Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer a todos os comentários e a recomendação da minha agraciada Fiore, um amor de pessoa que exala toda a sua simpátia e companheirismo.
Mas agora vamos com mais um capítulo antes que todos morram de ansiedade



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Alguns dias se passaram com lentidão e a água não voltou ao seu estado normal, o número de pessoas mortas só aumenta e com ele a minha preocupação por Hur e Djoser. Nenhuma das minhas orações parece estar sendo atendida pelos deuses, até parece que eles estão me ignorando! Não sei a quem recorrer nem o que fazer para que essa praga acabe de uma vez por todas, nada surte efeito nem mesmo os magos que Ramsés mandou chamar para reverter a situação.

—Vocês precisam fazer alguma por nós. —Falo de mãos erguidas para os deuses e clamo por misericórdia. —Estamos sedentos demais, o sagrado Nilo não pode mais nos favorecer... —Sinto minha carne tremer freneticamente por conta do medo que sinto. Eu, Ramsés e todo o Egito estamos perdidos e somos castigados pelo Deus de Moisés sem nenhuma piedade.

"Acredite, mãe. Pois ele também foi responsável pelo maior milagre de sua vida. Ele lhe fez conceber dois filhos, mãe. Ele fez um milagre em sua vida."

As palavras de Moisés me atormentavam ainda mais. Será possível que eu concebi dois filhos somente por quê esse deus de Moisés quis? Será que os meus deuses, os deuses de meu pai não foram capaz de fazer o que o deus dos hebreus foi capaz? —É então que eu começo a suspeitar da existência desse deus hebreu. —Se ele é capaz de transformar todo um rio em sangue, então ele também tem o poder de frutificar o ventre mais envenenado que possa existir, no caso o meu.

—Me ajudem a salvar o meu filho, caso contrário ele morrerá. —Falo desolada e então ouço alguém me chamar.

—Princesa! Princesa... —Leila para de me chamar ao me ver no santuário. —A senhora precisa ver isso...

—Algo de errado com Hur? —Pergunto já temendo o pior.

—Não, senhora. A água! A água voltou! —Leila fala aliviada e então eu me retiro do santuário. Me encontro com Hur e Djoser no corredor e a primeira coisa que faço é abraçá-los.

—Graças aos deuses vocês estão bem! —Falo ainda abraçada aos dois e então fico aliviada ao saber que os dois não sentem mais sede.

—Mãe, a senhora está apertando meu pescoço! —Djoser fala rouco e então o solto. —Obrigado... —Ele passa a tossir e então me olha com graça.

—Não julgue a sua mãe, meu filho. Você sabe do que ela é capaz por você. —Hur fala e então Djoser começa a sorrir.

—A senhora parece ser mais avassaladora que a praga, mãe. —Djoser brinca. —Mas eu agradeço pela preocupação. E agradeço também por ter se sacrificado por mim, mesmo tendo nos dado um susto como nos deu.

—Você agora sabe do que eu sou capaz de fazer para te salvar, para te manter em segurança... —Djoser me interrompeu com um abraço carinhoso e forte. Senti meu coração bater mais forte assim que os braços de meu filho me cercaram.

—Obrigada por ser minha mãe. —Djoser agradece e então passo a sorrir depois de tanto sofrimento.

(...)

—Nunca fiquei tão feliz em beber água. —Ramsés fala do trono e então olha para mim. —Por fim a praga foi embora.

—Será que tudo acabou? —Pergunto. Ramsés demora a me responder e então eu volto a falar. —Não foi nada fácil passar sete dias sem água, soberano.

—Mas conseguimos. Os nossos deuses venceram o deus dos hebreus e agora todos sabem do que nossas divindades são capaz, Henutmire. —Ramsés fala pleno de orgulho. —Somos intocáveis, invencíveis...

—Disso eu sei. —Ramsés então me olha pasmo por me ouvir concordar com suas palavras. Pelos deuses! Estou pensando como ele! —Mas eu temo por uma nova retaliação, meu irmão.

—Nada de ruim voltará a nos atormentar, Henutmire. Você é a princesa do Egito e não deve temer nada. —Ramsés fala e fica pensativo. —Ainda se lembra do sonho que tive quando você e Nefertari estavam grávidas? —Ramsés se refere ao sonho onde ele e seu filho morriam. Eu então consinto e meu irmão volta a falar. —O tive novamente.

—Deve ser apenas...

—Não é apenas um sonho, Henutmire. Agora nosso pai estava nele. —Ponho a mão no peito ao ouvir a revelação de Ramsés. —Não sei o que isso significa...

—Sonhar com os mortos não é bom. —Falo. —Já falou com Paser?

—Ainda não. E nem pretendo... Sou o Hórus vivo e Amenhotep é o futuro rei, nenhum mal nos atingirá. —Ramsés fala cheio de si e então eu me retiro da sala do trono para não mais ouvi-lo.

—Como foi com o rei? —Leila pergunta ao me ver sair da sala do trono.

—Ele pensa que nada nos fará mal novamente. —Falo enquanto caminhamos rumo ao jardim. —Mas eu sei que irá...

—Me perdoe! —Moisés pede ao esbarrar em mim bruscamente.—Mãe. —Ele fala surpreso enquanto segura os meus braços.

—O que faz aqui? —Pergunto incrédula.

—Vim falar com Ramsés. —Moisés fala e então Arão surge de detrás dele. —Eu preciso ir, minha mãe. Fique com ela, Arão. —Meu filho mal termina de falar e então fico a sós com Arão.

—Me acompanhe até o jardim. —Ordeno determinada e então caminho lentamente acompanhada por Leila e Arão. Eu preciso parar com tudo isso ou então Moisés e Ramsés irão se matar! Talvez Arão me ajude com algo, algo que faça com que Moisés desista de enfrentar Ramsés.

—O que a senhora deseja? —Arão pergunta assim que chegamos ao jardim real.

—Pode se retirar, Leila. —Ordeno e então minha dama se retira. —Eu preciso de sua ajuda, Arão. —Vou direto ao assunto assim que fico de frente para o hebreu. —E preciso com urgência.

—A princesa do Egito precisando de mim? —Arão pergunta e eu o convido para se sentar junto a mim. —Não entendo...

—Eu não posso permitir um confronto entre Moisés e Ramsés. Você me entende? —Minhas palavras fazem Arão rir e então o irmão de meu filho segura a minha mão com delicadeza.

—O faraó não está enfrentando Moisés, princesa. Ele está enfrentando Deus. —Arão fala e eu permaneço calada diante de suas palavras de confiança. —Somente o soberano poderá mudar o rumo dos acontecimentos.

—E se ele não fizer isso?

—Eu não sei o que Deus fará. Mas seja lá o que for será mais assustador e avassalador que um rio de sangue, princesa. — Arão me deixa ainda mais apavorada com suas palavras. —Deus tem um propósito e nenhum faraó poderá intervir. —Passei a olhá-lo nos olhos tentando intimidá-lo, mas nada surtiu efeito.

—Então meu esforço será inútil. —Falo e meu olhar vai em direção aos nossas mãos que estão unidas por algum motivo desconhecido. —Terei que ver Moisés passar pelo risco de morrer por enfrentar o faraó?

—A senhora mesma enfrentou o faraó por causa de Moisés, princesa. —Arão fala com tom de brincadeira em sua voz. —Moisés aprendeu com a melhor!

—Não me faça rir diante de uma situação tão grave! —Exclamo envergonhada por mim mesma.

—Enfrentar um rei é para poucos, senhora. —Arão fala risonho.

—Moisés veio convencer o rei, não foi? —Pergunto.

—Sim.

—E se meu irmão negar o pedido do seu deus? —Pergunto temendo a pior das respostas.

—Creio que uma nova praga virá. —Arão responde. —Eu sinto muito.

—Não sei se irei aguentar outra praga, Arão. A água ter virado sangue já foi demais para mim...

—A senhora, assim como todo o Egito, sofre a consequência da tirania do faraó. Sofre por que o rei não pensa em nada além de si mesmo. —As palavras de Arão podem ser levadas como uma afronta, mas eu nada falo para não causar um mau entendido entre nós. —A senhora não tem uma filha? — Arão pergunta e me deixa confusa. —Onde ela está?

—No alto Egito... —Respondo entendendo que Arão deseja mudar o rumo da conversa.

—Meu irmão não tem muita sorte com irmãs. A começar pela nossa irmã de sangue que é a mais velha, se chama Miriã... —Tentei não demonstrar o meu incômodo quando Arão falou de Miriã. —Ela é muito cabeça dura...

—Anippe também é. —Concordo e então Arão passa a sorrir para mim com entusiasmo. —Ela é rebelde demais para mim!

—Filhos. Sempre nos surpreendendo. —Arão fala e eu sorrio ao lembrar que ele já é pai. —Eu tenho cinco...

—Uma família grande... —Falo envergonhada. —Filhos e filhas?

—Todos homens. —Arregalo os olhos ao saber que todos os cinco filhos de Arão são todos homens. —Minha esposa sempre quis ter uma menina, mas sempre ganhava um menino...

—Mas ela deve ser muito feliz com os cinco filhos. Ou estou errada? —Pergunto.

—Não. Apesar de todas as dificuldades, eu e minha esposa conseguimos educar e criar nossos filhos. —Arão fala pleno de orgulho. —Um deles já me deu um neto. —Não consigo evitar o riso com o que Arão fala.

—Não acredito que você já tem um neto. Eu também não acreditei quando soube que Hur também já era avô assim que nos conhecemos. —Falo e então é a vez de Arão rir.

—Mas a senhora também já é avó. Ou se esqueceu dos filhos de Moisés? —Arão pergunta e eu sorrio ansiosa para conhecer os meus netos.

—Não vejo a hora de conhecê-los! Não sei se deixarei irem embora quando eles chegaram ao Egito. —Minhas palavras fazem o sorriso de Arão morrer aos poucos.

—Eles vão adorar a avó egípcia. —Arão fala um pouco entristecido. —Tenha certeza disso, princesa.

—Arão! —Hur chama pelo hebreu e então nos levantamos automaticamente.—O que faz aqui? —Ele pergunta curioso.

—Moisés está no palácio, Hur. —Falo calma ao notar um certo nervosismo em Hur. Será por causa de Miriã? Afinal, Arão é irmão dela. —Eu e ele estávamos falando sobre os filhos de Moisés.

—Seus netos. —Hur fala risonho e segura a minha mão. —Devem ser lindos. —O olhar de Hur veio de encontro ao meu.

—Moisés está demorando... —Arão reclama impaciente e me olha curioso. Sinto Hur apertar a minha mão com força, mas ao olhá-lo vejo seu olhar acirrado para Arão. Mas Hur não deu uma palavra se quer diante da reclamação de Arão.

—Moisés vai voltar logo, Arão. —Tento confortá-lo e ao mesmo tempo tento entender o enigma da expressão gélida de Hur.

—A senhora ainda não me respondeu. —Arão fala extrovertido e Hur passa a me olhar com curiosidade. —Não me falou sobre sua filha, senhora. —Hur abaixou o olhar com a curiosidade de Arão, mas eu não recuo.

—Ela está no alto Egito. —Minha voz saiu tão fraca que por um momento pensei que os deuses haviam roubado a minha doce voz. É então que ele consente e nos lembramos que eu já havia respondido a sua resposta, mas que por algum motivo inaparente Arão me fez a mesma pergunta sobre Anippe.

—É uma pena Moisés não conhecê-la. —Arão lamenta, todavia dá um belo sorriso para mim. —Moisés. —Ele fala e então sinto o abraço apertado de meu filho.

—E então? —Pergunto ansiosa para Moisés.

—Ramsés não cedeu. —Moisés responde desapontado. É então que seguro na mão de Hur e a aperto demonstrando todo meu receio. —Ele não se contentou com a praga.

—E agora, meu irmão? —Arão pergunta ofegante.

—Faremos o que Deus nos pedir. —Moisés responde me olhando preocupado. —Passar bem, minha mãe. —Moisés fala e me abraça acaloradamente.

—Que esse teu deus te proteja, Moisés. —Sussurro no ouvido de meu filho ao passar minhas mãos em seus cabelos.

(...)

—Está tensa. —Hur afirma ao massagear os meus ombros. —Mas quem não ficaria?

—Eu estou péssima. —Reclamo exausta. —Tanto por dentro como por fora. —Falo ao olhar o meu reflexo no espelho. —Estou preocupada com Moisés, com Anippe...

—Mas nada de se preocupar com você, não é mesmo? —Hur pergunta intimidador e eu então me recordo do seu olhar para Arão. Sinto a necessidade de perguntar o que ele sentiu ao ver Arão a sós comigo, mas ao lembrar de que Miriã pode ser a causa, calo-me.

—Vou me recolher. —Falo exaustiva e levanto-me da poltrona, mas Hur segura a minha mão com suavidade. O olho confusa, mas então ele passa a me acariciar como sempre faz e eu sorrio. Rapidamente Hur me coloca em seus braços e me carrega até a cama.

—Boa noite. —Hur fala enquanto eu me preparo para descansar. Ele põe sua mão em meu rosto com toda a sua sutileza de sempre, e como sempre eu sorrio agradecida por ele estar sempre ao meu lado.

—Não vá. Fique comigo. —Peço. —Pelo menos até eu adormecer.

—Também vou estar aqui quando você acordar. —Hur fala ao me confortar em seus braços.


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Notas finais do capítulo

Todos sabem o que acontece no dia posterior a conversa de Moisés e Ramsés, não sabem? Pois é, as nossas queridas rãs irão fazer uma visita para nós em CDS!
#LáVemaSegundaPraga



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