Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Mas eu tô até boazinha postando um capítulo atrás do outro, hein



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Os portões foram abertos e eu entrei na sala do trono determinada a salvar a vida do sobrinho de Moisés. Fico aliviada ao notar que Ramsés não está acompanhado por Nefertari, ou que esteja resolvendo algum assunto importante com Paser. Assim eu terei a oportunidade de conversar com Ramsés sem nenhum impedimento.

—Soube que o soberano mandou castigar o escravo que recusou a se curvar no cortejo. —Começo a falar. —Eu vim até aqui para pedir que perdoe o hebreu.

—Perdoar? Eu entendi bem? —Ramsés pergunta irônico. —Aquele escravo pagará por sua insolência, Henutmire.

—Aquele escravo é sobrinho de Moisés. —Falo me alterando. — Por favor, tire o escravo do castigo. —Meu pedido deixa Ramsés divido. Ao falar que o escravo é sobrinho de Moisés, meu irmão se sente como se estivesse traindo o meu filho.

—Está bem. —Ramsés fala e lança um sorriso duvidoso. Eu sinto que meu irmão está brincando comigo, mas ele é um rei, deve cumprir com sua palavra. —Eu irei tirar o escravo do castigo, Henutmire. —Ele fala e eu vou até ele para agradecer. —Você sempre faz reis voltarem atrás. —Ele fala debochado e sorri.

—Eu não sei como lhe agradecer, meu irmão. —Falo diante de Ramsés. Meu irmão se retira do trono e fica frente a frente comigo, me sinto minúscula diante do meu irmão mais novo.

—Anippe partiu ao amanhecer? —Ramsés pergunta entristecido.

—Ela não se despediu de você? —Pergunto.

—Eu não quis me despedir de Anippe. Sabe que odeio despendidas... —Ramsés fala nostálgico. —Isso me lembra de quando ajudei Moisés a fugir da fúria de nosso pai.

—Agora perdi dois filhos...

—Não faça tanto drama. —Ramsés fala risonho. —Anippe virá nas comemorações. Ou então ela largará o sacerdócio...

—Anippe está decidida. Ela vai se tornar uma sacerdotisa.

—Será uma honra para ela. —Ramsés fala e eu desso degrau por degrau. —Me lembro como fosse hoje de quando você desmaiou, aqui mesmo, e em seguida recebi a notícia de que você estava grávida novamente.

—Como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que eu e Nefertari estávamos grávidas e todos do palácio não se cansavam de nos bajular. —Falo me lembrando da época em que eu e Nefertari estávamos grávidas. —E hoje temos Djoser e Amenhotep.

—Agora que a minha sobrinha se foi, Amenhotep e Djoser terão que encontrar outra figura feminina para assistir os treinos. —Ramsés fala um pouco pensativo. —Eu não queria que Anippe se tornasse uma sacerdotisa, mas eu não podia oprimir seu desejo. —Ele fala e sorri. —Vou sentir falta do sarcasmo de Anippe.

—Quando Jahi retornará á Núbia? —Pergunto ao me lembrar da presença insuportável de Gab.

—Após a recepção que prometi dar em homenagem á ele. —Ramsés fala contente por estarmos prestes a dar uma recepção para Jahi. Isso significa que Gab passará mais dias no palácio. —Aliás, você já conheceu Radina?

—Ainda não tive a oportunidade. —Respondo. —Talvez eu a encontre no harém.

—Ela seria uma boa companhia para Anippe. Acho que elas se dariam bem... — Ramsés fala extrovertido, mas eu não dou atenção. Sinto meu corpo pesar e presumo que seja cansaço.

—Você está se sentindo bem? —Ramsés pergunta preocupado. —Ficou pálida...

—Não deve ser nada importante. —Falo cansada. —Eu vim apenas para que você tirasse o escravo do castigo, e como você já me prometeu que vai fazer isso...

—Não se preocupe, Henutmire. Irei atender o seu pedido. —Ramsés fala com uma certa ganância em sua voz. —Por quê não se consulta com Paser? Parece um pouco abatida.

—Cansaço. —Falo e me retiro da sala do trono sem pedir permissão. Ao sair sinto o ar me faltar, mas com o tempo consigo estabilizar a minha respiração. Onde Leila está? Não a vi hoje em lugar algum! Não importa, eu voltarei para meus aposentos e tentarei descansar.

(...)

—Henutmire? —Hur me chama ao me ver deitada em minha cama. Lembro-me de Anippe ao ver Hur se aproximar de mim. —Deitada a esta hora do dia?

—Estou cansada. —Reclamo. Hur aproxima sua mão de meu rosto, mas me esquivo para não sentir o seu toque. Mas Hur coloca sua mão sobre minha testa, como se desconfiasse de algo. —Não precisa se preocupar comigo, estou apenas cansada.

—Tem certeza de que é apenas cansaço? —Pergunta preocupado.

—Não... —Respondo. —Me sinto fraca. —Falo a verdade. A falta de ar que tive após sair da sala do trono não é normal, não sou fraca, tenho boa saúde. —Mas não se preocupe, eu vou ficar bem.

—Princesa. —Leila me chama eufórica ao entrar em meus aposentos. —O príncipe Djoser...

—O que aconteceu com o meu filho? —Pergunto assustada.

—É melhor a senhora ver...

(...)

Ouvi risadas altas ao chegar no jardim, Hur me acompanhava, todavia eu não me importo com sua presença. Ao me aproximar da piscina, vejo Djoser e Bezalel. Noto que Bezalel tenta avisar sobre a minha chegada até o jardim para Djoser, mas o meu filho não se importa.

—O que está acontecendo? —Hur pergunta indignado ao ver Djoser fora de controle.

—Djoser? —Chamo o meu filho e ele me olha espantado. Foi então que percebi que meu filho está bêbado. —Você bebeu?

—De modo algum, mamãe. —Djoser fala com a voz embolada e tropa. Eu olho assustada para Hur e ele me olha indignado. —A senhora, como sempre, está mag-ma-gnifica. —Djoser fala ao vir em minha direção.

—Mas a princesa sempre foi magnífica, tio. —Bezalel fala envergonhado e tenta apoiar Djoser, mas acaba sentindo o peso da mão de meu filho. Bezalel nos olha assustado e meu filho começa a rir descontroladamente ao ver o susto que Bezalel levou.

—Pare de cortejar a minha mãe! —Djoser fala e volta a rir. A risada embriagada de Djoser me fazia ter ânsia todas as vezes que ele me olhava.

—Eu posso saber o que você andou fazendo? —Hur pergunta no meu lugar.

—Eu fui até a adega real provar alguns vinhos e acabei perdendo as contas de quantos tomei. —Djoser fala a verdade e começa a rir das nossas reações. —Aliás, adorei todos eles! —Mas parecia um descontrolado mental falando sem nenhuma vergonha ou pudor na frente de seus pais.

—Eu vou morrer de tanta vergonha! —Esbravejo e meu filho me olha assustado. —Essa é a educação que lhe dei?

—Não, não, não! De forma alguma! Eu apenas fui me divertir um pouco... —Djoser fala me deixando ainda mais envergonhada. Era só o que me faltava...

—Me ajude com ele, Bezalel. —Hur fala e em seguida os dois levam Djoser para dentro. Eu sinto minhas pernas ficarem bambas ao presenciar tamanho escândalo.

—Sente-se, princesa. —Leila fala e me auxilia a sentar. —Beba um pouco de água...

—Eu não quero nada. —Falo brava ao saber que meu filho se embriagou. —Eu vou morrer na dúvida se Moisés está vivo, com o desgosto que Anippe me dá e agora com a vergonha que Djoser acaba de fazer, Leila! —Falo caindo no choro.

—A senhora está abalada emocionalmente, princesa. —Leila fala nervosa ao me ver descontrolada. —É uma má fase, tente se acalmar.

—Eu não consigo! Simplesmente não consigo! —Exclamo nervosa.

—Soube que o rei soltou Oséias? —Uri chega e pergunta para Leila.

—Então Ramsés atendeu o meu pedido... —Falo, mas vejo Uri demonstrar pavor. —Por quê está assim?

—O faraó soltou Oséias com uma condição. —Uri fala assustado. —Outros hebreus deveriam ser executados no lugar de Oséias...

(...)

—RAMSÉS! —Grito ao entrar na sala do trono tomada pela raiva. Meu grito o assusta e também assusta Paser. —VOCÊ NÃO TEM PALAVRA! —Grito descontrolada.

São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, por Ísis! Se eu não enlouquecer, irei adoecer aos poucos.

—Como ousa se pronunciar assim com seu deus Rei? —Ramsés usa seu poder para se defender. —Por acaso já soube que mandei executar outros hebreus no lugar do escravo insolente?

—Por quê fez isso? —Pergunto fora do controle.

—Para deixar claro que eu tenho domínio sobre meus escravos e sobre todo o Egito. —As palavras de Ramsés fizeram com que Laser abaixasse a cabeça. —Um rei deve governar sem se deixar levar pelos sentimentos.

—Não sente remorso?! —Pergunto incrédula diante da frieza de Ramsés. —Você está cego!

—Você quem está cega, Henutmire! —Ramsés fala fora de sí, e ao notar que falou o inapropriado, recuou na defensiva. —Tudo o que eu faço é para manter o equilíbrio da ordem cósmica.

—E matar pessoas faz parte disso?

—São vermes! Vermes hebreus! —Ramsés grita ao se exaltar. Leila me ampara em seus braços após eu perder as forças em minhas pernas.

—Princesa! —Paser e Leila me chamam ao mesmo tempo. —O que está sentindo? —Paser pergunta preocupado.

—Só perdi o equilíbrio, não foi nada demais...

—Henutmire estava pálida mais cedo. —Ramsés conta já mais calmo e preocupado.

—Sente algum enjôo? —Paser pergunta tentando fazer seu diagnóstico.

—Apenas perco as forças. —Falo. —Talvez seja por causa da partida de Anippe, por todos os problemas que venho tendo...

—E a sua alimentação? —Paser pergunta. É verdade... Não venho me alimentando bem faz dias! —O silêncio me responde tudo.

—Talvez isso seja sintomas da saudade que a senhora sente de Anippe. —Leila fala fazendo Paser me olhar com pena.

—Anippe acabou de partir, ainda não estou com saudades. —Falo e todos riem.

—A senhora quem diz isso, mas seu coração sente outra coisa. A senhora pensa que não sente saudades, mas sente. —Paser me deixa sem palavras, como sempre. —Saudades se sente, não se sabe e nem oprime.

—Acho que você tem razão. —Falo. —Eu quase morri de saudades quando Moisés foi embora.

—Mas as situações são diferentes, senhora. Se a senhora sobreviveu a dúvida e com saudades de Moisés até hoje, vai superar a partida de Anippe. Ela virá a pedido do faraó para as festas, ela virá visitar a família de tempos em tempos... —Paser fala me confortando. —A senhora ainda tem Djoser...

—E se eu também perder ele? —Pergunto.

—Djoser sempre foi muito apegado á você, Henutmire. —Ramsés fala com calma e me olha carinhosamente. —Somente os deuses podem separar ele de você. —As palavras de Ramsés fazem com que Paser de continuação.

—O soberano tem razão. O amor e devoção que o príncipe Djoser tem pela a senhora é mais forte, é maior e mais poderoso que o de Ísis por Hórus...

Se Paser e Ramsés soubessem a vergonha que Djoser me fez passar a alguns minutos atrás, talvez não comparassem o amor maternal de Hórus para com Ísis. Eu sei que Djoser não é um garoto rebelde, e que nunca me deu trabalho, mas esse episódio de hoje me fez pensar no quanto meu filho está se rebelando.
Djoser deve estar mais abalado do que eu, mesmo sem saber que minha relação com o pai dele está por um tris, meu filho deve estar se sentindo acuado com a fuga de Anippe e até mesmo a sua decisão de se tornar uma sacerdotisa.

(...)

—Foi apenas uma baixa de açúcar no sangue. —Paser fala o motivo das minhas tonturas. —Isso me lembra de quando a rainha Tuya também teve esse tipo de... —Paser exita em falar ao se lembrar da morte de minha mãe.

—Não precisa temer, Paser.

—Mesmo depois de tantos anos após a morte da rainha Tuya, eu sei o quanto dói a falta que ela faz na vida da princesa e do soberano. —Paser fala sem se censurar. —Eu sinto muito.

—Muitas coisas aconteceram depois que Ramsés e Nefertari se casaram, Paser. —Falo ao me lembrar do escândalo que foi a cerimônia. —Minha mãe foi para o mundo dos mortos, cinco anos depois eu e Nefertari nos tornarmos mães...

—A senhora se tornou mãe mais uma vez. —Paser fala me fazendo lembrar de Moisés. —Eu me lembro de quando Nefertari brincava em seu colo.

—Mas depois ela preferiu fazer companhia para Ramsés e Moisés...

—O tempo passou muito rápido. —Paser fala dando atenção aos seus papiros. —Eu lembro, como se fosse hoje, quando a senhora enfrentou o faraó Seti por causa de Moisés.

—Eu enfrentaria os deuses se fosse preciso. —Falo fazendo com que Paser me olhe com receio. —Mas do que adiantou salvar Moisés quando ainda era bebê, se quando adulto o meu fez com que ele fosse embora?

—Os deuses trarão Moisés de volta, princesa. A história da senhora com o príncipe Moisés não pode terminar com a dúvida sobre a existência de uma e de outro. —Paser fala. —Ele não faz idéia do aconteceu durante sua ausência.

—Se Moisés pudesse voltar, ele não conheceria Anippe.

—Mas conheceria o irmão. Quem sabe os dois não se dêem bem. —Paser me faz rir ao imaginar Djoser e Moisés juntos. —O bom filho a casa torna. —Rimos juntos com a ironia da frase de Paser. —Quem sabe Anippe também volte?

—Quem sabe, Paser. —Falo ao me lembrar da forma grotesca que eu e Anippe nos "despedimos". —Quem sabe eu tenha Moisés e Anippe de volta...


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Notas finais do capítulo

Vai buscar Anippe ligeiro...