Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 109
Capítulo 109


Notas iniciais do capítulo

Voltei mais uma vez



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Avistei o Egito, no cavalo de Gab, fiquei aliviada em voltar para casa. Assim que desci do cavalo pude sentir a consequência de passar tanto tempo montada. Mal consigo me manter ereta e minha coluna arde em fogo, mas permaneço de pé. Olho em minha volta e procuro por Zion, assim que vejo meu marido fico mais aliviada. Ainda estou assustada por ser a única mulher em meio a tantos homens. Elda ficou em Moabe, no seu reino. Confesso que senti medo, mas aqui estou. —Permaneço ao lado de Djoser. Logo atrás estão Gab e Zion. Entramos juntos pelo portão principal do palácio. —Vejo Djoser sorrir ao avistar o novo palácio sendo erguido bem próximo ao nosso. Os escravos trabalham duro dia e noite. Penso isso porque quando sai daqui não tinha nada além de tijolos no chão, agora posso ver paredes erguidas e pinturas.


—Soberanos. —Halima fala assim que se aproxima. —Fico aliviada por terem voltado. —Sorri e então abraça o marido.


—E minha filha? —Indago saudosa.


—Está adormecida assim como o primo. Os dois estão com a minha sogra. —Minha cunhada responde.

—Vamos ver a nossa filha, Anippe. —Zion pede risonho. —Não vejo a hora de saber como ela está.


(...)


—Ela dorme como um anjo. —Meu pai fala enquanto observo Ashira dormir. O tecido rosado parece ter sido feito para ela.


—Mas ela sentiu sua falta. —Minha mãe fala e então sorrio. Olho para Zion e logo noto o quanto ele gosta de Ashira. —Agora eu quem devo cuidar de você.

—Isso é verdade. —Zion fala de súbito. —Ela não está nada bem. —Revela e então me faz sentar no divã.


—Passei toda viagem sentada. —Falo. —Acho que isso fez mal ao meu corpo.


—Não deveria ter ido. —Meu pai fala preocupado. —Tente descansar enquanto Paser chega.


—Eu estou apenas com dores, não é nada grave. —Falo. —Eu fiquei assustada, mas não mais que vocês. —Brinco, mesmo que meus pais me olhem com muita preocupação. Zion então me ajuda a me deitar no divã e permanece ao meu lado.


—Beba um pouco. —Minha mãe oferece algo que meu pai entrega para ela. Logo sinto o gosto de algum tipo de chá doce e por isso bebo tudo. O zelo de um pai e uma mãe é a melhor de todas as sensações.


—Sua mãe estava tomando por nesses dias. —Meu pai revela enquanto põe suas mãos nos ombros de minha mãe. —Vai acalmar você e fazer seu corpo relaxar. —Revela enquanto devolvo a taça.


—Eu preciso falar com Djoser sobre as perdas na guerra. —Zion fala. —Eu volto logo. —Fala ainda preocupado comigo. —Se precisar de mim...


—Eu chamo por você. —Falo segurando a mão de Zion. —Agora vá. —Falo risonha. Zion então beija o meu rosto e sorri para mim antes de sair.


—Finalmente posso ficar com você. —Meu pai fala me fazendo rir. —Não sabe como fiquei preocupado.


—Eu estou em paz por voltar para casa. —Falo e então meus pais sorriem. —Pensei nos dois antes, durante e depois da guerra. —Revelo. Minha mãe então senta no divã e segura minha mão. —Eu pensei no quanto forte é o amor de vocês dois. Talvez seja isso que tenha me feito ser forte.

—Seu pai é o grande amor da minha vida. Todos sabem. —Minha mãe fala olhando para o meu pai. —Apesar de tudo, eu o amo. Mesmo que houvessem diferenças. —Fala. —Uma mulher pode esquecer o homem que quebrou o coração dela. Mas ela nunca esquece o homem que foi capaz de juntar todos os pedaços quebrados de seu coração, que curou sua alma e a fez sorrir novamente. —Minha mãe fala e então olha para mim com carinho. —Seu pai me deu você, Lyanna, Djoser... Me fez ser mãe de outra forma. Me fez ser eu mesma sem véus ou cortinas. —Fala. Meu pai então beija os cabelos loiros de minha mãe e sorri para mim.


—Não falem mais nada. —Peço. —Não quero chorar. —Falo e faço meus pais rirem.


—Nós vimos você chorar quando ainda era bebê e vivia nos meus braços. —Meu pai fala enquanto as lágrimas brotam. Por um minuto uma vaga lembrança de quando eu era criança me veio em mente. De quando meu pai me mantinha em seus braços e me contava histórias para dormir. Ou muitas vezes ele quem dormia. —Não é vergonha nenhuma chorar na nossa frente. —Fala.

—Se lembra de quando eu pedi para o senhor contar as histórias do povo hebreu? —Indago nostálgica. —O senhor acabou dormindo comigo em em seus braços e eu estava acordada.

—E dormi no seu quarto. —Meu pai fala e então rimos. —Sua mãe se mordeu de ciúmes neste dia.

—Se não estava dormindo comigo, com quem estava? —Minha mãe pergunta risonha. —Eu lembro que até cogitei na hipótese de você estar sendo infiel.

—Leila quem ouviu tudo durante toda noite. —Falo. —Eu lembro que a senhora veio no meu quarto, quase chorando de ciúmes, mas então viu meu pai dormindo.

—Eu pedi para os deuses que realmente fosse ele. —Minha mãe fala, fazendo meu pai sorrir. —Depois fiquei preocupada, pensando no pior. —Fala.


—Eu estava exausto naquele dia. —Meu pai lembra pensativo. —E acabei adormecendo. —Fala. Foi quando suspirei e olhei para meus pais.


—Mãe? Pai? —Chamo por eles assim que sinto algo dentro de mim crescer. Logo eles olham para mim atenciosos. —Vocês podem me perdoar por tudo o que eu fiz? Por cada palavra dita? Cada constrangimento e raiva, ou até mesmo desgosto que fiz vocês passarem? Me perdoem por ter sido uma má filha. —Peço e então me sinto diferente. —Podem me perdoar? —Indago. Meus pais sorriem e então olham para mim. Eu sou um pedaço deles, eu sou do amor deles.


—Claro que sim. —Meu pai fala enquanto minha mãe segura a minha mão com carinho. —É isso que os pais fazem, Anippe. —Ele fala e então sorrio enquanto choro. —Independente do que aconteça nós te amamos. E mesmo que um dia você esteja mais velha, vamos te amar como sempre.


—Eu vou ver o seu irmão. —Minha mãe fala mudando de assunto e então me lembro do ferimento de Djoser. —Mesmo que ele esteja magoado comigo.

—Amun feriu Djoser durante um duelo, mãe. —Revelo de uma vez fazendo minha mãe perder o brilho em seu olhar. —Ele parece estar bem, mas eu não acho isso. Meu irmão as vezes não consegue dormir direito. —Falo.


—Eu vou. —Meu pai fala ao ver minha mãe fazer menção de se levantar. —Djoser ainda está magoado com você, Henutmire. É melhor eu ir e ver como nosso filho está.


—O meu pai tem razão. —Falo. —Djoser não está em sã consciência, mãe. Digo, tudo o que aconteceu fez meu irmão mudar.


—Por isso mesmo eu tenho que conversar com ele. —Minha mãe insiste.

—Não, Henutmire. —Meu pai pede já sabendo o que pode acontecer com meu irmão e mãe.—Eu e Djoser precisamos conversar. —Fala fazendo minha mãe ficar incrédula. —Uma conversa de homem para homem vai fazer bem para ele. —Foi então que o mundo de minha mãe desmoronou. Ela agora entende que Djoser já não é mais um menino e que seus conselhos não são mais o mesmo. Somente nosso pai pode ter essa tão desejada conversa com Djoser.


—Se você acha que é melhor. —Minha mãe fala contrariada, mas ao mesmo tempo confusa demais. Vejo meu pai beijar o rosto de minha mãe e logo sair do quarto. Minha mãe então olha para suas mãos, um hábito que ela adquiriu faz pouco tempo e que significa que ela está nervosa ou encurralada diante de alguma situação.


—É ruim ver que meu irmão já é um homem? —Indago.


—Pior ainda é ver que ele não precisa de mim. —Minha mãe fala e então sorrio. —Péssimo é ver que você já é uma mulher e não uma menina. Que eu podia sempre olhar sem temer que você fosse para uma guerra. Anippe, nunca mais faça isso. Guerra não é o lugar de mulher.


—Mas eu sou rainha. —Falo.


—E eu sou sua mãe. Pare de usar isso como pretexto. —Minha mãe me repreende e então paro de rir. —Antes de ser rainha você é minha filha, mãe de Ashira. —Ela completa. —Não tem mais quinze anos, está ouvindo? —Pergunta da mesma forma que fazia quando eu era uma adolescente.


—Tudo bem. —Falo após sentir náuseas por causa da repreensão de minha mãe. —Essa é a primeira é última vez. —Falo. —Eu deveria ter nascido homem.


—Agradeço a Deus por ter tido apenas um menino. —Minha mãe fala pensativa. —Bom, dois. Moisés não tem meu sangue, mas é meu filho.


—Eu queria que ele estivesse aqui. —Falo sobre Moisés. —Que Uri estivesse aqui também. Queria meus três irmãos juntos. Olhar para ele no desjejum e me sentir mais segura. —Falo. —Eu queria tanto ver Uri e Moisés aconselhando Djoser. Queria os dois juntos comigo para ver Lyanna crescer.


—Nem por isso deixam de ser seus irmãos. —Minha mãe fala e então sorrio. —Seu pai ainda sente muita falta de Uri. —Ela revela. —As vezes eu também sinto.

—Eu muito mais. —Afirmo. —Mas o que eu posso fazer? Nós devemos aceitar.


—Essa é a única coisa que não posso mudar. —Minha mãe fala penalizada. —Mas agora não é nada bom ficar lembrando disso. —Ela fala. —Você tem que descansar.


—Não vou conseguir descansar. —Falo. —Não depois dessa guerra.

—Amun terá seu julgamento, Anippe. —Minha mãe fala. —Mas somente eu posso dar a palavra final. —Ela deixa claro. —Ele matou meus irmãos. Kamés e Ramsés. Teria matado Djoser, Gab e eu no dia em que mandou um dos seus homens se infiltrar aqui. Teria matado seu pai... —Finaliza. —Então você seria a última e única pessoa da família real. Porque se eu tivesse bebido do mesmo vinho de Ramsés, não seria apenas eu quem morreria, Lyanna também.

—Amun de certa forma matou o futuro do meu avô Seti. —Falo me referindo aos meus tios Kamés e Ramsés. —Ele nem sabe que também tirou o seu próprio quando desejou que a primeira esposa de meu irmão não tivesse filhos.


—As palavras ditas num momento de fúria é como uma praga. —Minha mãe fala pensativa. —De fato nossa família estava perdida, mas agora não está mais. —Fala e então olha para mim. —E você está no meu lugar como ele disse. —Um sorriso nasce em seu rosto. —Mas isso não é praga alguma.


—Amun disse que a rainha seria distinta na cor. —Lembro. —Acha que ele quis dizer no sentido de...


—Eu não sei. —Ela me interrompe. —Talvez seja pelo meu favoritismo por azul e você por vermelho. —Minha mãe fala orgulhosa. —Sua avô também amava essa cor.


—Acho que herdei isso dela. —Falo. —Eu acho que eu não sou a rainha que Amun profetizou, mãe. —Revelo. —Ainda não sou eu.


—Então será Ashira. Ela será rainha um dia. —Minha mãe fala.

—Quem sabe. —Falo. —Ou será Lyanna. Como na canção de Djoser. —Brinco. —Duas rainhas e um rei.


—Não posso quebrar todos os protocolos sobre a sucessões de herdeiros, Anippe. —Minha fala enquanto sorri. —Lyanna é a princesa do Egito. Uma princesa híbrida que também é herdeira da Núbia. —Fala sobre meu tio fazer de Lyanna a sua única herdeira. —Lyanna não será rainha.


—Ou será e ainda não sabemos. —Falo em tom de brincadeira. Mas eu sinto que minha irmã mais nova nasceu para algo novo e grande. Lyanna não nasceu apenas por nascer...


—Acabei de me lembrar de quando você e seu irmão eram crianças. —Minha mãe fala nostálgica e então sorrio. —De quando seu pai colocava vocês para dormirem...


—Ou então de quando íamos no quarto de vocês. —Brinco. —Mãe?


—Sim? —Ela me atende e então me preparo para a pergunta.

—Nos papiros de nascimentos... Meu, Djoser e Lyanna... —Me preparo. —Está o nome do meu pai na primeira linha?

—Está. —Minha mãe afirma e então sorrio. —Após o meu. —Fala e então olho para ela curiosamente. —Confuso, não é?


—Por isso meu pai não se tornou rei. —Falo e então me levanto bruscamente do divã. —Não adianta de nada usar o estandarte da tribo de Judá se não usamos o nome da família de meu pai. Porque isso? Tio Ramsés também fez questão de ocultar isso? Quer dizer então que apenas Uri e sua descendência irá levar o nome de meu pai?


—Você e seus irmãos também. —Fala.


—Não. —Nego. —É como se o nome da senhora fosse mais importante. —Falo brava. —Eu vou mudar o meu papiro. O nome de meu pai ficará na frente.


—Não pode fazer isso. Se fizer isso pode perder a coroa. —Minha mãe aconselha.

—É isso, ou eu não uso nem o seu nome, nem o nome do meu pai. Ai então serei bastarda pelos dois lados. —Afirmo. —Não me importo com a coroa, mãe. A senhora leva o nome de meu avô, na primeira linha. Existe apenas Henutmire, filha de Seti. Não existe Henutmire, filha de Tuya. Porque é assim comigo e meus irmãos?

—Porque... Anippe... É complicado. —Ela fala confusa. —Assim você e seus irmãos dariam continuidade a família real.


—Diga ao sumo sacerdote, Paser no caso, que quero que mudem isso agora mesmo. —Ordeno. —Agora, mamãe.

—Você vai perder os seus direitos. —Fala. —Ashira também não carrega o nome de Zion, não antes do seu.

—Ashira não é filha de Zion. —Falo fazendo minha mãe se assustar. —É assim que estou me sentindo agora que sei que levo o nome da senhora antes do nome do meu pai, mãe. —Falo fazendo minha mãe se sentir culpada. —Meu pai nunca falou nada?


—Ele nunca quis criar confusões. —Minha mãe explica. —Anippe...


—Mãe... —Falo firme. —Eu ordeno que seja feito o justo. Já não basta Amun quase matar o meu pai? Amun pensava que a senhora ia coroar o meu pai como rei. A senhora não fez isso, mas...


—Mas se você usar o nome de seu pai vai dar mais motivos para Amun. —Fala e me interrompe.

—Eu faço o que eu quiser. —Falo sem pensar. —Djoser usa o nome da senhora, o nome da família real egípcia, nome de prestígio e valor. Eu vou usar o nome do meu pai. —Falo firme. —A minha descendência vai usar o nome do meu pai, mesmo que as mulheres se casem. Não vou deixar o sangue de Judá morrer somente porque o meu sangue egípcio vale mais. —Falo antes de dar as costas para a minha mãe. Logo vou até a minha filha e sorrio ao vê-la dormir. —Ashira não vai levar o nome de Zion, nem de Arão, ela vai levar o meu nome. E eu vou levar o nome de meu pai antes do seu nome. O sangue real egípcio também é meu sangue. Mas quando eu mudar isso, todos vão saber que a tribo de Judá tem sangue real também. E essa família real nunca vai morrer...

(...)

—Desejo que meu nome seja mudado. A partir de hoje levarei o nome de meu pai antes e em em seguida o da minha mãe. —Falo do alto do trono enquanto Paser ouve e o escriba escreve tudo com cuidado. Meus pais e Djoser escutam tudo e apenas olham para mim enquanto tento ignorar a situação. O pequeno conselho de sacerdotes então se entreolham ao me verem fazer algo que pensavam que nunca iria fazer. —Senhores, declaro meu desejo e satisfação de que eu e minha filha, minha única filha, e minha descendência que está por florescer por minha filha, sejamos chamados e conhecidos com o nome de meu pai Hur, hebreu da tribo de Judá. —As palavras foram feitas com calma pelo escriba enquanto falo paciente para todos. —Eu, Rainha Irmã de Djoser II, Anippe, filha de Hur da tribo de Judá. Filha da princesa ricamente favorecida do Alto e Baixo Egito, Rainha Mãe do faraó Djoser II, senhora Henutmire. —Foi então que senti o peso da ação que estou fazendo. Meu pai sorriu orgulhoso enquanto minha mãe me olhava nervosa. Não que ela não esteja orgulhosa, ela está. —Minha filha Ashira, continuará levando meu nome antes do nome de meu marido. —Falo e então Zion permanece orgulhoso. —Princesa Ashira da tribo de Judá, herdeira do trono do Alto Egito, princesa híbrida, filha da rainha Anippe. —Falo. Foi então que o conselho se rebelou. Então os meus soldados feriram os conselheiros que se rebelaram contra mim. Meus pais olharam assustados diante da situação, mas nada falaram demonstrando o choque. O escriba então escreveu com tinta negra e sangue o meu novo nome.

—Mantenha a calma, minha filha. —Meu pai pede. —Não faça uma guerra por isso. —Ele pede enquanto vem até mim. —Você é minha filha, com o meu nome na primeira linha, ou até mesmo sem. —Fala e então sorrio.


—Mas eu quero. —Falo. —Ou será assim, ou o Egito não tem mais rainha alguma.


(...)


—A senhora está sendo muito radical e mexendo naquilo que nem deveria. —Radamés fala ao lado de Zion enquanto ando pelos corredores do palácio com Ashira em meus braços. —A senhora acaba de enfrentar uma guerra, o natural seria se preocupar com o julgamento de Amun.


—Cale essa boca e entenda de uma vez. —Ordeno ao me virar para ele e Zion. Logo Paser, que está um pouco afastado, se assusta com minha reação. —Não estou querendo dizer que o sangue de meu pai vale mais que o da minha mãe, nem que o sangue de minha mãe vale mais que o sangue de meu pai. Nem o nome de um, nem de outro.

—Mas ao pôr seu nome antes do nome de seu marido, a senhora quer dizer, sim, que vale mais que ele. —Paser se manisfesta. —A soberana pode inflamar ainda mais o ódio de Amun.


—Amun está preso aguardando um julgamento que nem deveria existir. —Falo brava enquanto Ashira faz um barulho delicado e frágil, dando sinais que está acordada. —Se dependesse de mim... Ele e Yaffa estariam mortos. —Falo.

—Parem com isso. —Zion ordena ao tomar minha frente. —Pode ir para seu devido lugar, Radamés. —Meu marido fala ríspido. —Eu mesmo faço a segurança de minha esposa. —Fala fazendo Radamés dar meia volta.


—Se me permite lembrar... —Paser começa a falar, mas eu o interrompo.


—Não, eu não permito. —Falo sem paciência alguma.

—Os grandes escândalos nascem de pequenas gotas de imprudência e ignorância.—Paser fala seriamente enquanto Ashira parece brincar sozinha em meus braços. Minha filha é tão delicada quando as notas de uma harpa. Seus lábios parecem botões de rosa enquanto seus olhos azuis são tão vividos quando os do pai. Ashira herdou o céu dos meus olhos, o oceano dos olhos do pai. Peço a Deus que minha filha seja feliz em sua vida, não peço beleza ou delicadeza. Isso minha menina já tem desde que nasceu. Nunca vi uma criança tão belo quanto Ashira, e talvez nunca veja.


—O silêncio também nasce de pequenas gotas de veneno. —Falo fazendo o sumo sacerdote arregalar seus olhos azuis. —Por favor, Zion. Eu preciso descansar. —Falo ao ver que realmente assustei Paser. Logo eu, justo eu. A criança que Paser um dia cuidou com tanto carinho. Agora eu faço uma ameaça deste porte para ele.


Minha mãe usa o nome de meu avô e eu uso o dela, assim como Ashira usa o meu. Agora não quero mais levar o nome de meu avô graças á minha mãe. Não quero sequer lembrar que sou neta de Seti. Mesmo que eu seja, mesmo que eu tenha o sangue dele. Eu devo levar o nome da minha família hebreia, mesmo eu sendo híbrida, devo levar o nome da família de meu pai. Mesmo que eu tenha que entregar minha coroa para Djoser, eu vou fazer o certo. E mesmo que eu não consiga fazer isso, irei entregar a coroa. Com isso, não serei nem rainha e nem princesa, serei apenas a senhora Anippe. Nunca quis o poder para mim, ele veio naturalmente. Não me lembro de usar meus títulos para ser maior que alguém, e espero nunca precisar. —Desde que Ashira nasceu eu não me importo com nada que seja com a sobrevivência​, sem luxo ou regalias.

Ashira não é filha de ninguém além de mim mesma. Posso passar o dia inteiro olhando para ela que nunca vou me cansar. Minha menina, minha única princesa. Se eu pudesse salvar Ashira até dos riscos imprevisíveis, eu faria...

 


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Notas finais do capítulo

Anippe tá afrontosa demais, gente



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