Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 106
Capítulo 106


Notas iniciais do capítulo

Cheguei, seus lindos.



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—Obrigada. —Agradeço assim que Halima me entrega o meu bracelete. —E meu sobrinho? —Pergunto.

—Minha sogra está com ele. —Halima fala risonha. —Ela quem parece ser a mãe. —Ela brinca e me faz rir. —Diz que Amenophis parece Djoser quando criança.

— Amenophis é uma criança muito bonita apesar de ser filho do meu irmão. —Falo fazendo Halima rir. —Brincadeiras a parte, meu irmão é muito galante. Um dos mais belos faraós até então.

—E mais determinado. —Halima fala orgulhosa. —Soube que ele está erguendo outro palácio? —Ela pergunta me deixando surpresa. —Ele acha que este palácio já não é bom o suficiente para nós e que merecemos mais.

—Mas aqui nasceram quatro gerações de nossa família. —Falo orgulhosa. —Meu avô, minha mãe e meus tios, eu e meus irmãos, e agora Amenophis e Ashira. —Falo. —Porquê Djoser não quer mais ficar aqui?

—Pelo ego dele. —Halima responde enquanto me ajuda com meu cabelo. —Ele disse que aqui houveram várias mortes. Kamés, o príncipe que foi morto por Amun. Seti, o faraó morto por uma meretriz. Ramsés II, morto também por Amun. —Ela fala e então penso.

—E agora a chuva invade sua sala sem ninguém lá para ouvir. —Canto espontaneamente fazendo Halima sorrir de canto. —Djoser tem razão. Quando o próximo palácio for erguido, eu mesma verei este ser destruído. —Falo. —Eu perdi meu tio, meu primo e meu irmão aqui.

—Ainda sente falta dele? —Halima pergunta. —Claro que sente. Vejo isso todos os dias.

—Eu amo todos os meus irmãos, sem favoritismo. —Falo. —Mas era Uri quem cuidava de mim e de Djoser quando nossos pais não estavam lá. Uri quem passeava conosco nos verões. Era Uri quem eu via ao amanhecer, era Uri quem eu via antes de dormir. —Falo nostalgica. —Quando ele morreu... Pensei que fosse uma dor que estivesse me rasgando por dentro.

—E quando você soube que Ramsés morreu?

—Vi metade da minha história, da minha infância morrer. —Falo entristecida. —Meu tio adorava me contar histórias. Mas eu adorava mais as histórias que minha mãe contava.

Flash Back On

—Eu vou contar uma história para vocês sobre a filha do rei. —Minha mãe fala enquanto olho para o Nilo. Estou em seus braços assim como Djoser. —Ela estava a beira do Nilo como sempre fazia desde criança. Outras princesas também tinham esse mesmo costume, mas nenhuma fez o que esta princesa fez.

—A princesa do Nilo, mãe? —Djoser pergunta fazendo-me sorrir.

—Sim, meu amor. —Minha mãe responde. —Ela era a filha favorita de seu pai, o rei. Até que um dia essa princesa encontrou um bebê.

—O bebê hebreu? —Pergunto.

—O bebê hebreu que veio para alegrar a vida dela. —Minha mãe fala contente. —Que foi enviado pelo Nilo.

—Eu também fui enviada pelo Nilo? —Pergunto. —É para lá que vamos quando morremos?

—Eu não sei. —Minha mãe fala pensativa.

—Eu quero ir até o fim do Nilo. Quero ver até onde ele me leva. —Falo. —Quero saber de onde o bebê hebreu veio.

—O Nilo é interminável. —Minha mãe fala. —Nem mesmo as aves que voam pelo céu sabem onde o Nilo pode terminar. Por mais alto que uma ave possa voar, ela nunca poderá entrar no céu. Isso serve para vocês dois aprenderem que há... Seres que nos fazem mal.

—Quais? —Djoser indaga. —Crocodilos?

—Como serpentes. —Minha mãe fala e então olho para Djoser. —Devemos ter cuidado com elas. Existem pessoas tão venenosas quanto as serpentes.

—Mas o leão é o mais forte de todos. Pessoas como ele podem derrotar pessoas como as serpentes? —Pergunto.

—Quase nunca, Anippe. —Minha mãe fala. —O leão pode ser o mais feroz dos animais, mas a serpente é traiçoeira. O homem pode ferir a cabeça da cobra com sua arma, mas a cobra sempre irá ferir o calcanhar do homem com seu bote.

Flash Back Off

—Anippe? —Zion chama por mim ao entrar em nosso quarto. —Aconteceu uma coisa. —Ele alerta. —Amun mandou uma mensagem para você.

—Não é adequado falar disso agora. —Halima fala preocupada com minha saúde.

—Pode falar a mensagem de Amun, Zion. —Peço. Logo meu marido começa a ler o papiro.

—É de praxe o ódio que sinto pela família real, mas agora estamos no mesmo ponto. Vocês estão com minha filha e eu estou com o bastardo de Seti. Peço imediatamente, já que não aceitaram minha primeira proposta, que a rainha Anippe me proclame Senhor do reino, tirando a coroa de seu irmão Djoser. Sei de seu estado de saúde, por isso quero tratar deste assunto com a soberana. Me proclame rei, acabe com essa guerra e me deixe ser o pastor desse reino. —Zion fala e então olha para mim, esperando minha reação.

—Não sou escrava para ter Senhor, nem ovelha para ter Pastor. —Falo deixando Zion e Halima perplexos. —Eu sou da tribo de Judá, sou a leoa e rainha do Egito, eu quem guio, eu quem sou a Senhora. Diga para Amun que ele deve devolver meu tio ou farei a filha dele desfilar nua na rua do comércio. —Meu decreto assusta Zion. —E a darei de comer para os leões. —Completo. —Se ele não ceder, não atiarei fogo como minha mãe. Farei Amun sentir o fogo vir por debaixo de seus pés. —Falo. —Eu mesma farei o nome dele desaparecer, suas memórias desaparecerem dentro de cinco luas, cinco dias.

—Vai enfrentar Amun? —Zion indaga assustado. Meu estado não é dos melhores, mas a raiva que sinto me sustentará.

—Não. —Nego sublime.—Eu irei matá-lo.

(...)

—Não vai fazer nada disso. —Meu pai fala antes de minha mãe. —Não pode fazer isso.

—A mensagem já chegou para Amun, já é tarde. Aliás, não tenho medo. —Falo.

—Anippe tem razão. —Djoser afirma. —Passou da hora de Amun pagar por tudo que fez.


—Djoser... —Minha mãe fala incrédula por ver meu irmão me dando razão.


—Não posso e nem quero mais suavizar a situação, mãe. —Djoser fala assustando nossos pais. —Dentro de poucos dias iremos cortar o mal pela raiz.

—Faça isso por própria conta e risco, Djoser. —Meu pai fala, então é minha vez de ficar surpresa. —Fazem anos que você luta contra Amun.

—Mas desta vez eu não vou temer pela minha vida. Se vencer Amun significa perder minha vida, então dar-lhe-ei. —Djoser fala convicto e então nossos pais ficam assustados. Até mesmo eu fico assustada.


—Está ouvindo? Tem noção do que acaba de falar? —Minha mãe pergunta incrédula ao se aproximar bruscamente de meu irmão. Posso ver raiva nos olhos de minha mãe, por isso fico ao lado de meu irmão. —Mande os homens irem no seu lugar.

—Eu mesmo irei. —Djoser enfrenta nossa mãe novamente, por isso olho assustada para meu pai. —Não sou um covarde. —Meu irmão fala alterado fazendo minha mãe olhar para ele com indignação.


—Parem com isso. —Falo assustada ao ver que Djoser vai mesmo enfrentar nossa mãe.


—Ouça sua mãe, Djoser. Você pode não ir para a guerra, isso é normal. —Meu pai insiste enquanto segura levemente o braço da esposa.


—Já se passou o dia em que a senhora mandava em mim. —Djoser fala sem pensar e então vejo a mão de minha mãe pesar no rosto do meu irmão. Meu irmão toca no lado direito de seu rosto e olha incrédulo para nossa mãe. Minha mãe então espera que Djoser diga algo, mas para nossa surpresa ele nada diz. Djoser ficou calado, olhando para nossa mãe como se fosse a ultima vez. O faraó apenas deu as costas para nós e segue sozinho para longe com a raiva que sente dentro de si. Eu acho que a relação entre Djoser e minha mãe está assim desde o dia em que Lyanna nasceu.


Abro a boca para falar algo depois do que acabo de ver, mas logo as palavras me faltam por ver que minha mãe está confusa e meu pai muito mais. Eu apenas dou meia volta ao olhar novamente para meus pais, saio apressada atrás de Djoser. Eu ainda estou perplexa por saber que minha mãe foi capaz de desferir o rosto de meu irmão.

(...)


—Não se preocupe. —Meu pai fala ao me ver sozinha no jardim. —Eles vão ficar bem.

—Até lá ficarei preocupada. —Falo. Meu olhar logo vai para uma caixa de cor clara que está nas mãos de meu pai. —O que...

—É para você. —Meu pai fala enquanto olho para a caixa. —Não é como a outra, mas é sua. —Meu pai fala ao abrir a caixa e me mostrar uma coroa.

Pego a coroa em mãos e logo vejo que ela tem o pequeno diamante vermelho que me foi dado por Arão. O diamante é o único da coroa, bem no centro dela. Ao redor dele há dois arcos ondulados de ouro maciço, esculpido com bronze e leve riscos avermelhados em cada arco. —Quando meu pai me ajudou a coloca minha coroa, notei que o diamante ficava acima de meus olhos, como uma espécie de terceiro olho. Acabo rindo, mas logo olho para meu pai e vejo em seu olhar o meu reflexo. —Meus fios de cabelo ficam acima da coroa, destacando ainda mais o rubi.

—Ainda bem que encontrei você. —Elda fala assim que faz sua presença ser notável. —Seja lá o que tenha feito, saiba que funcionou.

—Do que está falando? —Indago.

—Amun fugiu para Moabe. —Elda revela. —Mas leva Gab consigo.

—Então não fiz absolutamente nada. —Falo brava.

—Anippe... —Meu pai chama minha atenção. —Amun fugiu de você. Ele está recuando. Isso significa que ele está em desvantagem.

—O rei já mandou preparar o exército. Farei o mesmo com o meu. —Elda fala radiante. —Não vejo a hora de ter meu reino novamente.

—Vá com Djoser pelo deserto. —Ordeno. —Eu irei pelo mar para que Amun não fuja. —Minha ideia assusta meu pai, mas alegra Elda. —Faremos um cerco onde ele ficará preso.

—Você não terá o seu exército. —Elda fala e então meu pai olha para mim preocupado. —Eu irei com o meu, Djoser irá com o exército egípcio.

—Se esquece que Gab tem seus soldados? —Indago. —Eles vão me obedecer.

—A herdeira de Gab é Lyanna, não você. —Elda ressalta me dando náuseas. —E você não pode sair do palácio, está doente.

—Os homens de Gab vão me obedecer. Eu sou a sobrinha mais velha dele, a rainha deste reino. —Falo. —Eles vão me ajudar a atravessar o mar e chegar até Moabe.


—Está me dizendo que vai encher todos os navios com um exército e atravessar o mar até chegar em Moabe? —Meu pai pergunta incrédulo. —E sua filha?

—Ela vai comigo. —Falo surpreendendo meu pai. —Eu faço questão de chegar em Moabe pelo mar para ver o susto de Amun.

(...)

Fiquei a frente dos soldados de Gab, sozinha, com meu corpo ainda fraco pelo parto. Ashira por incrível que pareça está nos braços de Elda. Eu mesma irei falar com os soldados de meu tio mesmo que eu não tenha autoridade suficiente. Se alguém pudesse falar esse alguém era Lyanna. A menina é a herdeira que meu tio escolheu para suceder seu lugar, mas minha irmã tem apenas cinco anos. No caso, minha mãe falaria por Lyanna. Mas eu tenho certeza que ela não fará isso.

—Eu sou a rainha que governa este reino, tenho o sangue de Seti, o mesmo sangue de Gab. Eu sou a rainha híbrida, egípcia e hebreia, aquele que se nega a honrar o nome de minha família ou morre, ou é esquecido. —Falo alto para que todo o exército núbio me ouça. —Meu irmão, o nosso rei, irá marcar com o seu exército até Moabe ao lado da rainha Elda. Mas eu preciso de um exército para navegar pelo mar e fazer por onde Amun não fugir. —Minhas palavras fazem os soldados falarem entre si. —Gab pode ser o príncipe da Núbia, o unico que restou. Mas seu sangue é egípcio, ele pertence a minha família. Portanto, eu preciso de vocês para atravessar o mar e trazer ele de volta. —Foi então que todos ergueram suas espadas e gritaram juntos mostrando que estão comigo. Elda sorri maliciosa para mim enquanto eu sinto o ar faltar em meus pulmões. —Vocês estão comigo? —Indago e então eles gritam, demonstrando que estão. —Agora? —Pergunto fazendo a multidão de homens afirmarem mais uma vez. —Para sempre? —Pergunto para ter absoluta certeza de que eles estão mesmo comigo. Mais uma vez eles gritam eufóricos pela guerra. —Vocês sabem quem eu sou, a qual família pertenço. Vocês sabem se quem sou filha, vocês sabem se quem sou neta, então me sigam! —Exclamo mais alto enquanto eles gritam. Logo eu vejo todos os soldados núbios de Gab se curvando diante minha figura em frente ao palácio.

Sinto meu rosto queimar como se houvesse fogo em mim. O poder que sinto ao ver que um exército que não é meu se ajoelhar me faz entender exatamente o sinônimo de poder. Olho seriamente para os soldados que curvam seus joelhos perante mim, nenhum deles está de cabeça erguida, todos mostram o respeito para comigo. Quando um vento frio refrescou o local e o silêncio tomou conta de tudo, senti meus fios de cabelo dançarem conforme o ritmo do vento. Minhas vestes avermelhadas voam assim como as de Elda.

—Você me surpreende, Anippe. —Elda fala enquanto ainda olho para o exército.

—Eu sou filha do Nilo. —Falo ao lembrar do significado do meu nome. — Atravessei o mar vermelho. —Falo ao me lembrar do dia em que atravessei o mar vermelho ao lado de Moisés. —E irei atravessar quantos mares forem preciso para ter a minha vingança. —Finalizo. Amun vai pagar por cada mal que fez a minha família.


(...)

Olho para as embarcações no porto e chego a conclusão de que nunca estive tão forte para uma guerra. Vejo minha mãe ao lado de meu pai, com Lyanna agarrada no vestido azul de minha mãe. Então eu vou até eles com cautela. Djoser partiu com Elda e agora mesmo eu irei partir.


—Eu disse que levaria ela comigo. —Falo ao ver Ashira nos braços de Halima. —Mas não seria adequado. —Sorrio para minha filha. —Não vai faltar leite para Amenophis?

—O leite que tenho dará para Ashira e Amenophis. —Halima fala sorridente. —Irei amamentar Ashira até você voltar, Anippe. Ashira e Amenophis são primos carnais. —Halima fala ao lembrar que Ashira e Amenophis são primos "duas vezes". Halima está sendo inocente já que Ashira não é filha de Zion. —Agora os dois vão ser irmãos de leite.

—Tem razão. —Falo.

—Eu acharia melhor que você ficasse. —Zion fala ao ficar do meu lado. —Mas se você quer mesmo ir, então vou te apoiar. —Meu marido fala e então sorrio. —Pode cuidar dela, Halima? —Zion pergunta sobre Ashira.

—Já estou cuidando. —Halima fala. —Podem ir e só voltem quando vencerem. —Ela fala e então vejo o estandarte feito por Halima na embarcação que me espera. Aliás, existem vários deles nas outras embarcações.

—Eu ainda acho que você não deve ir. —Meu pai é o primeiro a falar assim que fico de frente para ele e minha mãe. —Você não está recuperada.

—Eu sei o que estou fazendo. —Falo tentando acalmar meu pai. Logo meu olhar vai para Lyanna que segura insistente no vestido de nossa mãe.—E você, pombinha? Vai ficar com nossos pais por mim e Djoser? —Indago e Lyanna apenas concorda. Logo a menina pula em meus braços para me abraçar. Seus braços parecem ser feitos de aço já que são fortes em me abraçar.

—O palácio novo vai estar pronto quando vocês voltarem? —Lyanna pergunta inocente. —Se Djoser vai pelo deserto, porque você vai pelo mar?

—As vezes caminhos diferentes levam ao mesmo palácio. —Falo fazendo Lyanna sorrir. Olho bem para a menina e vejo que seu rosto está mudando. Seu rosto que antes lembrava apenas o olhar de meu pai, agora me mostra um pouco da minha mãe. Coloco Lyanna no chão novamente e respiro fundo devido ao esforço que fiz.


—Eu vou com você. —Minha mãe fala e então me assusto. Meu pai olha para minha mãe ainda incrédulo, o que me leva a crer que a conversa será longa. —Eu quero estar com você e seu irmão.

—Eu sei que está indo mais por ele. —Falo. —Djoser já é um homem, um rei. E vale lembrar que ele não quer vê-la.

—Anippe tem razão. —Meu pai fala. —E você não deve ir. —Meu pai fala e eu agradeço por ele falar tal coisa. —Quando Djoser voltar, você e ele vão se acertar.


Sorrio ao ver que meu pai realmente acredita que Djoser voltará a se relacionar bem com minha mãe. Querendo ou não, os dois se estranham desde que Djoser tirou Lyanna de minha mãe. Sei que meu irmão teve boas intenções, mas minha mãe sentiu o gosto da traição. E depois do que ele disse e ela fez, duvido muito que os dois voltem a ser como eram. Eu conheço Djoser. Ele não é de simplesmente cortar relações com qualquer pessoa por algum tempo. Djoser é bem mais radicalista que eu. Nunca vi meu irmão ser como eu, tão frio e calculista. Djoser só mostra o que sente apenas uma vez. E nesse única vez é para sempre. E isso me leva a crer que ele e minha mãe vão passar muito tempo nessa situação.

—A senhora errou. —Falo. —Uma vez levantou a mão para mim e viu no que deu. Não espere o mesmo de Djoser, espere o pior. —Minhas palavras acabam assustando minha mãe.—Eu preciso ir. —Falo ao olhar para eles pela última vez. Lyanna me olha um pouco amedrontada, mas eu sorrio tentando lhe acalmar. —Não quero despedida alguma, eu vou voltar em breve. —Falo e sorrio para meus pais. Minha mãe me observa com uma certa curiosidade e logo entendo o motivo. Várias vezes minha mãe quis que Djoser fosse uma menina para não ir em guerra alguma. No entanto, eu estou indo.

—Eu sei que você volta, Anippe. —Minha mãe fala risonha. —Você sempre volta para casa. —Ela fala ao lembrar de quando fui para Philae e parti com Moisés rumo à Canaã. —Eu vou dizer o mesmo que disse ao seu irmão. Mesmo que ele não tenha me ouvido. —Minha mãe fala ao se aproximar de mim. —Ninguém pode mais do que aquele que acredita em si mesmo. Nem mesmo a morte pode mais. Mesmo que vários acreditem em deuses, em Deus, em quem quer que seja. Família, honra e dever parecem ser algo distante para você, mas não é. Você está nesta guerra por nós, assim como seu irmão. E mesmo que eu tenha medo de perder os dois, eu me orgulho. —Os olhos dela brilharam ao me ver sorrir. —Amun disse que viria outra rainha e eu não acreditei. Por um momento pensei que fosse Yaffa, mas nunca foi ela. Era você. —Minha mãe revela. —Use meu nome nessa guerra e mostre para ele o que nós somos. —Minha mãe pede enquanto meus olhos se tornam plenos de lágrimas. Logo faço por onde não chorar. Qualquer mulher pode chorar, menos uma rainha.

—Mãe? —Chamo por minha mãe ao vê-la perder as forças.

—Meu amor? —Meu pai indaga assustado. —Henutmire, fale alguma coisa. —Ele pede preocupado.

—Eu estou bem. —Minha mãe fala ainda pálida. —Me senti fraca, mas já estou bem.


—Mãe... —Lyanna chama por nossa mãe.


—É melhor voltarmos. —Meu pai sugere enquanto segura minha mãe. Meu pai toma cuidado com minha mãe e então Lyanna olha para mim assustada.


—Senhora! —Leila fala ao ver minha mãe tão pálida. —O que aconteceu?

—Não foi nada. —Minha mãe fala e então Leila faz um sinal para que eu vá conversar com ela privadamente.


—Ela está passando mal desde que o príncipe Gab foi raptado, mas piorou depois que brigou com Djoser. —Leila revela. —Eu acho que minha senhora está adoecendo de tristeza.

—Eu sempre soube que Djoser era o filho favorito dela, mas isso já é demais. —Falo assustada. —Vou fazer por onde os dois se reconciliarem.—Decreto ao olhar, por cima do ombro, todas as embarcações. Espero voltar desta guerra, ou não... Se minha mãe está adoecendo significa que a morte lhe ronda.


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Notas finais do capítulo

E aqui começa o poder de Anippe ♥



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