Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 104
Capítulo 104


Notas iniciais do capítulo

Chegay



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Tento segurar as lágrimas ao sentir tantas dores assim que acordo. Meu corpo inteiro está doendo como se houvessem agulhas dentro dele. Todas as vezes que tento me mexer, choro de dor. Não consigo nem mesmo segurar minha filha. Pensei que estivesse morrendo quando minha filha nasceu, senti todo o meu corpo paralisar e meus olhos pesarem. Eu vi a morte, estive com ela no tempo que fiquei desacordada. Agora somente me resta a dor e o medo de morrer. Nunca pensei que fosse ter medo de nada, mas agora tenho. Agora eu tenho medo de morrer e deixar minha única filha sozinha no mundo. Mesmo que Djoser tenha concordado em criar minha filha caso eu morresse. —Minha filha com Arão... Eu daria toneladas de ouro para que ele soubesse da nossa menina.

—Os olhos dela são azuis? —Indago para minha mãe que ainda está com minha filha em seus braços. Na realidade, minha filha chora o tempo todo e apenas se acalma com minha mãe.

—Assim como os nossos. —Minha mãe fala e então sorrio. —Ela se parece com o pai. —Ela fala e então sorri. —Ainda sente dores?

—Meu corpo parece morrer aos poucos. —Falo angustiada. —Meus braços tremem ao tentar segurar minha filha. —Falo e então minha mãe volta suas atenções para a recém nascida.

—Já sabe qual nome vai dar para ela? —Minha mãe pergunta.

—Ashira. —Respondo sorridente. —Minha única filha. —Falo e no mesmo instante Paser entra em meus aposentos.

—Se sente melhor? —Ele pergunta.

—Nenhuma das suas fórmulas fizeram a dor parar. —Falo e então Paser me olha assustado. —Tem algo errado?

—Eu tentei esconder isso, mas é melhor falar a verdade. —Paser fala despertando a curiosidade em minha mãe. —Eu creio que Deus concede apenas um milagre, nunca dois.

—Fale de uma vez. —Minha mãe pede assustada.

—Eu quero dizer que a senhora não vai poder ter mais filhos. —Paser revela enquanto olha bem para mim. —É muito fraca por dentro, a prova é que ainda está doente após ter dado a luz.

—Tem certeza que Anippe não vai poder mais ter filhos? —Minha mãe pergunta assustada. Quer dizer então que nunca darei um filho para Zion? Quer dizer então que minha única filha também será filha de Arão?

—Ela é infértil agora. —Paser revela. —Mas a senhora acaba de ser mãe. Terá que aproveitar cada momento com sua única filha. —Ele fala me fazendo chorar. Gemo baixo ao sentir meu corpo latejar, com isso Paser tenta me acalmar. Minha mãe põe minha filha ao meu lado na cama e então vem até mim.

—Calma, minha filha... —Minha mãe pede e então me abraça carinhosamente como sempre fez. —Você já tem uma filha, tente ficar feliz por saber que tem uma semente no mundo. —Fala e então sorrio.

—Mas eu mal consigo segurar ela, mãe. —Falo angustiada pelas dores que sinto.

—Talvez leite de papoula, Paser. Ele pode aliviar as dores, você ainda não deu para ela. —Minha mãe fala angustiada ao me ver tão adoentada.

—Talvez faça algum efeito, senhora. Mas isso iria amenizar, não dicipar. —Paser adverte.

—Qualquer coisa para que Anippe segure a filha nos braços. —Minha mãe adverte e então Paser olha para mim.

—Vou trazer o leite de papoula o mais rápido possível. —Paser fala antes de sair.

—Leite de papoula em excesso pode me...

—Eu sei. —Minha mãe afirma me interrompendo. —Mas quantas pessoas já não beberam? Tudo que é extraído do papoula é degenerativo, mas uma pequena dose vai te ajudar a segurar Ashira.

—E Yaffa? Onde ela está? —Pergunto brava ao me lembrar dela. —Ela me empurrou, quase me matou e quebrou minha coroa com suas próprias mãos.

—Ela está trancafiada. —Minha mãe revela. —Eu mesma ordenei. —Ela fala e então segura minhas mãos. —Você e Ashira vão se recuperar logo, está bem? Eu vou dar um jeito nisso tudo. —Minha mãe fala e então sorrio. —A coroa é o menor dos problemas. Mas seu pai está fazendo outra com o mesmo diamante que você pediu que estivesse na outra. —Minha mãe revela, rindo aliviada ao olhar para Ashira. —Ela é linda, não é? —Ela pergunta orgulhosa. —Me lembra você quando nasceu.

—Já percebeu que a linhagem dá família está mudando? —Indago. —Graças a senhora toda a família tem olhos azuis. Todos menos Lyanna. —Falo. —Lyanna é mais hebréia que egípcia.

—Nossa família tem disto, Anippe. Uns com os olhos da cor do céu quando é dia, outros com olhos da cor do céu quando é noite. Mas sempre temos um pedaço do céu em nossos olhares. —Minha mãe fala orgulhosa pela nossa família.

(...)

—Acho que fez efeito. —Falo ao não sentir as dores que sentia em meu corpo. Me sento sozinha em minha cama, mas logo sinto uma pequena dor incomoda que me faz gemer baixo. Mesmo assim, com ajuda de minha mãe e Zion, seguro minha filha em meus braços.

Ao olhar para minha filha tenho a certeza de que ela se parece muito pouco comigo. Seus olhos podem até ser da mesma cor que os meus, mas nem o formato dos olhos são iguais aos meus. Só o tempo vai me dizer se Ashira um dia irá se parece comigo, porquê agora... Agora minha filha me lembra apenas o seu verdadeiro pai. Até mesmo quando minha filha olha para mim eu vejo e sinto como se Arão estivesse comigo.

Flash Back On

—Agora é tarde demais, Anippe. —Arão fala lastimo com a situação e então resolvo me levar pelas emoções.

—Eu te amo, Arão. Eu sempre te amei. —Falo ao me aproximar dele para minha surpresa. Fico próxima de seu rosto, assim como um dia fiquei. —E eu quero você para mim. —Revelo enquanto olho no fundo dos seus olhos. —Eu vou partir, Arão. Mas antes eu quero levar a melhor lembrança desse amor que não foi vivido. —Falo deixando claro o meu desejo. Arão então me envolve em seus braços como nunca fui antes envolvida.

—Eu não posso fazer isso com você, Anippe. —Arão pede ao me ter perto de si. —Não posso desonrar você.

—O que é honra quando se ama? —Minha pergunta não foi respondida com palavras vindas de Arão, mas sim com um beijo seu. Quando Arão e eu nos deitamos na cama eu fico certa de apenas uma coisa. Eu serei de Arão essa noite.

(...)

—O que nós dois fizemos? —Pergunto enquanto estou com Arão ao meu lado. Ele trata de me confortar em seus braços e com isso sorrio.

—Fizemos aquilo que sentimos um pelo outro. —Arão fala risonho e então fico mais tranquila.

Flash Back Off

—Ela tem os olhos de vocês duas, mas não se parece com ninguém. —Zion fala me fazendo olha para minha mãe assustada. —Com nenhum de nós.

—Ela será diferente então. —Minha mãe fala tentando me acalmar. —Ainda é cedo para saber com quem ela se parece. —Ela fala ainda olhando para mim.

—Tem razão. —Zion afirma enquanto olha para Ashira.

Eu então olho para minha filha novamente e vejo seus olhos inocentes me contemplarem com atenção. Sorrio ao vê-la tão inocente nos meus braços, tão pequena e tranquila. Seus olhos aos poucos vão se fechando e com isso chego a conclusão de que Ashira não está tão incomodada como antes estava.

—Lyanna... —Falo ao ver minha irmã entrar acompanhada por Khalid. Ela logo vai para perto de nossa mãe e olha para mim com atenção. —Essa é Ashira. —Falo e então minha irmã vem para perto de mim com cautela.

—Ela parece com você. —Lyanna fala enquanto segura a mãozinha de Ashira. —Ela não fala? —Minha irmã pergunta.

—Ela ainda é um bebê, Lyanna. —Minha mãe fala e então trás Lyanna para junto de si novamente. —Ela apenas chora.

—Ela tem os olhos do tio Gab. —Lyanna fala e então posso ver o quanto minha mãe fica preocupada.

—Amun ainda não falou nada? —Zion pergunta.

—Ele quer negociar. —Minha mãe revela. —Ele quer o filho de Djoser em troca.

—Porquê Amun quer o filho de Djoser? —Zion pergunta incrédulo.

—O menino é herdeiro do trono, Amun quer ele em troca de Gab. Caso contrário, haverá um confronto. —Minha mãe fala e então sinto toda a raiva tomar conta de mim. —Claro que ninguém é louco de fazer o que ele quer. Mas Amun pode matar Gab.

—Ele não vai fazer isso. —Falo determinada. —Essa guerra já durou muito tempo, eu mesma vou termina-la. —Falo ao entregar Ashira para Zion. Meu marido segura minha filha com todo cuidado que um pai deve ter com uma filha. Com isso começo a pensar que Zion realmente ama Ashira como se fosse sua filha, mesmo que ele não saiba. Me levanto com muito esforço de minha cama e tento me manter de pé com todas as dores que sinto.

—Anippe... —Minha mãe fala assustada ao me ver de pé. Eu consigo vencer a dor a cada passo que dou. —O que você vai fazer? Não pode fazer nada no estado em que está.

—Eu vou mostrar para Amun que não se pode mexer com nenhum de nós. —Falo. —Diga para ele que sua rainha deseja um confronto. E que ele será o último.

(...)

—Com calma. —Meu pai pede enquanto ando pelo quarto. Minha mãe segura Ashira, mas olha para mim com atenção.

—Ainda sinto dor. —Falo enquanto ando com ajuda de meu pai.

—Deveria descansar. —Meu pai fala enquanto ando com calma.

—Eu vou melhorar. —Falo e então sento no divã. —Eu nunca pensei que ter um filho fosse tão doloroso. —Falo assim que minha mãe entrega Ashira para meu pai.

—Não, meu amor... —Meu pai fala ao escutar Ashira chorar. —Ela não parece gostar de mim. —Fala.

—Ela gosta mais da avó. —Falo e então minha mãe tenta acalmar Ashira ainda nos braços do meu pai. —Ashira, meu amor... Você também tem que gostar do seu avô. —Falo risonha. Vejo meus pais abobalhados com Ashira e acabo sorrindo com a cena.

—Acho que agora ela se acostumou. —Minha mãe fala enquanto meu pai balança a neta nos braços. Sua única neta.

—Trouxe Amenophis para conhecer a prima. —Djoser fala ao entrar com o filho nos braços. Minha mãe não se contém e logo pega o neto, fazendo meu irmão ficar mais aliviado. Meu irmão beija o rosto da minha mãe e logo olha para o filho emocionado por saber que nossa mãe está vendo seus netos nascerem. —Está melhor? —Meu irmão pergunta ao se sentar bem do meu lado.

—Ainda estou doente, mas as dores estão sendo amenizadas. —Falo e então meu irmão deposita um beijo em meu rosto.

—Olhe só para eles. —Meu irmão fala em relação aos nossos pais. Os dois seguram seus netos e sorriem felizes pelo família que possuem, pela família que construíram.—Lyanna? —Meu irmão pergunta ao ver nossa irmã entrar.

—O que é isso? —Pergunto e então minha irmã me mostra uma boneca.

—É para Ashira. —Lyanna fala e então me entrega a boneca.

—Obrigada, pombinha. —Agradeço e então minha irmã sorri ao ponto de corar. —Ashira vai gostar de saber que sua primeira boneca foi dada pela tia. —Falo risonha. Minha irmã então vai para o colo de Djoser enquanto olho para a boneca.

—Anippe? —Minha mãe chama por mim enquanto olho para a boneca. Logo recebo minha filha nos braços novamente, meu pai me entrega Ashira com cuidado. —Não, Hur... Me deixe segurar ele mais um pouco. —Minha mãe fala assim que meu pai tenta segurar Amenophis.

—Vão competir por meu filho? —Djoser pergunta nos fazendo rir. —Halima estava com ciúmes da senhora, minha mãe.

—Ser avó é ser mãe duas vezes. —Minha mãe fala enquanto balançava Amenophis. —Meus netos são mais meus do que seus. —Minha mãe fala alegre, fazendo-me rir.

Alguns dizem que a família real está a beira de um colapso, outros dizem que muito em breve não restará nada além dos nomes. Mas o Egito se lembra de quem trouxe o respeito ao nosso reino, também se lembra da loucura de meu tio, dos bebês hebreus que foram mortos, do pedido de minha mãe para que nenhum bebê fosse morto. Também se lembra de quando minha mãe proibiu a entrada de outros egípcios na cidade, causando tantas mortes por fome. Mas o Egito também se lembra de que desde que minha família está no poder todo sacrifício é válido, todo sacrifício tem resultado. Por anos pensaram que o Egito seria governado apenas por um filho de um faraó. Mas desde que minha mãe governou ao lado do seu irmão, o trono será sempre de dois filhos e nunca de um. Mesmo que Lyanna não sente-se no trono, ela também terá seu poder. Eu e Djoser vamos trazer a honra de nossa família, por nós, por nossos filhos e pela honra que foi perdida. Por muito tempo Amun vem aterrorizando o reino de minha família... Eu mesma irei concertar este erro de tê-lo deixado ileso. E assim farei o Egito se lembrar de que apenas existe um rei e rainha cujo sangue é o de Seti. O trono é nosso, mesmo que tenhamos sangue hebreu, somos da realeza. —Se temeram Seti e algum dia a minha mãe, hoje devem saber que o pior está por vir. —E esse pior sou eu.

 


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