para Nefertari me referindo a Yunet. Minha cunhada então abaixa o olhar ao temer que eu fale sobre Yunet na frente de Amenhotep. —Ferir a pele de um descendente de sangue real de Seti.

—Do que falam? —Amenhotep pergunta confuso.

—Vá para o seu quarto, meu filho. —Nefertari fala nervosa e então seu filho obedece. —Precisamos ter cuidado, Henutmire...

—Pense em ter ser mais cautelosa quando ferir a imagem de meu marido e a pele de meu filho, grande esposa real. —Falo firme e então meu filho me olha assustado. Nefertari então engole o seco assustada ao me ver enfurecida diante de seu preconceito. —Meu filho, mesmo tendo origens hebréias, é um legítimo neto de Seti, Nefertari.

—Não seja tão soberba, Henutmire... —Nefertari pede magoada.

—Enquanto ferirem a paz de meu filho e de meu marido eu serei soberba o suficiente para esquecer que sou boa ao ponto de esconder a verdade sobre Yunet para que Amenhotep não saiba o escândalo que foi a vida dela neste palácio. —Falo de mãos dadas com Djoser. —Você é mãe e sabe o que sentimos quando ferem os nossos filhos, Nefertari.

—Você tem toda razão. —Nefertari fala e volta seu olhar para Djoser. —Me perdoe pelo modo que eu e Amenhotep te tratamos. —Ela pede e meu filho consente. —Venha, vamos até a sala de meu pai. Ele nos ajudará com o ferimento. —Nefertari fala estendendo a mão para Djoser.

—Vá, meu filho. —Falo. Djoser e Nefertari seguem lado a lado e um pensamento me obriga a lembrar de que Nefertari é filha de Disebek. E que por algum momento cheguei a pensar nos filhos que teríamos, nos filhos que Yunet matou.

Esse deus de Moisés que também é deus de Hur e Djoser, parece traçar o caminho certo por linhas tortas. Agora entendo por quê tanto sofrimento na minha vida, tantas lágrimas e o desespero asfixiante que quase me roubou a vida. Esse deus parece ser mesmo poderoso, mas também parece me confortar, parece que ele é responsável por eu ter meus três filhos comigo. —Acabo chorando com o papiro de Gab em minhas mãos. —Minhas lágrimas são mais frias que a noite sem luar. Se eu pudesse agradecer este deus fazendo uma oração, mas isso não posso fazer, seria uma afronta aos deuses.

—Deuses estes que não conseguiram me dar um filho. —Falo andando lentamente em direção a piscina real. É então que me lembro do dia em que desmaiei e acabei caindo nas águas da mesma. Mas também me lembro do dia em que tentei me matar no Nilo.

Flash Back On

Eu mal me importei ao sair sozinha do palácio, mal me importo com a possibilidade de ser devorada por algum animal feroz ou até mesmo por um crocodilo faminto. Minha alma está negra tanto quanto a noite sem luar, minha lágrimas se tornam frias como o vento sombrio da noite. E meu coração... Ah meu sofrido e velho coração que não para de bater, ou melhor, de rasgar minha carne. Por que a dor que sinto é tão forte que penso que meu coração é na verdade uma lâmina que perfura a minha carne, perfura sem ter finalidade.

—Por que que os deuses não me deram um filho? —Pergunto ao entrar dentro das águas frias do Nilo.

Um choro agoniante me atormenta a alma e rapidamente eu tento me lembrar de quem é esse choro. —A manhã seguinte ao meu casamento, no mesmo lugar onde encontrei aquele bebê escravo. —Moisés! Moisés é o filho que me foi enviado pelos deuses.

Flash Back Off

—O que temos aqui? —Falo alto e então abro o papiro decidida a esquecer minhas lembranças. É mais prudente ler este papiro enquanto estou sozinha do que deixá-lo a merce do tempo e correr o risco de que Hur o leia. Não quero que ele se aborreça com as investidas desnecessárias de Gab.

"Senti uma certa desconfiança e insegurança da parte da senhora quando parti. Enquanto a promessa que fiz de nunca mais voltar ao palácio, não se preocupe por quê não voltarei a aborrece-la. E como forma de pedir perdão lhe mando este presente.
Sei que o amor que existe entre a princesa e o seu marido é forte demais, e como perdedor confesso e conformado dou a notícia de que esta é a última vez que volto a incomoda-la.
Esta jóia é um pedido de paz e espero que esta paz me mantenha afastado, alteza..."

—Que isso seja verdade. —Falo aliviada e ponho o papiro em meu peito, mas em seguida o rasgo com minhas próprias mãos. Por fim Gab me deixará em paz, mesmo que seu presente signifique o contrário.

—Henutmire. —Ouço Hur me chama, e ao virar o meu rosto o vejo com o semblante sério.

—Se preocupou comigo? —Pergunto indo até ele. Acabo abraçando meu marido e me agrado do calor de seu corpo mais uma vez. Meus dedos percorreram por sua pele com destreza e sutileza, talvez eu esteja procurando por suas carícias como ele sempre faz.

—Se sente bem? —Hur questiona segurando o meu queixo nas pontas de seus dedos. —Chorou?

—É a melhor maneira de me expressar. —Respondo convincente.

—Pare de chorar pelo o que vem acontecendo. —Hur pede e então me envolve em seus braços novamente. —Foi exatamente aqui que revelei todo o meu amor por você. —Hur fala nostálgico e então eu sorrio imensamente feliz por tê-lo comigo. —Eu temi a sua reação...

—Eu estava insegura e ao mesmo tempo perdida. —Falo com tanta sensibilidade que me aconchego ainda mais nos braços de Hur. É nos braços dele que me sinto segura. —Eu não sabia o que fazer naquele momento, mas você soube.

—Fui indiscreto? —Hur pergunta risonho. —Você estava em um momento de dor.

—Eu tinha perdido muitas pessoas naquela época, mas desde que você me falou que me amava eu ganhei mais do que havia perdido. —Minhas palavras o confortam. —Você me deu muitas coisas. Coisas preciosas que não se pode comprar... —Falo e então o olho nos olhos. —Mas somente o seu amor me bastaria.

—Garanto que ele será o suficiente para o resto de nossas vidas. —Hur fala levando sua mão ao meu rosto.

—Eu não quero te perder. Jamais. —Falo tendo a maldita sensação de perdê-lo novamente.

—Eu não viverei em um mundo ao qual você não exista, Henutmire. —E então mais nenhuma outra palavra foi dita. Nossos lábios se calaram ao se unirem mais uma vez com amor. Por ironia do destino nos beijamos no mesmo lugar onde nosso primeiro beijo aconteceu, onde Hur começou a escrever a nossa história.

Nossa história parece ser tão perfeita que lágrimas escorrem pela minha face ao lembrar de cada momento que tive ao lado de Hur, ao lado do homem que sempre me amou e me respeitou ao longo desses vintes anos. Homem esse que me amou verdadeiramente e sem pudores, sem excessão e medo.
Me lembro bem que nos primeiros cinco anos de nosso matrimônio eu e Hur vivíamos cada dia como se fosse o último, a cada luar nossa paixão se fortalecia e que graças a isso concebi nosso primeiro filho, graças a isso presenciamos um milagre.

—Minha menina... —Hur fala ao separar seus lábios dos meus meus. Ele então paira sua mão sobre meu rosto, mas não há um contato. —Os anos se passam e nada de mudar o seu jeito?

—Meu jeito de amar? —Pergunto e ele consente. —Meu amor por você não envelhece. —Falo. Meu olhar se encontrou com o de Hur como da primeira vez e aos poucos meus lábios se aproximaram dos dele aos poucos, também como da primeira vez.

Hur me marcou como nenhum outro homem, ele me fez saber o que era o verdadeiro amor e talvez eu nunca saiba como agradece-lo por isso. Hur marcou meu corpo, minha alma e até hoje faz meu coração bater mais forte todas as manhãs que sou surpreendida com o seu olhar doce. Não sei como demorei tanto para perceber o amor dele, era tão visível e ao mesmo tempo tão improvável! Eu não poderia imaginar que um homem como ele me ama-se, mas eu também não poderia imaginar que esse mesmo homem me dê-se uma segunda chance para a vida, para recomeçar tudo do zero e apagar tudo aquilo que vivi.
Por que o que vivi com Disebek não chega a ser a metade do que vivo com Hur.
Mais uma vez a sensação de medo cerca o meu coração. O medo de perder Hur para algo grandioso demais ao ponto de minha vida ser pequena demais para suportar. Estaria eu ficando louca? Com tantos acontecimentos insanos chego a pensar que começo a perder a razão.

Em outras palavras, o meu amor por Hur é como um precipício, onde eu me atiro dele e torço para que eu nunca chegue ao chão. Por que se um dia em chegar...Isso significará que eu morri, mas morri amando o homem da minha vida.

(...)

O dia amanheceu mais conturbado do que o de costume. Despertei envolvida pelos braços de Hur, mas mesmo assim ainda sinto uma energia extremamente pesada pairar no ar. —Moisés.— É o meu primeiro pensamento. Então eu me levanto bruscamente ao sentir minha pele arder como se o fogo queimasse-o com veracidade.
É então que vou até minha jóias e ao abrir o pequeno frasco que contém a tinta para a pintura dos olhos, sou surpreendida por um enxame de piolhos. —Um grito estridente saiu de minha boca e então solto o frasco no chão. —Hur desperta assustado com o meu grito, mas mais assustado fica ao me ver ferir a pele.

—O que você tem? —Hur pergunta se aproximando de mim sem se preocupar em pegar piolho.

—Não se aproxime! —Peço eufórica e me afasto de Hur rapidamente. —Piolhos... —Falo e então ele se aproxima mais uma vez. —Já disse para não se aproximar! Você pode pegar!

—Eu não sinto nada. —Hur fala e então Leila e Djoser entram eufóricos em meu quarto.

—O palácio está infestado! —Leila fala e então procura algum óleo ou creme para que minha pele não se irrite.

—Vocês não sentem nada? —Pergunto para Hur e Djoser.

—A praga não nos atinge por que temos sangue hebreu. —Djoser responde. Sendo assim Anippe não está sofrendo com essa nova praga. Espere um pouco... Trata-se de uma praga?

—Sua pele já está ficando irritada, Henutmire! —Hur fala segurando os meus braços e se assusta com o vermelhão de minha pele.

—Eu não sei se vou aguentar isso... —Falo ao ver que no meu braço esquerdo a minha pele está tão irritada que o meu sangue começa a sair.

—Você precisa parar de ferir sua pele... —Hur pede enquanto Leila passa óleo em meus braços.

—A pele da princesa é muito sensível, não percebem que seus braços estão ficando avermelhados como sangue? —Leila pergunta enquanto massageia meus braços.

—É impressionante a forma como esse deus os protege. —Falo para surpresa de todos, até mesmo para mim. —Os piolhos não ferem a pele de nenhum de vocês.

—De todo jeito eu ainda preferiria estar no seu lugar para não te ver sofrendo tanto. —Hur fala emotivo e eu olho para Djoser. Meu filho está abismado ao me ver nessa situação deplorável.

—Tire ele daqui. —Sussurro no ouvido de Hur. Ele rapidamente entende que falo de Djoser e vai até nosso filho, mas o garoto entende e não quer sair do meu quarto.

—Eu vou até a vila pedir para que Moisés cesse com essa praga. —Djoser fala para meu espanto.

—Moisés não pode fazer nada, meu filho. Você sabe que não é ele quem quer isso para nós. —Falo rapidamente. Então eu olho emotiva para Hur, e ele entende o que sinto apenas com o olhar.

Nós dois sabemos que do jeito que as coisas estão indo, da forma que cada praga vem com suas respectivos malefícios, eu me apavoro ao pensar que talvez, em alguma dessas pragas eu não resista. Todos sabem o quanto sou frágil e delicada, e se quase desfalecido na primeira praga, o que será de mim neste em que piolhos sugam o meu sangue e nada posso fazer para impedir? Que os deuses e esse deus invisível tenham piedade de mim caso novas pragas cheguem ao Egito.
Sei muito bem que se mais alguma praga vier eu não irei resistir. E talvez seja uma dessas pragas que seja responsável pelo meu medo de me separar de Hur.

—Henutmire? —Hur me chama, todavia me descuido. Meus olhos se encheram de lágrimas assim que a angústia envolve o meu coração. Até quando sentirei esta angustia? —Vá procurar por Uri com Leila, Djoser. —Hur pede com a intenção de ficar a sós comigo.

—Mas e a mamãe? —Djoser pergunta preocupado comigo.

—Eu fico com ela. —Hur fala tentando convencer Djoser de sair do quarto e por fim consegue. Assim que Leila e Djoser se retiraram, Hur vem ao meu encontro. —Por que me olhou daquela forma?

—Eu estou com medo. Você ainda não percebeu? —Pergunto assustada com a minha pele marcada. —Eu não sei se vou aguentar outra praga...

—Você não pode desistir, Henutmire...

—Estou quase. —Falo para seu pavor. —Eu não sei o que pensar, Hur. Não sei o que pensar... —Minha voz foi falha diante do meu medo. —Eu não sei se irei aguentar tudo isso. —Mais uma vez minhas unhas ferem minha pele diante da irritação causada pelos piolhos.

—Você está se ferindo... —Hur fala e então passa o mesmo óleo que Leila passava em meus braços para aliviar a irritação. —Eu não aguento te ver assim.

—Será que desta vez eu convenso, Ramsés? —Pergunto.

—Ramsés está agindo de forma irracional, Henutmire. Ela não está pensando na familia. —Hur fala e então seus olhos pairam envergonhados sobre meus braços. —Eu não sei o que fazer ao te ver assim.

—Isso vai passar. Tem que passar...

(...)

Não esperei por Leila para ir até a sala de banho para aliviar a irritação de minha pele com as águas do rio Nilo, Hur me acompanhou em silêncio e então a jarra provida de um bico fino derramou o frescor da água sobre mim.
Os unguentos e os sais de banho aliviavam a ardência em minha pele por alguns segundos, porém os sanguessugas sempre voltavam a me incomodar e novamente eu vingava meu incomodo na pele com minhas unhas. —Vi sangue brotar de minha pele novamente. —E então sinto a mão cuidadosa se Hur espalhar o unguento no local para que o sangue não saia mais. O que é inevitável pois o sangue se alastra, não com tanta rapidez, mas de toda forma sai de minha carne.

É inadmissível que nem mesmo Paser tenha uma solução para este descaso que se agrava a cada minuto que se passa. Se nem mesmo o sumo sacerdote consegue intervir em uma situação branda como essa, o que eu poderei fazer? Nada! Eu não posso fazer nada a não ser tentar aliviar o meu incomodo com a ajuda de Hur.

—A irritação já passou? —Hur pergunta ingênuo e então eu minto para tranquiliza-lo. Consinto com um sorriso forçado e então Hur fica mais tranquilo, todavia tento esconder meu incomodo com a coceira que insiste em me fazer sofrer.

—Muito obrigada. —Agradeço á Hur, mas permaneci dentro da água tentando imaginar como irei me safar desta nova praga. Não sei se faço o certo em omitir a minha irritação diante de Hur, mas é necessário para que ele não se desgaste comigo.

—Acha que o faraó pedirá para Moisés que essa praga cesse? —Hur pergunta curioso, todavia não dou muita importância. —É o correto.

—Nessa guerra eu não sei o que é certo ou errado. Até por que não precisa saber, você sente na pele... —Falo por entre os dentes enquanto sinto minha pele se irritar ainda mais.

—Essa praga atinge as crenças egípcias. —Hur fala e eu concordo. —Com essa infestação todos irão saber que nem mesmo os sacerdotes estão cumprindo seus requisitos de higiene.

—Você sabe o quanto meu povo é obcecados por limpeza, Hur. Estamos sofrendo na pele e na consciência. —Olhei para Hur em seguida e voltei a falar. —É exatamente isso que esse deus quer, não é?

—Com isso todos irão desejar que os hebreus partam, Henutmire. —Hur me responde.

—Se por acaso eu fosse embora ao lado de Moisés, você viria comigo? —Pergunto com a ideia de partir do Egito por causa do que sinto e também pelo desejo de Djoser.

—A irmã do rei saindo do Egito com os hebreus? —Hur pergunta confuso e me olha estranho. —Isso não vai acontecer Henutmire...

—Estou supondo, Hur. —Falo desconfiada e então ele me olha curioso.

—Você está me deixando preocupado, Henutmire. —Hur fala. —De onde tirou essa ideia? Não se pode sequer imaginar você saindo do Egito!

—Mas você estaria ao meu lado se eu fosse para o deserto, Hur? —Pergunto mais uma vez. Noto que Hur demora a me responder, todavia ele aproxima o seu rosto do meu para me responder.

—Mesmo sendo impossível... Eu partiria do Egito com você. —Hur fala risonho e então eu sinto uma alegria imensa tomar conta de mim. —Mas Anippe ficaria sozinha? Ela está no alto Egito...

—Ela não partiria conosco. —Falo deixa do claro o motivo. Anippe odeia os hebreus e não irá conosco caso Ramsés liberte os escravos.

Eu preciso ocultar esse meu pensamento de partir do Egito por causa do que sinto em relação aos deuses egípcios. Aos poucos sinto que este palácio não é mais o meu lugar, sinto que não pertenço mais a este lugar. —Balanço a cabeça tentando esquecer os meus pensamentos. —Como vou esquecer meus pensamentos se eles acabaram de se tornar um desejo? Um desejo de partir do Egito ao lado de Moisés e com Hur e Djoser comigo. Eu não sei de peço para este deus invisível me proteger ou se peço isso para os deuses egípcios...

—Eu estou perdida... —Falo para surpresa de Hur. —Eu não sei no que acreditar...

—Se refere as pragas? —Hur pergunta temeroso.

—Esse deus é poderoso demais e pelo o que vejo nenhuma de nossas divindades é capa de detê-lo...

—Não diga uma coisa dessas na frente de Ramsés, Henutmire. Ele entenderia isso como uma afronta ao seu poder e a ordem cósmica! —Hur exclama nervoso.

—Eu já trouxe o desequilibro para a ordem cósmica quando achei Moisés naquele cesto, Hur. —Eu mesma sou surpreendida com minhas palavras de coragem. —E desequilibrada a ordem ficou quando dei a luz aos nossos filhos...

—Todos nós sabemos disso. Mas não precisamos lembrar para o rei...

—Será que Ramsés teria coragem de atentar contra a vida da mulher que esse deus sem rosto escolheu para ser mãe do libertador? —Minha pergunta fez com que Hur me olhasse de maneira estranha.

—Está querendo me dizer que deseja partir com os hebreus?

—Não... —Minto para alivio de Hur.

—Por um momento pensei que isso. Eu já estava ficando preocupado... —Hur fala e então dou um sorriso forçado para ele. Mal sabe meu marido que estou acreditando mais nesse deus de seu povo do que ele mesmo...

(...)

—O que tem nessa caixa? —Hur pergunta as referindo ao presente de Gab.

—Nem eu mesma sei. Radina quem me presenteou... —Falo desconfiada e vou até a caixa ver o presente de Gab.

—Estranho... —Hur fala assim que ergo o colar em minhas mãos. —Essa jóia não foi confeccionada aqui no palácio. —Hur fala tocando na jóia.

—Ela deve ter trazido da Núbia. —Falo nervosa e eu coloco a jóia em seu devido lugar. Desconfiada afasto a caixa de Hur, sei bem que se ele descobrir que esta jóia foi presente de Gab ele será capaz de fazer um escândalo.

—Você percebeu que nosso filho tem um corte recente no braço esquerdo? —Hur pergunta. —Tem idéia do que pode ter sido aquilo?

—Djoser e Amenhotep se desentenderam. —Falo. —E eles dois acabaram de machucando.

—Amenhotep feriu Djoser? —Hur pergunta com o olhar enegrecido. —Com o que?

—Um punhal. —Respondo para surpresa de Hur. —Amenhotep despertou o pior que há em Djoser ao feri-lo com um punhal.

—O que nosso filho fez? —Hur pergunta nervoso. —O que aconteceu, Henutmire?

—O punhal saiu das mãos de Amenhotep e então parou nas mãos de nosso filho... —Respondo envergonhada. —E ele pôs o punhal na garganta de Amenhotep. —Hur não suportou saber que Djoser fez tal atrocidade, seu corpo perdeu as forças aos poucos mas eu o apoio em meus braços para que ele não caia. —Deite-se... —Peço suportando o peso do corpo de Hur em meus ombros até chegar na cama.

—Chame Paser, Henutmire! —Hur pede nervoso com a mão sobre o peito.

—Hur? —O chamo enquanto sinto minha pele se irritar novamente com os piolhos que me mordem. Eu então vejo Hur fechar os olhos aos poucos. —Hur? —O chamo eufórica e balanço seus braços para que ele acorde, todavia ele segue desacordado. Pelos deuses! Hur morreu em meus braços ao saber da atitude indigna de Djoser? Foi isso?


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Notas finais do capítulo

Hurmire não contava com a minha astúcia



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